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Por que a MAPA é útil em obstetrícia?

À beira do leito

Obstetrícia

POR QUE A MAPA É ÚTIL EM OBSTETRÍCIA?

A Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) teve seu início nos anos 60, quando Sokolow (1966) desenvolveu um dispositivo portátil para aferição automática da pressão arterial, demonstrando que tais medidas seriam superiores àquelas realizadas pelo médico no consultório na possível correlação com lesões em órgãos-alvo. Este fato deve estar relacionado com níveis pressóricos mais altos no período de sono, uma vez que autores como Verdecchia et al. (1991) verificaram maior freqüência de comprometimento em orgãos-alvo nos hipertensos que não apresentavam queda noturna da PA, em comparação com aqueles hipertensos que conseguiam níveis pressóricos noturnos mais brandos.

Tais conceitos revolucionaram o estudo da hipertensão. Hoje em dia, com aparelhos mais leves e confiáveis, poucos clínicos atualizados deixam de solicitar uma MAPA para seu cliente hipertenso. Primeiro porque esta metodologia confirma o diagnóstico duvidoso, estabelecendo como sendo apenas "Hipertensão do Jaleco Branco" (HJB) 21% dos pacientes em geral (Pickering et al., 1988), depois porque correlaciona os níveis pressóricos com possíveis sintomas e, por último, porque avalia de forma inequívoca o regime terapêutico adotado.

Em Obstetrícia, tal recurso tem sido usado a partir dos anos 90 e, apesar da pouca experiência, algumas conquistas parecem ser definitivas. Primeiro, na importante caracterização da HJB, que acomete 35% das gestantes com hipertensão leve (Olofson e Persson, 1995) e que assim seriam erroneamente tratadas, com repercussões não só maternas como fetais, advindas da possível hipotensão iatrogênica. Outra contribuição seria no diagnóstico diferencial entre a gestante com pré-eclâmpsia e aquela com hipertensão crônica, pois ao que parece a primeira contaria com variabilidade maior e maiores picos hipertensivos durante a noite, enquanto a segunda teria níveis pressóricos mantidos durante 24 horas. Uma MAPA com maior variabilidade traria assim um risco maior a esta gestante, mesmo porque as medidas obtidas com a MAPA se correlacionam melhor com a proteinúria da DHEG do que as medidas casuais (Halligan et al., 1997).

Por outro lado, alguns autores (Kyle e col., 1993; Hermida et al., 1997) têm trabalhado no sentido de obter um teste preditivo para DHEG através de parâmetros da MAPA. Tal perspectiva é interessante, mas se aguardam novos estudos antes de qualquer definição. Devemos lembrar também das limitações da MAPA, como a presença de obesidade, arritmias cardíacas e do desconforto do aparato para alguns pacientes.

Marco Aurélio Galletta

Referências

• Sokolow M; Werdegar D; Kain HK; Hinman AT - Relationship between level of blood pressure measured casually and by portable recorders and severity of complications in essential hypertension. Circulation, 1966 Aug, 34:2, 279-98

• Verdecchia P; Schillaci G; Porcellati C - Dippers versus non-dippers - J Hypertens Suppl, 1991 Dec, 9:8, S42-4

• Pickering TG; James GD; Boddie C; Harshfield GA; Blank S; Laragh JH - How common is white coat hypertension? JAMA, 1988 Jan, 259:2, 225-8

• Olofsson P; Persson K A comparison between conventional and 24-hour automatic blood pressure monitoring in hypertensive pregnancy. Acta Obstet Gynecol Scand, 1995 Jul, 74:6, 429-33

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2001
  • Data do Fascículo
    Out 2000
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