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Apresentação

DOSSIÊ "CHINA: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SEGURANÇA INTERNACIONAL"

Apresentação

Este dossiê resulta da reflexão coletiva sobre os impactos da inserção internacional da China na ordem econômica internacional e também nas dinâmicas contemporâneas de segurança internacional, trabalho desenvolvido durante o I Seminário Sino-Brasileiro: Desenvolvimento Econômico e Segurança Internacional. O seminário foi realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre, em abril de 2010, como parte da comemoração dos dez anos do Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais (Nerint). Desde então, foram realizados mais dois seminários internacionais pelo Nerint e seus pesquisadores estiveram envolvidos na criação do primeiro curso de Doutorado em Estudos Estratégicos Internacionais do país.

Somos gratos aos editores e à equipe de apoio da Revista de Sociologia e Política pela acolhida da proposta de publicação deste dossiê e pela paciência ao longo dos últimos 18 meses. O dossiê foi inicialmente sugerido pela Professora Danielly Becard, a quem agradeço juntamente aos demais autores dos artigos. Além disso, gostaria também de registrar meu agradecimento pelo trabalho de revisão técnica realizado por Felipe Machado, bem como a toda a equipe que trabalhou na organização do seminário e aos participantes que, por motivos diversos, não puderam participar do dossiê.

A última década foi testemunha de um crescimento dos estudos asiáticos no Brasil, especialmente daqueles sobre a China. No entanto, infelizmente, a publicação de trabalhos científicos nos principais periódicos do país ainda está bastante aquém de nossas necessidades de compreensão sobre a realidade chinesa. Destaco, portanto, a importância de reunirmos neste dossiê trabalhos sobre a inserção internacional da China, suas relações com o Brasil e a América Latina, os efeitos de sua economia no contexto regional asiático, bem como a análise da racionalidade de suas políticas de segurança.

No primeiro artigo do dossiê, o Professor Paulo Visentini (da Ufrgs) analisa o novo perfil de inserção internacional da China no século XXI. Nesse novo estágio, segundo o autor, a China estaria aproximando-se de países da periferia em desenvolvimento, principalmente africanos, com propostas mais abrangentes do que muitos dos antigos parceiros dessas nações, para não nos lembrarmos do legado das antigas potências coloniais no continente.

O segundo artigo deste dossiê, de autoria da Professora Danielly Ramos Becard (da Universidade de Brasília (UnB)), trata das relações bilaterais entre Brasil e China ao longo das últimas duas décadas. Partindo de uma análise da evolução histórica das relações entre os dois países, a autora aponta os desafios que perpassam o histórico das relações econômico-comerciais sino-brasileiras, bem como alguns dos resultados provenientes dessa cooperação. A hipótese central do trabalho gira em torno do argumento de que os avanços das relações entre os dois países advêm, sobretudo, da crescente interdependência no sistema internacional, ressaltando, entretanto, que tais avanços foram limitados pela falta de planejamento sistemático e pelas instabilidades internas vividas pelos dois países.

O artigo de autoria do Professor André Cunha (Ufrgs) analisa os impactos da inserção internacional da China na nova ordem internacional e seus efeitos sobre o Brasil. Nesse sentido, o autor examina o comércio bilateral e os padrões de convergência cíclica entre as economias do Brasil e da China, levando em consideração, no entanto, os desafios para a competitividade externa brasileira nesse novo contexto.

Na seqüência temos dois artigos sobre as implicações das relações econômicas entre a República Popular da China e os países da América Latina. No primeiro deles, o Professor Javier Vadell (da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)) trabalha com dados sobre o comércio e investimentos da China nos países da América do Sul, concluindo pela existência de uma modelo alternativo de desenvolvimento, que o autor denomina de "Consenso do Pacífico". Na mesma linha, o Professor Matt Ferchen (da Tsinghua University, Beijing, China) avalia os impactos das relações econômico-comerciais entre os países da América Latina e a China em uma perspectiva temporal em que expõe os prováveis efeitos de curta e longa durações desse formato de cooperação.

No sexto artigo da série, o Professor Diego Pautasso (da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio Grande do Sul (ESPM-RS)) examina o desenvolvimento nacional da China nos últimos anos e seus impactos na economia regional asiática. O argumento central do trabalho é que uma economia do tamanho da chinesa (continental) produz um efeito gravitacional no continente e acaba por favorecer a inserção internacional da China no sistema internacional.

No sétimo e último artigo do dossiê, Marco Cepik (Ufrgs) busca explicar a política de cooperação internacional da China para o setor espacial. A partir de uma concepção teórica realista, o autor formula as razões gerais para a cooperação internacional, discute aspectos contextuais, descreve o programa espacial chinês e analisa duas formas de cooperação: 1) as iniciativas multilaterais da China, no Comitê da Organização das Nações Unidas para o Uso Pacífico do Espaço Exterior (Copous) e na recém-criada Organização de Cooperação Espacial da Ásia-Pacífico (Apsco); 2) a cooperação bilateral com potências regionais, tendo como estudos de caso as relações chinesas com o Brasil e com a África do Sul.

A demanda no Brasil por estudos específicos sobre outros países e regiões tem crescido ao longo dos últimos anos. Esse processo resulta do próprio crescimento da inserção internacional brasileira, bem como é sinal do amadurecimento e da especialização crescente da comunidade acadêmica de Relações Internacionais no país. Com foco nas relações internacionais da América do Sul, Ásia e África, o Nerint tem contribuído, ao longo de mais de dez anos, para uma produção científica e socialmente relevante, bem como para o adensamento de redes de especialistas em temas críticos, tais como a distribuição desigual da riqueza e do poder no sistema internacional. Entretanto, vale destacar que os artigos reunidos aqui representam as opiniões sempre provisórias e sujeitas ao progresso da pesquisa de seus autores, não sendo necessariamente endossadas pelo Nerint, pelos editores da Revista de Sociologia e Política ou pelas instituições em que os professores trabalham.

Boa leitura!

Recebido em 14 de julho de 2011.

Aprovado em 14 de julho de 2011.

Marco Cepik (mcepik@gmail.com) é Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e Professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Fev 2012
  • Data do Fascículo
    Nov 2011
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