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Semelhanças e diferenças intergeracionais entre mães e filhas trabalhadoras rurais: características sociodemográficas e reprodutivasa a Extraído da tese de doutorado “Autonomia reprodutiva entre mulheres trabalhadoras rurais”. Autora: Ana Cleide da Silva Dias. Orientadora: Silvia Lúcia Ferreira. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal da Bahia. Ano 2020.

Similitudes y diferencias intergeneracionales entre madres e hijas obreras rurales: características socio demográficas y reproductivas

RESUMO

Objetivo

analisar as semelhanças e diferenças intergeracionais envolvendo características sociodemográficas e reprodutivas entre mães e filhas trabalhadoras rurais.

Método

estudo analítico e quantitativo desenvolvido em fevereiro de 2018 com 21 díades, mães e filhas trabalhadoras rurais, em idade reprodutiva cadastradas no Programa Chapéu de Palha Mulher − Pernambuco. Utilizou-se o questionário da Pesquisa Nacional de Saúde para verificar as características sociodemográficas e reprodutivas.

Resultados

Mães e filhas não apresentaram diferenças estatísticas para estado conjugal (p = 1,00), grau de instrução (p = 0,053), cor/raça (p = 1,00), religião (p = 1,00), idade que começou a trabalhar (p = 0,433) e horas de trabalho por semana (p = 1,00), participação em grupo de planejamento familiar (p = 0,344), uso de método contraceptivo (p = 0,065), aborto espontâneo (p = 1,00) e parto cesáreo (p = 0,459).

Conclusão e implicações para a prática

Os resultados sugerem que ocorreu o processo de modelação em diversos aspectos, ou seja, a mãe serviu de figura de referência para as suas filhas na tomada de atitudes e comportamentos, o que necessita maior entendimento sobre relação intergeracional, inclusive entre profissionais de saúde para melhor qualificação na assistência, a exemplo, no cuidado reprodutivo.

DESCRITORES:
Saúde da População Rural; Relações Mãe-Filho; Relações Familiares; Análise de Gênero; Mulheres Trabalhadoras

RESUMEN

Objetivo

analizar las similitudes y diferencias intergeneracionales que involucran características sociodemográficas y reproductivas entre madres e hijas trabajadoras rurales.

Método

estudio analítico y cuantitativo desarrollado en febrero de 2018 con 21 díadas, en edad reproductiva, registradas en el Programa Chapéu de Palha Mulher - Pernambuco. Se utilizó el cuestionario de la Encuesta Nacional de Salud para verificar las características sociodemográficas y reproductivas.

Resultados

Madres e hijas no presentaron diferencias estadísticas para estado civil (p = 1,00), nivel educativo (p = 0,053), color/raza (p = 1,00), religión (p = 1,00), edad a la que trabaja (p = 0,433) y horas de trabajo a la semana (p = 1,00), participación en un grupo de planificación familiar (p = 0,344), uso de métodos anticonceptivos (p = 0,065), aborto espontáneo (p = 1,00) y parto por cesárea (p = 0,459).

Conclusión e implicaciones para la práctica

Los resultados sugieren que el proceso de modelado se dio en varios aspectos, o sea, la madre sirvió como figura de referencia para sus hijas en la toma de actitudes y comportamientos, lo que exige una mayor comprensión de la relación intergeneracional, incluso entre los profesionales de la salud para una mejor calificación en asistencia, por ejemplo, en el cuidado reproductivo.

DESCRIPTOR
ES: Salud Rural; Mother-Child Relations; Family Relations; Gender Analysis; Mujer Trabajadora

ABSTRACT

Objective

To analyze similarities and differences involving socio-demographic and reproductive characteristics between rural working mothers and daughters.

Method

An analytical and quantitative study was developed in February 2018 with 21 dyads, rural working mothers and daughters, of reproductive age registered in the Chapéu de Palha Mulher Program in Pernambuco State, Brazil. The National Health Survey questionnaire was adopted to verify socio-demographic and reproductive characteristics.

Results

Mothers and daughters did not show statistical differences for marital status (p = 1.00), education level (p = 0.053), skin color/race (p = 1.00), religion (p = 1.00), age when started working (p = 0.433) and working hours per week (p = 1.00), participation in a family planning group (p = 0.344), use of contraceptive methods (p = 0.065), miscarriage (p = 1.00), and cesarean childbirth (p = 0.459).

Conclusion and implications for practice

The results suggest that the modeling process took place in numerous aspects, meaning these mothers fulfilled a reference role for their daughters in decision-making and behaviors. It requires a greater understanding of intergenerational relationships, especially amongst health professionals, for them to provide a better qualification in assistance, such as in reproductive care.

