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O relacionamento acadêmico com a indústria farmacêutica nas ciências da vida

PANORAMA INTERNACIONAL

MEDICINA FARMACÊUTICA

O relacionamento acadêmico com a indústria farmacêutica nas ciências da vida

João Novaretti; Marcelo Marotti

O relacionamento entre a indústria farmacêutica e o mundo acadêmico continua sendo muito fascinante, mas ao mesmo tempo intrigante, incluindo neste contexto universidades e agências regulatórias. A despeito de tantas atividades realizadas em conjunto, como conferências, congressos, jornadas, simpósios, etc, a controvérsia permanece.

Reconhecer a necessidade dessa parceria sempre suscita novas questões que precisam ser adequadamente equacionadas. Se, por exemplo, por um lado pode promover benefícios substanciais à economia de um país, por outro pode oferecer riscos aos sujeitos envolvidos em uma pesquisa clínica. Historicamente, desde 1922, existem relatos desse relacionamento como aquele entre a Universidade de Toronto e a Eli Lilly, quando iniciou-se a distribuição de insulina nos Estados Unidos. Como conseqüências desse relacionamento, uma ampla literatura atesta o benefício potencial científico obtido. O relacionamento também parece ser efetivo em transferência de tecnologia (demonstrado em estudo conduzido nos EUA em 1990). A habilidade de lidar com esse relacionamento requer cada vez mais cuidados, pois não somente as pesquisas vão se tornando cada vez mais sofisticadas como também a participação entre as diversas partes necessitando análise cuidadosa de possíveis conflitos de interesse. Autoridades e universidades cada vez mais aperfeiçoam suas diretrizes com o intuito de melhor conduzir esse relacionamento, seja ou não no âmbito da pesquisa clínica. O futuro parece ser a elaboração de relatórios e/ou diretrizes mais sofisticadas que determinem as condições em que esse relacionamento poderá ser exercido; um exemplo disso é o relatório AAHRPP (Association for the Acreditation of Human Research Protection Programs), elaborado pelas associações de universidades americanas AAMC (Association of American Medical Colleges) e AAU (Association of American Universities), existente desde 2001. Dessa maneira, uma parceria cada vez mais estreita e equilibrada poderá ser desenvolvida.

Comentário

A relação entre a iniciativa privada (aqui mencionada como as indústrias farmacêuticas de pesquisa) e as universidades é hoje uma realidade imutável que necessita colocar em prática os regulamentos já disponíveis, a fim de evitar as interpretações errôneas ou tendenciosas. Por se tratar de uma relação altamente complexa, ambas as partes necessitam se municiar de maturidade profissional adequada para determinar seus respectivos papéis e limites. Este cenário já é pautado pela ética e pelos procedimentos padrões rigorosos que eliminam quaisquer conflitos de interesse. Cabe agora incentivarmos esta relação e criarmos estruturas que garantam a total visibilidade desta relação em prol da ciência, com o objetivo de viabilizar os centros médicos universitários que se encontram muitas vezes em situações carentes.

Referência

1. Blumenthal D. Academic – industrial relationships in the life sciences. N Engl J Med 2003; 349(25):2452-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Maio 2004
  • Data do Fascículo
    2004
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