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A fragilidade é um fator de risco para desfechos negativos em idosos acometidos pela COVID-19

A fragilidade está associada a declínios relacionados com a idade que ocorrem em vários sistemas fisiológicos, causando maior vulnerabilidade a mudanças súbitas do estado de saúde diante de um pequeno evento estressor. Acomete 50% das pessoas com 85 anos ou mais e se correlaciona a diversos desfechos negativos, como quedas, delírios, redução da capacidade funcional, necessidade de cuidados, admissão hospitalar e internação em instituição de longa permanência. Está associada a fatores genéticos, ambientais e epigenéticos que, somados, causam danos celulares e moleculares que se acumulam ao longo do envelhecimento, causando redução da reserva fisiológica em diferentes sistemas11. Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. doi: 10.1093/gerona/56.3.m146.
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O idoso frágil sofre maior impacto de eventos estressores tanto na saúde quanto na capacidade funcional, tendo maior dificuldade para se recuperar. Apresentam imunossenescência, caracterizada pelo declínio do sistema imunológico associado ao envelhecimento, que os coloca numa condição mais suscetível a contrair doenças infectocontagiosas, como a COVID-19, e a desenvolver piores desfechos, incluindo maior risco de óbito e redução da capacidade funcional22. Hägg S, Jylhävä J, Wang Y, Xu H, Metzner C, Annetorp M, et al. Age, frailty, and comorbidity as prognostic factors for short-term outcomes in patients with Coronavirus Disease 2019 in geriatric care. J Am Med Dir Assoc. 2020;21(11):1555-9.e2. doi: 10.1016/j.jamda.2020.08.014.
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Idosos acometidos pela COVID-19 de forma grave, que necessitaram de internação hospitalar, sedação, ventilação mecânica, tratamento com vários medicamentos em altas doses, repouso no leito e demais intervenções necessárias para a estabilização e cura da doença, podem sofrer grande impacto na saúde e desenvolver ou agravar o quadro de fragilidade durante a hospitalização33. O'Malley PA. Frailty and disability: predictors or outcomes or both in post COVID-19*. Crit Care Med. 2022;50(6):1023-5. doi: 10.1097/CCM.0000000000005502.
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Além das lesões diretas e indiretas causadas pelo SARS-CoV-2, os pacientes hospitalizados podem sofrer os efeitos negativos resultantes do período de internação em unidades de terapia intensiva, que levam a prejuízos físicos, como a redução do trofismo, da força e função musculares, além de alterações cognitivas e mentais que persistem por vários meses após a alta hospitalar. O impacto da hospitalização para o tratamento da COVID-19 grave é maior em idosos que em jovens e está associado aos longos períodos de internação e repouso no leito, somados às consequências da síndrome pós-terapia intensiva.

Vários estudos têm acompanhado os sintomas da síndrome pós-COVID-19 ou COVID longa, havendo mais de 50 sintomas que podem permanecer a longo prazo, entre eles fadiga, dispneia, dor torácica, tosse, e ntre outros. Poucos estudos investigaram a síndrome pós-COVID-19 em idosos frágeis, apesar da alta prevalência de fragilidade na admissão hospitalar, principalmente entre pacientes do sexo feminino (75%) e de mais idade (85% dos idosos com 85 anos ou mais).

A fragilidade pode ser tanto um preditor quanto um desfecho negativo da COVID-19, pois está associada ao maior risco de óbito intra-hospitalar ou desenvolvimento de incapacidade. Além disso, idosos previamente robustos podem desenvolver essa condição durante a internação hospitalar. Assim, a fragilidade pode ser um desfecho da COVID-19 em idosos do mesmo modo que idosos frágeis podem evoluir para piores desfechos. Portanto, o rastreio da fragilidade prévia ou durante a hospitalização se faz necessário para o cuidado específico desta população vulnerável.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. doi: 10.1093/gerona/56.3.m146.
    » https://doi.org/10.1093/gerona/56.3.m146
  • 2
    Hägg S, Jylhävä J, Wang Y, Xu H, Metzner C, Annetorp M, et al. Age, frailty, and comorbidity as prognostic factors for short-term outcomes in patients with Coronavirus Disease 2019 in geriatric care. J Am Med Dir Assoc. 2020;21(11):1555-9.e2. doi: 10.1016/j.jamda.2020.08.014.
    » https://doi.org/10.1016/j.jamda.2020.08.014
  • 3
    O'Malley PA. Frailty and disability: predictors or outcomes or both in post COVID-19*. Crit Care Med. 2022;50(6):1023-5. doi: 10.1097/CCM.0000000000005502.
    » https://doi.org/10.1097/CCM.0000000000005502

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2022
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