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Indicadores de Criatividade no Desenho da Figura Humana

Creativity Indicators in the Human Figure Drawing Test

Creatividad en el Test de la Figura Humana

Resumo

O objetivo deste estudo foi investigar evidências de precisão e de validade para um protocolo de análise de características criativas presentes no Desenho da Figura Humana (DFH). Para isso, realizaram-se dois estudos. A amostra foi composta por cinco juízes e 208 crianças de escolas públicas e particulares, com idades entre nove anos e 11 anos e 11 meses. O primeiro estudo referiu-se à precisão do protocolo, e o instrumento foi considerado adequado segundo os critérios de 75% de concordância e análise de Correlação de Pearson. Para o segundo estudo foram utilizados dois instrumentos, sendo um o protocolo de triagem criativa para o DFH e o Teste de Criatividade Figural Infantil. Os instrumentos foram comparados por meio de Correlação de Pearson e Análise Fatorial. Os resultados apontaram que indicadores tais como Elaboração, Expressão de Emoção e Movimento estão relacionados à características criativas no DFH. Foram observadas influências das variáveis tipo de escola e sexo para os itens de criatividade como movimento, perspectiva incomum e uso de contextos. Conclui-se que o protocolo de triagem criativa do DFH pode apresentar indicadores válidos de criatividade.

Desenho Infantil; Criatividade; Avaliação Psicológica

Abstract

This study aimed to investigate the reliability and validity of a creativity screening protocol for the Human Figure Drawing Test (HFD). The study was divided in two parts: part one was conducted with 5 judges and part two with 208 children from private and public schools, aged between 9 years and 11 years and 11 months. The first part showed the protocol as accurate, and considered the instrument as appropriate with 75% of agreement by the Pearson’s Correlation analysis. In the second part, a creativity screening protocol for the HFD and the Children’s Creativity Figural Test were used as instruments. These instruments were compared using Pearson’s correlation and factor analysis. The results suggested that indicators such as Development, Emotion Expression and Motion are related to creativity features in HFD. Influences for the variables: school and sex on the items movement, unusual perspective and contexts were identified. We conclude that the creativity screening protocol for the HFD presents valid indicators of creativity.

Children’s Drawing; Creativity; Psychological Evaluation

Resumen

El objetivo del estudio es investigar la confiabilidad y la validez de un protocolo de análisis de características creativas presentes en el Test de la Figura Humana (DFH). Así, se realizaron dos estudios. La muestra consistió en 5 jueces y 208 niños de escuelas públicas y particulares, con edades entre 9 años, y 11 años y 11 meses. El primero estudio se refiere a la precisión del protocolo; el instrumento se consideró apropiado de acuerdo con los criterios de la concordancia de 75% y con el análisis de correlación de Pearson. Para el segundo estudio fueron utilizados un protocolo de cribado creativo para el DFH, y la Prueba de Creatividad Figurativa Infantil. Los resultados de los instrumentos se compararon mediante la correlación de Pearson y el análisis de los factores. Los resultados sugieren que indicadores como Desarrollo, Expresión de Emoción y Movimiento, pueden relacionarse con funciones creativas en el DFH. Fueron encontradas influencias de las variables tipo de escuela y sexo para las características movimiento, perspectiva inusual y contextos. En conclusión, es posible decir que el protocolo de análisis de características creativas para el DFH puede presentar indicadores válidos de creatividad.

Dibujo; Creatividad; Evaluación Psicológica de Niños

Introdução

Há muito tempo o desenho é utilizado como uma ferramenta que favorece a expressão humana. É possível verificar o interesse científico frente ao desenho, em especial, ao Desenho da Figura Humana, desde o final do século XIX. Inicialmente a técnica foi estudada por Ebenezer Cooke, em 1880, para fins de avaliação de aspectos cognitivos (Arteche, & Bandeira, 2006Arteche, A. X., & Bandeira, D. R. (2006). O desenho da figura humana: revisando mais de um século de controvérsias. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación Psicológica, 22(2), 133-155.; Rueda, Bartholomeu, & Sisto, 2006Rueda, F. J. M., Bartholomeu, D., Sisto, F. F. (2006). Maturidade perceptual e inteligência. Psicologia: Ciência e Profissão, 26(3), 490-503. doi:10.1590/S1414-98932006000300012). Entretanto, foram os estudos realizados por Florence Goodenough, em 1926, que resultaram em uma metodologia apropriada para este fim (Boccato, 2004Boccato, I. C. (2004). Odette Lourenção Van Kolck. Avaliação Psicológica, 3(1), 69-71.; Flores-Mendoza, Abad, Lelé, Mansur-Alves, 2010Flores-Mendoza, C. E., Abad, F. J., Lelé, A. J., & Mansur-Alves, M. (2010). O que mede o desenho da figura humana? Estudos de validade convergente e discriminante. Boletim de Psicologia, 60(132), 73-84.; Rosa, & Alves, 2008Rosa, H. R., & Alves, I. C. B. (2008). Precisão do teste Goodenough-Harris em crianças. Avaliação Psicológica, 7(2), 171-179.).

Em âmbito nacional, Wechsler (2003)Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas. revisou diferentes propostas (Koppitz, 1968Koppitz, E. M. (1968). Psychological evaluation of children’s human figure drawings. New York, NY: Grune & Stratton., 1984Koppitz, E. M. (1984). Psychological evaluation of human figure drawings by middle school pupils. Orlando, CA: Grune & Stratton.; Naglieri, McNeish, & Bardos, 1991Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED.) para avaliação do Desenho da Figura Humana, a fim de apresentar normas brasileiras para o instrumento, cuja finalidade também era avaliar o desenvolvimento cognitivo de crianças: o instrumento foi denominado Desenho da Figura Humana – III (DFH-III). Semelhantemente, Sisto (2005)Sisto, F. F. (2005). Um estudo sobre a dimensionalidade do teste do desenho da figura humana. Interação em Psicologia,9(1), 11-19. doi:10.5380/psi.v9i1.3282 também apresentou dados relevantes acerca de seu trabalho junto à avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil, utilizando o estímulo gráfico de uma pessoa, o instrumento resultante de suas pesquisas é chamado de Desenho da Figura Humana – Escala Sisto.

Nestes trabalhos, os autores observaram que o Desenho da Figura Humana apresenta influências de diferentes variáveis, tais como sexo, idade (Sisto, 2005Sisto, F. F. (2005). Um estudo sobre a dimensionalidade do teste do desenho da figura humana. Interação em Psicologia,9(1), 11-19. doi:10.5380/psi.v9i1.3282; Wechsler, 2003Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.) e de origem regional (Wechsler, & Schelini, 2002Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.). É importante refletir que estas influências são esperadas na que medida em que o desenho é também uma expressão cultural (Souza, & Placco, 2011Souza, V. L. T., & Placco, V. M. N. S. (2011). Arte e formação de professores: aportes ao desenvolvimento de práticas criativas nas escolas. In S. M. Wechsler, & V. L. T. Souza (Orgs.). Criatividade e aprendizagem: caminhos e descobertas em perspectiva internacional (pp. 125-148). São Paulo, SP: Loyola.), pois reflete as diferentes características culturais encontradas ao longo do país. Assim como existem habilidades cognitivas envolvidas na produção gráfica da figura humana, tais como a coordenação viso-motora, esquema corporal, seriação e pensamento (Bandeira, Costa & Arteche, 2008Bandeira, D. R., Costa, A., & Arteche, A. X. (2008). Estudo de validade do DFH como medida de desenvolvimento cognitivo infantil. Psicologia: Reflexão e Crítica, 21(2), 332-337. doi:10.1590/S0102-79722008000200020). Portanto, nota-se uma progressão na apresentação de elementos presentes no Desenho da Figura Humana, por exemplo, espera-se que a figura desenhada por uma criança mais nova tenha menos elementos em comparação a crianças mais velhas. Faz-se necessário afirmar que os instrumentos apresentados por Wechsler (2003)Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas. e Sisto (2005)Sisto, F. F. (2005). Um estudo sobre a dimensionalidade do teste do desenho da figura humana. Interação em Psicologia,9(1), 11-19. doi:10.5380/psi.v9i1.3282 encontram-se validados e aptos para o uso junto ao Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI).

