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Mortalidade materna nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento

Panorama Internacional

Saúde Publica

MORTALIDADE MATERNA NOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS OU EM DESENVOLVIMENTO

A mortalidade materna, isto é, aquela resultante de complicações diretas e indiretas da gravidez, parto ou puerpério, é um bom indicador da saúde da mulher na população bem como do desempenho dos sistemas de atenção à saúde.

Pode-se dizer que quase somente a partir da segunda metade da década de 80 passou a ser dada a devida importância à mortalidade materna como problema de saúde pública nos países chamados de terceiro mundo.

Várias conferências internacionais patrocinadas pela OMS, UNICF, Banco Mundial e, na região das Américas, pela OPS foram realizadas, a partir de 1987 e durante a década de 90, com o objetivo de chamar a atenção dos países para a gravidade da situação da saúde materna. Particularmente, os países da África, Ásia e América Latina foram estimulados para que realizassem ações visando a redução da mortalidade materna em até 50% até o ano 2000.

Numerosos países passaram a ter programas de redução da mortalidade materna. Passou-se a ter necessidade de avaliar os níveis desta mortalidade para saber se estava ocorrendo redução e, se possível, quanto.

Uma avaliação correta das taxas é difícil, visto que naqueles países a cobertura do registro de óbitos é incompleto e, mesmo quando ela é razoável ou boa, sabe-se que os médicos declaram muito mal uma causa de morte materna. Essas causas são, de uma maneira geral, por várias razões, as mais mal declaradas.

Dois autores publicaram um trabalho no qual enfatizam a dificuldade para medir corretamente as taxas de mortalidade materna, bem como sua tendência. Dado esse aspecto, propõem então medir a tendência segundo dois indicadores que, segundo eles, estão associados à mortalidade materna: a porcentagem de partos atendidos por profissionais devidamente capacitados e as taxas de parto por cesárea.

Verificaram que no mundo registrou-se uma discreta melhora da cobertura da assistência qualificada ao parto, com um aumento médio anual de 1,7% durante o período 1989-1999. Nesse item os progressos foram maiores, com aumentos anuais de mais de 2% na Ásia, Oriente Médio e Norte da África.

Quanto à taxa de cesáreas, foi observado que se mantiveram estáveis durante a década de 90. Os autores comentam que os países com as taxas mais baixas de cesáreas e com maiores necessidades foram os que apresentaram a menor variação no período.

Os autores mostram-se otimistas em relação à tendência da mortalidade na década de 90 nos países do Norte da África, América Latina, Ásia e Oriente Médio, ressaltando, entretanto, que a situação é ainda preocupante nos países africanos sub-saharinos.

Comentário

No Brasil, desde os primeiros anos da década de 90, tem sido realizados programas para reduzir a mortalidade materna e, em alguns municípios e mesmo Estados como um todo, com os dados oficiais corrigidos pelos Comitês de Estudo e Mortalidade Materna, está sendo possível averiguar que não está existindo redução, ou esta é muito pequena.

Quanto aos dois indicadores indiretos propostos pelos autores, é preciso muita cautela ao usá-los. Ou, pelo menos, não vale para o Brasil. De fato, no nosso país, mais de 80% dos partos são hospitalares e, por exemplo, no município de São Paulo, chega a praticamente 100%. No entanto, a mortalidade materna continua muito alta. Poder-se-ia questionar a qualidade da assistência, porém o indicador proposto para nós não é válido!

O outro indicador, proporção de partos por cesárea, também não é válido no caso do Brasil: tem-se uma elevada porcentagem por partos por cesárea e a mortalidade materna bastante alta.

É preciso analisar com cautela esses indicadores indiretos ou outros que venham a ser propostos. A avaliação da tendência da mortalidade materna, sempre que possível, deve ser feita pela tradicional taxa. É preciso, porém, melhorar muito a qualidade da informação para que elas sejam mais fidedignas.

RUY LAURENTI

Referência

Carla AbouZahr C, Wardlaw T. Maternal mortality at the end of a decade: signs of progress? Bull WHO 2001; 79:561-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2002
  • Data do Fascículo
    Mar 2002
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