Acessibilidade / Reportar erro

Editorial

Editorial

Dra. Fernanda Dreux M. Fernandes

Escrevo esse editorial no caminho de volta da reunião anual do Council for Academic Development in Communication Sciences and Disorders – CADCSD (Conselho para o Desenvolvimento Acadêmico em Ciências e Distúrbios da Comunicação), do qual participei como representante do curso de Fonoaudiologia da FMUSP, mas que teve repercussões que ultrapassam essa representação. Pela primeira vez esse conselho, que normalmente inclui coordenadores de cursos da área da Fonoaudiologia dos Estados Unidos, incluiu uma "Reunião Global" (Global Summit), para a qual foram convidados representantes de 16 países.

Essa iniciativa possibilitou, além de um instigante painel a respeito dos diferentes estágios dessa ciência em diferentes regiões do mundo, discussões aprofundadas a respeito de diferentes temas, como o impacto do Relatório Mundial sobre Deficiência (publicado pela Organização Mundial da Saúde), tema que eu abordei em recente editorial.

Outro aspecto discutido com profundidade foram as possíveis iniciativas para a ampliação de uma efetiva internacionalização dos programas de formação acadêmica, de forma a possibilitar a formação de profissionais mais atentos às diferentes realidades globais e, portanto, mais capazes de atuar nessas oportunidades. Uma das alternativas facilmente implementáveis é a construção do hábito de leitura de periódicos internacionais. Não há dúvida a respeito do salto de qualidade observado na Fonoaudiologia brasileira a partir da maior facilidade de acesso às publicações internacionais, resultando inclusive na melhoria significativa da qualidade dos periódicos nacionais. Em outras realidades, entretanto, frequentemente a questão não está relacionada ao acesso a material estrangeiro, mas à necessidade de sair de uma certa zona de conforto, em que apenas os periódicos nacionais (ou regionais) são considerados relevantes (ou suficientes).

A Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia vem trabalhando constantemente nesse sentido: continuar a ser um material de referência fundamental para o exercício da prática baseada em evidência a partir da publicação de estudos realizados em nossa realidade, com indivíduos falantes do Português e que tenha relevância para o fonoaudiólogo brasileiro e, ao mesmo tempo, tornar-se cada vez mais uma referência internacional de pesquisa em Fonoaudiologia. Para isso, a publicação inteiramente bilíngue e o acesso aberto são elementos fundamentais, colocando a Revista na posição de ampliar a repercussão internacional da pesquisa realizada no Brasil e as discussões a respeito de sua aplicabilidade em outras realidades.

Dessa forma, continuamos a publicar estudos realizados nas mais conceituadas faculdades e universidades, por pesquisadores consagrados e jovens entusiasmados, contando sempre com a revisão generosa e cuidadosa de nosso corpo editorial.

O primeiro Artigo Original é apresentado por Azevedo, Friche e Lemos,da Universidade Federal de Minas Gerais e tem o título Autopercepção de saúde e qualidade de vida de usuários de um Ambulatório de Fonoaudiologia. As autoras aplicaram um questionário de qualidade de vida e um de autopercepção da saúde a 97 adultos em atendimento fonoaudiológico. Elas concluíram que há relação entre a saúde percebida e a qualidade de vida relatada e que ambas sofrem interferência dos baixos níveis de escolaridade.

Dificuldades na comunicação entre pessoas com deficiência auditiva e profissionais de saúde: uma questão de saúde pública é o título do trabalho escrito por Castro, Paiva e César, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Nesse estudo os autores buscaram descrever a ocorrência de relatos de pessoas com deficiência auditiva e múltipla (auditiva e visual e/ou mobilidade) quanto às dificuldades para ouvir e entender os profissionais de saúde e concluíram que mais de um terço das pessoas apresenta dificuldade para ouvir e entender o que dizem esses profissionais.

Yamamoto e Ferrari, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo estudaram a Relação entre limiares audiométricos, handicap e o tempo para procura de tratamento da deficiência auditiva em 200 indivíduos adultos e idosos. As autoras concluem que os limiares audiométricos parecem influenciar a procura pelo tratamento e que, a despeito dos avanços tecnológicos e mudanças no acesso à informação e ao tratamento, o tempo de procura pelo tratamento é similar ao observado há 30 anos.

