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Tolerância ao calor de duas raças de ovinos deslanados no Distrito Federal

Heat tolerance of two hair sheep breeds in the Federal District, Brazil

Resumos

O objetivo deste estudo foi avaliar efeitos da temperatura ambiental sobre características fisiológicas de ovinos, no Distrito Federal. Foram selecionados dois grupos de 25 fêmeas vazias ou prenhas das raças Morada Nova e Santa Inês com idade variando entre dois e quatro anos. As fêmeas tiveram seus dados coletados seis vezes entre os meses de fevereiro e julho. As medições incluíram o peso vivo ( PV) (kg), a temperatura retal (TR), a freqüência respiratória (FR) e o batimento cardíaco (BC), às 8 e 14h, depois de expostas ao sol por um período de seis horas. Foram utilizados os procedimentos GLM, CORR e PRINCOMP do SAS e, para determinar grupamento e dissimilaridade, utilizou-se o programa GENES. Observaram-se grupos de alta e baixa resistência a ação do efeito calórico. As médias dos grupos às 14 hs foram: TR: 38,8 e 38,7°C; FR: 23,4 e 22,8 bat./min. e BC: 99,9 e 94,0 bat./min. para os animais das raças Morada Nova e Santa Inês, respectivamente. Houve ainda diferenças significativas entre matrizes não paridas e as paridas no período estudado, sendo maiores para não paridas: TR: 38,78 e 38,52°C; BC:23,13 e 22,82 bat./min.; FR: 96,98 e 96,36 bat./min., respectivamente. Os animais expostos ao sol pelo período de seis horas apresentaram resposta significativa ao estresse calórico, expresso pelo aumento da temperatura retal e pelo aumento no ritmo dos batimentos cardíacos e na freqüência respiratória. Os resultados obtidos permitiram estabelecer grupos de animais com maior e menor resistência às variações climáticas, ensejando a possibilidade de utilizar esses dados para seleção de animais em trabalhos de melhoramento.

batimentos cardíacos; fatores ambientais; freqüência respiratória; temperatura retal


The objective of this study was to evaluate the effect of increased environmental temperature on physiological traits of Morada Nova (MN) and Santa Ines (SI) sheep breeds in the Federal District, Brazil. Two groups (25 MN and 25 SI) were selected for study and included both pregnant (EP) and non-pregnant (EPN) ewes, aged betwen 2 and 4 years. The fifty ewes were recorded, once a month, for six months, at 8 am and 2 pm, and measurements included body weight (W), RT (Rectal Temperature), RR (Respiration rate), and CR (Cardiac Rate) were analyzed using SAS (GLM, CORR, PRINCOMP procedures) and the program GENES. The differences between the two breeds were: RT: 38.8 and 38.7°C; RR: 23.4 and 22.8 (rate/min.); CR: 99.9 and 94.0 (rate/min.), for Morada Nova and Santa Ines breeds, respectively. Difference between non-pregnant and pregnant ewes were: RT: 38.78 and 38.52°C; RR: 23.13 and 22.82 (Rate/min); CR: 96.98 and 96.36 (Rate/min), respectively. Differences between breeds were significant, as were differences between animals within groups. It was therefore possible therefore to identify animals within a breed more or less resitant to the climate conditions. This information may be used in future breeding programs.

cardiac rate; environmental; rectal temperature; respiration rate


Tolerância ao Calor de Duas Raças de Ovinos Deslanados no Distrito Federal

Maurício Quesada1 1 Aluno mestrado, Faculdade de Agron. Méd. Vet., Universidade de Brasília, 709100-900. E.mail: quesada@unb.br , Concepta McManus2 1 Aluno mestrado, Faculdade de Agron. Méd. Vet., Universidade de Brasília, 709100-900. E.mail: quesada@unb.br , Flávio Augusto D'Araújo Couto3 1 Aluno mestrado, Faculdade de Agron. Méd. Vet., Universidade de Brasília, 709100-900. E.mail: quesada@unb.br

