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UM OLHAR SOBRE A EMERGÊNCIA DA LINGUÍSTICA APLICADA CONTEMPORÂNEA NA PERSPECTIVA DOS SISTEMAS COMPLEXOS

RESUMO

Este artigo, fruto de uma metapesquisa associada a uma pesquisa documental, pretende revisitar a história da Linguística Aplicada (LA) à luz dos Sistemas Complexos: sistemas com diferentes tipos de elementos que conectam-se e interagem de formas diferentes e mutáveis. Abordamos essa história pelo viés da mudança, a partir da noção de que a LA constitui-se um sistema de agentes vivos e em constante processo de coadaptação. Para tal, procuramos identificar cinco características na trajetória da LA: a) adaptativa; b) não-linear; c) aberta; d) dinâmica; e) com agentes heterogêneos. Com isso, pretendemos corroborar com o olhar histórico sobre a emergência da LA contemporânea, destacando a LA como sistema em constante e incessante processo de mudança.

LA Contemporânea; Sistemas complexos; Mudança

ABSTRACT

This paper, product of meta-research associated with some documental analysis, aims to revisit the history of Applied Linguistics (AL) in the light of Complex Systems: systems with different types of elements which connect and interact in different and changing ways. This history is approached in relation to change, upon the notion that AL is a system of living agents and in ongoing processes of coadaptation to the environment, be it within or outside the associations to which they adhere. For such, five characteristics are identified in AL trajectory: a) adaptive; b) non-linear; c) open; d) dynamic(al); e) having heterogeneous agents. Therefore, we intend to corroborate the historical perspective about the emergence of autonomous AL as a system in ongoing and incessant process of change.

Contemporary AL; Complex systems; Change

Introdução

Quantas palhas são necessárias para quebrar a corcova de um camelo? Qual partícula deve desprender-se de uma rocha para detonar uma avalanche? Não sabemos. Arriscamo-nos a responder que depende do tamanho da palha, do camelo, da partícula, da rocha, do terreno, da resistência do corpo, do vento, da umidade, da temperatura, de como o organismo se adapta às novas condições do meio, etc. Parece-nos impossível dar uma resposta linear e determinística para essas perguntas, pois há tantas variáveis envolvidas que derrubariam qualquer tentativa de singularização.

De forma análoga, não nos parece possível determinar o que exatamente levou à emergência da Linguística Aplicada contemporânea, dissidente inicialmente de uma Linguística puramente teórica e experimental, e posteriormente dissidente até mesmo de uma Linguística Aplicada considerada hegemônica, preocupada primordialmente com questões de ensino e aprendizagem de línguas. A Linguística Aplicada (LA) contemporânea, de natureza crítica (PENNYCOOK, 2001PENNYCOOK, A. Critical applied linguistics: a critical introduction. Mahawah: Lawrence Erlbaum, 2001.), transgressiva (PENNYCOOK, 2004PENNYCOOK, A. Critical applied linguistics. In: DAVIES, A.; ELDER, C. (Org.). The handbook of applied linguistics. Oxford: Blackwell, 2004. p. 397-420., 2006PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 67-84.) e indisciplinar (MOITA LOPES, 2006MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44., 2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24.), embora longe de ser considerada uma unanimidade no cenário mundial, encontra no Brasil um importante centro de referência, onde se destaca, dentre outras, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Como se trata de naturezas impregnadas de hibridismo e transitoriedade, acreditamos que essa LA pode ser vista como um Sistema Adaptativo Complexo (SAC), isto é, um sistema com diferentes tipos de elementos que se conectam e interagem de formas diferentes e mutáveis (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008aLARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a.), como procuraremos demonstrar neste artigo. Como SAC, a LA contemporânea emerge de diferentes processos adaptativos na história da Linguística, o que corrobora sua natureza dinâmica.

Por meio da Teoria da Complexidade, acreditamos ser possível contribuir com o olhar histórico sobre como a LA contemporânea emerge de forma dissociada da Linguística e da própria Linguística Aplicada dominante. Para tal, partimos do pressuposto de que a interação entre as partes de um sistema faz emergir seu comportamento coletivo, o qual interage simultaneamente com seu ambiente. O comportamento coletivo é não-linear, isto é, desproporcional aos seus fatores causais, e seus agentes mudam e se adaptam em resposta ao feedback, interagindo em direção à auto-organização e à emergência de um novo comportamento.