Keywords:
Rural Health; Mother-Child Relationships; Family Relationships; Gender Analysis; Working Women

INTRODUÇÃO

Questões sobre influências de comportamentos de mães e pais sobre filhos e filhas vêm ganhando interesse na literatura, permitindo analisar mudanças sociais ao longo do tempo com base na contextualização sociocultural de normas e valores que rodeiam a unidade familiar e que, muitas vezes, conferem uma identidade específica para cada membro da família.11 Barni D, Knafo A, Ben-Arieh A, Haj-Yahia MM. Parent-child value similarity across and within cultures. J Cross Cult Psychol. 2014;45(6):853-67. http://dx.doi.org/10.1177/0022022114530494.
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A transmissão intergeracional, vista como herança familiar, representa um modelo na transferência de condutas de uma geração a outra com um padrão de repetições.22 Bernardi D, Mello R, Féres-Carneiro T. Ambivalências frente ao projeto parental: vicissitudes da conjugalidade contemporânea. Rev SPAGESP [Internet]. 2019; [citado 2021 ago 31];20(1):9-23. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/7155480.pdf
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Trata-se de um processo onde mães e pais influenciam filhas/os por meio de crenças, valores e práticas, em uma abordagem unidirecional, sendo mães/pais vistos como agentes ativos e filhas/os considerados receptores passivos.33 De Mol J, Lemmens G, Kuczynski L. Intergenerational transmission in a bidirectional context. Psychol Belg. 2013;53(3):7-23. http://dx.doi.org/10.5334/pb-53-3-7.
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Este é um fenômeno que atua em diversos comportamentos, seja educacional, ocupacional e/ou social.44 Cemalcilar Z, Secinti E, Sumer N. Intergenerational transmission of work values: a meta-analytic review. J Youth Adolesc. 2018;47(8):1559-79. http://dx.doi.org/10.1007/s10964-018-0858-x.
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Este tipo de transmissão é mais provável ocorrer dentro do mesmo sexo, inclusive em contextos tradicionais com características específicas de gênero, como é o caso de mães e filhas.44 Cemalcilar Z, Secinti E, Sumer N. Intergenerational transmission of work values: a meta-analytic review. J Youth Adolesc. 2018;47(8):1559-79. http://dx.doi.org/10.1007/s10964-018-0858-x.
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A figura materna ocupa lugar importante neste processo, uma vez que é vista como a influenciadora mais bem sucedida, e as filhas como receptoras mais susceptíveis para a reprodução de padrões comportamentais,55 Döring AK, Makarova E, Herzog W, Bardi A. Parent–child value similarity in families with young children: The predictive power of prosocial educational goals. Br J Psychol. 2017;108(4):737-56. http://dx.doi.org/10.1111/bjop.12238.
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inclusive na tomada de decisão reprodutiva.66 Loll D, Fleming PJ, Manu A, Morhe E, Stephenson R, King EJ et al. Reproductive autonomy and pregnancy decision-making among young Ghanaian women. Glob Public Health. 2020;15(4):571-86. http://dx.doi.org/10.1080/17441692.2019.1695871.
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A observação e a consequente imitação de comportamentos de uma pessoa servem de modelo de aprendizagem para outra, em especial, no caso de mães e pais, figuras importantes dentro do contexto familiar e no papel da socialização dos seus filhos e filhas.77 Lee B, Padilla J, McHale SM. Transmission of work ethic in African-american families and its links with adolescent adjustment. J Youth Adolesc. 2016;45(11):2278-91. http://dx.doi.org/10.1007/s10964-015-0391-0.
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Destaca-se, sobretudo, o papel da mãe, ainda vista como a principal responsável pelo cuidado e educação dos filhos, assumindo grande relevância na perpetuação de valores e crenças de ser mulher-mãe.88 Botton A, Cúnico SD, Barcinski M, Strey MN. The parental roles in families: analyzing transgenerational and gender aspects. Pensando Fam [Internet]. 2015; [citado 2021 ago 31];19(2):43-56. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-494X2015000200005&script=sci_abstract&tlng=en
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A semelhança entre as gerações em algum momento pode não ser apenas uma questão intrafamiliar, pois os valores sociais mudam de uma geração para outra devido à evolução social, histórica e econômica,33 De Mol J, Lemmens G, Kuczynski L. Intergenerational transmission in a bidirectional context. Psychol Belg. 2013;53(3):7-23. http://dx.doi.org/10.5334/pb-53-3-7.
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porém a mãe, em muitas situações, reflete como modelo para sua filha, o que pode ser decisivo para a formação da identidade de gênero.88 Botton A, Cúnico SD, Barcinski M, Strey MN. The parental roles in families: analyzing transgenerational and gender aspects. Pensando Fam [Internet]. 2015; [citado 2021 ago 31];19(2):43-56. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-494X2015000200005&script=sci_abstract&tlng=en
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Considerando que as relações intergeracionais podem ser entendidas como conexões que se constituem entre pessoas com idades diferentes, proporcionando a intersecção de experiências que se reúnem e enriquece a relação e motiva a continuidade da mesma,99 Silva DM, Vilela ABA, Nery AA, Duarte ACS, Alves MR, Meira SS. Dinâmica das relações familiares intergeracionais na ótica de idosos residentes no Município de Jequié (Bahia), Brasil. Ciênc. Saúde Coletiva. 2015;20(7):2183-91. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015207.17972014.
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destaca-se as famílias rurais, pois ainda persistem marcas mais acentuadas do patriarcado e de questões socialmente construídas,1010 Maraschin MS, Souza EA, Caldeira S, Gouvêa LAVN, Tonini NS. Perfil sociodemográfico e econômico de mulheres trabalhadoras rurais. Nursing. 2019;22(251):2848-53. http://dx.doi.org/10.36489/nursing.2019v22i251p2848-2853.
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o que torna um ponto importante, em particular envolvendo a análise da díade mãe-filha rural, por compor uma classe desfavorecida e vulnerável.1111 Scott P, Nascimento FS, Cordeiro R, Nanes G. Redes de enfrentamento da violência contra mulheres no Sertão de Pernambuco. Rev Estud Fem. 2016;24(3):851-70. http://dx.doi.org/10.1590/1806-9584-2016v24n3p851.
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O enfoque da temática geracional possibilita ampliar as análises existentes sobre semelhanças e diferenças em um determinado grupo, à medida que revela um universo de continuidades e descontinuidades vivenciadas em um mesmo ambiente familiar, pouco mencionada na maioria dos estudos que se dedicam a observar a díade mãe-filha, deixando de lado aspectos importantes para uma análise, a exemplo, as características sociodemográficas e reprodutivas, o que torna fundamental para os profissionais de saúde inserir como objeto de análise, buscando distinguir o perfil normativo de valores em contexto rural. Desta forma busca-se contribuir para a redução desta lacuna acerca da temática.