RESUMO - O objetivo deste estudo foi avaliar efeitos da temperatura ambiental sobre características fisiológicas de ovinos, no Distrito Federal. Foram selecionados dois grupos de 25 fêmeas vazias ou prenhas das raças Morada Nova e Santa Inês com idade variando entre dois e quatro anos. As fêmeas tiveram seus dados coletados seis vezes entre os meses de fevereiro e julho. As medições incluíram o peso vivo ( PV) (kg), a temperatura retal (TR), a freqüência respiratória (FR) e o batimento cardíaco (BC), às 8 e 14h, depois de expostas ao sol por um período de seis horas. Foram utilizados os procedimentos GLM, CORR e PRINCOMP do SAS e, para determinar grupamento e dissimilaridade, utilizou-se o programa GENES. Observaram-se grupos de alta e baixa resistência a ação do efeito calórico. As médias dos grupos às 14 hs foram: TR: 38,8 e 38,7°C; FR: 23,4 e 22,8 bat./min. e BC: 99,9 e 94,0 bat./min. para os animais das raças Morada Nova e Santa Inês, respectivamente. Houve ainda diferenças significativas entre matrizes não paridas e as paridas no período estudado, sendo maiores para não paridas: TR: 38,78 e 38,52°C; BC:23,13 e 22,82 bat./min.; FR: 96,98 e 96,36 bat./min., respectivamente. Os animais expostos ao sol pelo período de seis horas apresentaram resposta significativa ao estresse calórico, expresso pelo aumento da temperatura retal e pelo aumento no ritmo dos batimentos cardíacos e na freqüência respiratória. Os resultados obtidos permitiram estabelecer grupos de animais com maior e menor resistência às variações climáticas, ensejando a possibilidade de utilizar esses dados para seleção de animais em trabalhos de melhoramento.

Palavras-chave: batimentos cardíacos, fatores ambientais, freqüência respiratória, temperatura retal

Heat Tolerance of Two Hair Sheep Breeds in the Federal District, Brazil

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of increased environmental temperature on physiological traits of Morada Nova (MN) and Santa Ines (SI) sheep breeds in the Federal District, Brazil. Two groups (25 MN and 25 SI) were selected for study and included both pregnant (EP) and non-pregnant (EPN) ewes, aged betwen 2 and 4 years. The fifty ewes were recorded, once a month, for six months, at 8 am and 2 pm, and measurements included body weight (W), RT (Rectal Temperature), RR (Respiration rate), and CR (Cardiac Rate) were analyzed using SAS (GLM, CORR, PRINCOMP procedures) and the program GENES. The differences between the two breeds were: RT: 38.8 and 38.7°C; RR: 23.4 and 22.8 (rate/min.); CR: 99.9 and 94.0 (rate/min.), for Morada Nova and Santa Ines breeds, respectively. Difference between non-pregnant and pregnant ewes were: RT: 38.78 and 38.52°C; RR: 23.13 and 22.82 (Rate/min); CR: 96.98 and 96.36 (Rate/min), respectively. Differences between breeds were significant, as were differences between animals within groups. It was therefore possible therefore to identify animals within a breed more or less resitant to the climate conditions. This information may be used in future breeding programs.

Key Words: cardiac rate, environmental, rectal temperature, respiration rate

Introdução

A criação de ovinos no Distrito Federal está direcionada para produção industrial com o objetivo de atender a uma clientela que tem hábito de consumir carne ovina. As criações tradicionais no Sul do país deram pouca atenção aos efeitos do ambiente, mais especificamente do clima, sobre a fisiologia animal visto que as matrizes provinham também de regiões de clima temperado.

Raças européias puras especializadas para produção de carne apresentam problemas de adaptação aos trópicos, já os animais adaptados apresentam baixos índices de produtividade altamente influenciados por fatores genéticos e ambientais (CALOW, 1989).

Nesse ponto depara-se com duas questões referentes à produção de animais nos trópicos: "Qual o nível de produção na região e quais as razões para tal nível?" (GALINA e ARTHUR, 1989a). Acrescendo-se, ainda: "Qual tecnologia deve ser utilizada nas regiões tropicais? Quais as raças que melhor se adaptam a essas condições?".

Entre os animais domésticos, o ovino é um dos que apresentam mecanismos anatomorfológicos mais propícios à sobrevivência em regiões de altas temperaturas, desde que a umidade do ar seja baixa (SIQUEIRA, 1990). Destaca-se a necessidade do conhecimento da tolerância ao calor e da capacidade de adaptação das raças, como forma de embasamento técnico para a exploração ovina, para propostas de raças em uma nova região ou mesmo para nortear um programa de cruzamento, visando à obtenção de tipos ou raças mais adequadas a uma condição específica de ambiente.

A medida de tolerância ao calor foi baseada na temperatura corporal do animal. O estresse calórico é um importante fator que limita o desenvolvimento dos ovinos na expressão do potencial genético de produção. As limitações à produção em áreas tropicais podem ser ocasionadas pelos quatro principais elementos ambientais estressantes: temperatura do ar, umidade do ar, radiação do sol e velocidade do vento (BARBOSA e SILVA,1995).