Tontura em idosos: diagnóstico otoneurológico e interferência na qualidade de vida é o título do artigo de Scherer, Lisboa e Pasqualotti, da Universidade de Passo Fundo. Participaram deste estudo 56 idosos com tontura, com média de idade de 71,2 anos. Os autores concluem que idosos com tontura apresentam, em sua maioria, alterações na audiometria e na vectoeletronistagmografia, que interferem em sua qualidade de vida.

O Desempenho de idosos com presbiacusia em tarefas de controle inibitório foi investigado por Costa e Zimmer, da Universidade Católica de Pelotas. As autoras constituíram um grupo controle de indivíduos com audição normal, um grupo de indivíduos com presbiacusia e usuários de prótese auditiva e um grupo de indivíduos com presbiacusia mas não usuários de prótese auditiva, e observaram diferenças apenas no tempo de reação, entre os indivíduos com e sem presbiacusia.

Camboim, Scharlach, Almeida, Vasconcelos e Azevedo, da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, descrevem o estudo intitulado Análise da compliância e gradiente timpanométrico em lactentes com refluxo. Foram estudados 118 lactentes, de recém-nascidos a 6 meses de idade, sendo 63 com diagnóstico clínico de refluxo gastroesofágico fisiológico e 55 sem refluxo. As autoras concluem que lactentes com refluxo apresentam compliância dentro dos padrões de normalidade, mas com menor compliância quando comparados com lactentes sem refluxo.

A Caracterização do padrão de fechamento velofaríngeo em pacientes com fissura palatina foi estudada por Di Ninno, Rezende, Jesus, Pires, Godinho e Britto, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. As autoras concluíram que a maior parte da amostra apresentou fechamento velofaríngeo coronal, que não houve relação entre o padrão de fechamento e as variáveis de gênero, faixa etária e tipo de fissura, mas que foi observada influência do diagnóstico da função velofaríngea.

Estudo multicêntrico sobre escalas para grau de comprometimento em disfagia orofaríngea neurogênica é o título do artigo de Silva, Motonaga, Cola, Gatto, Ribeiro, Carvalho, Schelp, Jorge, Peres e Dantas, da Universidade Estadual Paulista (campi de Marília e de Botucatu). Os autores descrevem que foi realizado estudo clínico transversal de 200 indivíduos com disfagia orofaríngea neurogênica e concluem que a concordância entre as escalas clínicas foi muito boa e entre as escalas objetivas foi moderada, sugerindo que ainda é necessária ampla discussão e possível revisão dos parâmetros que definem o grau de comprometimento da disfagia orofaríngea em pacientes neurológicos.

O artigo intitulado Características miofuncionais de obesos respiradores orais e nasais é de autoria de Berlese, Fontana, Botton, Weimnann e Haeffner da Universidade Federal de Santa Maria. Participaram deste estudo 24 crianças e adolescentes obesos; foi observado que a maior parte deles apresentava respiração oral e diversas alterações miofuncionais do sistema estomatognático.

Mendes, Pandolfi, Carabetta Júnior, Novo e Colombo-Souza, da Universidade de Santo Amaro, estudaram os Fatores associados a alteração da linguagem em crianças pré-escolares a partir da triagem de 126 crianças. Foi detectado risco para alteração de linguagem em 18,3% dos sujeitos.

Características acústicas dos fones [s] e [] de adultos e crianças com desenvolvimento fonológico típico é o título do estudo realizado na Universidade Federal de Santa Maria por Brasil, Mezzomo, Mota, Melo, Lovatto e Arzeno, com 26 participantes. Os autores afirmam que, para a maioria dos parâmetros acústicos estudados, as produções de adultos e crianças mostraram-se semelhantes.

Em pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Wertzner, Claudino, Galea, Patah e Castro estudaram as Medidas fonológicas em crianças com transtorno fonológico em 36 crianças com idades entre 5 e 7 anos. Crianças com transtorno fonológico apresentaram pior desempenho do que as do grupo controle.

