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Editorial

EDITORIAL

Chegar ao vigésimo número de uma revista na periferia do planeta evoca todo o esforço institucional de um grupo de pessoas do Programa de Pós-graduação em Sociologia do IFCH da UFRGS, bem como o trabalho sociológico de uma coletividade mundial de Autores. Esperamos que as novas gerações venham a compreender a responsabilidade que herdam e ampliem, transformando, esse legado de práticas sociológicas.

O dossiê deste número, "Violências, Medo e Prevenção", organizado por José Vicente Tavares dos Santos, inicia abordando a relação entre modernidade, violências e a produção social do medo (Daniel Chaves de Brito e Wilson José Barp), compreendendo três conjuntos de estudos. O primeiro retraça novas formas de violência e crime: o crime enquanto organização social (Letícia Maria Schabbach); e o crime digital, delito cometido mediante as tecnologias da informação (Luis Gerardo Gabaldón). Por outro, Margarita Rosa Gaviria M. demonstra como a produção social do medo ocorre em contextos de vulnerabilidade social, marcados pela crise das instituições.

O segundo conjunto de escritos aborda a crise do sistema de Justiça Criminal. As mudanças em uma escola de polícia militar, com o ingresso de bacharéis em direito que passam a ser denominados de data vênia (Dani Rudnicki); a mediação de conflitos em delegacias que atuam sobre os casos de denúncias de violência contra a mulher (Maria Teresa Nobre e César Barreira); e a fragilidade dos modelos de Ouvidoria existentes atualmente (Jorge Zaverucha). Por fim, Gilson Lima e Vivian Furtado indicam os efeitos dos meios de comunicação na disseminação das violências, analisados pelo ângulo da inclusão digital, cuja fragilidade é alta face aos dilemas contemporâneo da dupla exclusão social, industrial e informacional.

Na seção de Artigos, Ricardo Silva (Liberalismo e democracia na sociologia política de Oliveira Vianna) examina o pensamento político de Vianna, criticando a concepção do "autoritarismo instrumental". Segundo Silva, tal modelo "é inapropriado para a compreensão da dimensão ideológica do pensamento político de Oliveira Vianna, orientada para a justificação de uma forma de Estado antiliberal e antidemocrática".

Os outros dois textos apresentam faces da mundialização das conflitualidades. Com enorme atualidade, Ramón Fogel (La región de la triple frontera: territorios de integración y desintegración) analisa a Tríplice Fronteira "como territorio construido, apropriado y controlado por actores, algunos extra regionales. Estos actores mantienen vínculos entre si que implican relaciones de poder, y están involucrados en actividades y procesos con incidencia en la integración regional". Marcelo Rosa (Estado e ações coletivas na África do Sul e no Brasil) investiga, mediante uma análise comparativa da "atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (no Brasil) e do Landless People's Movement (na África do Sul)", as "formas emergentes que o Estado adquire nesses dois contextos sociais". Busca "uma teoria complexa que rompa com o dualismo sociológico Estado/Sociedade civil".

A resenha de Renata Florentino sobre o conto de Fernando Pessoa (O Banqueiro Anarquista) "ilustra a maleabilidade de ideologias sociais entre seus próprios defensores, construindo um personagem que, ao mesmo tempo em que se diz anarquista em teoria e prática, é dono de uma poderosa instituição financeira: um banco".

Crítica e engajamento resumem este vigésimo número de Sociologias. Renato Ortiz, em Interfaces, comenta a obra de Octavio Ianni, composta por inúmeros temas - "escravidão, questão nacional, cultura, agrarismo, Estado, globalização, literatura", "racismo, desigualdade", "totalitarismo, socialismo, terrorismo" – orientada por uma "explicação totalizadora" e "fundada na autonomia do pensamento". Uma "ironia apaixonada", escreve Ortiz, "o alimento da tensão entre pensar e estar no mundo" que fez Ianni contemplar sociologicamente a "viagem" como experiência da alteridade. Uma vez mais, para verificar as problemáticas construídas, o rigor das demonstrações e a ousadia desses estudos sociológicos não haverá melhor olhar que o dos avaliadores e dos leitores de Sociologias, exigentes, cuidadosos e críticos, a quem expressamos nosso reconhecimento.

Encerramos um ciclo, nesta vigésima edição de Sociologias (1 1 Ao renunciar ao estimulante cargo de Editor de SOCIOLOGIAS, desejo agradecer a confiança em mim depositada pelas sucessivas Coordenações do Programa de Pós-graduação em Sociologia do IFCH da UFRGS, bem como a inteligente e amiga colaboração da Profª. Maira Baumgarten. Ao CNPq, a CAPES, ao SCIELO e a Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRGS, meus agradecimentos. Aos Autores e avaliadores, grato pelo interesse, paciência e compreensão. Ao leitor, meu desejo que continuemos a nos encontrar, em outros momentos e espaços. Destes últimos dez anos, permanece a confiança na criatividade social e na rebeldia intelectual dos homens e mulheres ao fabricar a sociedade do futuro. Obrigado, José Vicente Tavares dos Santos. ), desejando que a imaginação sociológica continue a nos fazer compartilhar esperanças de uma democracia com emancipação, em tempos de mundialização de incertezas e de lutas sociais.

José Vicente Tavares dos Santos

Maíra Baumgarten

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    Ao renunciar ao estimulante cargo de Editor de SOCIOLOGIAS, desejo agradecer a confiança em mim depositada pelas sucessivas Coordenações do Programa de Pós-graduação em Sociologia do IFCH da UFRGS, bem como a inteligente e amiga colaboração da Profª. Maira Baumgarten. Ao CNPq, a CAPES, ao SCIELO e a Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRGS, meus agradecimentos. Aos Autores e avaliadores, grato pelo interesse, paciência e compreensão. Ao leitor, meu desejo que continuemos a nos encontrar, em outros momentos e espaços. Destes últimos dez anos, permanece a confiança na criatividade social e na rebeldia intelectual dos homens e mulheres ao fabricar a sociedade do futuro. Obrigado, José Vicente Tavares dos Santos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Set 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2008
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