Wechsler (2012)Wechsler, S. M. (2012). O desenho da figura humana: medida cognitiva, emocional ou criativa? In S. M. Wechsler, & T. C. Nakano (Org.) O desenho infantil: forma de expressão cognitiva, criativa e emocional (pp. 33-64). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. aponta que o instrumento Desenho da Figura Humana, além de contribuir com o processo de avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil, pode auxiliar na aferição de outras medias psicológicas, pois existem propostas de uso deste instrumento para fins de avaliação emocional e de personalidade. Neste sentido, é possível notar que a utilização do Desenho da Figura Humana para este fim teve início por volta das décadas de 1930 e 1940. Dentre os autores associados a esta frente de estudo, destaca-se Machover (1951)Machover, K. (1951). Untitled. Monographs of the Society for Research in Child Development, 16, 89-137.. Para ela o desenho era considerado como expressão simbólica e direta da personalidade infantil. Desta forma, a autora desenvolveu seu método considerando elementos estruturais presentes no desenho, tais como sombreamento, dentes e garras, por exemplo (Handelzalts & Ben-Artzy-Cohen, 2014Handelzalts, J. E., & Ben-Artzy-Cohen, Y. (2014). The Draw-a-Person Test and body image. Journal of the International Society for the Rorschach, 35(1), 3-22. doi:10.1027/1192-5604/a000042).

Outros autores que também contribuíram para os estudos voltados aos indicadores emocionais do Desenho da Figura Humana foram Koppitz (1968)Koppitz, E. M. (1968). Psychological evaluation of children’s human figure drawings. New York, NY: Grune & Stratton. e Naglieri, McNeish e Bardos (1991)Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED.. Para estes a avaliação emocional do desenho ocorria por meio da identificação de indicadores que não eram esperados e que poderiam estar presentes no Desenho da Figura Humana, tais como: sombreamento, enriquecimento de detalhes, presença de símbolos, de palavras, de transparências na figura, presença de desenhos que demonstrassem o contexto da pessoa como árvores, animais e outros (Mansur, Alves, Nakano, & Ciasca, 2015Mansur, C. M., Alves, R. J. R., Nakano, T. C., & Ciasca, S. M. (2015). O teste do Desenho da Figura Humana em crianças com e sem queixas de agressividade: estudo piloto. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, 15(1), 8-21.). A interpretação destes dados, por sua vez, era realizada de forma quantitativa por meio da frequência de indicadores, assim como havia a possibilidade de interpretar os desenhos por meio da teoria psicanalítica, a fim de oferecer uma compreensão acerca da personalidade da criança (Wechsler, 2012)Wechsler, S. M. (2012). O desenho da figura humana: medida cognitiva, emocional ou criativa? In S. M. Wechsler, & T. C. Nakano (Org.) O desenho infantil: forma de expressão cognitiva, criativa e emocional (pp. 33-64). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo..

No Brasil, a temática foi intensamente estudada por Odette Laurenção Van Kolck, que advogava que o ato de desenhar favorecia o processo de seleção e de organização das características internas. Nesse ponto de vista, a figura produzida era intrinsecamente relacionada aos aspectos referentes a personalidade do indivíduo (Boccato, 2004Boccato, I. C. (2004). Odette Lourenção Van Kolck. Avaliação Psicológica, 3(1), 69-71.; Souza, & Placco, 2011Souza, V. L. T., & Placco, V. M. N. S. (2011). Arte e formação de professores: aportes ao desenvolvimento de práticas criativas nas escolas. In S. M. Wechsler, & V. L. T. Souza (Orgs.). Criatividade e aprendizagem: caminhos e descobertas em perspectiva internacional (pp. 125-148). São Paulo, SP: Loyola.). Cabe ressaltar que existem estudos nacionais e sistemáticos como o de Arteche (2006)Arteche, A. X. (2006). Indicadores emocionais do desenho da figura humana: construção e validação de uma escala infantil. (Tese de Doutorado). Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS., Segabinazi e Bandeira (2012)Segabinazi, J. D., & Bandeira, D. R. (2012). Desenho da figura humana para avaliação emocional de crianças: evidencias de validade de escalas globais. In S. M. Wechsler, & T. C. Nakano (Org.) O desenho infantil: forma de expressão cognitiva, criativa e emocional (pp. 149-176). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. e de Wechsler, Prado, Oliveira e Mazzarino (2011)Wechsler, S. M., Prado, C. M., Oliveira, K. S., & Mazzarino, B. G. (2011). Desenho da figura humana: análise da prevalência de indicadores para avaliação emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 411-418. doi:10.1590/S0102-79722011000300001 os quais buscam encontrar evidências dos critérios psicométricos apropriados para a validação de instrumentos que utilizem o Desenho da Figura Humana para fins de avaliação emocional, entretanto, não se encontram concluídos até o momento.

A partir dessas possibilidades de uso do Desenho da Figura Humana, observa-se que esta técnica demonstra ser sensível a interferências relacionadas ao desenvolvimento intelectual e cognitivo (Bandeira, Costa, & Arteche, 2008; Sisto, 2005Sisto, F. F. (2005). Um estudo sobre a dimensionalidade do teste do desenho da figura humana. Interação em Psicologia,9(1), 11-19. doi:10.5380/psi.v9i1.3282; Wechsler, 2003)Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas., ou ainda, de aspectos emocionais (Arteche, & Bandeira, 2006Arteche, A. X., & Bandeira, D. R. (2006). O desenho da figura humana: revisando mais de um século de controvérsias. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación Psicológica, 22(2), 133-155.; Castro, & Moreno-Jimenéz, 2010Castro, E.K., & Moreno-Jimenéz, B. (2010). Indicadores emocionais no desenho da figura humana de crianças transplantadas de órgãos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(1), 64-72. doi:10.1590/S0102-79722010000100009; Handelzalts, & Ben-Artzy-Cohen, 2014Handelzalts, J. E., & Ben-Artzy-Cohen, Y. (2014). The Draw-a-Person Test and body image. Journal of the International Society for the Rorschach, 35(1), 3-22. doi:10.1027/1192-5604/a000042; Naglieri et al., 1991)Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED.. Wechsler (2012)Wechsler, S. M. (2012). O desenho da figura humana: medida cognitiva, emocional ou criativa? In S. M. Wechsler, & T. C. Nakano (Org.) O desenho infantil: forma de expressão cognitiva, criativa e emocional (pp. 33-64). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. apresenta, inclusive, uma hipótese acerca da possibilidade do Desenho da Figura Humana ser sensível a influências criativas. A autora afirma que a qualidade artística tem sido apontada como um aspecto capaz de influenciar a pontuação do indivíduo nos diversos sistemas de avaliação cognitiva existentes, pois crianças com maiores habilidades artísticas podem ter pontuações baixas nas avaliações do desenvolvimento cognitivo, por apresentar riqueza de detalhes na construção do Desenho da Figura Humana, de modo que as produções podem ser erroneamente consideradas como indicadores de dificuldades emocionais.

