Efeito do ajustamento para os períodos de serviço anterior e corrente sobre os valores genéticos de touros para produção de leite na raça Holandesa

Effect of adjustments for previous and present days open on sire breeding values for milk production in Holstein breed

Efeito do ajustamento para os períodos de serviço anterior e corrente sobre os valores genéticos de touros para produção de leite na raça Holandesa

Effect of adjustments for previous and present days open on sire breeding values for milk production in Holstein breed

Nilson Milagres Teixeira; José Valente; Ary Ferreira de Freitas; Rui da Silva Verneque

Pesquisador da EMBRAPA Gado de Leite e Bolsista do CNPq

RESUMO

Os períodos de serviço anterior e corrente foram considerados, simultaneamente, como efeitos fixos em um modelo de touro para produção de leite até 305 dias (L305), contendo ainda os efeitos fixos rebanho-ano-estação e grau de sangue, idade da vaca como covariável (até 3º grau) e os efeitos aleatórios de touro e vaca. Foi usada uma matriz de parentesco que incluiu o touro, seu pai e sua mãe. O mesmo modelo, excluindo-se idade da vaca, foi usado para produção de leite até 305 dias ajustada para idade à maturidade (PROAJU). O método da máxima verossimilhança restrita (REML) foi usado para resolução das equações por meio do programa MTDFREML. Pelas soluções, concluiu-se que a PROAJU aumentou 902 kg, quando o período de serviço anterior variou de 20 a 300 dias. Este aumento foi de 813 kg para a mesma variação no período de serviço corrente. Os valores genéticos dos touros para PROAJU foram obtidos em quatro conjuntos de dados, usando-se o mesmo modelo anterior com exclusão dos períodos de serviço anterior e corrente. Os registros de produção foram ajustados com os fatores multiplicativos obtidos para período de serviço anterior e corrente e os touros foram reavaliados. Correlações de ordem entre valores genéticos dos touros para produção de leite ajustada e não-ajustada foram próximas de 1. As médias das diferenças entre valores genéticos dos touros com as produções de leite ajustadas e não-ajustadas para os períodos de serviço foram aproximadamente zero, indicando que os fatores para período de serviço foram adequados para os dados.

Palavras-chave: avaliação genética, fatores de ajustamento, período de serviço, produção de leite, raça Holandesa

ABSTRACT

Previous and present days open were fit simultaneously as fixed effects in a sire model for 305 day milk production (L305) containing yet the fixed effects of herd-year-season, level of Holstein blood, age of cow as covariant (up to 3^rd degree) and the random effects of sire and cow. A relationship matrix including the bull, his sire and his dam was used. The same model without age of cow was used for 305-day mature age equivalent milk yield (PROAJU). The REML method was used to solve the equations by means of the MTDREML program. By the results, the obtained conclusion was that the PROAJU increased 902 kg when the previous days open ranged from 20 to 320 days. This increase was of 813 kg for the same range in the present days open. The sires breeding values for PROAJU were predicted in four data sets using the prior model with exclusion of previous and present days open periods. The production records were adjusted by multiplicative adjustment factors obtained for previous and present days open and the sires were reevaluated. Rank correlation among sire breeding values for adjusted and non-adjusted milk production were nearly 1. The means of the differences among sire breeding values with adjusted and non adjusted milk production for the days open were approximately zero, indicating that factors for days open were appropriate for the data.

Key Words: genetic evaluation, adjustment factors, days open, milk production, Holstein breed

Introdução

Nas avaliações genéticas de vacas e touros, é necessário que se considerem todos os fatores do meio ambiente que influenciam o desempenho dos animais. Nas avaliações realizadas na EMBRAPA Gado de Leite, as produções de leite estão sendo atualmente ajustadas para rebanho, ano e estação de parição e idade. O ajustamento da produção de leite para período de serviço foi sugerido por vários autores (SCHAEFFER e HENDERSON, 1972; THOMPSON et al., 1982; e FUNK et al., 1987). Em países da Europa, as produções vêm sendo ajustadas para intervalo de partos e nos Estados Unidos, para período de serviço (PHILIPSSON et al., 1978; EVERETT et al., 1983). FUNK et al. (1987) foram os primeiros a sugerir fatores de ajustamento para período de serviço anterior e corrente. No Brasil, TEIXEIRA et al. (1995) sugeriram que a produção fosse ajustada para período de serviço corrente. VALENTE et al. (1995) concluíram que seria também recomendável o ajustamento para período de serviço anterior.

As estimativas da heritabilidade do período seco têm sido inconsistentes, variando de 0,06 a 0,34 (FUNK et al., 1987; SCHAEFFER e HENDERSON, 1972). Além disso, argumenta-se que, em virtude da existência de correlação genética entre período seco e produção de leite, não é recomendável o ajustamento para período seco.