MÉTODO

Trata-se de um estudo analítico e de abordagem quantitativa, realizado com mães e filhas trabalhadoras rurais em idade reprodutiva e residentes nos municípios de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, no estado de Pernambuco.

A população de referência que definiu a amostra desta pesquisa foi o quantitativo de mulheres cadastradas no Programa Chapéu de Palha Mulher – Pernambuco (n=3.454). O Programa Chapéu de Palha, consiste na ajuda financeira e social para os trabalhadores desempregados no período da entressafra, com a obrigação de que os mesmos participem de cursos de capacitação e qualificação profissional.1212 Barbosa EASP, Vital TW, Xavier MGP. Análise do funcionamento de unidades de Escola Técnica Estadual do Sertão de Pernambuco. Braz J Dev. 2019;5(9):13727-49. http://dx.doi.org/10.34117/bjdv5n9-008.
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O Programa contava com 3.454 trabalhadoras rurais cadastradas, distribuídas entre três municípios. O número de participantes foi determinado considerando a proporção amostral aleatória de cada estrato (cidade), sendo não probabilística e intencional. Proporcionalmente, foram selecionadas 276 mulheres de Petrolina, 66 de Lagoa Grande e 4 de Santa Maria da Boa Vista, totalizando 346 mulheres (Tabela 1).

Tabela 1
Localidades atendidas pelo Programa Chapéu de Palha Mulher para a fruticultura no estado do Pernambuco por número de Trabalhadoras Rurais cadastradas em 2018 e a proporção amostral. Petrolina, PE, Brasil, fevereiro de 2018.

Foram incluídas mulheres (mães e filhas) que, quando consultadas, se dispuseram a participar respondendo ao formulário apresentado, de acordo com os seguintes critérios de inclusão: exercerem a função de trabalhadora rural; pertencerem a duas gerações – mães e filhas; estarem em idade reprodutiva (sendo considerada a idade mínima de 18 anos seguindo os princípios da Consolidação das Leis Trabalhistas); e residirem nos municípios contemplados pelo referido programa. Além destes, onde fosse encontrada maior concentração de pares entre os municípios de cadastramento do Programa Chapéu de Palha Mulher. Foram excluídas trabalhadoras rurais que apresentassem morbidades que pudessem dificultar a compreensão do instrumento da coleta de dados.

A verificação dos resultados ocorreu no município de Petrolina − PE, onde foi encontrada maior quantidade destes pares, totalizando 42 díades, sendo 21 mães e 21 filhas.