É importante revisar brevemente o conceito de criatividade a fim de compreender de que forma este atributo pode influenciar o Desenho da Figura Humana. Assim sendo, o estudo científico tem oferecido definições de criatividade que foram concebidas a partir de diferentes perspectivas (Torrance, 1988Torrance, E. P. (1988). The nature of creativity as manifest in its testing. In R. J. Sternberg (Org).The nature of creativity: contemporary psychological perspectives. (pp. 43-75). Cambridge, Ill: Cambridge University Press.; Primi, Nakano, Morais, Almeida, & David, 2013Primi, R., Nakano, T. C., Morais, M. F., Almeida, L. S., & David, A. P. M. (2013). Factorial structure analysis of the Torrance Test with Portuguese students. Estudos de Psicologia, 30(1), 19-28. doi:10.1590/S0103-166X2013000100003; Wechsler, 2008)Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.. As primeiras definições voltadas ao conceito estavam associadas a uma perspectiva patologizante (Acar, & Runco, 2012Acar, S., & Runco, M. (2012). Psychoticism and creativity: a meta-analytic review. Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts, 6(4), 341-350.). Nakano (2012)Nakano, T. C. (2012). Teste de criatividade figural infantil. In C. S. Hutz (Org.). Avanços em avaliação psicológica de crianças e adolescentes II (pp. 425-451). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. complementa informando que, ao longo dos anos, o conceito foi sendo modificado, de modo que atualmente a criatividade é compreendida como um atributo de alta complexidade, pois associa-se a diversas dimensões do desenvolvimento humano. Em meio aos inúmeros ganhos advindos desta definição, há também a compreensão de que a criatividade seja elencada enquanto um potencial do indivíduo (Fink, Slamar-Halbedl, Unterrainer, & Weiss, 2012Fink, A., Slamar-Halbedl, M., Unterrainer, H. F., & Weiss, E. M. (2012). Creativity: genius, madness or a combination of both?. Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts, 6(1), 11-18. doi:10.1037/a0024874).

Esta compreensão da criatividade enquanto potencialidade humana pode estar relacionada ao movimento científico da Psicologia Positiva (Krentzman, 2013Krentzman, A. R. (2013). Review of the application of Positive Psychology to substance use, addiction, and recovery research. Psychology of Addictive Behaviors, 27(1), 151-165. doi:10.1037/a0029897; Seligman, & Csikszentmihalyi, 2000). Neste sentido, ao deixar o foco patológico e buscar compreender as virtudes humanas, a criatividade foi entendida enquanto potencial, como apresentada na Conferência Internacional de Buffalo, de 1990 (Nakano, 2012)Nakano, T. C. (2012). Teste de criatividade figural infantil. In C. S. Hutz (Org.). Avanços em avaliação psicológica de crianças e adolescentes II (pp. 425-451). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.. Assim sendo, parte dos pesquisadores especializados na criatividade, empenharam-se em compreender as características da expressão criativa nos indivíduos (Nakano & Wechsler, 2006aNakano, T. C., & Wechsler, S. M. (2006a). Teste brasileiro de criatividade figural: proposta de instrumento. Revista Interamericana de Psicologia, 40(1), 103-110.; Nakano, Wechsler, & Primi, 2011Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor.; Torrance, 1988Torrance, E. P. (1988). The nature of creativity as manifest in its testing. In R. J. Sternberg (Org).The nature of creativity: contemporary psychological perspectives. (pp. 43-75). Cambridge, Ill: Cambridge University Press., 1993Torrance, E. P. (1993). Understanding creativity: where to start? Psychological Inquiry, 4(3), 232-234., 2000Torrance, E. P. (2000). Research review for the Torrance tests of creative thinking: verbal and figural forms A and B. Bensenville, Ill: Scholastic Testing Service., 1993Torrance, E. P. (1993). Understanding creativity: where to start? Psychological Inquiry, 4(3), 232-234., 2000Torrance, E. P. (2000). Research review for the Torrance tests of creative thinking: verbal and figural forms A and B. Bensenville, Ill: Scholastic Testing Service.; Wechsler, 2008)Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas..

Torrance (1988Torrance, E. P. (1988). The nature of creativity as manifest in its testing. In R. J. Sternberg (Org).The nature of creativity: contemporary psychological perspectives. (pp. 43-75). Cambridge, Ill: Cambridge University Press., 2000Torrance, E. P. (2000). Research review for the Torrance tests of creative thinking: verbal and figural forms A and B. Bensenville, Ill: Scholastic Testing Service.), um dos autores de maior destaque na avaliação da criatividade, aponta que as características criativas observadas, em especial, sob a forma de desenhos, são a fluência (habilidade de gerar um grande número de ideias a partir de um único estímulo), a flexibilidade (capacidade de apresentar diferentes ideias a um mesmo problema), a originalidade (habilidade em produzir ideias raras), a elaboração (característica que consiste no enriquecimento dos detalhes de uma imagem), a expressão de sentimentos (habilidade de expressar sentimentos e emoções), a fantasia (capacidade de apresentar ideias ligadas à magia, ficção científica e contos de fada), a perspectiva incomum (habilidade em apresentar perspectivas raras), a perspectiva interna (habilidade em expressar conteúdos internos de objetos), movimentos (capacidade de representar graficamente uma ação), uso de contextos (refere-se à criação de um ambiente para a figura desenhada), títulos expressivos (habilidade em sintetizar em uma sentença o processo criativo) e extensão de limites (refere-se ao potencial em transpor paradigmas e limites óbvios). Os testes de Torrance são os mais utilizados internacionalmente (Wechsler, 2008Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.), seu Teste de Criatividade Figural foi validado no Brasil por Wechsler (2004)Wechsler, S. M. (2004). Avaliação da criatividade por figuras. Teste de Torrance: versão brasileira. Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas. e também sua versão para avaliação da criatividade infantil, o Teste de Criatividade Figural Infantil de Nakano et al. (2011)Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor., encontra-se apto para o uso em âmbito nacional.

Ao observar os itens emocionais propostos por Koppitz (1968)Koppitz, E. M. (1968). Psychological evaluation of children’s human figure drawings. New York, NY: Grune & Stratton., Machover (1951)Machover, K. (1951). Untitled. Monographs of the Society for Research in Child Development, 16, 89-137., Naglieri et al. (1991)Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED. e por Wechsler et al. (2011)Wechsler, S. M., Prado, C. M., Oliveira, K. S., & Mazzarino, B. G. (2011). Desenho da figura humana: análise da prevalência de indicadores para avaliação emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 411-418. doi:10.1590/S0102-79722011000300001, para o Desenho da Figura Humana, e compará-los às características criativas estudadas por Torrance (2000)Torrance, E. P. (2000). Research review for the Torrance tests of creative thinking: verbal and figural forms A and B. Bensenville, Ill: Scholastic Testing Service., Wechsler (2008)Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas. e Nakano et al. (2011)Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor., foi possível observar algumas sobreposições teóricas. Um exemplo disto refere-se à presença de adereços nas vestimentas representadas nos Desenhos de Figuras Humanas, que podem também ser consideradas como elaboração do ponto de vista da teoria sobre criatividade. Segundo Wechsler (2008)Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas., a elaboração é a capacidade de promover o enriquecimento e o detalhamento de ideias. Entretanto, Naglieri et al. (1991)Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED. consideram este enriquecimento da figura humana como sendo indicadores de dificuldades emocionais. Porém, a elaboração, enquanto característica criativa, pode ser considerada uma habilidade do indivíduo (Nakano, 2012Nakano, T. C. (2012). Teste de criatividade figural infantil. In C. S. Hutz (Org.). Avanços em avaliação psicológica de crianças e adolescentes II (pp. 425-451). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.) e não como um indicador de dificuldade emocional (Wechsler et al., 2011Wechsler, S. M., Prado, C. M., Oliveira, K. S., & Mazzarino, B. G. (2011). Desenho da figura humana: análise da prevalência de indicadores para avaliação emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 411-418. doi:10.1590/S0102-79722011000300001).

