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Editorial de Per Musi n.33

Nesta leva de artigos de Per Musi n.33 (jan-abril, 2016), nos deparamos também com desafios de ordem financeira, que refletem o grave momento político e econômico por que passa o Brasil. A crise ética que assola as lideranças governamentais teve reflexos diretos na retirada de verbas públicas que apoiavam a pesquisa acadêmica e sua publicação nos periódicos científicos. Por isso, infelizmente, de agora em diante, Per Musi repassará aos autores os custos da produção dos arquivos XML (formato necessário à indexação nas bases do SciELO e que permite ampla divulgação pela internet). Agradecemos publicamente aqui à pesquisadora e professora Silvia M. Lazo (Visiting Scholar da Cornell University, EUA) pela generosa doação pessoal da verba que viabilizou a edição do presente número da revista.

Carlos de Lemos Almada toma as Variações para Orquestra op.31 de Arnold Schoenberg como laboratório em um diálogo aprofundado com o conceito de Grundgestalt ou "Análise derivativa", forjado pelo próprio Schoenberg durante a sistematização de seu serialismo. O autor propõe que a Grundgestalt de uma obra serial possa se manifestar em dois níveis distintos, porém associados - um abstrato (básico ou idealizado), e um concreto (formado por matrizes musicais reais) - pondo enfim em evidência uma construção temática extraordinariamente orgânica e econômica.

A contribuição teórica de Schoenberg anima ainda a reflexão de Eduardo Campolina, que parte de sua definição de "ideia musical" para confrontá-la em seguida com aquela de "sistema", de Pierre Boulez, à luz de uma problematização da percepção musical. Ainda que não explicitamente reivindicado pelo autor, seus apontamentos tomam aqui a forma de uma homenagem a Boulez, que nos deixou recentemente, mas cujo pensamento se estende em um manancial de desdobramentos.

Kheng K. Koay discute o conteúdo programático na música da compositora inglesa Judith Weir em duas obras do final do século XX (Distance and Enchantment, de 1988 e Musicians Wrestle Everywhere, de 1994), reconhecendo a associação entre gestos musicais e sugestões de movimentos em atmosferas derivadas de música folclórica escocesa e irlandesa, e diversidade étnica de Londres.

Partindo do tratado Il Transilvano (1610) de Girolamo Diruta (1554?-1610?), Delphim Rezende Porto realiza o que é, a um só tempo, uma exposição dos preceitos da improvisação ao teclado na Sereníssima República do Século XVI, uma panorâmica da sua didática e uma contextualização mais ampla desta prática fundamental para o tecladista renascentista.

Também em perspectiva interpretativa e pedagógica, Larissa Paggioli de Carvalho propõe estratégias de abordagem para a performance dos prelúdios do Cravo Bem Temperado de J. S. Bach, considerando sua variedade formal e estilística, influência das danças, ao lado de aspectos técnicos recorrentes.

Simone Marques Braga apresenta reflexões sobre a utilização do repertório brasileiro de peças didáticas e métodos para iniciantes no teclado dentro da vertente de desenvolvimento de currículos e suas possíveis contribuições para a formação inicial de professores de música.

As autoras Nadja Barbosa de Sousa e Marta Assumpção de Andrada e Silva abordam a projeção vocal no canto lírico e as estratégias didáticas desenvolvidas por diferentes professores diante do tema, envolvendo desde o corpo, a respiração e a propriocepção, até a sugestão de imagens ou cenas. Uma análise qualitativa e quantitativa de dados obtidos entre 72 professores em atividade no Brasil levanta como fatores mais recorrentes a respiração e as formas de emissão sonora.

Fausto Borém
Fundador e Editor Chefe de Per MusiEduardo Rosse e Débora Borburema
Editores Associados de Per Musi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2016
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