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Memória: da fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná

ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

Memória: da fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná

Pórcia Guimarães Alves

Professora da UFPR

E março de 1938, os recém-formados na Escola Normal e os que completaram a 5ª série do Curso Ginasial receberam, em casa, circulares comunicando a fundação, em Curitiba, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e Instituto Superior de Educação anexo.

As circulares comunicavam que estavam abertas as inscrições para o concurso da habilitação, de 5 a 25 de abril, conforme edital da secretaria da Faculdade.

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS E INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ANEXO

SÉDE: EDIFÍCIO DA ANTIGA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA CURITIBA RUA BARÃO DO RIO BRANCO. PARANÁ

Acham-se abertas na secretaria desta Faculdade, á Rua Barão do Rio Branco, edifício da antiga Assembléia Legislativa do Estado. de 5 a 25 do corrente, as inscrições para o curso de habilitação á matrícula nos seguintes departamentos:

DEPARTAMENTO DO FILOSOFIA

Curso com tres anos - Concede o diploma de licenciado em Filosofia.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação.

Latim, História da Civilização, Psicologia, Logica.

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS

CURSO DE CIÊNCIAS FÍSICAS -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Ciências Físicas.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação:

Matemática, Física, Química, História Natural.

CURSO DE CIÊNCIAS QUÍMICAS -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Ciências Químicas.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação.

Matemática, Física, Química, História Natural.

CURSO DE CIÊNCIAS NATURAIS -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Ciências Naturais.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação.

Física, Química, História Natural, Desenho.

CURSO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Ciências Matemáticas.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação:

Matemática, Física, Sociologia, Logica.

CURSO DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Geografia e Historia.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação:

Geografia, Cosmografia, Historia da Civilização, Sociologia.

CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Ciências Sociais e Políticas.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação:

Geografia, Historia da Civilização, Sociologia, Logica.

DEPARTAMENTO DE LETRAS

CURSO DE LETRAS E PORTUGUÊS -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Letras Clássicas e Português.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação:

Português, Latim, Literatura, Sociologia.

CURSO DE LINGUAS ESTRANGEIRAS -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Linguas Extrangeiras.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação:

Português, Latim, Francês ou Italiano, Inglês ou Alemão.

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

CURSO DE EDUCAÇÃO -

Em tres anos - Diploma de licenciado em Educação.

Grupo de matérias para o concurso de habilitação:

Biologia Geral, Psicologia, Logica, Noções de Estatística.

CURSO DE FORMAÇÃO PEDAGOGICA DE PROFESSORES SECUNDÁRIOS -

Em um ano - Este curso deve ser seguido simultaneamente com qualquer dos cursos anteriores para habilitar o licenciado a exercer a catedra de professor em qualquer Ginásio oficial, equiparado ou livre do país.

CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRIMARIOS -

Em dois anos - Concede diploma profissional de professor primário.

CURSO DE ADMINISTRADORES ESCOLARES -

Em dois anos - Forma inspetores e diretores de escolas.

De acordo com o despacho ministerial de 3 de novembro de 1937, são admissiveis á matrícula:

a) os portadores de diploma do curso secundario;

b) os complementaristas de 1ª e 2ª séries;

c) os alunos que terminarem o curso de madureza (art. 100 do Dec. 21.241);

d) os portadores de diploma de normalista;

e) os portadores de diploma profissional ou científico oficialmente reconhecido.

São também exigidos os seguintes documentos:

a) certidão de idade (mínimo de 17 anos);

b) prova de identidade;

c) atestado de vacina e sanidade;

d) prova de idoneidade moral;

Os programas para o curso de habilitação serão no corrente ano os mesmos programas lecionados no curso fundamental dos Ginásios oficiais.

Nas matérias não lecionadas em tais cursos, como Psicologia, Sociologia, etc., as provas abrangerão apenas noções gerais e rudimentos, nas quais o candidato possa demonstrar um conhecimento genérico do assunto, bem como a aptidão para o curso de Licenciado.