A coleta de dados ocorreu em fevereiro de 2018, durante o cadastramento das trabalhadoras rurais em cada município contemplado pelo Programa Chapéu de Palha Mulher − PE, em um local reservado, sendo realizada por cinco profissionais da área de saúde do sexo feminino, capacitadas para este estudo pela pesquisadora responsável.

Foi utilizado o formulário da Pesquisa Nacional de Saúde1313 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências: Brasil, grandes regiões e unidades da Federação [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2015. 98 p. [citado 2021 ago 31]. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
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aplicada à mãe e à sua respectiva filha, com objetivo de analisar as seguintes características sociodemográficas: idade, estado conjugal, grau de escolaridade, cor/raça, religião, idade em que começou a trabalhar; e características reprodutivas como o uso de métodos contraceptivos, se já ficou grávida (para a filha) e se já teve aborto espontâneo.

As características sociodemográficas entre mães e filhas foi analisada mediante estatística descritiva para expressar resultados como frequências absolutas e relativas, médias ou medianas e desvios padrão e amplitudes interquartis. Verificou-se a normalidade das variáveis quantitativas por meio do teste Shapiro-Wilk. Para a comparação das características sociodemográficas entre mães e filhas, utilizou-se os testes qui-quadrado e exato de Fisher (nos casos em que houve frequência esperada menor que 5), para as variáveis qualitativas, e os testes Mann-Whitney e t de Student para amostras independentes, nas variáveis quantitativas.

A análise da transmissão intergeracional relacionadas às características reprodutivas, na qual cada filha foi pareada à sua mãe, procedeu-se com técnicas estatísticas para amostras pareadas: teste McNemar, para variáveis qualitativas, e testes t de Student, para amostras pareadas, e Wilcoxon, para variáveis qualitativas.

O nível de significância adotado no estudo foi de 5% (α ≤ 0,05) e todas as análises foram realizadas no IBM SPSS Statistics para Windows (IBM SPSS. 21.0, 2012, Armonk, NY: IBM Corp.).

A aprovação da pesquisa foi expedida pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Vale do São Francisco, sob parecer de número 2.339.422, 27/10/2017, e foram seguidas as orientações da Resolução no 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

RESULTADOS

As características sociodemográficas da subamostra de díades estão descritas na Tabela 2. A idade média das mães foi de 44 anos e das filhas, 21 anos. Não houve diferença estatística significativa entre mães e filhas nas distribuições segundo estado conjugal, grau de instrução, cor/raça e religião. Também não foram observadas diferenças significativas entre mães e filhas na idade em que começaram a trabalhar e na carga horária semanal de trabalho.

Tabela 2
Distribuição das mães e filhas trabalhadoras rurais, segundo variáveis sociodemográficas. Petrolina, PE, Brasil, fevereiro de 2018; N=41.

De acordo com as análises, não foram observadas discordâncias significativas entre mães e filhas em relação à participação em grupo de planejamento familiar, uso de método contraceptivo e aborto espontâneo (Tabela 3).

Tabela 3
Diferenças entre as proporções de mães e filhas, segundo a participação em grupo de planejamento reprodutivo e características reprodutivas. Petrolina, PE, Brasil, fevereiro de 2018; N=41.

Na Tabela 4 é apresentada a comparação das variáveis quantitativas das características reprodutivas entre as mães e filhas participantes do estudo. A análise apontou diferenças estatisticamente significativas entre mães e filhas na idade da primeira gravidez, número de partos e número de filhos nascidos vivos. De acordo com os dados, as mães tiveram a primeira gravidez em idade mais tardia do que as filhas e, também, tiveram mais partos e mais filhos nascidos vivos comparadas às suas descendentes. O número de partos cesáreos não diferiu entre mães e filhas.

Tabela 4
Diferenças entre as proporções de mães e filhas, segundo características reprodutivas. Petrolina, PE, Brasil, fevereiro de 2018; N=41.

DISCUSSÃO

As mulheres constituem um grupo social marcado por papéis que sofrem influências cultural e social. Nos estudos de gênero, é possível considerar a possibilidade de reconstrução de uma nova realidade,1414 Fávero MH, Maracci IL. A interlocução de narrativas: um estudo sobre papéis de gênero. Psicol, Teor Pesqui. 2016;32(2):1-9. http://dx.doi.org/10.1590/0102-3772e322220.
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principalmente devido às diversas mudanças socioculturais que ocorrem nos tempos atuais.1010 Maraschin MS, Souza EA, Caldeira S, Gouvêa LAVN, Tonini NS. Perfil sociodemográfico e econômico de mulheres trabalhadoras rurais. Nursing. 2019;22(251):2848-53. http://dx.doi.org/10.36489/nursing.2019v22i251p2848-2853.
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Contudo, analisando as características sociodemográficas e reprodutivas entre mães e filhas, as variáveis testadas neste estudo, como estado conjugal, grau de instrução, cor/raça, religião, participação em grupo de planejamento familiar, uso de método contraceptivo e aborto espontâneo, não apresentaram diferenças estatísticas. Esses achados indicam similaridade intergeracional, sugerindo que as filhas adotaram as mães como referência e vivenciaram comportamentos análogos àqueles vividos por elas, indicando a força do modelo de identidade da mãe como orientadora no sistema familiar inserido no processo de modelagem.