Estudos desenvolvidos por HOPKINS et al. (1978, 1984 e 1980) e SAWYER (1983) demonstraram existir alterações tanto na produção como na reprodução dos ovinos, face às alterações das condições ambientais.

O aspecto mais importante nos animais adaptados aos trópicos é a sobrevivência em condições difíceis com muitas doenças e escassez de alimentos. Isto, somado ao estresse ambiental, causa diminuição das taxas de sobrevivência e crescimento e da eficiência reprodutiva DOMINGUES (1958). Alguns genótipos foram menos influenciados que outros e esses serão favorecidos, já que o estresse agirá como pressão de seleção (CALOW, 1989).

A adaptação de espécies animais ao ambiente, em geral, foi feita pela medida de comparações entre mudanças físicas, fisiológicas e hormonais, causadas pelas condições sob as quais se realiza o manejo. Trabalhos sobre a influência da radiação calórica sobre a reprodução das ovelhas indicaram que 30% do total de fêmeas expostas a altas temperaturas ambientais falharam na reprodução (SAWYER, 1975).

O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito da elevação da temperatura ambiental sobre a temperatura retal, batimentos cardíacos e freqüência respiratória de duas raças de ovinos deslanados em um criatório do Distrito Federal.

Material e Métodos

O presente trabalho foi desenvolvido no Sítio Campo Alegre, na área agrícola do Distrito Federal localizado a 15° 47' de latitude sul e 47° 56' de longitude oeste. O clima da região é do tipo AW pela classificação de Köppen, com temperatura média anual de 21,1°C, tendo 1,6 e 34,0°C como média mínima e máxima, respectivamente. A precipitação anual média é de 1578,5 mm e a média anual de umidade relativa, de 68%. A região apresenta duas estações distintas, uma de seca (maio - outubro) e outra de chuvas (novembro - abril).

Os animais foram mantidos em regime extensivo com aproximadamente 20 hectares de pastagem de capim (Andropogon gayanus) e cana desintegrada, complementada com milho, no período da seca.

Foram selecionados 25 animais de cada uma das raças com idade entre 2 e 4 anos, onde metade encontravam-se vazias/secas e o restante, prenhas. Em cada tomada de dados, foram pesados os animais, coletando-se a medida da temperatura retal e a contagem dos batimentos cardíacos e da freqüência respiratória às 8 h. As medidas repetiram-se às 14 h após os animais terem ficado expostos ao sol, durante 6 horas.

Os dados foram analisados por intermédio do programa SAS (1995), utilizando-se os procedimentos CORR, PRINCOMP e GLM para determinar a correlação entre as características e as fontes de variação. Para investigar a existência de agrupamentos dentro de cada raça, em termos de tolerância ao calor, foram feitas análises de dissimilaridade e agrupamento, usando o Método de Tocher, com o programa Genes (CRUZ, 1997).

Utilizou-se o índice temperatura-umidade (THI) proposto por THOM (1958), para o conforto humano (em que THI = ta + 0,36td + 41,5), e modificado (BARBOSA e SILVA, 1995), que considerou o efeito da radiação e a velocidade do vento, substituindo a ta (temperatura do bulbo seco (ºC)) por tg (temperatura do globo (°C)). Do mesmo modo, procedeu-se a utilização da equação do Índice de Conforto Térmico:

ICT= 0,6678ta + 0,4969e + 0,5444tg + 0,1038vv

em que: ta = temperatura do ar (ºC), e = pressão de vapor (kPa), tg = temperatura média do globo (ºC) e vv = velocidade do vento (m.s-1).

Resultados e Discussão

A temperatura do ar nos dias de coleta apresentou variação entre 12,0 e 30,2ºC, e a umidade relativa do ar nesse período variou entre 22 e 99%, apresentando média anual de 68%. A radiação solar, do mesmo modo, variou entre 12,97 e 85,64 cal.cm-2.s-1 e, para a velocidade do vento, a variação observada foi entre 0,21 e 3,1 m.s-1.

Na Tabela 1, são apresentadas as médias das características fisiológicas e pesos das raças MN e SI, coletados no período de fevereiro a junho de 1999. Verificou-se que a raça Morada Nova apresentou média de índices fisiológicos maiores que os da raça Santa Inês. Em trabalho com Bergamácia e Santa Inês, na mesma região, a raça Santa Inês também mostrou-se mais resistente à elevação de temperaturas ambientais que as Bergamácia (McMANUS e MIRANDA, 1997).