O concurso de habilitação constará de uma prova escrita e uma oral.

Na secretaria da Faculdade ou pelo telefone 2315 serão fornecidas detalhadamente informações aos candidatos, das 9 ás 11 e das 13,30 ás 16 horas.

Cadeiras do 1º ano: Biologia Educacional, Psicologia Genética, História da Educação, Lógica e Metodologia das Ciências.

No Edifício da Assembléia Legislativa - na época sem funcionar - atual sede da Câmara Legislativa, à direita da entrada, no início do largo corredor que ladeava o auditório, estava instalada a Secretaria da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e Instituto Superior de Educação anexo.

O professor Homero de Melo Braga informava, atendia, auxiliava e entusiasmava os candidatos, que foram cerca de 20, e que se reuniram, pela primeira vez, na realização do concurso da habilitação aos cursos realizados nas cadeiras ociosas do plenário, de 5 a 9 de abril de 1938.

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Tempos depois, em encontro casual na Praça Zacarias, com o professor Mílton Carneiro, ele diz: "Pórcia, não sei se já lhe contei a história da fundação da Faculdade de Filosofia..."

A instalação de Faculdade de Filosofia era necessidade básica para a organização do quadro estrutural da Universidade. E este assunto era motivo de conversas e debates dos professores da Universidade, dentro e fora dela.

Estendiam-se às mesas dos cafés, na Rua XV de Novembro, e apaixonavam os interessados. Ao redor das mesinhas de mármore do Café Colares, Homero de Melo Braga, Carlos de Paula Soares, Mílton Carneiro, João Xavier Vianna, Temístocles Linhares e outros, traçavam planos e estratégias para a fundação da Faculdade de Filosofia.

No dia 26 de fevereiro de 1938, a convite dos professores Carlos de Paula Soares, Omar Gonçalves da Mota e Homero de Melo Braga, reuniram-se, no Salão Nobre da Universidade, trinta e um professores, com o objetivo de constituir a mesa que iria presidir os trabalhos preliminares da fundação da Faculdade.

Os professores acima citados, Omar Gonçalves da Mota, Carlos de Paula Soares e Homero de Melo Braga, foram aclamados por unanimidade para comporem a primeira diretoria, respectivamente como diretor, vice-diretor e secretário.

A diretoria da Faculdade contratou, com o Estado, a Administração do Curso Complementar do Ginásio Paranaense, o que se fez, incorporando-se assim à receita da Faculdade do saldo proveniente desta operação, quantia necessária para manutenção dos cursos, além de subvenção do governo e da contribuição mensal dos alunos.

O intermediário das negociações foi o Dr. Omar Gonçalves da Mota que, como Secretário do Governo, participante do elenco de professores e diretor da Faculdade a ser instalada, não mediu esforços para tornar economicamente viável a sua instalação.

O "Diário da Tarde" publicou, em sua edição de 8 de março de 1938, Edital de Convocação para o Concurso de Habilitação da nova Faculdade.

E, no dia 2 de abril de 1938, reuniu-se pela primeira vez, a Congregação da Faculdade, no Edifício do Congresso Legislativo Estadual, quando foram eleitos, pelos 38 professores que se fizeram presentes, os membros do Conselho Técnico-Administrativo: Mílton Carneiro, Temístocles Linhares, Carlos de Paula Soares, Pe. Jesus Ballarin, José Loureiro Fernandes, Arnaldo Beckert.

A seguir, o CTA, recém-eleito, aprovou o Regimento Interno, elaborado pelos professores Laertes Munhoz e Rocha Loures.

Ainda no mês de abril, o CTA da Faculdade autorizou o funcionamento dos cursos previstos, limitando o número de vagas a 20, em cada um deles, e aprovado, para o primeiro ano de funcionamento, disciplinas, programas e os regentes responsáveis - titulares.

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No dia 3 de maio de 1938, no edifício sede do Congresso Legislativo Estadual, às 20h, teve lugar a Aula Inaugural da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e Instituto Superior de Educação anexo.