Os objetivos do presente trabalho foram obter fatores de ajustamento da produção de leite para os períodos de serviço anterior e corrente, ignorando-se período seco, e determinar se o ajustamento dos registros de produção de leite para os períodos de serviço interferem na classificação dos touros pelos seus valores genéticos previstos.

Material e Métodos

Foram usados 176.399 registros de produção e reprodução obtidos do Arquivo Zootécnico Nacional - Gado de Leite, referentes a rebanhos da raça Holandesa localizados nas Regiões Sul e Sudeste. Uma condição para que um rebanho-ano fosse incluído nas análises é que tivesse pelo menos 20 lactações. Outras restrições foram: período de lactação entre 150 a 450 dias, produção até 305 dias de 1000 a 13.000 kg, período de serviço de 20 a 320 dias, intervalo de partos de 280 a 730 dias e idade ao parto de 20 a 207 meses. Além disso, os touros deveriam ter pelo menos 10 filhas em pelo menos três rebanhos e cada classe rebanho-ano-estação deveria possuir filhas de pelo menos dois touros e cada vaca a sua primeira lactação. As estações foram as das águas, de outubro a março, e a da seca, de abril a setembro. Uma vez satisfeitas essas restrições, restaram 10.708 lactações, iniciadas no período de 1981 a 1993, de 4880 vacas, filhas de 323 touros em 214 rebanhos. As produções de leite estudadas foram produção até 305 dias (L305) e produção até 305 dias ajustada à idade adulta (PROAJU). O modelo usado nas análises de variância foi o modelo de touro e incluiu os efeitos fixos de rebanho-ano-estação, grupo genético (1 - para vacas PC ou 31/32 Holandês, 2 - para vacas PC com geração controlada, GC's e 3 - para vacas puras de origem), períodos de serviço anterior (PA) e corrente (PS), efeito da idade da vaca ao parto, como covariável até 3º grau, no caso de L305, e os efeitos aleatórios de touro e vaca. Foi usada uma matriz de parentesco que incluiu o touro, o seu pai e a sua mãe. As soluções das equações foram obtidas usando-se o método REML conforme BOLDMAN et al., (1995). Análises de regressão usando-se modelo não-linear (y = ax^b + ∈) e polinomial de 2º grau (y = a + bx + cx² + ∈) foram usadas para ajustamento às soluções para períodos de serviço anterior e corrente. O modelo que melhor se adequou aos dados foi o escolhido. Valores previstos foram usados para a obtenção de fatores de ajustamento multiplicativos. Para se determinar o efeito dos fatores sobre os valores genéticos dos touros, estes foram avaliados para produção de leite até 305 dias ajustada à idade adulta em quatro conjuntos de dados, variando-se o número mínimo de filhas por touro (³ 10, ³ 30, ³ 50 e ³ 70). Estes conjuntos foram obtidos do arquivo anterior, mantidas as mesmas restrições de que cada touro deveria ter filhas em pelo menos três rebanhos e cada classe rebanho-ano-estação deveria possuir filhas de pelo menos dois touros. As produções em cada um desses conjuntos foram ajustadas para períodos de serviço anterior e corrente usando-se os fatores aqui estimados e os touros reavaliados. O modelo de touro usado nas avaliações foi o mesmo já descrito, com exclusão dos períodos de serviço anterior e corrente.

Resultados e Discussão

Soluções e valores previstos de PROAJU e L305, em função dos períodos de serviço anterior e corrente, seguiram mesma tendência (Figuras 1 a 4 e Tabela 1), sendo na sua maioria iguais para L305 e PROAJU. A relação entre PROAJU e PA foi curvilínea, discordando de TEIXEIRA et al. (1999), FUNK et al. (1987), VALENTE et al. (1995), que encontraram relação linear. A relação curvilínea entre produção e período de serviço corrente foi semelhante à encontrada por SCHAEFFER e HENDERSON (1972), THOMPSON et al. (1982) e FUNK et al. (1987). Os fatores de ajustamento obtidos (Tabela 2) foram padronizados para 100 a 109 dias, sendo os para PS semelhantes aos de TEIXEIRA et al. (1999) e FUNK et al. (1987), porém inferiores para classes mais baixas e superiores para as mais altas. Os fatores para PA foram superiores aos obtidos pelos mesmos autores para períodos de serviço inferiores a 60 dias. Estas diferenças podem ser atribuídas ao fato de ter sido ignorado o período seco no presente trabalho. Na Tabela 3 encontra-se o sumário das análises de variância para produção de leite até 305 dias ajustada à maturidade, em diferentes conjuntos de dados. A média foi 6.794 ±1.493 kg e, após ajustamento para período de serviço, 6.786±1.454 kg. Com o ajustamento para período de serviço, médias e variâncias da produção de leite praticamente não se alteraram em todos os conjuntos.