Semelhantemente, a característica criativa expressão de sentimentos pode ser representada por meio de pessoas sorrindo, chorando, ou ainda, com expressões de raiva e de surpresa. A característica criativa elaboração pode ser acessada por meio da quantidade de adereços e acessórios representados no desenho; a característica criativa uso de contextos pode ser observada por meio dos elementos presentes ao fundo do desenho, como presença de animais, árvores e outros. Por sua vez, a característica criativa perspectiva incomum pode ser observada por meio da representação incomum da figura humana, como a apresentação da figura em perfil e de costas, por exemplo (Wechsler, 2012Wechsler, S. M. (2012). O desenho da figura humana: medida cognitiva, emocional ou criativa? In S. M. Wechsler, & T. C. Nakano (Org.) O desenho infantil: forma de expressão cognitiva, criativa e emocional (pp. 33-64). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.). Cabe ainda apontar que as representações mencionadas são tradicionalmente consideradas como expressão de indicadores emocionais pela literatura (Alvez, 2004; Arteche, 2006Arteche, A. X. (2006). Indicadores emocionais do desenho da figura humana: construção e validação de uma escala infantil. (Tese de Doutorado). Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS., Koppitz, 1984Koppitz, E. M. (1984). Psychological evaluation of human figure drawings by middle school pupils. Orlando, CA: Grune & Stratton.; Mansur et al., 2015Mansur, C. M., Alves, R. J. R., Nakano, T. C., & Ciasca, S. M. (2015). O teste do Desenho da Figura Humana em crianças com e sem queixas de agressividade: estudo piloto. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, 15(1), 8-21.; Naglieri et al., 1991Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED.; Rosa, & Alves, 2008Rosa, H. R., & Alves, I. C. B. (2008). Precisão do teste Goodenough-Harris em crianças. Avaliação Psicológica, 7(2), 171-179.; Segabinazi, & Bandeira, 2012Segabinazi, J. D., & Bandeira, D. R. (2012). Desenho da figura humana para avaliação emocional de crianças: evidencias de validade de escalas globais. In S. M. Wechsler, & T. C. Nakano (Org.) O desenho infantil: forma de expressão cognitiva, criativa e emocional (pp. 149-176). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.; Souza, & Placco, 2011Souza, V. L. T., & Placco, V. M. N. S. (2011). Arte e formação de professores: aportes ao desenvolvimento de práticas criativas nas escolas. In S. M. Wechsler, & V. L. T. Souza (Orgs.). Criatividade e aprendizagem: caminhos e descobertas em perspectiva internacional (pp. 125-148). São Paulo, SP: Loyola.; Wechsler et al., 2011)Wechsler, S. M., Prado, C. M., Oliveira, K. S., & Mazzarino, B. G. (2011). Desenho da figura humana: análise da prevalência de indicadores para avaliação emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 411-418. doi:10.1590/S0102-79722011000300001

Essa sobreposição apresentada não é observada em todas as características criativas, pois Fluência, Flexibilidade, Extensão de Limites e Originalidade não são passíveis de associação aos indicadores emocionais. Isso se dá pelo tipo de instrução apresentada para a realização do Desenho da Figura Humana, proposto por Wechsler (2003)Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas. no qual solicita-se somente dois Desenhos da Figura Humana, um homem e uma mulher. Assim sendo, a característica originalidade, a qual refere-se à habilidade de produzir ideias raras (Nakano, 2012Nakano, T. C. (2012). Teste de criatividade figural infantil. In C. S. Hutz (Org.). Avanços em avaliação psicológica de crianças e adolescentes II (pp. 425-451). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.), não pode ser observada, pois o instrumento solicita a produção gráfica específica de uma figura humana. Da mesma maneira, a característica fluência, que é compreendida como a habilidade de apresentar diferentes respostas frente a uma situação específica, a flexibilidade, que por sua vez, é entendida como a habilidade de expressar diferentes ideias para o mesmo problema (Nakano et al., 2011Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor.), não são expressas no Desenho da Figura Humana, justamente pela proposta pontual do instrumento, que é desenhar duas pessoas: um homem e uma mulher. Portanto, a partir das sobreposições possíveis é provável que alguns indicadores emocionais propostos na literatura estejam relacionados a, ao menos, sete habilidades criativas identificadas por Torrance (1966, 1988Torrance, E. P. (1988). The nature of creativity as manifest in its testing. In R. J. Sternberg (Org).The nature of creativity: contemporary psychological perspectives. (pp. 43-75). Cambridge, Ill: Cambridge University Press., 1993Torrance, E. P. (1993). Understanding creativity: where to start? Psychological Inquiry, 4(3), 232-234., 2000Torrance, E. P. (2000). Research review for the Torrance tests of creative thinking: verbal and figural forms A and B. Bensenville, Ill: Scholastic Testing Service.), Wechsler (2008)Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas. e Nakano et al. (2011)Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor..

Considerando a importância de reconhecer o potencial infantil expresso pelo estudo, o objetivo deste foi avaliar um protocolo para identificação de características criativas no Desenho da Figura Humana. Este protocolo foi chamado de Guia de Triagem Criativa. Portanto, e a fim de alcançar o objetivo proposto, optou-se pelo delineamento de dois estudos. O primeiro caracterizou-se pela busca por evidências de confiabilidade, por meio de teste de juízes. E o segundo estudo caracterizou-se pela busca de evidências de validade baseadas em relações com variáveis externas convergentes.

Método

Inicialmente o presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos sob o número 29151114.1.0000.5481. Em seguida, foram realizados os estudos 1 e 2, a fim de buscar evidências de confiabilidade e de validade do Guia de Triagem Criativa. Assim sendo, segue a apresentação dos estudos.

Estudo 1

Participantes

Contribuíram com o presente trabalho cinco psicólogas especialistas na área da avaliação psicológica e que possuíam experiência mínima de dois anos em avaliação de aspectos criativos. As participantes foram selecionadas por conveniência.

Instrumento

O Guia de Triagem Criativa caracteriza-se por ser um protocolo de análise da criatividade no Desenho da Figura Humana. Respeita integralmente as orientações de aplicação do instrumento o Desenho da Figura Humana – III (DFH-III) para avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras de Wechsler (2003)Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.. O protocolo é constituído por sete características criativas, as quais foram selecionadas por meio da análise apresentada acerca da sobreposição teórica existente entre os enfoques defendidos por Torrance (1993)Torrance, E. P. (1993). Understanding creativity: where to start? Psychological Inquiry, 4(3), 232-234., Wechsler (2004Wechsler, S. M. (2004). Avaliação da criatividade por figuras. Teste de Torrance: versão brasileira. Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas., 2008Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.) e Nakano et al. (2011)Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor., do ponto de vista das compreensões voltadas à criatividade, e de Koppitz (1984)Koppitz, E. M. (1984). Psychological evaluation of human figure drawings by middle school pupils. Orlando, CA: Grune & Stratton., Naglieri et al. (1991)Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED. e Wechsler et al. (2011)Wechsler, S. M., Prado, C. M., Oliveira, K. S., & Mazzarino, B. G. (2011). Desenho da figura humana: análise da prevalência de indicadores para avaliação emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 411-418. doi:10.1590/S0102-79722011000300001, no que tange aos indicadores emocionais presentes no Desenho da Figura Humana. Dessa forma, os sete itens que representam as sete características criativas agrupam os 23 subitens que correspondem aos indicadores de criatividade. A pontuação total é de 23 pontos para a Figura Feminina e de 23 pontos para a Figura Masculina, sendo a soma dos totais de ambas as figuras de 46 pontos.