Profundamente iluminado, o belo edifício da Assembléia Legislativa, com suas dependências completamente lotadas, apresentava ar festivo e solene na elegância dis trajes, as senhoras de chapéu e os homens de passeio completo.

Era noite clara, do início de maio, lembro-me dos detalhes. Acompanhada de meu pai, trajava vestido de seda de mangas curtas em xadrez preto e branco, com enfeites em "soutache" vermelho e chapéu "canotier" em palha preta, decorado com fita preta, branca e vermelha. Impressionada com o brilho da solenidade da instalação do novo curso que resolvera seguir e que, sem o saber, iria dar novo rumo e modificar, por completo, minha vida.

Tomaram assento à mesa, ladeando o diretor da Faculdade, Dr. Omar Gonçalves da Mota, o Arcebispo Metropolitano, os diretores das Faculdades de Medicina e Direito, o representante do General Comandante da Região e o diretor geral da Educação.

Abrindo a sessão, o Dr. Gonçalves da Motta disse, em rápidas palavras, das altas finalidades da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que, juntamente com as demais faculdades, vinha formar a Universidade nos moldes das já existentes nos centros culturais mais adiantados do país, constituindo-se na cúpula do magnífico monumento universitário paranaense.

A seguir passou a palavra ao ilustre professor Padre Jesus Ballarin, que iria assumir as cadeiras de Filosofia e Psicologia na nova faculdade.

Em longo, interessante e erudito trabalho, desenvolveu o tema, "Ciência e Filosofia", revelando conhecimento admirável do assunto, explicou a concepção de Ciência e de Filosofia. Dissertou sobre as diversas fases das relações entre elas: de identidade, diferenciação e harmonia. Falando a seguir, das sínteses filosóficas do pensamento humano, correspondentes à filosofia grega, patrística e escolástica.

Ao finalizar, disse que "o mundo científico elabora os materiais que servirão para formar nova síntese grandiosa do pensamento humano. Precisamos de outros apropriados ao desenvolvimento harmônico da Ciência e da Filosofia. Esta, diz por último o conferencista, é a finalidade da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Assim, trabalharemos para o progresso da Ciência, para o brilho do Paraná e para a grandeza do Brasil."

Encerrando a sessão, o Dr. Gonçalves da Motta agradeceu o comparecimento dos presentes, entre os quais se encontravam as figuras mais expressivas do cenário político e intelectual paranaense.

Lá fora a brisa, que refrescava, lembrava a proximidade do inverno e fazia oscilar a faixa atravessada na fachada do prédio - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - Instituto Superior de Educação anexo.

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As aulas tiveram início poucos dias depois. O Curso de Educação teve, como espaço físico para suas aulas, o último andar do Edifício Central da Universidade, na Praça Santos Andrade. As aulas eram diárias, das 16 às 19h.

Nos intervalos, o congraçamento com os alunos dos cursos clássicos e científico.

O maior número de candidados aos cursos oferecidos pela nova Faculdade foi na área de Educação. Ainda assim, turma diminuta, não chegava a quinze o número de inscritos, perto das turmas numerosas do clássico e do científico.

Em pequena sala, simples, pobre, com janelas ao fundo, carteiras para os ouvintes, mesa e quadro-negro para o professor. Ficava na torre do antigo edifício central, tarde modificado, e era, sem dúvida, também, fisicamente, a cúpula da Universidade. Somente 3 mulheres alunas, Gemeny Souza França, Myrian Weigert e eu. Dos homens, se destacava Francisco Albizu, já veterano líder de atividades cívicas e esportivas.

Os demais cursos funcionavam em outros prédios; lembro-me de que o Curso de Geografia e História funcionava na sala das sessões do Círculo de Estudos Bandeirantes, na Rua XV de Novembro. Outros, no prédio do Congresso Legislativo, sede provisória da Faculdade.

A clientela dos cursos era composta por alunos, na sua totalidade portadores de algum diploma, com experiência no magistério e média de idade variando entre 25 e 30 anos. E eu, que havia completado 20 anos, estava entre os mais jovens!