O presente artigo tem por objetivo promover um entendimento sobre os processos que levaram à emergência da LA contemporânea à luz da Teoria da Complexidade. Como se trata de um Sistema Adaptativo Complexo, deve atender a alguns requisitos fundamentais. Para o levantamento dos dados que nos ajudam na construção da história da LA contemporânea, desenvolvemos uma pesquisa documental a partir de artigos acadêmicos considerados seminais na Linguística Aplicada brasileira (CELANI, 1992CELANI, M. A. A. Afinal, o que é linguística aplicada. In: PASCHOAL, M. S. Z.; CELANI, M. A. (Org.). Linguística aplicada: da aplicação da linguística à lingüística transdisciplinar. São Paulo: EDUC-PUCSP, p. 15-23. 1992.; MOITA LOPES, 1996MOITA LOPES, L. P. Oficina de linguística aplicada. Campinas: Mercado de Letras, 1996.), artigos acadêmicos importantes que revisitam a história da Linguística Aplicada (MENEZES; SILVA; GOMES, 2009MENEZES, V.; SILVA, M. M.; GOMES, I. F. Sessenta anos de linguística aplicada: de onde viemos e para onde vamos. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.25-50.; DAVIES; ELDER, 2004DAVIES, A.; ELDER, C. Applied linguistics: subject to discipline? In: DAVIES, A.; ELDER, C. The handbook of applied linguistics. Oxford: Blackwell, 2004. p.01-15.) e sítios de associações respeitados nacional e internacionalmente.

Requisitos de um SAC

Para constituir-se como um SAC, um sistema precisa envolver múltiplos agentes que se adaptam ao meio e à ação de outros agentes por meio de trajetórias percorridas ao longo do tempo. Assim sendo, precisa possuir agentes heterogêneos, ser dinâmico, aberto, não linear e adaptativo, como aprofundaremos a seguir.

Possuir agentes heterogêneos: um sistema não complexo possui um pequeno grupo de agentes similares que se conectam de forma previsível e imutável. O semáforo é um exemplo desse tipo de sistema (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008aLARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a.), pois é composto por três luzes de cores diferentes que acendem em uma sequência fixa. Em contrapartida, um Sistema Complexo deve possuir diferentes tipos de agentes ou processos que se constituem em um sistema complexo em si mesmos, ou subsistemas de um sistema maior. Uma comunidade de fala pode ser considerada um exemplo desse sistema, pois é formada por grupos e subgrupos socioculturais, e indivíduos que podem ser vistos como Sistemas Complexos, já que se organizam em grupos discursivos, interacionais, psicológicos e neurológicos (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008aLARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a., p.28-29). Segundo as autoras, “[...] a complexidade de um sistema complexo emerge dos agentes e subsistemas independentes uns dos outros em uma variedade de formas diferentes.”

Ser dinâmico: um Sistema Dinâmico é aquele que evolui com o tempo, de forma real ou conceptual, e que se move por meio de uma trajetória, isto é, uma sequência de estados (GROGONO, 2005GROGONO, P. Dynamic systems. [S.l.: s.n], 2005. 25 p. Disponível em: <http://users.encs.concordia.ca/~grogono/Writings/dynamicSystems.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2012.
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), cujo futuro depende do estado presente (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008aLARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a.). Para ser dinâmico, o sistema deve passar por transição de estado, evoluindo de um estado inicial para um estado subsequente, devido a uma mudança impulsionada pela perturbação. A perturbação provoca diferentes níveis de desagregação do conjunto de todos os estados do sistema. Esse conjunto é denominado espaço de estado, e uma nova organização emerge, chamada atrator.