Relação entre a porcentagem de consoantes corretas e a memória operacional fonológica na alteração específica de linguagem é o título do estudo relatado por Befi-Lopes, Tanikawa e Cáceres, também da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Participaram deste estudo retrospectivo 30 sujeitos com diagnóstico de alteração específica de linguagem, com idades entre 4 e 6 anos. As autoras afirmam que a idade não favorece o aprimoramento das habilidades fonológicas e de memória operacional fonológica.

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista, Oliveira, Cardoso e Capellini, apresentam os resultados da pesquisa Caracterização dos processos de leitura em escolares com dislexia e distúrbio de aprendizagem na qual foram estudados 60 escolares da primeira à quarta série do ensino fundamental. As autoras afirmam que os escolares com dislexia e distúrbio de aprendizagem apresentam desempenho inferior, mas diferente, em provas que avaliam os processos de leitura.

A Influência do tipo de estímulo visual na produção escrita de surdos sinalizadores sem queixas de alterações na escrita foi estudada por Rodrigues, Abdo e Cárnio, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 14 crianças usuárias de LIBRAS, com idades entre 8 e 13 anos. As autoras concluíram que o uso de estímulo visual não interferiu na produção escrita dos indivíduos estudados.

Borrego e Behlau, da Universidade Federal de São Paulo, descrevem o estudo Recursos de ênfase utilizados por indivíduos com e sem treinamento de voz e fala. A partir da análise de 77 indivíduos, as autoras concluíram que a utilização dos recursos de ênfase depende mais de características individuais do falante do que de treino vocal.

O primeiro Estudo de Caso apresentado envolve a Análises perceptivo-auditiva e acústica da voz nos momentos pré e pós fonoterapia de pacientes com falsete mutacional e é escrito por Gama, Mesquita, Reis e Bassi, da Universidade Federal de Minas Gerais. As autoras descrevem os resultados de terapia fonoaudiológica de quatro jovens do gênero masculino com falsete mutacional.

Outro estudo de caso descreve os Benefícios da aplicação de toxina botulínica associada à fonoterapia em pacientes disfágicos graves e foi escrito por Menezes, Rodrigues, Oliveira Neto, Chiari, Manrique e Gonçalves, da Universidade Federal de São Paulo. Trata-se de estudo retrospectivo de cinco pacientes com idades entre 17 e 70 anos que usavam exclusivamente a via alternativa de alimentação.

Zeigelboim, da Universidade Tuiuti do Paraná, escreve o artigo Refletindo sobre o Novo a respeito do artigo Balance Rehabilitation Unit (BRUTM) posturography in relapsing-remitting multiple sclerosis, publicado em 2011 na revista Arquivos de Neuropsiquiatria.

Cardoso, da Universidade do Estado da Bahia, apresenta a Resenha do artigo Brazil: towards sustainability and equity in health, publicado em 2011 na revista Lancet.

Por fim, os Resumos referem-se aos seguintes trabalhos: Estratégias de enfrentamento em professores com queixa de voz, de Zambon, da Universidade Federal de São Paulo, dissertação de mestrado em Ciências; Validação da versão brasileira da Voice Symptom Scale – VoiSS, de Moreti, da Universidade Federal de São Paulo, dissertação de mestrado em Ciências; Efeitos da privação aguda de sono sobre o processamento auditivo central em adultos saudáveis, de Liberalesso, da Universidade Tuiuti do Paraná, tese de doutorado em Distúrbios da Comunicação Humana – Otoneurologia; Condições de letramento no processo de envelhecimento: uma análise junto a idosos com mais de 65 anos, de Souza Filho, da Universidade Tuiuti do Paraná, dissertação de mestrado em Distúrbios da Comunicação Humana.

Parabéns aos autores e, como sempre, muito obrigada aos revisores!

Fernanda Dreux

Editora científica da RSBF

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2012
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia Al. Jaú, 684 - 7º andar, 01420-001 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (55 11) 3873-4211 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@sbfa.org.br