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Os currículos dos cursos do Instituto Superior de Educação anexo à nova faculdade tiveram, por base, os da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (de São Bento) e Instituto de Educação anexo, criado em 1937, em São Paulo.

Assim é que as disciplinas, neste primeiro ano de funcionamento, - Psicologia Genética, História da Educação, Lógica e Metodologia das Ciências e Biologia da Educação - só se apresentaram com este esquema em 1938.

Já em 1939, a nova Faculdade de Filosofia foi adaptada às diretrizes da Faculdade Nacional de Filosofia, que era escola-padrão para todas as congêneres do país. Desapareceu o Instituto Superior de Educação e, em seu lugar, surgiu - com as mesmas finalidades - o Curso de Pedagogia. Esta adaptação trouxe consigo modificações no currículo da Educação, foram suprimidas algumas disciplinas e acrescentadas outras.

Felizmente, houve esta ocorrência, neste ano inicial da Faculdade. Porque proporcionou aos alunos da primeira turma do Curso de Educação, o privilégio de seguir e estudar o currículo proposto para Psicologia Genética.

E mais, ter como professor e responsável pela sua apresentação - ilustre por todos os títulos - o professor Mílton Carneiro. Inesquecível a sua erudição, a sua verve, a riqueza do seu vocabulário.

Citando Heins WERNER, autor do livro "Psicologia Genética", fazia sínteses maravilhosas no enfoque dos temas que abordava. E este contado com a gênese da Psicologia, através das aulas brilhantes do professor Mílton Carneiro, me marcaram profundamente. Ah! sim, o tema "Empatia" que me coube desenvolver - que muitas vezes foi objeto de referência nos trabalhos literários e jornalísticos do professor Mílton - foi, sem dúvida, o núcleo que insconscientemente me levou ao exercício e à prática da Psicologia.

Ainda no primeiro ano do curso, aulas de Lógica e Metodologia das Ciências, com o professor Temístocles Linhares, que se inciava na carreira de professor; de Biologia Educacional com o professor Homero de Melo Braga, depois substituído pelo professor João Xavier Vianna; e de História da Educação com o Dr. Armando Petrelli.

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O ano letivo corria seu curso normal, aulas, provas e pesquisas. A Biblioteca Central da Universidade foi liberada pata os novos alunos e lá passei muitas horas atenta e interessada na leitura dos textos de autores indicados pelos professores.

Mas, os alunos da mais nova unidade universitária queriam complementar suas atividades, fazer valer os novos valores e ideais, difundir outros interesses.

Assim, em agosto, reuniram-se os alunos dos diversos cursos, para fundar o seu centro acadêmico. Conforme o decidido em três reuniões antecedentes, no dia 27 de agosto, em ambiente cordial, com escrutínio secreto, procedeu-se à eleição, com a apresentação de duas chapas.

Apurada a votação, foi eleita a seguinte diretoria:

Presidente - Francisco Isabel (Curso de Geografia e História).

1ª Secretária - Pórcia Guimarães Alves (Curso de Educação).

A seguir o professor Homero de Melo Braga empossou a primeira diretoria do Centro Acadêmico de Filosofia. O presidente da nova agremiação uso da palavra para agradecer a escolha do seu nome e dizer seus objetivos do Centro, no contexto universitário. Já a 3 de setembro, reuniram-se os sócios do Centro Acadêmico de Filosofia para resolverem sobre sua representação junto ao "altar da Pátria", no dia 7 de setembro, na hora designada aos universitários. Na mesma reunião, foram escolhidos os delegados junto ao Diretório Central dos Estudantes; foram eleitos Francisco Albizú (Curso de Educação) e Delore Scalco (Curso de Ciências Sociais e Políticas).

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A crise política na área do governo estadual veio afetar, de forma grave, a continuidade e funcionamento da Faculdade de Filosofia. Com a demissão do professor Omar Gonçalves da Mota, do cargo de Secretário de Estado, o interventor Manoel Ribas cortou a subvenção à Faculdade de Filosofia e fez rescindir o contrato que permitia a esta a administração do Curso Complementar do Ginásio Paranaense.