Procedimentos

Após receberem e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os juízes receberam vinte amostras de Desenhos da Figura Humana confeccionados por crianças de nove anos a 11 anos e 11 meses. As amostras compunham 20 pares de desenhos, ou seja, foram analisados no total 40 Desenhos de Figuras Humanas, sendo 20 figuras femininas e 20 figuras masculinas. Em seguida, os juízes foram convidados, de forma individual e a partir do sistema de correção proposto, a realizarem a análise dos mesmos 20 pares de desenhos. Os resultados foram analisados por meio dos critérios de 75% ou mais de percentual de concordância e análise dos coeficientes de correlação de Pearson.

Resultados

Os totais obtidos apontaram para um bom percentual de concordância para os itens, sendo eles: Elaboração (80,83%), Expressão de Emoção (93,33%), Fantasia (94,44%), Movimento (100%), Perspectiva Incomum (94,44%), Perspectiva Interna (94,44%) e Uso de Contextos (80%). Em seguida procedeu-se com a análise de correlação de Pearson a qual apontou os seguintes valores de r, juiz 1 (r= 0,874; p≤ 0,01), juiz 2 (r= 0,817; p≤ 0,01), juiz 3 (r= 0,839; p≤ 0,01), juiz 4 (r= 0,906; p≤ 0,01) e juiz 5 (r= 0,766; p≤ 0,01). De modo que o protocolo de correção Guia de Triagem Criativa foi considerado adequado segundo os critérios selecionados.

Estudo 2

Participantes

Participaram do estudo 2, um total de 208 crianças de ambos os sexos, sendo 55,29% (n = 115) do sexo feminino e 44,71% (n = 93) do sexo masculino, que estavam regularmente matriculadas nos cursos do Ensino Fundamental I e II de escolas públicas (n = 148) e particulares (n = 60) do Estado de São Paulo. As idades compreendiam o intervalo de nove anos a 11 anos e 11 meses. Do ponto de vista das faixas etárias, contribuíram para a pesquisa 71 crianças de nove anos a nove anos e 11 meses (feminino = 43; masculino = 28), 83 crianças de 10 anos a 10 anos e 11 meses (feminino = 47; masculino = 36) e 54 crianças de 11 anos a 11 anos e 11 meses (feminino = 25; masculino = 29).

Instrumentos

Teste de Criatividade Figural Infantil (Nakano et al., 2011Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor.)

O instrumento baseia-se na perspectiva de Torrance sobre a criatividade. É composto por três atividades, nas quais a partir de um estímulo gráfico, o sujeito deve completar uma figura, conferindo um título ao final. A primeira atividade é composta por um único estímulo. A segunda é composta por 10 estímulos diferentes. E a terceira apresenta o mesmo estímulo 30 vezes. O tempo de aplicação é de aproximadamente 30 minutos. Nestas atividades são contempladas 12 características criativas. O sistema de interpretação foi estruturado a partir de um modelo de quatro fatores, sendo estes: enriquecimento de ideias, aspectos emocionais, preparação criativa e aspectos cognitivos. Este modelo foi organizado por meio de estudos de análise fatorial.

No primeiro fator, chamado de Enriquecimento de Ideias, são agrupadas as características elaboração, uso de contextos, perspectiva incomum e movimento. O segundo fator é composto pelas características títulos expressivos, expressão de emoção e fantasia. Este fator é chamado de Emotividade. O fator de número 3, é chamado de Preparação Criativa, e avalia as características de elaboração, movimento, uso de contextos, perspectiva interna e títulos expressivos. E finalmente o quarto fator, chamado de Aspectos Cognitivos, é composto pelas características originalidade, fluência, flexibilidade e extensão de limites. O referido instrumento foi estudado em inúmeras oportunidades (Nakano, & Wechsler, 2006aNakano, T. C., & Wechsler, S. M. (2006a). Teste brasileiro de criatividade figural: proposta de instrumento. Revista Interamericana de Psicologia, 40(1), 103-110.,bNakano, T.C., & Wechsler, S. M. (2006b). Teste brasileiro de criatividade figural: proposta de normas. Avaliação Psicológica, 5(2), 159-170.; Nakano, & Primi, 2012Nakano, T. C., & Primi, R. (2012). A estrutura fatorial do Teste de Criatividade Figural Infantil. Psicologia: Teoria e Prática, 28(2), 275-283. doi:10.1590/S0102-37722012000300003, Primi et al., 2013)Primi, R., Nakano, T. C., Morais, M. F., Almeida, L. S., & David, A. P. M. (2013). Factorial structure analysis of the Torrance Test with Portuguese students. Estudos de Psicologia, 30(1), 19-28. doi:10.1590/S0103-166X2013000100003, apontando sua validade e relevância como instrumento de mensuração da criatividade.

Guia de Triagem Criativa

Conforme apresentado no estudo 1, este instrumento trata-se de um protocolo de avaliação de características criativas presentes no Desenho da Figura Humana. Importante retomar que o processo de aplicação segue os padrões estabelecidos pelo instrumento Desenho da Figura Humana – III (DFH-III) de Wechsler (2003)Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas..

Procedimentos

Os responsáveis pelas escolas receberam uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Diretores. Assim como foram solicitadas as permissões dos responsáveis legais das crianças, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para pais e responsáveis. Encerrados os trâmites fundamentais para o início deste trabalho, todas as crianças autorizadas a participarem do presente estudo, colaboraram conferindo suas respostas a ambos os instrumentos. O levantamento dos dados ocorreu por meio de aplicações coletivas com grupos de crianças dos 4os e 5os anos do Ensino Fundamental I, e dos 6os anos do Ensino Fundamental II, respeitando o limite de idade de 11 anos e 11 meses. A fim de comparar os resultados obtidos no Teste de Criatividade Figural Infantil – TCFI (Nakano et al., 2011Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor.), junto aos totais encontrados no Desenho da Figura Humana, corrigidos por meio do Guia de Triagem Criativa, optou-se por realizar a análise de correlação de Pearson, Analise Fatorial Exploratória e Analise Multivariada da Variância. Assim, os resultados foram comparados estatisticamente, utilizando o Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 21.

Resultados

Assim sendo, por meio das correlações estabelecidas entre os dois instrumentos, as quais estão apresentadas da Tabela 1, observou-se que o item Elaboração do Guia de Triagem Criativa demonstrou estar altamente associado aos Fatores 1 – Enriquecimento de Ideias (r= 0,30; p≤ 0,01), Fator 3 – Preparação Criativa (r= 0,314; p≤ 0,01). Os resultados também apontaram a correlação altamente significativa entre o item Expressão de Emoção do Guia de Triagem Criativa e o Fator 2 – Emotividade (r= 0,181; p≤ 0,01), e este mesmo item também apresentou relação significativa com o Fator 3 – Preparação Criativa (r= 0,149; p≤ 0,05) do TCFI.

Tabela 1
Correlação de Pearson entre os instrumentos Teste de Criatividade Figural Infantil (TCFI) e Guia de Triagem Criativa (GTC).

O item Movimento do Guia de Triagem Criativa, apresentou relação altamente significativa com o Fator 1 – Enriquecimento de Ideias (r = 0,203; p≤ 0,01), e relação significativa junto ao Fator 2 – Expressão de Emoção (r= 0,171; p≤ 0,05).

A fim de aprofundar a compreensão dos dados frente à comparação dos totais entre os instrumentos, optou-se também por realizar a Análise Fatorial Exploratória. Inicialmente verificou-se a adequação da matriz de correlação para análise fatorial, de modo que o teste de esfericidade de Bartlett apontou um resultado altamente significativo (χ2 = 348,5; N = 55; p ≤ 0,001). Este dado sustenta os resultados obtidos através da Correlação de Pearson previamente apresentada, de que existem relações entre os dois instrumentos. A análise de adequação da amostra foi realizada por meio do método KMO (Kaiser-Meyer-Olkim), a qual resultou em um valor aceitável (0,55) e optou-se por realizar a aplicação da rotação varimax.