Na Tabela 2, observa-se que os fatores período de coleta, hora, raça e o estado de prenhez das matrizes foram altamente significativos (P<0,01), enquanto o peso vivo da ovelha (entre 2 e 4 anos) somente influenciou significativamente o batimento cardíaco. A coleta pela manhã apresentou menores índices do que os registrados à tarde. A diferença entre os períodos de coleta e as horas de coleta pode ser atribuída às diferenças das condições climáticas. A diferença dos batimentos cardíacos entre as medidas de manhã e de tarde não foi afetada pela raça, tendo-se observado somente diferenças na temperatura retal e freqüências respiratórias.

Verificou-se que as matrizes que pariram durante o período do estudo apresentaram menores variações (P<0,001), quando sujeitas ao estresse calórico que as não paridas, sendo: TR: 38,52 e 38,78 (°C); FR: 22,82 e 23,13 (bat./min.); BC: 96,36 e 96,98 (bat./min.), respectivamente, portanto, menos influenciadas pelas mudanças climáticas.

Na Tabela 3, são apresentadas as correlações entre as características fisiológicas Temperatura Retal (TR), Batimento Cardíaco (BC), Freqüência Respiratória (FR) e Peso (P), em que se observou correlação positiva, média a alta entre as características fisiológicas analisadas, significando que aumento em uma característica foi acompanhado por elevação nas outras. Este resultado está de acordo com o de McMANUS e MIRANDA (1997), os quais destacam que o peso não acompanhou esta tendência.

Os resultados da análise de componentes principais são mostrados na Tabela 4. O primeiro componente (P1) mostrou que a elevação de uma característica foi acompanhada de elevação nas outras. No segundo (P2), observou-se que existem animais que aumentam TR e FR sem elevar o batimento cardíaco, mostrando possivelmente maior tolerância às mudanças climáticas. O primeiro componente explicou 55,9% dos efeitos avaliados e o segundo, 25,4% do tipo de comportamento dos fatores fisiológicos analisados. Os outros componentes estão na Tabela 4.

Os métodos de agrupamento hierárquicos permitem o estabelecimento de grupos, de tal forma que exista homogeneidade dentro do grupo e heterogeneidade entre grupos. Alternativamente, as técnicas de análise de agrupamento têm por objetivo, ainda, dividir um grupo original de observações em vários grupos, segundo algum critério de similaridade ou dissimilaridade. O método de Tocher é uma técnica de otimização, que agrupa os indivíduos mantendo-se o critério de que as distâncias intragrupos são sempre menores que as intergrupos.

Em situações de baixa temperatura ambientais, em geral, não foram observados agrupamentos dos animais usando-se o programa Genes (CRUZ, 1997), enquanto em temperaturas ambientais elevadas foram observados agrupamentos diferentes de genótipos, especialmente na raça SI, mostrando a alta variabilidade dos animais dentro desta raça. Este fato significa que pode ser feita seleção dentro da raça para animais mais resistentes aos efeitos de elevação de temperatura. Grupos de alta e baixa temperatura retal também foram identificados por HOPKINS et al. (1978), que, trabalhando com Merinos na Austrália, observaram que as médias diárias de temperatura retal variaram de 39,2 a 39,7ºC e as médias das temperaturas máximas ambientais, de 34,8 a 38,5ºC. No presente estudo, essas variações foram de 38,47 a 39,24ºC na raça (MN) e de 38,33 a 38,99ºC na raça (SI) para temperatura retal enquanto a temperatura do ar oscilou entre 12,0 e 30,2ºC. Observa-se que as temperaturas retais das ovelhas no Distrito Federal foram mais baixas. No estudo de Hopkins, com animais lanados, o autor refere-se ao fato de que não ficou bem explicada a razão de algumas ovelhas exibirem menor temperatura retal que outras, quando expostas ao sol.

As informações da Tabela 5, referentes à velocidade do vento, umidade relativa e temperatura do ar, correspondem aos momentos de coleta de dados no campo (mês e hora). Para determinar o índice de conforto térmico (ICT) e o índice de umidade (BGHI), foram levantadas informações referentes à temperatura do ponto de orvalho e à temperatura média diária. No presente trabalho, quando a temperatura ficava acima de 27,40°C, os valores de BGHI tornaram-se críticos (valores entre 70 e 78, HAHN, 1985).