Sem verbas de manutenção, professores e funcionários trabalhando sem receber, a Faculdade estava fadada a cerrar as portas, que de forma tão alviçadeira foram abertas.

O rompimento político do diretor da Faculdade com o Interventor do Estado teve, também, como conseqüência a perda da sede provisória instalada no edifício do Congresso Legislativo Estadual, que se encontrava ocioso.

Precariamente, a Faculdade instalou-se em outros locais, além da Universidade e do Círculo de Estudos Bandeirantes, em prédio particular de propriedade do professor Homero de Melo Braga. Foi, ainda, este professor, secundado pelo Padre Jesus Ballarin e outros, que novamente através de reunião e debates encontrou a fórmula de garantir a sobrevivência da Faculdade de Filosofia.

A "União Brasileira de Educação e Ensino", dirigida pelos Irmãos Maristas, ofereceu o apoio material indispensável à prossecução dos trabalhos da Faculdade.

Como conseqüência, foram elaborados novos estatutos e organizado Conselho Geral, do qual faziam parte o reitor do Instituto Santa Maria, como presidente, e indicados pela "União Brasileira de Educação e Ensino" dois professores da Faculdade, pata os cargos de secretário e tesoureiro. O Conselho passou a reger a nova Faculdade, através da superintendência do seu funcionamento, aprovação de orçamentos e contratações de professores.

Reorganizado o quadro dos docentes, de acordo com a nova orientação, foi eleita, a 1º de agosto de 1939, a seguinte diretoria da Faculdade: Dr. Brasil Pinheiro Machado, diretor; Padre Jesus Ballarin, vice-diretor; e Dr. Homero de Melo Braga, secretário.

As aulas dos diversos cursos foram, então transferidas para as salas do Instituto Santa Maria.

O professor Gaspar Veloso, que havia sido dispensado das funções de professor, com a nova orientação, foi designado, pelo Ministério da Educação, Inspetor Federal da Faculdade de Filosofia, cargo que também exercia junto à Faculdade de Direito.

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No correr do 2º ano do Curso de Pedagogia, dois professores catalizaram a interesse e a admiração dos alunos.

O professor Padre Jesus Ballarin, com as aulas de Psicologia - cujos apontamentos ainda conservo - e o professor Gaspar Veloso, com as aulas de Administração Escolar.

Já na 3ª série, o reencontro com o professor Homero de Melo Braga, através das aulas de Biologia da Educação, fez renascer o entusiasmo pelos temas enfocados - novidades na época - vitaminas, nutrição e, naturalmente, genética, com seus fascinantes problemas.

No final de 1940, o término do curso de bacharel.

Com os Cursos de Filosofia, Ciências Sociais, Geografia e História, Ciências Químicas e Pedagogia, estavam funcionando regularmente, obtiveram o reconhecimento do governo federal, através do Decreto nº 5.756 de 04/06/1940.

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O dia 5 de dezembro de 1940 foi de festa. Às 8h30min, na Capela do Instituto Santa Maria, S. Ex.ª Revma. D. Ático Eusébio da Rocha, Arcebispo de Curitiba, oficiou missa em ação de graças.

Às 15h30min, coquetel promovido pelos bacharelandos em homenagem aos professores, falando, na ocasião, em nome dos seus colegas, João Ribeiro, também jornalista, dos quadros do jornal "O Dia".

Às 20h00, solenidade de inauguração do prédio próprio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, na Rua XV de Novembro, ao lado do Instituto Santa Maria. O ato foi presenciado pelas mais altas autoridades, falando na ocasião o irmão Hipólito, oferecendo o prédio, e o professor Homero de Melo Braga, agradecendo a compreensão e a colaboração da "União Brasileira de Educação e Ensino", que tornou possível a manutenção da Faculdade, agora vitoriosa com a colação de grau da sua primeira turma de bacharéis.