A similaridade de comportamento entre estado conjugal, grau de instrução, religião, idade em que começou a trabalhar e carga horária semanal de trabalho demonstrou que as mães apresentaram comportamentos tradicionais em relação ao papel de gênero e modelo social, com consequências na vida pessoal e familiar das filhas. A perspectiva de socialização de gênero demonstra que a mãe possui inclinação para transmitir o seu modelo de comportamento à filha.

Situação semelhante ocorreu em um estudo que foi realizado com mulheres rurais, o que identificou similaridade intergeracional entre as características sociodemográficas de mães e filhas para as variáveis cor/raça e religião. Desta forma, podemos sugerir que a mãe pode ter servido de referência ou modelo para a transmissão de comportamento social para a sua filha.1515 Marques GCM, Ferreira SL, Dias ACS, Pereira COJ, Fernandes ETBS, Lacerda FKL. Transmissão intergeracional entre mães e filhas quilombolas: autonomia reprodutiva e fatores intervenientes. Texto Contexto Enferm. 2022;31:e20200684. http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2020-0684.
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A mãe atua como agente de socialização no âmbito familiar, e busca estimular comportamentos considerados socialmente apropriados ou evitar condutas inadequadas perante a sociedade.1616 Fernandes AV, Alexandre MES, Galvão LKS. Socialização em sentimentos empáticos com díades mãe-filho. Rev Bras Iniciaç Cient [Internet]. 2015; [citado 2021 ago 31];2(3):1. Disponível em: https://periodicos.itp.ifsp.edu.br/index.php/IC/article/view/22
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A mãe, enquanto uma fonte de modelo sociocultural, tende a não introduzir estímulos para a inovação, visto que mães e filhas compartilham valores únicos.

Percebe-se, neste estudo, que o padrão familiar relacionado ao estado conjugal entre as duas gerações não mudou linearmente no tempo. Mesmo considerando que a condição conjugal na atualidade pode estar marcada por transformações sociais e liberdade de escolha, os pais tendem a influenciar os seus filhos, consolidando valores, princípios e costumes familiares.22 Bernardi D, Mello R, Féres-Carneiro T. Ambivalências frente ao projeto parental: vicissitudes da conjugalidade contemporânea. Rev SPAGESP [Internet]. 2019; [citado 2021 ago 31];20(1):9-23. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/7155480.pdf
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Apesar da análise estatística não identificar a frequência, em termos numéricos existe uma maior concentração de mães e filhas casadas. Um estudo realizado no Rio de Janeiro entre mulheres de duas diferentes gerações designou o conceito de família como centralizado na importância do casamento considerando que a influência dos valores da “Família tradicional” está em torno do casamento para construir uma família.1717 Borges C C, Magalhães AS. Individualism, life trajectories and plans of constituting a family. Estud Psicol [Internet]. 2013; [citado 2021 ago 31];30(2):177-85. Disponível em: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/yKJpGBdw38b3j8MrKvZQSPK/?format=pdf⟨=em
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No contexto rural, como é o caso deste estudo, o casamento é um projeto de vida entre as mulheres, socialmente esperado e que garante valorização na sociedade, sendo compartilhado na família.1818 Costa MC, Lopes MJM, Soares JSF. Violência contra mulheres rurais: gênero e ações de saúde. Esc Anna Nery [Internet]. 2015; [citado 2021 ago 31];19:162-8. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/wtn3ZbpCSjLKk8TBQCF9ShB/?lang=pt
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Merece destaque a similaridade entre mães e filhas deste estudo com relação ao grau de escolaridade e idade em que começaram a trabalhar. Estas duas variáveis são interligadas, na medida em que a preocupação financeira imediata muitas vezes se sobrepõe à necessidade de alcançar o nível educacional desejado. A busca pela melhoria da baixa escolaridade não depende apenas da mulher, mas sim de um conjunto de aspectos culturais e econômicos no âmbito de cada família e, entre as famílias desfavorecidas, faz com que os indivíduos busquem trabalho precocemente pela necessidade de sobrevivência e melhores condições de vida.1919 Bayma-Freire H, Roazzi A, Roazzi MM. O nível de escolaridade dos pais interfere na permanência dos filhos na escola? Rev Est Inv Psico Educ [Internet]. 2015; [citado 2021 ago 31];2(1):35-40. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/420f/0a3b5f42f29e1e2615e7850f2a63006ee00c.pdf
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A semelhança entre a idade em que mãe e filhas começaram a trabalhar reflete a não existência de uma evolução social ou de uma diferença estatística significativa para a melhoria da segunda geração, sendo considerado desta forma como um comportamento negativo1919 Bayma-Freire H, Roazzi A, Roazzi MM. O nível de escolaridade dos pais interfere na permanência dos filhos na escola? Rev Est Inv Psico Educ [Internet]. 2015; [citado 2021 ago 31];2(1):35-40. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/420f/0a3b5f42f29e1e2615e7850f2a63006ee00c.pdf
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e provocando grande impacto em populações vulnerabilizadas, como é o caso das trabalhadoras rurais. Este resultado corrobora um estudo realizado com informações sobre características das mães e filhas em condição socioeconômica desfavorável, no qual foi observado que a idade em que a mãe começou a trabalhar é uma variável determinante para o emprego da filha.2020 Sales MS, Melo G, Fernandes DC. O início da trajetória ocupacional: quais são seus determinantes? Cienc Soc. Unisinos [Internet]. 2018; [citado 2021 ago 31];54(1):106-16. Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/938/93860389010/93860389010.pdf
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Desta forma, a mãe como agente socializadora primária representa potencial influência, inclusive sobre a escolha profissional da filha.