A fim de realizar o procedimento para a identificação dos fatores, inicialmente fez-se a análise do gráfico scree-plot e dos valores dos eigenvalues. Foram identificados 11 componentes, porém, foi possível observar que havia um grande fator predominante, seguido de dois menores. Segundo Figueiredo Filho e Silva Junior (2010)Figueiredo Filho, D. B., & Silva Junior, J. A. (2010). Visão além do alcance: uma introdução à analise fatorial. Opinião Pública, 16(1), 160-185. doi:10.1590/S0104-62762010000100007, a realização da extração de fatores por meio do gráfico de sedimentação deve obedecer ao critério de variância acumulada de 60%, o que não foi observado neste estudo. Pois, os três fatores identificados pelo gráfico de sedimentação correspondem à 47,01% da variância. A partir da recomendação destes mesmos autores, deve-se reter, então, a divisão obtida por meio da avaliação dos eigenvalues dos fatores, os quais devem ter valores superiores a 1. Assim sendo, foram encontrados os seguintes valores 2,40; 1,43; 1,34; 1,06 e 1,02, tal como apresentado na Tabela 2. Os quais são responsáveis por 66,07% da variância.

Tabela 2
Componentes identificados na Análise Fatorial.

O agrupamento dos componentes, como observa-se na Tabela 3, sugere que primeiro fator identificado explica 21,88% da variância, e é composto pelos itens Elaboração e Expressão de Emoção do Guia de Triagem Criativa, assim como os Fatores 1 e 3 do TCFI, chamados respectivamente de Enriquecimento de Ideias e Preparação Criativa. Este dado indica a associação entre as habilidades de enriquecimento de informações presentes no Desenho da Figura Humana, com características criativas avaliadas pelo instrumento TCFI.

Tabela 3
Análise Fatorial dos Indicadores de Criatividade comparados ao TCFI.

O segundo fator identificado pela análise fatorial, associado à 12,99% da variância, diz respeito ao agrupamento dos itens Movimento, Perspectiva Incomum e Uso de Contextos do instrumento Guia de Triagem Criativa. Este dado é relevante, pois não foram observadas nas análises de correlação, nenhuma associação entre os itens Perspectiva Incomum e Uso de Contexto junto ao instrumento TCFI, todavia o item Movimento do Guia de Triagem Criativa havia sido relacionado ao Fator 2 – Emotividade. O terceiro agrupamento encontrado, responsável por 12,23% da variância, associou o Fator 2 – Emotividade e o Fator 4 – Aspectos Cognitivos do instrumento TCFI.

O quarto fator encontrado na análise, assim como o quinto, são compostos por apenas um item do instrumento Guia de Triagem Criativa, os quais são respectivamente responsáveis por explicar 9,69% e 9,26% da variância. O quarto fator é composto pelo item Fantasia, o qual também não apresentou estar correlacionado a nenhum dos fatores do TCFI. Assim como, o quinto fator, composto pelo item Perspectiva Interna, também não havia apresentado correlações significativas junto ao teste de criatividade.

Este segundo estudo, ainda buscou compreender as possíveis influências das variáveis demográficas junto aos resultados obtidos no que diz respeito aos indicadores de criatividade presentes no Desenho da Figura Humana. Portanto, procedeu-se com as análises das médias e dos desvios padrão para os totais de indicadores de criatividade apresentados na amostra examinada.

Na Tabela 4 é possível observar que as maiores pontuações foram alcançadas por crianças do sexo feminino (M = 6,725) em comparação às crianças do sexo masculino (M= 5,814). Considerando a variável idade, a qual é expressa na Tabela 5, as maiores pontuações considerando esta variável foram obtidas por crianças com idades entre 11 anos e 11 anos e 11 meses (M= 6,524), em comparação a crianças de nove anos e nove anos e 11 meses (M = 6,111) e 10 anos e 10 anos e 11 meses (M= 6,174), todavia cabe ressaltar que não foram identificadas influências significativas da variável idade junto aos resultados da amostra analisada.

Tabela 4
Médias, Desvios Padrão e ANOVA para variável sexo nos totais de indicadores presentes no Desenho da Figura Humana.

Tabela 5
Médias, Desvios Padrão e ANOVA para variável idade nos totais de indicadores presentes no Desenho da Figura Humana.

Na Tabela 6 são apresentadas as médias de acordo com o tipo de escola. Observou-se uma maior pontuação total de alunos de escolas públicas (M = 6,576). Todavia a pontuação média das escolas particulares (M = 5,964) talvez indique a discrepância entre participantes de escolas públicas (n = 148) e de escolas particulares (n = 60). Os resultados, sugerem que existem diferenças na prevalência de indicadores de criatividade segundo as variáveis sexo e tipo de escola. Tendo em vista que esta análise levaria em consideração diversas variáveis dependentes, optou-se por utilizar a Analise Multivariada da Variância (MANOVA).

Tabela 6
Médias, Desvios Padrão e ANOVA para variável tipo de escola nos totais de indicadores presentes no Desenho da Figura Humana.

Os dados não apontaram diferenças significativas para as intersecções das variáveis idade, sexo e tipo de escola. Todavia, tal como descrito na Tabela 4, observou-se influência da variável sexo no item Movimento (F = 4,638; p 0,01), de modo que as participantes do sexo feminino (M = 0,61) apresentaram maior expressão de indicadores de movimento, seja este representado na figura humana ou no contexto, em comparação aos participantes do sexo masculino (M = 0,33). Também foi observada influência da variável sexo, sobre o item Uso de Contextos (F = 3,733; p 0,05). As participantes do sexo feminino (M = 1,382) apresentaram média significativamente superior aos participantes do sexo masculino (M = 0,847). Ou seja, para esta amostra, as meninas apresentaram maior frequência de representação de figuras humanas andando, correndo, dançando, cantando, ou ainda, apresentaram indicadores de movimento no contexto, como árvores balançando, animais brincando, pássaros voando, dentre outras possibilidades. Assim como, conferiram um contexto para o Desenho da Figura Humana, realizando representações de figurantes, animais, plantas e paisagem, com maior frequência em comparação aos participantes do sexo masculino.

Verificou-se também, influência da variável tipo de escola, para o item Perspectiva Incomum (F = 9,37; p ≤ 0,001), os participantes provenientes de escolas públicas (M = 0,58) realizaram os Desenhos da Figura Humana sob perspectivas não usuais, tais como, figuras inclinadas, em perfil, deitadas, invertidas, ou mesmo, de costas, com maior frequência do que os alunos de alunos de escolas particulares (M = 0,25), segundo é possível observar na Tabela 6.

Discussão

O presente trabalho teve como objetivo buscar evidências de confiabilidade e de validade baseada em relações com variáveis externas convergentes. No que se refere ao estudo de evidências de confiabilidade é possível afirmar que o protocolo de análise Guia de Triagem Criativa, foi considerado apropriado por meio do índice de precisão de 75% ou mais. Assim como pela análise das correlações, a qual apontou índices fortes e muito fortes de concordância. Ainda assim, é necessário apontar que o estudo de precisão foi realizado com um número reduzido de juízes, e portanto, é apropriado indicar que sejam conduzidos estudos específicos, com um número maior de participantes.