SOLENIDADE DE INAUGURAÇÃO DA FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS LETRAS DO PARANÁ RUA 15 DE NOVEMBRO, 1004 CURITIBA

Curitiba, 1.° dezembro de 1940

Exmo Snr.

Temos suma honra e prazer de convidar V. Excia, e Exma. familia para, no dia 5 de dezembro de 1940, às 20 horas, assistirem à inauguração do prédio próprio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná, na rua XV de Novembro nº 1.004.

Agradecidamente,

Dr. Brasil Pinheiro Machado

diretor.

A seguir, no Salão Nobre do Instituto Santa Maria, a solenidade de colação de grau, paraninfada pelo Dr. Brasil Pinheiro Machado, sendo oradora da turma a aluna do Curso de Filosofia, Hedwing Reichen.

O paraninfo frisou, em seu discurso, que o objetivo das faculdades de Filosofia era "criar, recriar e disciplinar os atributos da cultura humana e de perpetuar sues elementos constitutivos no Brasil, prevendo que, em futuro próximo, estariam aptas a perscrutar os destinos de nossa cultura nacional".

Nesta primeira turma de bacharéis, formaram-se em:

Filosofia: Esther de Oliveira Portes

Hedwing Reichen

Felipe de Souza Miranda Júnior

Ciências Sociais e Políticas: Delore Scalbo

Pedagogia: Genemy Souza França

Myrian G. Weigert

Pórcia Guimarães Alves

Antônio Dionísio Machado

Francisco Albizú

Haroldo Faria Neto

João de Freitas

João Ribeiro

João B. Vieira Rebello

Ciências Químicas: Ernesto E. Drischel

Francisco Canziani

João José Vassão

Geografia e História:

Dalíria Franco

Antônio Maria Rodrigues

Francisco Isabel

Os bacharéis da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná sentir-se-ão profundamente honrados com a presença de V. Excia. e Exma. família nas solenidades que farão realizar em dezembro próximo, pela conclusão do seu curso.

Curitiba, novembro de 1940.

Enviado por Pórcia Guimarães Alves.

Dia 5 de dezembro:

às 81/2 horas - Na capela do Instituto Santa Maria, missa em ação de graças, oficiada por S. Excia Revdma. D. Ático Eusébio da Rocha, Arcebispo de Curitiba;

às 21 horas - No Salão Nobre do Instituto Santa Maria, solenidade da colação de grau, a qual será paraninfada pelo

Prof. Dr. Brasil Pinheiro Machado.

FILOSOFIA

Esther de Oliveira Portes

Hedwing Reichen

Felipe de Souza Miranda Júnior

CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS

Delohé Scalbo

PEDAGOGIA

Genemy Souza França

Myrian G. Weigert

Pórcia Guimarães Alves

Antônio Dionísio Machado

Francisco Albizú

Haroldo Faria Neto

João de Freitas

João Ribeiro

João B. Vieira Rebello

CIÊNCIAS QUÍMICAS

Ernesto E. Drischel

Francisco Canziani

João José Vassão

GEOGRAFIA E HISTÓRIA

Dalíria Franco

Antônio Maria Rodrigues

Francisco Isabel

A festa continuou, depois de concluída a solenidade. Abraços, flores, telegramas. De vestido longo branco - como as demais formandas - enfeitado com bolero de renda também branco, flores na mão, pisando em nuvens, ao deixar o salão em direção à saída, acompanhada de familiares e amigos, encontrei o professor Homero de Melo Braga, que, ao me cumprimentar, disse: "Gostaria de contar com a sua colaboração em Biologia da Educação". "Como?" "Como assistente da cadeira, responsável pelas aulas práticas". Mal refeita do convite, encontro-me com o professor Joaquim de Mattos Barreto - professor de Psicologia da Educação - que também me convidou para trabalhar como sua auxiliar.

Impossível descrever a emoção, foi a glória!

Convém notar que eu havia obtido as melhores notas, no correr do curso, nas duas disciplinas: Bilogia da Educação e Psicologia da Educação.