É importante registrar que, além da questão cultural-intergeracional, estas escolhas podem estar marcadas por um conjunto de políticas transversais que perpetuam a inequidades sociais. Como também, essas inequidades influenciam a mobilidade intergeracional dessas mulheres porque esta depende das características individuais, da conjuntura socioeconômica, da ampliação das oportunidades educacionais e ocupacionais, e das políticas sociais inclusivas.2121 Montagner P, Taira E, Januzzi P. Migração e Mobilidade Social: revisitando a discussão a partir da Pnad 2014. Rev Cienc Trabalho [Internet]. 2019; [citado 2021 ago 31];13(13):1. Disponível em: https://rct.dieese.org.br/index.php/rct/article/view/198
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Apesar de o teste estatístico não apresentar diferença estatisticamente significante, observou-se que as mães refletiram negativamente a referência da idade para o início do trabalho rural entre suas filhas, configurando trabalho infantil. A variabilidade foi menor entre as filhas e indicou que estas tiveram maior possibilidade de estudo quando comparadas às mães (14,7 e 11,86 anos, respectivamente), situação comprovada na análise do nível de escolaridade. Um nível de escolaridade mais elevado é um fator que pode proteger o indivíduo do trabalho infantil e de suas consequências futuras, como por exemplo, de apresentar trabalhos informais e precários, ou trabalho formal com baixo quantil de renda,2222 Freitas CO, Silva FA, de Lima JE. Impacto do trabalho infantil no rendimento do indivíduo adulto no mercado de trabalho formal brasileiro. Acta Sci Hum Soc Sci. 2017;39(3):281-91. http://dx.doi.org/10.4025/actascihumansoc.v39i3.32943.
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ou até o desemprego na vida adulta, contribuindo assim para a permanência da pobreza, e, por conseguinte, submissão das filhas às mesmas condições.

Quando as mães conseguem conciliar o trabalho com o papel produtivo e familiar de forma satisfatória, as filhas acabam criando expectativas e sendo influenciadas a seguirem o mesmo modelo. Na situação evidenciada pelo presente do estudo, as habilidades específicas e naturalizadas de gênero por serem mulheres, cuidadosas e jeitosas, são aproveitadas no trabalho rural no cultivo das uvas, sendo introduzidas não apenas no processo de modelagem, mas também na aprendizagem social em que a mulher está inserida no desenvolvimento de sua competência profissional.

