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Editorial

2017 é um ano especial para mim. Não apenas porque completo 40 anos de idade, mas também porque faz 10 anos que me tornei professor universitário.

Contratado em 2007, pela Universidade Federal do ABC, e em 2010 pela Escola de Engenharia de São Carlos, sempre trabalhei com cerâmicas refratárias. Participei do Conselho Diretor da ABCeram por três mandatos e de sua Diretoria entre 2014-2016. Desde 2008, faço parte da Comissão Técnica do Congresso Brasileiro de Cerâmica.

Nesses 10 anos, observei que os altos e baixos econômicos e políticos do Brasil e do mundo fizeram com que indústrias, universidades, centros de pesquisa, agências de fomento e praticamente todo tipo de organização tivesse que se adaptar a novas realidades. O mesmo ocorreu com a maioria das profissões e carreiras.

A indústria cerâmica nacional precisou se modernizar para enfrentar a forte concorrência estrangeira em todos os seus setores. Apesar dos muitos esforços e vitórias alcançadas, ainda permanecem desafios como encontrar fontes confiáveis e competitivas de energia, contratar mão de obra especializada e reduzir a elevada carga tributária. Eventos recentes sugerem que a relação entre os setores público e privado precisará ser revista com urgência e em profundidade, sendo reescrita com base em regras mais rígidas e claras. As questões ambientais também não podem esperar mais.

A pesquisa acadêmica experimentou dez anos onde se alternaram períodos de abundantes recursos para financiamento e outros com fortes restrições orçamentárias. Apesar disso, houve significativo aumento no número de instituições de ensino e pesquisa, com ganhos importantíssimos no parque nacional de equipamentos. A internacionalização dos pesquisadores e a criação de redes de pesquisa e centros de divulgação interdisciplinar aumentaram expressivamente a quantidade e relevância das publicações nacionais. Como desafios, ainda restam a grande quantidade de burocracia que sobrecarrega os pesquisadores brasileiros e a dificuldade de motivar novos talentos a perseguir essa carreira. Por outro lado, para encontrar novas fontes de financiamento e oportunidades de desenvolvimento de produtos e processos, houve um estreitamento das interações entre centro de pesquisas e universidades com o setor industrial. Ele teve como catalisadores as agências de fomento (como CNPq, FAPESP e FINEP), que passaram a valorizar tais iniciativas, e organizações como a ABCeram, que promovem eventos de integração (como o Encontro de Refrataristas e Usuários de Refratários), e as agências de inovação das universidades públicas (como as pioneiras da USP e UNICAMP).

A revista Cerâmica é publicada continuamente há 63 anos e também passou por mudanças nesse período. Desde os anos 90, ela mantém um sistema de submissão de artigos e revisão por pares respeitado internacionalmente. Desde os anos 2000, após seu cadastro em diversos bancos de citações, suas contribuições para a ciência e tecnologia na área de materiais cerâmicos crescem continuamente. Em 2017, a submissão e revisão dos textos passaram a ser eletrônicas, o que deve reduzir o tempo total para publicação. Para os próximos anos, precisamos conseguir recursos para garantir e aprimorar a qualidade dos textos publicados e aprender a trabalhar com as novas tecnologias digitais, como redes sociais, mecanismos de busca inteligentes, ferramentas para detecção de plágio e bancos de dados cada vez maiores.

Pessoalmente, eu aprendi que a missão do educador vai além de ensinar diagramas de equilíbrio e estruturas cerâmicas e que a do pesquisador é mais do que simplesmente produzir artigos e patentes. Para evoluir e se aprimorar, esses profissionais não podem mais permanecer isolados. Cabe a eles também motivar as futuras gerações a terem papel ativo e consciente no desenvolvimento do país e na construção de nossa sociedade. Desafios nesse sentido não faltam, mas depois de me tornar pai de duas crianças (no ano passado, em pleno 60° Congresso Brasileiro de Cerâmica!), eu me dou o direito de ser bastante otimista quanto ao futuro.

Prof. Dr. Rafael Salomão

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    Notas da Editoria Científica: Visando aumentar a internacionalização da revista, artigos redigidos em inglês passarão a ter prioridade de publicação.
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    O 61º Congresso Brasileiro de Cerâmica, realizado no período de 04 a 07 de junho deste ano no Centro de Eventos da FAURGS, Gramado-RS, contou com um número apreciável de participantes, 439, provenientes de quase todos os estados da federação, além de representantes da Argentina, Espanha, EUA e Portugal. Os participantes tiveram à disposição extensa gama de temas, apresentada em diversas sessões sob a forma de 454 trabalhos técnico-científicos (55 orais e 399 pôsteres), 19 palestras, 4 plenárias e 3 painéis, além da realização de uma oficina de decoração. Paralelamente ao Congresso foi promovida uma exposição técnica, que contou com a participação de 9 empresas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017
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