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Avaliação cardiovascular perioperatória em cirurgias não cardíacas

Diretrizes em foco

Clínica Médica

AVALIAÇÃO CARDIOVASCULAR PERIOPERATÓRIA EM CIRURGIAS NÃO CARDÍACAS

A American Heart Association, em sua publicação sobre avaliação cardiovascular perioperatória em cirurgias não cardíacas, fornece uma estrutura para a avaliação do risco cardíaco em diferentes pacientes e situações cirúrgicas. Seu enfoque principal: a intervenção perioperatória, com o objetivo de diminuir o risco cirúrgico, é raramente necessária, a menos que esteja indicada independente do contexto perioperatório.

Durante a anamnese e exame físico, deve-se identificar os preditores clínicos de risco cardiovascular, divididos em maiores (Síndromes coronárias instáveis, ICC descompensada, arritmias significativas e valvopatias graves), intermediários (angina estável, IAM prévio, ICC compensada, diabetes mellitus e insuficiência renal) e menores (idade avançada, ECG anormal, baixa capacidade funcional, história de AVC, HAS não controlada e ritmo não sinusal). Tais preditores orientam a realização de testes adicionais durante a avaliação perioperatória.

Na avaliação de risco coronariano recomenda-se a abordagem por passos, com uma boa relação custo efetividade desde as diretrizes publicadas em 1996. Investigações adicionais não estão indicadas em cirurgias de emergência. Em pacientes revascularizados nos últimos cinco anos, ou naqueles estratificados para isquemia nos últimos dois anos e que permaneçam clinicamente estáveis, nenhum teste adicional deve ser realizado. Na presença de preditores maiores de risco a cirurgia deve ser adiada, se possível, até que tais fatores sejam compensados. Nos pacientes com preditores intermediários, mas com boa capacidade funcional, o risco de complicações é pequeno. Um teste não-invasivo para isquemia é recomendado, entretanto, para pacientes com pobre capacidade funcional que serão submetidos a cirurgias de maior risco. Em pacientes com preditores menores e boa capacidade funcional, a cirurgia não cardíaca é segura. Com relação ao método para a estratificação coronariana, além da cintilografia miocárdica com tálio-dipiridamol, o ecocardiograma stress com dobutamina pode ser uma opção.

Algumas situações merecem destaque. O paciente hipertenso grave deve ser estabilizado antes da cirurgia, com ênfase ao uso dos beta-bloqueadores. Dentre as valvopatias, a estenose aórtica é a que confere maior risco cirúrgico. Para os pacientes submetidos à angioplastia percutânea, recomenda-se que seja respeitado um período de pelo menos quatro semanas até que a cirurgia não cardíaca seja realizada.

Comentário

A intervenção perioperatória para simplesmente baixar o risco cirúrgico é raramente necessária, a menos que esteja indicada também fora do período perioperatório. O propósito da avaliação perioperatória não é liberar o paciente para algum procedimento, mas sim realizar uma avaliação geral do estado clínico do paciente, fazer recomendações para o manejo e riscos de problemas cardíacos durante todo o período perioperatório e fornecer um perfil de risco para que sejam tomadas decisões que possam influenciar nos eventos cardíacos a curto e longo prazo. Sempre lembrando que esta pode ser a primeira oportunidade de avaliação cardiológica e diagnóstico de cardiopatias em muitos pacientes.

RENATO SCOTTI BAGNATORI

BRUNO CARAMELLI

Referência

ACC/AHA Guideline update on perioperative cardiovascular evaluation for noncardiac surgery. J Am Coll Cardiol 2002; 39:542-53.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Set 2002
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