Na prática do trabalho de muitas famílias do campo, faz parte da cultura social as crianças acompanharem os pais. Dessa forma, distanciá-las do trabalho surtiria o mesmo efeito de tirá-las da organização social, visto que elas estão inseridas em um ambiente de trabalho coletivo que se traduz em trabalho infantil em busca de sobrevivência.2323 Andrade SS, Reis M. Amazônia marajoara: as crianças ribeirinhas e o trabalho infantil na vi3a do Piriá – Curralinho/PA. Rev Labirinto [Internet]. 2018; [citado 2021 ago 31];28:15-27. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/8dad/baefc2fc1f4ca9637359dfc7e0472c159d08.pdf?_ga=2.45868132.1181745374.1629121615-605611095.1629121615
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A transmissão intergeracional em famílias em condições precárias de vida se apresenta com maior intensidade: os filhos, desde a infância, internalizam os limites sociais dos seus pais sobre a exclusão de outras formas de inclusão social. Muitos pais adiantam a inserção dos filhos na vida adulta e, em muitos casos, lhes é dado o reconhecimento social, sendo que as mães exercem papel fundamental nesta transmissão de comportamento.2424 Neves DP. A pobreza como legado. o trabalho infantil no meio rural da sociedade brasileira. Rev Hist Relig [Internet]. 2001; [citado 2021 ago 31];6(2):149-73. Disponível em: https://revistas2.uepg.br/index.php/rhr/article/view/2136/1617
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Com relação às variáveis sobre saúde reprodutiva entre mães e filhas, embora poucas investigações examinem o processo intergeracional, a literatura aponta que, mesmo com as mudanças sociais, a família patriarcal apresenta práticas tradicionais mais resistentes a mudanças, com influência importante sobre a saúde reprodutiva.2525 Gipson JD, Upchurch DM. Do the status and empowerment of mothers predict their daughters’ reproductive outcomes? BMC Pregnancy Childbirth. 2017;17(2):348. http://dx.doi.org/10.1186/s12884-017-1497-z.
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Na variável idade da primeira gravidez, as mães deste estudo tiveram a primeira gravidez em idade mais tardia quando comparadas às filhas, estando em acordo com uma pesquisa realizada na Suécia com o objetivo de analisar a gravidez precoce e sua associação com a transmissão intergeracional entre mães e filhas, que identificou que as filhas foram mais propensas a terem a primeira gravidez mais cedo quando comparadas a suas mães.2626 Högnäs RS, Grotta A. The intergenerational transmission of early childbearing: examining direct and indirect associations in a Swedish Birth Cohort. Behav Sci. 2019;9(5):54. http://dx.doi.org/10.3390/bs9050054.
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Diante desta situação, sugere-se que, entre as filhas, a maior precocidade da gravidez, quando comparadas às mães deste estudo, pode estar relacionada à autonomia reprodutiva quanto ao momento de ter filhos22 Bernardi D, Mello R, Féres-Carneiro T. Ambivalências frente ao projeto parental: vicissitudes da conjugalidade contemporânea. Rev SPAGESP [Internet]. 2019; [citado 2021 ago 31];20(1):9-23. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/7155480.pdf
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ou à exigência social pela procriação precoce que ainda persiste1010 Maraschin MS, Souza EA, Caldeira S, Gouvêa LAVN, Tonini NS. Perfil sociodemográfico e econômico de mulheres trabalhadoras rurais. Nursing. 2019;22(251):2848-53. http://dx.doi.org/10.36489/nursing.2019v22i251p2848-2853.
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entre as mães. A escolha tardia da maternidade entre as mães pode estar relacionada a questões socioeconômicas e às consequências de uma gravidez precoce ou às filhas modelarem o comportamento de suas genitoras.2626 Högnäs RS, Grotta A. The intergenerational transmission of early childbearing: examining direct and indirect associations in a Swedish Birth Cohort. Behav Sci. 2019;9(5):54. http://dx.doi.org/10.3390/bs9050054.
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,2727 Stanfors M, Scott K. Intergenerational transmission of young motherhood: evidence from Sweden, 1986-2009. Hist Fam. 2013;18(2):187-208. http://dx.doi.org/10.1080/1081602X.2013.817348.
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A gravidez precoce também está relacionada à baixa escolaridade.2828 Pinheiro YT, Pereira NH, Freitas GDM. Fatores associados à gravidez em adolescentes de um município do nordeste do Brasil. Cad Saude Colet. 2019;27(4):363-7. http://dx.doi.org/10.1590/1414-462x201900040364.
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Mesmo com a existência de vários conflitos que cercam a vida materna, a carreira profissional ou dificuldades em conciliá-los, ser mãe ainda é algo que faz parte dos planos de vida das mulheres22 Bernardi D, Mello R, Féres-Carneiro T. Ambivalências frente ao projeto parental: vicissitudes da conjugalidade contemporânea. Rev SPAGESP [Internet]. 2019; [citado 2021 ago 31];20(1):9-23. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/7155480.pdf
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e permanece como elemento que alicerça a identidade feminina2929 Coutinho SMS, Menandro PRM. Representações sociais do ser mulher no contexto familiar: um estudo intergeracional. Psicol Saber Soc [Internet]. 2015; [citado 2021 ago 31];4(1):52-71. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/13538/12962
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pois ainda persiste a crença social de que toda mulher deve ser mãe.3030 Braga RC, Miranda LHA, Veríssimo JPC. Para além da maternidade: as configurações do desejo na mulher contemporânea. Rev Pret [Internet]. 2018; [citado 2021 ago 31];3(6):523-40. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/pretextos/article/view/15994/13638
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Quanto ao número de partos e de nascidos vivos entre as mulheres deste estudo, a diferença estatística significativa pode estar relacionada à idade das mulheres no dia da entrevista. No que tange à via do parto cesárea, não houve diferença estatística, um efeito que envolve uma explicação pessoal fortemente influenciada por valores familiares ou socioculturais.3131 Riscado LC, Jannotti CB, Barbosa RHS. A decisão pela via de parto no brasil: temas e tendências na produção da saúde coletiva. Texto Contexto Enferm. 2016;25(1). http://dx.doi.org/10.1590/0104-0707201600003570014.
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Tradicionalmente, vários grupos sociais associam o parto normal a significados negativos como dor, sofrimento e morte.3232 Tostes NA, Seidl EMF. Expectativas de gestantes sobre o parto e suas percepções acerca da preparação para o parto. Temas Psicol. 2016;24(2):681-93. http://dx.doi.org/10.9788/TP2016.2-15.
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Muitas vezes, esta situação ocorre devido à falta de informações por parte da mulher, assim, esta acaba se inclinando a seguir algum modelo de referência mais próximo, um dos quais é a mãe,3333 Ferreira LA, Silva JAJ, Zuffi FB, Mauzalto ACM, Leite CP, Nunes JS. Expectation of pregnant women in relation to childbirth. R Pesq Cuid Fundam [Internet]. 2013; [citado 2021 ago 31];5(2):3692-7. Disponível em: http://seer.unirio.br/cuidadofundamental/article/view/2057/pdf_758
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pois, quando esta possui algum relato de que sofreu durante o trabalho de parto, a escolha será pela cesárea.3434 Pimenta LF, Ressel LB, Stumm KE. The cultural construction of the birth process. R. Pesq. Cuid. Fundam. 2013;5(4):591-8. http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361.2013.v5i4.591-598.
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De forma geral, a literatura aponta que famílias rurais se esforçam para preservar a cultura e a herança em diversos contextos, inclusive na relação com grupos pertencentes ao mesmo grupo para o bem-estar socioemocional, caso contrário, o convívio poderá refletir em conflitos devido as diferenças em expectativas e valores.1515 Marques GCM, Ferreira SL, Dias ACS, Pereira COJ, Fernandes ETBS, Lacerda FKL. Transmissão intergeracional entre mães e filhas quilombolas: autonomia reprodutiva e fatores intervenientes. Texto Contexto Enferm. 2022;31:e20200684. http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2020-0684.
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Devido à escassez de pesquisas publicadas envolvendo o tema geracional aqui representado por um subconjunto específico de mulheres rurais e em função do reduzido tamanho amostral, as conclusões do presente estudo se limitaram a examinar as similaridades de valores de forma quantitativa. Assim, são necessários estudos futuros adotando uma perspectiva longitudinal e qualitativa, contemplando uma ampliação da população amostral, envolvendo fatores de socialização neste grupo, que podem ser relevantes para a compreensão profunda do desenvolvimento de padrões de valor ao longo do tempo.