Fleischer (2011)FLEISCHER, E. Caos/complexidade na interação humana. In: PAIVA, V. L. M. O.; NASCIMENTO, M. (Org.). Sistemas adaptativos complexos: lingua(gem) e aprendizagem. Campinas: Pontes, 2011. p.73-92. e Larsen-Freeman e Cameron (2008a)LARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a. asseveram o conceito de atrator definindo-o como “estados que ocorrem com grande frequência”, “estados [observáveis] que, estatisticamente, o sistema tende a assumir”, “modos de comportamento que o sistema ‘prefere’”, “região de um espaço de estado do sistema dentro do qual os sistemas tendem a se mover”. Na prática, segundo os autores, um atrator pode ser tanto as forças que agem sobre um sistema caótico como “bandeira ao vento” (FLEISCHER, 2011FLEISCHER, E. Caos/complexidade na interação humana. In: PAIVA, V. L. M. O.; NASCIMENTO, M. (Org.). Sistemas adaptativos complexos: lingua(gem) e aprendizagem. Campinas: Pontes, 2011. p.73-92., p.75), quanto um artefato cultural como um “jarro de leite” que apresenta sua estrutura geral estabilizada (borda em formato que facilita a transferência de líquido, e asa), mas permite variedade em termos de material, tamanho, proporção, e de interação – é possível utilizar o artefato como contingente de outros líquidos que não somente leite (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008aLARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a., p.55). As autoras também mostram que um atrator pode ser forte, fraco, estável ou instável de acordo com as variações nos modos de comportamento do sistema, seja ele os modos de locomoção de um cavalo, o comportamento de uma pessoa em seu novo emprego, ou a susceptibilidade de um atleta ter uma contusão no ápice de sua forma física (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008aLARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a.).

Grogono (2005)GROGONO, P. Dynamic systems. [S.l.: s.n], 2005. 25 p. Disponível em: <http://users.encs.concordia.ca/~grogono/Writings/dynamicSystems.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2012.
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mostra que um sistema dinâmico desenvolve-se por meio de uma resposta transitória seguida de um estado estável. Longe de ser estático ou paralisado, frisa que o estado estável pode apresentar uma reação estacionária, oscilatória ou caótica, já que as mudanças continuam a ocorrer dentro dele. Quando estacionária, o sistema evolui para um determinado estado e nele permanece; quando oscilatória, circula por um conjunto de estados fixos; quando caótica, move-se por estados sem nenhuma organização aparente.

Complementando Grogono (2005)GROGONO, P. Dynamic systems. [S.l.: s.n], 2005. 25 p. Disponível em: <http://users.encs.concordia.ca/~grogono/Writings/dynamicSystems.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2012.
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, Hollenstein ([2012HOLLENSTEIN, T. Dynamic system approach to development. Kingston: Queen’s University, [2012]. Disponível em: <http://www.queensu.ca/psychology/adolescent-dynamics-lab/dynamic-systems-approach-development>. Acesso em: 21 mar. 2016.
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]) afirma que os sistemas dinâmicos são auto-organizáveis, possuem estruturas que se aninham e se organizam hierarquicamente, e possuem elementos que interagem de forma reciprocamente causal. Hollenstein ([2012HOLLENSTEIN, T. Dynamic system approach to development. Kingston: Queen’s University, [2012]. Disponível em: <http://www.queensu.ca/psychology/adolescent-dynamics-lab/dynamic-systems-approach-development>. Acesso em: 21 mar. 2016.
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]) afirma que as interações complexas entre os elementos do sistema fazem com que novas formas emerjam espontaneamente, e o estado do sistema não seja predeterminado. Dessa forma, quando os elementos de um determinado estado se organizam, formam estruturas aninhadas (atratores) mais complexas que transitam e evoluem para um próximo estado.

Ser aberto: um Sistema Dinâmico deve ser aberto para receber energia do ambiente e continuar a desenvolver-se indefinidamente (GROGONO, 2005GROGONO, P. Dynamic systems. [S.l.: s.n], 2005. 25 p. Disponível em: <http://users.encs.concordia.ca/~grogono/Writings/dynamicSystems.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2012.
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). Consequentemente, também deve ser contínuo, não determinístico e dissipativo. Contínuo, pois seu espaço de estado deve se apresentar sob a forma de um continuum, cujo intervalo entre as transições de estado é contínuo ou discreto, tornando o sistema imprevisível. Não determinístico, porque deve se formar por meio da junção de seus antecessores; e dissipativo, porque deve se formar por meio da bifurcação de seus sucessores. Assim sendo, um SAC deve conter bifurcações e junções que levam seus agentes a traçar novas trajetórias, promovendo transição de estados que resultam em seu desequilíbrio.