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No início do ano letivo de 1941, apresentei-me ao professor Homero de Melo Braga para receber orientação e horários de trabalho como sua assistente em Biologia da Educação, para o Curso de Didática. Os alunos, os colegas formandos nos demais cursos da Faculdade, com exceção do Curso de Pedagogia. Estes teriam outras disciplinas no seu Curso de Didática, que era de um ano de duração.

O trabalho - que inicialmente me amendrontara - se desenvolvia bem, os colegas do Curso de Bacharel aceitaram com muita simpatia, a minha presença nas aulas práticas de Biologia da Educação.

Uma tarde, o professor Homero de Melo Braga veio à minha procura, ao final da aula: "Preciso falar consigo", disse.

Pensei, fiz algo errado!...

O professor, sem jeito, rodeando para entrar no assunto... "Sabe, Pórcia, não sei como lhe dizer, mas você vai ter que deixar de ser minha assistente!" E antes que eu falasse, acrescentou: "A União Brasileira de Educação e Ensino não permite mulheres no corpo docente".

Minha sensação de alívio e de tristeza! E, acrescentou, ainda, o professor: "Mas você vai permanecer até o fim do ano, só que, infelizmente, não vai receber nenhuma remuneração".

Assim foi! No final de 1941, despedi-me com certa amargura do magistério superior.

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O impacto da fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, no contexto social, foi diferenciado, aplausos de um lado, animosidade, de outro. A formação dos quadros de professores para os ginásios, cursos complementares e escolas normais se fazia de forma simplista. O médico lecionava Biologia e Higiene, o advogado Português, o padre Latim, o engenheiro Matemática, assim por diante.

A criação da faculdade de Filosofia, tornando a carreira de professor uma especialização universitária, desagradou a muitos. Principalmente no interior, onde o médico da cidade fazia um "bico" dando aulas no ginásio, o promotor complementava seus rendimentos lecionando Português, etc.

A resistência à nova carreira universitária perdurou, ainda, por muitos anos.

Os formandos do Curso de Pedagogia encontraram maior dificuldades, por ser menor a demanda. As escolas normais eram oficiais e poucas.

Somente no governo do interventor Brasil Pinheiro Machado, em 1946, é que foi regulamentada a permissão para organização de Cursos Normais, nos colégios particulares. Em face da dificuldade acima exposta, de aproveitamento do Curso de Pedagogia, o MEC permitiu que os seus formandos lecionassem História Geral e do Brasil e Matemática.

Foi o Colégio Novo Ateneu que me ofereceu a primeira oportunidade de aplicação do curso superior, como professora de História do Brasil, no curso ginasial inicialmente, mais tarde, também, no clássico e no científico (1943 a 1951).

A Escola Normal continuava "fechada" para as "meninas da Filosofia", no dizer de ilustre professor da casa!

Somente em 1948, quando ameaçando a assistente técnica da Escola Normal, de que ia recorrer ao professor Brasil Pinheiro Machado - então interventor - é que giraram os gonzos e a porta se abriu...

Fui substituir a professora Annette Macedo, ilustre e humana educadora que se aposentara. Assumi a disciplina Pedagogia, síntese das chamadas "disciplinas pedagógicas", já então, nesta época, desmembradas e estudas separadamente.

Em 1950, fiquei responsável pela Psicologia Educacional, da Escola Normal do Colégio Nossa Senhora de Sion.

E, finalmente, em 1951, com a federalização da Universidade, retornei ao seu quadro de professores, como assistente de ensino.

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As berreiras foram cedendo lentamente. A improvisação de professores perdurou, porém, até pouco mais de uma década atrás... Em convênio com a Universidade, foram submetidos, ao verniz pedagógico, dentistas, advogados, engenheiros, etc..., que precisavam regulamentar sua situação junto ao MEC.

Nestes 50 anos de funcionamento do Curso Superior de Educação, aos poucos a sociedade foi assumindo e aceitando a realidade que deixou de ser nova, para ser corrente e corriqueira: a de que, para lecionar no curso secundário, se faz necessário o diploma de curso superior.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1988
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