Quanto ao estudo 2, observou-se que os resultados obtidos apontam a validade dos itens Elaboração, Expressão de Emoção e Movimento, os quais relacionaram-se significativamente aos fatores de Enriquecimento de Ideias, Emotividade, Preparação Criativa e Aspectos Cognitivos. Tradicionalmente a presença de detalhes tais como colares, pulseiras, brincos, chapéus, bonés, óculos, facas, skates, ou ainda, de expressões faciais atribuídas à figura humana, como sorrisos, raiva, lágrimas, assim como, expressões emocionais por meio de símbolos e frases, são compreendidas como indicadores emocionais presentes no Desenho da Figura Humana (Arteche, & Bandeira, 2006Arteche, A. X., & Bandeira, D. R. (2006). O desenho da figura humana: revisando mais de um século de controvérsias. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación Psicológica, 22(2), 133-155.; Castro, & Moreno-Jimenéz, 2010Castro, E.K., & Moreno-Jimenéz, B. (2010). Indicadores emocionais no desenho da figura humana de crianças transplantadas de órgãos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(1), 64-72. doi:10.1590/S0102-79722010000100009; Koppitz, 1968, 1984Koppitz, E. M. (1968). Psychological evaluation of children’s human figure drawings. New York, NY: Grune & Stratton., 1984Koppitz, E. M. (1984). Psychological evaluation of human figure drawings by middle school pupils. Orlando, CA: Grune & Stratton.; Machover, 1951Machover, K. (1951). Untitled. Monographs of the Society for Research in Child Development, 16, 89-137.; Mansur et al., 2015Mansur, C. M., Alves, R. J. R., Nakano, T. C., & Ciasca, S. M. (2015). O teste do Desenho da Figura Humana em crianças com e sem queixas de agressividade: estudo piloto. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, 15(1), 8-21.; Naglieri et al., 1991Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED., Wechsler et al., 2011)Wechsler, S. M., Prado, C. M., Oliveira, K. S., & Mazzarino, B. G. (2011). Desenho da figura humana: análise da prevalência de indicadores para avaliação emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 411-418. doi:10.1590/S0102-79722011000300001. Todavia, segundo sugeriu Wechsler (2012)Wechsler, S. M. (2012). O desenho da figura humana: medida cognitiva, emocional ou criativa? In S. M. Wechsler, & T. C. Nakano (Org.) O desenho infantil: forma de expressão cognitiva, criativa e emocional (pp. 33-64). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. o instrumento do Desenho da Figura Humana, poderia, para além de seu reconhecido potencial de avaliação de aspectos cognitivos (Bandeira, Costa, & Arteche, 2008; Flores-Mendoza et al., 2010Flores-Mendoza, C. E., Abad, F. J., Lelé, A. J., & Mansur-Alves, M. (2010). O que mede o desenho da figura humana? Estudos de validade convergente e discriminante. Boletim de Psicologia, 60(132), 73-84.; Rueda et al., 2006Rueda, F. J. M., Bartholomeu, D., Sisto, F. F. (2006). Maturidade perceptual e inteligência. Psicologia: Ciência e Profissão, 26(3), 490-503. doi:10.1590/S1414-98932006000300012; Sisto, 2005Sisto, F. F. (2005). Um estudo sobre a dimensionalidade do teste do desenho da figura humana. Interação em Psicologia,9(1), 11-19. doi:10.5380/psi.v9i1.3282; Wechsler, 2003Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.; Wechsler, & Schelini, 2002Wechsler, S. M., & Schelini, P. W. (2002). Validade do desenho da figura humana para avaliação cognitiva infantil. Avaliação Psicológica, 1, 29-38.), estar associado à expressão criativa infantil.

Cabe refletir que os coeficientes de r encontrados, tal como descritos anteriormente na Tabela 1, não são superiores a r= 0,314 e que, portanto, são compreendidos como indicadores de efeito pequeno. Entretanto, ao avaliarmos a complexidade de características criativas agrupadas nos Fatores 1, 2, 3 e 4 no instrumento Teste de Criatividade Figural Infantil (Nakano, & Primi, 2012Nakano, T. C., & Primi, R. (2012). A estrutura fatorial do Teste de Criatividade Figural Infantil. Psicologia: Teoria e Prática, 28(2), 275-283. doi:10.1590/S0102-37722012000300003; Primi et al., 2013)Primi, R., Nakano, T. C., Morais, M. F., Almeida, L. S., & David, A. P. M. (2013). Factorial structure analysis of the Torrance Test with Portuguese students. Estudos de Psicologia, 30(1), 19-28. doi:10.1590/S0103-166X2013000100003, assim como, a gama de possibilidades de compreensões psicológicas existentes a respeito do Desenho da Figura Humana (arteche, & Bandeira, 2006Arteche, A. X., & Bandeira, D. R. (2006). O desenho da figura humana: revisando mais de um século de controvérsias. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación Psicológica, 22(2), 133-155.; Flores-Mendoza et al., 2010)Flores-Mendoza, C. E., Abad, F. J., Lelé, A. J., & Mansur-Alves, M. (2010). O que mede o desenho da figura humana? Estudos de validade convergente e discriminante. Boletim de Psicologia, 60(132), 73-84. é possível que estes dados sejam relevantes para a continuidade de estudos indicando a presença de indicadores de criatividade na figura humana.

A Análise Fatorial Exploratória contribuiu para uma melhor compreensão sobre as evidências de validade estabelecidas por meio da comparação entre os totais dos itens dos testes. De modo que é possível afirmar que os itens Elaboração e Expressão de Emoção do Guia de Triagem Criativa sejam reconhecidamente associados a habilidades Criativas. Pois agruparam-se junto aos Fatores 1 (Enriquecimento de Ideias) e Fator 3 (Preparação Criativa). Os itens Movimento, Perspectiva Incomum e Uso de Contextos, por sua vez, apresentam uma associação com o conceito de criatividade, todavia, são necessários maiores estudos para compreender melhor esta relação. E finalmente, os itens Fantasia e Perspectiva Interna, os quais compreendem expressões gráficas como transparências, nudez e presença de órgãos internos, diferenciaram-se completamente das expressões criativas, de modo, que podem estar associados a outros conceitos psicológicos, ou ainda, serem de fato expressões de indicadores emocionais (Boccato, 2004Boccato, I. C. (2004). Odette Lourenção Van Kolck. Avaliação Psicológica, 3(1), 69-71.; Arteche, 2006Arteche, A. X. (2006). Indicadores emocionais do desenho da figura humana: construção e validação de uma escala infantil. (Tese de Doutorado). Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS., Handelzalts, & Ben-Artzy-Cohen, 2014Handelzalts, J. E., & Ben-Artzy-Cohen, Y. (2014). The Draw-a-Person Test and body image. Journal of the International Society for the Rorschach, 35(1), 3-22. doi:10.1027/1192-5604/a000042; Koppitz, 1984Koppitz, E. M. (1984). Psychological evaluation of human figure drawings by middle school pupils. Orlando, CA: Grune & Stratton.; Mansur et al., 2015Mansur, C. M., Alves, R. J. R., Nakano, T. C., & Ciasca, S. M. (2015). O teste do Desenho da Figura Humana em crianças com e sem queixas de agressividade: estudo piloto. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, 15(1), 8-21.; Naglieri et al., 1991Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED.; Rosa, & Alves, 2008Rosa, H. R., & Alves, I. C. B. (2008). Precisão do teste Goodenough-Harris em crianças. Avaliação Psicológica, 7(2), 171-179.; Segabinazi, & Bandeira, 2012Segabinazi, J. D., & Bandeira, D. R. (2012). Desenho da figura humana para avaliação emocional de crianças: evidencias de validade de escalas globais. In S. M. Wechsler, & T. C. Nakano (Org.) O desenho infantil: forma de expressão cognitiva, criativa e emocional (pp. 149-176). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.; Souza, & Placco, 2011Souza, V. L. T., & Placco, V. M. N. S. (2011). Arte e formação de professores: aportes ao desenvolvimento de práticas criativas nas escolas. In S. M. Wechsler, & V. L. T. Souza (Orgs.). Criatividade e aprendizagem: caminhos e descobertas em perspectiva internacional (pp. 125-148). São Paulo, SP: Loyola.; Wechsler et al., 2011)Wechsler, S. M., Prado, C. M., Oliveira, K. S., & Mazzarino, B. G. (2011). Desenho da figura humana: análise da prevalência de indicadores para avaliação emocional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 411-418. doi:10.1590/S0102-79722011000300001.