Ser não linear: a não linearidade corresponde à ideia de que o valor do todo não corresponde à soma das partes (SMITH, 2007SMITH, L. Chaos: a very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2007.), o que significa dizer que em um sistema não linear a mudança não é proporcional ao input (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008aLARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a.). Dessa forma, como os agentes são independentes e as interações entre eles não são fixas, mudanças podem ocorrer dentro deles, assim como os hábitos de um motorista mudam por conta de alterações na malha rodoviária.

Ser adaptativo: adaptação é o processo pelo qual um organismo se encaixa no ambiente por meio da experiência, responsável por guiar as mudanças na estrutura do organismo ao longo do tempo (HOLLAND, 1995HOLLAND, J. H. Hidden order: how adaptation builds complexity. New York: Helix Books, 1995.). É, portanto, a condição sine qua non para que os Sistemas Complexos sejam adaptativos.

Holland (1995)HOLLAND, J. H. Hidden order: how adaptation builds complexity. New York: Helix Books, 1995. propõe que tais sistemas sejam aqueles cujos agentes passam por processos de agregação e diversidade, propriedades que se interrelacionam por meio de um mecanismo denominado rótulo.

A agregação é o ponto de emergência de comportamentos complexos em larga escala, a partir das interações agregadas de agentes menos complexos. Quando os agentes de um sistema se agregam, formam estruturas aninhadas na hierarquia do sistema, servindo de força de atração ou repulsão para agentes de estruturas mais ou menos complexas. Já a diversidade refere-se à capacidade de um sistema coadaptar-se caso um tipo de agente seja removido, resultando em um novo agente que ocupará o mesmo nicho e desempenhará quase que as mesmas funções. Também emerge com a abertura de novas oportunidades de interação. Cada nova adaptação oportuniza outras interações e novos nichos.

A formação dos agregados e das fronteiras entre eles é facilitada pelo rótulo: mecanismo que identifica as organizações hierárquicas agregadas por meio do qual podemos observar e agir sobre as propriedades do sistema. Para Holland (1995)HOLLAND, J. H. Hidden order: how adaptation builds complexity. New York: Helix Books, 1995., os rótulos persistem mesmo quando os agentes de um sistema estão em mudança contínua.

A interação entre os agentes é uma via de mão dupla em que “X causa Y como também Y causa X” (HOLLENSTEIN, [2012HOLLENSTEIN, T. Dynamic system approach to development. Kingston: Queen’s University, [2012]. Disponível em: <http://www.queensu.ca/psychology/adolescent-dynamics-lab/dynamic-systems-approach-development>. Acesso em: 21 mar. 2016.
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]). Assim, os agentes de uma estrutura de menor nível aninham-se em uma macroestrutura que restringe as interações entre eles. Tal fenômeno provoca a coadaptação dos agentes, em um regime de causalidade mútua (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008aLARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Complex systems and applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2008a.).

Com base nesses requisitos, acreditamos ser possível descrever a LA contemporânea como um SAC. Isso porque se constitui a partir de um arcabouço ideológico de uma comunidade acadêmica (rótulo) integrante de um sistema complexo hegemônico, organizado sob a denominação de Linguística Aplicada. Tais comunidades constituem-se de indivíduos (agentes) que se complexificam como sistemas discursivos, interacionais, psicológicos, neurológicos, cujos comportamentos colocam o sistema em movimento, em meio a desequilíbrios e reorganizações teóricas e epistemológicas ao longo do tempo. Essas são perturbações que levam o sistema a transitar por diferentes momentos e viradas (atratores) rumo à autonomia como ciência (em relação à Linguística e à Linguística Aplicada dominante) – uma vez que sua independência ainda não é unanimemente aceita1 1 Em várias universidades, diferentemente da UFRJ, citada anteriormente, Linguística e Linguística Aplicada são parte do mesmo programa de pós-graduação. Não é incomum a segunda ser considerada um braço da primeira, e vários cursos ainda trazem disciplinas de “Linguística Aplicada ao ensino”, remetendo, assim, a uma antiga dicotomia (WIDDOWSON, 1979a) de Linguística Aplicada (Applied Linguistics) versus Linguística aplicada a... (Linguistics applied to...), em que a Linguística Aplicada é entendida como nada mais do que a aplicação de teorias da Linguística. . Sendo assim, novas teorizações levam os agentes de ambos os sistemas (Linguística e Linguística Aplicada) a reorganizarem-se em novas agremiações de pensamento (rótulos que agregam agentes), os quais podem, inclusive, deslocar-se temporariamente entre rótulos, fazendo o sistema adaptar-se e transitar para um outro atrator ou espaço de estado.