Em março, quando a temperatura (às 14 h) foi de 30,20ºC, o valor do BGHI atingiu 74,27 e o ICT, 33,21, e em junho, à temperatura de 27,40ºC, o valor do BGHI foi de 73,12 e do ICT, de 30,77.

Em São Paulo, no experimento conduzido por BARBOSA e SILVA (1995), com ovelhas lanadas, o ICT oscilou entre 35 e 50 com as temperaturas variando de 16 a 30°C. Neste estudo, ICT oscilou de 20,48 a 33,22, com as temperaturas variando de 12 a 30ºC.

Quando a temperatura retal aumenta, em virtude da ação conjunta dos efeitos ambientais, influência os batimentos cardíacos e a freqüência respiratória. Sendo ativados mecanismos de controle do animal para restabelecer o equilíbrio de suas funções vitais. Alguns poucos estudos encontrados na literatura científica direcionada para avaliação do estresse calórico foram conduzidos, na Nova Zelândia e Austrália, por HOPKINS et al. (1978, 1980, 1984), e por MILLER et al. (1946), no Tennessee, Estados Unidos, com ovinos lanados, não servindo para comparar diretamente com respostas dos animais deslanados. No entanto, no estudo citado, foi relatado grande desconforto para os animais devido ao estresse calórico.

Medidas em Merinos na Austrália indicaram a existência de grupos de alta e baixa temperatura retal. Animais do grupo de baixa temperatura retal também mostraram baixas freqüências respiratórias. As diferenças entre os dois grupos ficaram maiores quando a temperatura ambiente se elevava (HOPKINS et al. 1978).

Os ovinos são animais homeotermos, possuindo um centro termorregulador no sistema nervoso central. Para os ovinos, a forma mais eficiente de perder calor é a evaporação. Em condições ideais de temperatura ambiente para os ovinos (12ºC), 20% das perdas de calor são feitas através da respiração e, quando expostos a temperaturas acima de 35ºC, a perda de calor via respiração chega a 60% do calor total perdido. Cada espécie animal possui uma faixa de temperatura de conforto, a zona termoneutra, definida como a faixa de temperatura em que a produção é ótima (YOUSEF, 1985). HOPKINS et al. (1980), investigando os efeitos da nutrição e temperatura sobre o peso dos cordeiros ao nascimento, observaram que temperaturas retais poderiam vir a ser utilizadas como uma medida de adaptação. Ovelhas que apresentaram temperaturas retais mais baixas tiveram cordeiros mais pesados, supondo-se que disfunções na placenta ou alterações no fluxo de sangue no útero, após um período de hipotermia da ovelha, talvez sejam as causas de baixos pesos dos cordeiros ao nascer. O estresse causado pelo calor foi considerado mais importante que a nutrição.

MILLER e MONGE (1946) concluíram que as características de produção e reprodução, bem como a saúde dos animais, estão diretamente relacionadas com a adaptação ao calor. Animais de regiões temperadas, em geral, apresentam níveis de produção e reprodução maiores e se adaptam rapidamente em um novo ambiente, dentro de regiões temperadas (HODGES, 1990). Animais nos trópicos sempre produzem em níveis inferiores, se comparados àqueleas criados em clima temperado.

Conclusões

A raça afetou a tolerância ao calor.

Dentro das raças existem grupos de animais com maior ou menor tolerância ao calor.

Nas condições de Brasília, os animais podem sofrer situações críticas para desenvolvimento.

As raças Santa Inês e Morada Nova diferem significativamente em suas medidas de TR, BC e FR, sendo que a Santa Inês apresentou maior resistência às alterações climáticas.

As ovelhas paridas apresentaram TR, BC e FR menores que as prenhas, mas não paridas.

Cada raça mostrou grupos diferenciados em suas reações às variáveis climáticas.

Programas de melhoramento devem levar em consideração a raça e a sua resposta às condições ambientais.

Existe grande variabilidade dentro da raça SI, que precisa ser mais bem estudada.

Recebido em: 23/06/00

Aceito em: 04/04/01

2 Professora, Faculdade de Agron. Méd. Vet., Universidade de Brasília, 709100-900. E.mail: concepta@unb.br

3 Eng. Agr., Sitio Campo Alegre, PAD-DF, Colônia Itapeti, Brasília, DF. E.mail: fcouto@cnpq.br

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  • 1
    Aluno mestrado, Faculdade de Agron. Méd. Vet., Universidade de Brasília, 709100-900. E.mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Out 2001
    • Data do Fascículo
      Jun 2001

    Histórico

    • Aceito
      04 Abr 2001
    • Recebido
      23 Jun 2000
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