CONCLUSÕES

Com base nos resultados apresentados, é possível concluir que as filhas acompanharam as mesmas escolhas das mães, tais como, estado conjugal, grau de instrução, cor/raça, religião participação em grupo de planejamento familiar, uso de método contraceptivo, aborto espontâneo e número de partos cesáreos.

Assim, é possível afirmar que os comportamentos entre mães e filhas rurais podem estar relacionados à apreensão geracional de costumes, à aprendizagem de valores e atitudes, o que pode indicar que, as mães foram uma fonte de modelo para a transmissão de valores e comportamentos entre suas filhas, o que tende a não introduzir estímulos para inovações entre as filhas, repetindo valores preexistentes.

Dito isto, a interpretação sobre relação intergeracional entre mães e filhas, a transmissão intergeracional entre mães e filhas rurais são aspectos fundamentais a serem compreendidos por profissionais da área saúde e em particular da enfermagem que atuam em comunidades rurais, que podem oferecer tanto um atendimento de acordo com suas especificidades como também trabalhar estratégias que venham a empoderar essas mulheres nas questões que envolvam sua saúde reprodutiva.

  • a
    Extraído da tese de doutorado “Autonomia reprodutiva entre mulheres trabalhadoras rurais”. Autora: Ana Cleide da Silva Dias. Orientadora: Silvia Lúcia Ferreira. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal da Bahia. Ano 2020.
  • FINANCIAMENTO

    Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), processo nº BOL0290/2017, concessão de Auxílio a Projeto de Pesquisa de Nível Doutorado. Título: Autonomia reprodutiva entre trabalhadoras rurais, de autoria de Ana Cleide da Silva Dias.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    31 Ago 2021
  • Aceito
    12 Maio 2022
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