Os valores médios das heritabilidades estimadas foram 0,26 e 0,30, respectivamente, para os conjuntos sem e com ajustamento para período de serviço. Valores variando de 0,26 a 0,34 foram relatados por MITSUYOSHI e VAN VLECK (1994), utilizando também o método REML para estimação de componentes de variância em 10 conjuntos de dados da raça Holandesa, no Japão. Os valores das estimativas de heritabilidade no presente trabalho encontram-se também dentro dos limites relatados nos Estados Unidos por VAN VLECK e DONG (1988) e VAN VLECK et al. (1988).

Na Tabela 4, encontra-se sumário das diferenças dos valores genéticos dos touros nos quatro conjuntos de dados, obtidos sem ajustamento e com ajustamento da produção de leite para os períodos de serviço anterior e corrente. As médias das diferenças foram muito próximas de zero, indicando que os fatores foram adequados para os dados. A maior diferença absoluta entre valores genéticos individuais dos touros foi 117 kg, bem próxima de 121 kg encontrada por THOMPSON et al. (1982), sendo, porém, inferior a 254 kg relatado por SCHAEFFER et al. (1973) para o mínimo de 25 filhas por touro. Como esperado, a maior diferença absoluta entre valores genéticos decresce com o aumento do número de filhas por touro. Os valores das correlações de ordem foram altos, variando de 0,98 a 0,99. Correlações dessa mesma magnitude foram reportadas por SCHAEFFER et al. (1973) e THOMPSON et al. (1982), podendo-se concluir que os touros foram classificados da mesma forma, isto é, a ordem de seus valores genéticos independem dos ajustamentos para período de serviço.

As correlações entre as diferenças dos valores genéticos com produções ajustadas e não-ajustadas para os períodos de serviço e os valores genéticos originais foram negativas e altas, entre -0,22 e -0,48, comparadas às relatadas por SCHAEFFER et al. (1973) e THOMPSON et al. (1982), que encontraram valores próximos de zero. Para os conjuntos 1 e 2, com o ajustamento para períodos de serviço anterior e corrente, houve tendência significativa de redução dos valores genéticos dos touros com valor alto. Entretanto, este fato não ocorreu com os valores genéticos dos 16 touros com pelo menos 70 filhas (Tabela 5). Não houve relação da magnitude das diferenças entre valores genéticos obtidos de dados ajustados e não-ajustados com os valores genéticos para a produção sem ajuste, nem com a precisão das avaliações (variância do erro) como demonstrado pelas correlações não significativas. Para estes touros, os valores genéticos variaram pouco, contudo, diferença de até 86 kg foi observada. Portanto, a despeito de o ajustamento das produções de leite para os períodos de serviço anterior e corrente ter influenciado os valores genéticos previstos dos touros, as classificações dos mesmos permaneceram quase inalteradas, confirmando o encontrado quando se comparam as correlações de ordem. Entretanto, a magnitude da correlação de ordem por si só não deveria ser o critério para julgar o efeito do ajustamento sobre os valores genéticos dos touros, uma vez que o ajustamento das produções influi na avaliação dos mesmos, bem como remove efeitos de meio ambiente atribuído ao período de serviço. Além disso, grandes diferenças individuais entre vacas com relação à sua vida reprodutiva poderiam justificar plenamente o ajustamento para duração dos períodos de serviço.

Conclusões

Com base neste estudo, conclui-se que os ajustamentos da produção de leite para período de serviço nas avaliações de touros são convenientes. A despeito da falta de anotações adequadas do histórico reprodutivo das vacas, o que constitui ainda grande problema para o uso rotineiro destes ajustamentos, dever-se-iam efetivá-los na medida do possível.

Tendo em vista o uso do modelo de touro no presente trabalho, em virtude de deficiências nos pedigrees, seria ainda conveniente que fossem feitos esforços para utilização do modelo animal e obtenção de resultados que viessem a corroborar com os achados do presente trabalho. Além disso, seriam recomendáveis estudos sobre os efeitos do ajustamento para períodos de serviço sobre os valores genéticos das vacas, em vista das grandes diferenças individuais entre as mesmas com relação à sua vida reprodutiva, que influenciam suas produções.

Recebido em: 03/09/97

Aceito em: 19/09/98

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  07 Fev 2013
• Data do Fascículo
  Abr 1999

Histórico

• Aceito
  19 Set 1998
• Recebido
  03 Set 1997