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EDITORIAL

Nesse conturbado século marcado pela aceleração das transformações econômicas, políticas e sociais, inúmeros desafios se colocam na produção de conhecimentos úteis à sociedade e ao bem comum. Fiéis às suas origens de pensamento crítico e reflexivo sobre a cultura e a sociedade, as ciências sociais desempenham um importante papel na análise dos condicionamentos impostos e nas alternativas que se abrem continuamente pela ação humana.

Sociologias, em seu quadragésimo primeiro número, apresenta importantes contribuições para o debate sobre conhecimento, ciência moderna e ciências sociais. O dossiê Epistemologia das Ciências Sociais, organizado por Léo Peixoto Rodrigues, Fabrício Neves e José Carlos dos Anjos, traz elementos de reflexão sobre as ciências sociais e seu potencial para o entendimento do mundo. A complexidade do mundo e do fazer científico é discutida a partir das ideias da reflexividade e da colonialidade do saber em oposição aos determinismos positivistas e funcionalistas que preconizam a existência de uma verdade, única, utilitária, pragmática e finalística.

De acordo com os organizadores do dossiê, ao longo do século XX, o acúmulo de conhecimentos e a elevação da capacidade reflexiva dos agentes aumentaram as descontinuidades epistemológicas dos objetos de ciência. No início do século XXI, consolida-se a percepção de que o conhecimento já existente penetra e subverte continuamente as fronteiras entre as formas de conhecer. Pensar as diversas formas pelas quais os conhecimentos colonizados têm sido negados, saqueados, localizados parece ser fundamental para (des)cobrir os muitos epistemicídios da ciência moderna.

A seção de artigos dessa edição analisa efeitos das tecnologias digitais nas sociedades e no próprio ofício da sociologia com o trabalho de Leonardo Fernandes Nascimento. Federico Vasen, no artigo Estamos ante um "giro poscompetitivo" en la política da ciencia, tecnología e innovación? avalia que, nos últimos anos, surgiram novos marcos conceituais que dão maior relevância a objetivos sociais frente a metas econômicas nas políticas de CTI. Segundo o autor, não se configura ainda um marco alternativo coerente e sistemático, mas sim uma consciência das limitações das políticas convencionais de CTI para abordar temas que não têm o lucro como resultado imediato. Verónica Paiva e Juan Banfi analisam, a seguir, como os cartoneros da cidade de Mar del Plata utilizam o espaço público e estabelecem interações com outros atores como estratégias de sobrevivência.

Na seção interfaces, Ana Maria Gomes e Marília Steinberger debatem a democracia participativa na regularização fundiária urbana a partir do projeto Lomba do Pinheiro em Porto Alegre. Cleber Lopes, Ednaldo Ribeiro e Marcos Tordoro apresentam um estudo sobre atitudes e visões sobre direitos humanos na polícia militar do estado do Paraná. Fechando esta edição, apresentamos resenhas sobre os livros de Sérgio Miceli e Heloísa Pontes "Cultura e Sociedade: Brasil e Argentina" (2014) e de Isabell Lorey, "Die Regierung der Prekären (2012).

Convidamos nossos leitores a pensar conosco essas questões buscando formas de desenvolver conhecimentos reflexivos e alicerçados em temas estratégicos para a sustentabilidade humana.

Antonio CattaniMaira Baumgarten

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2016
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