No que se refere às influências das variáveis demográficas no Desenho da Figura Humana, observou-se que, na amostra analisada, houve influência das variáveis sexo e tipo de escola. A influência da variável sexo é condizente com os estudos voltados à avaliação de aspectos cognitivos presentes no Desenho da Figura Humana (Bandeira et al., 2008Bandeira, D. R., Costa, A., & Arteche, A. X. (2008). Estudo de validade do DFH como medida de desenvolvimento cognitivo infantil. Psicologia: Reflexão e Crítica, 21(2), 332-337. doi:10.1590/S0102-79722008000200020; Sisto, 2005Sisto, F. F. (2005). Um estudo sobre a dimensionalidade do teste do desenho da figura humana. Interação em Psicologia,9(1), 11-19. doi:10.5380/psi.v9i1.3282; Wechsler, 2003Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.). Por sua vez, a influência da variável tipo de escola, além de corroborar com os estudos voltados aos aspectos cognitivos no Desenho da Figura Humana (Sisto, 2005Sisto, F. F. (2005). Um estudo sobre a dimensionalidade do teste do desenho da figura humana. Interação em Psicologia,9(1), 11-19. doi:10.5380/psi.v9i1.3282; Wechsler, 2003Wechsler, S. M. (2003). DFH III: O Desenho da Figura Humana: avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças brasileiras. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.), também aponta os dados voltados à criatividade (Nakano, & Wechsler, 2006aNakano, T. C., & Wechsler, S. M. (2006a). Teste brasileiro de criatividade figural: proposta de instrumento. Revista Interamericana de Psicologia, 40(1), 103-110.; Nakano et al., 2011Nakano, T. C., Wechsler, S. M., & Primi, R. (2011). Teste de criatividade figural infantil. São Paulo, SP: Vetor.; Torrance, 1988, 19Torrance, E. P. (1988). The nature of creativity as manifest in its testing. In R. J. Sternberg (Org).The nature of creativity: contemporary psychological perspectives. (pp. 43-75). Cambridge, Ill: Cambridge University Press., 1993Torrance, E. P. (1993). Understanding creativity: where to start? Psychological Inquiry, 4(3), 232-234., 2000Torrance, E. P. (2000). Research review for the Torrance tests of creative thinking: verbal and figural forms A and B. Bensenville, Ill: Scholastic Testing Service.; Wechsler, 2004, 20Wechsler, S. M. (2004). Avaliação da criatividade por figuras. Teste de Torrance: versão brasileira. Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas., 2008Wechsler, S. M. (2008). Criatividade: descobrindo e encorajando. (3a ed.). Campinas, SP: LAMP/PUC-Campinas.).

Na ocasião da construção do instrumento TCFI, Nakano e Wechsler (2006a)Nakano, T. C., & Wechsler, S. M. (2006a). Teste brasileiro de criatividade figural: proposta de instrumento. Revista Interamericana de Psicologia, 40(1), 103-110. também identificaram a influência de sexo sobre o resultado total dos participantes. E o item movimento também foi mais pontuado por participantes do sexo feminino, apontando que as meninas dão mais atenção à dinâmica dos objetos desenhados. Todavia, a amostra analisada pelas autoras apontou que os participantes do sexo masculino apresentaram maiores habilidades relacionadas ao item uso de contextos. Ainda assim, é importante ressaltar que a literatura não apresenta consenso sobre a temática da influência de sexo sobre as habilidades criativas, porém, segundo Nakano e Wechsler (2006b)Nakano, T.C., & Wechsler, S. M. (2006b). Teste brasileiro de criatividade figural: proposta de normas. Avaliação Psicológica, 5(2), 159-170. existem evidências que privilegiam ambos os sexos em características criativas diferentes. Os resultados encontrados não apontaram diferenças significativas para as intersecções das variáveis idade, sexo e tipo de escola.

Portanto, os dados obtidos neste trabalho apontam que a criatividade entendida como um potencial (Fink et al., 2012Fink, A., Slamar-Halbedl, M., Unterrainer, H. F., & Weiss, E. M. (2012). Creativity: genius, madness or a combination of both?. Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts, 6(1), 11-18. doi:10.1037/a0024874; Nakano, 2012Nakano, T. C. (2012). Teste de criatividade figural infantil. In C. S. Hutz (Org.). Avanços em avaliação psicológica de crianças e adolescentes II (pp. 425-451). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.), tal como sugere a Psicologia Positiva (Krentzman, 2013Krentzman, A. R. (2013). Review of the application of Positive Psychology to substance use, addiction, and recovery research. Psychology of Addictive Behaviors, 27(1), 151-165. doi:10.1037/a0029897; Seligman, & Csikszentmihalyi, 2000Seligman, M., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: an introduction. American Psychologist, 55(1), 5-14. doi:10.1037/0003-066X.55.1.5), sendo aplicada aos indicadores tradicionalmente considerados como emocionais (Arteche, & Bandeira, 2006Arteche, A. X., & Bandeira, D. R. (2006). O desenho da figura humana: revisando mais de um século de controvérsias. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación Psicológica, 22(2), 133-155.; Castro, & Moreno-Jimenéz, 2010Castro, E.K., & Moreno-Jimenéz, B. (2010). Indicadores emocionais no desenho da figura humana de crianças transplantadas de órgãos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(1), 64-72. doi:10.1590/S0102-79722010000100009; Naglieri et al., 1991)Naglieri, J. A., McNeish, T. J., & Bardos, A. N. (1991). Draw a person: screening procedure for emotional disturbance. Texas: PRO-ED., pode conferir ao instrumento Desenho da Figura Humana a potencialidade de avaliar características criativas.

Conclusão

Tendo em vista o objetivo deste estudo, que foi investigar evidências de precisão e de validade convergente para um protocolo de análise de características criativas presentes no Desenho da Figura Humana. Foram encontradas evidências de que o instrumento Desenho da Figura Humana, seja útil, não apenas, para a triagem do potencial criativo de crianças, mas também, que alguns indicadores tradicionalmente tidos como emocionais, estão associados à expressão criativa.

O estudo de evidências de validade apontou que os indicadores presentes nos itens Elaboração, Expressão de Emoção e Movimento são relacionados à características criativas. Outros estudos devem ser realizados para compreender melhor a relação dos itens Fantasia, Perspectiva Incomum, Perspectiva Interna e Uso de Contexto com o conceito de criatividade, ou ainda, com outros constructos psicológicos. Do ponto de vista da amostra, foram observadas influências das variáveis tipo de escola e sexo para os itens movimento e uso de contextos. Estes dados apontam a necessidade de que sejam realizados outros estudos, utilizando outros instrumentos, faixas etárias e ampliando o número de participantes.

Cabe ressaltar que os dados encontrados por esta pesquisa, sugerem que no instrumento Desenho da Figura Humana há a expressão de indicadores de criatividade. Sendo assim, apesar destes indicadores serem tradicionalmente associados a aspectos emocionais, cabe ao profissional o cuidado em assumir uma conduta voltada a potencialidade e à saúde, compreendendo que a presença de indicadores como riqueza de detalhes, figurantes, animais dentre outros estudados no presente trabalho, estão associados a características criativas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2016

Histórico

  • Recebido
    17 Dez 2014
  • Aceito
    26 Jan 2016
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