Assim sendo, a LA contemporânea também é um sistema aberto, pois ao mostrar-se apta a receber influências de outras ciências (já que se define interdisciplinar ou transdisciplinar), desenvolve-se continuamente, agregando e dissipando posturas teóricas que ganham novos sentidos conforme seus agentes e seus rótulos reconfiguram-se dentro de novos atratores. É não linear, porque é suscetível a mudanças de seus agentes. E é adaptativa, pois novas conceptualizações e novas práticas fazem emergir novas formas de fazer pesquisa, que motivam a agregação de outros agentes que impulsionam a elaboração de novos conceitos e novos tipos de interação, em uma relação de causalidade mútua.

Portanto, se LA contemporânea pode ser considerada um SAC, acreditamos que podemos revisitar a história de sua formação e propor uma outra forma de interpretá-la, como faremos na seção a seguir, tomando as viradas linguísticas como atratores, os pesquisadores como agentes e as agremiações de pensamento como rótulos. Tais elementos dinamizam o sistema em direção à mudança.

Metodologia

Raúl Fuentes Navarro (2007NAVARRO, R. F. Fontes bibliográficas da pesquisa acadêmica nos cursos de pós-graduação em comunicação no Brasil e no México: uma aproximação da análise comparativa. MATRIZes, São Paulo, v.1, n.1, p. 165-177, out. 2007. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/38181/40913>. Acesso em: 26 mar. 2015.
http://www.revistas.usp.br/matrizes/arti...
, p.166), cientista social estudioso na área da Comunicação, define metapesquisa como a “pesquisa sobre a pesquisa”, e defende que, apesar do risco de ser considerada uma pesquisa de terceiro grau, é indispensável para que possamos reconhecer processos de legitimação nas ciências, o que exige “o uso dos melhores recursos de uma ciência para análise de si mesma”. Tal perspectiva aplica-se ao presente trabalho na medida em que busca revisitar a história da Linguística Aplicada, recontando-a a partir do entendimento de suas mudanças sob a ótica da complexidade.

A fim de garantir o uso desses “melhores recursos” para analisar a história da Linguística Aplicada, associamos esta metapesquisa à uma pesquisa documental, o que permitiu levantarmos os dados sobre a história da LA a partir de textos seminais, distribuídos entre artigos, capítulos de livro e sítios de associações de LA reconhecidas no Brasil e no mundo. As referidas fontes estão elencadas no Quadro 1, em ordem alfabética, por nome do autor e ano de publicação. As referências completas podem ser encontradas na seção de Referências Bibliográficas.

Quadro 1
– Fontes documentais relacionadas à história da Linguística Aplicada

Ao enveredarmos por essa base de dados (Quadro 1), fomos em busca de informações que remetem à ideia de mudança dentre os pensamentos, análises e relatos presentes nos textos analisados. Além disso, procuramos evidências de mudança de comportamento e reorganizações do arcabouço ideológico das instituições comparando seus percursos históricos (abordados nos artigos e capítulos de livro) com seus respectivos status atuais (relatados nos próprios sítios). Finalmente, analisamos a trajetória da LA contemporânea por meio dos seguintes conceitos abordados na seção 2 deste artigo: SAC, agente, atrator, rótulo, aninhamento, perturbação, desequilíbrio, coadaptação, causalidade mútua e adaptação, como veremos a seguir.

A emergência da LA contemporânea sob a ótica da mudança

Eis uma das vantagens de envelhecer e ter memória: sabe-se como histórias começam e têm prosseguimento, e [...] como os modos de produzir conhecimento se modificam. (MOITA LOPES, 2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24., p.14).

Ao enveredarmos pelas teorizações acerca dos SACs, passamos a enxergar indivíduos em movimento como agentes do sistema. Isso ocorre porque os indivíduos impulsionam mudanças, e as mudanças produzem reações que fazem o sistema caminhar. Nesse sentido, acreditamos que as palavras de Moita Lopes (2009)MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24., acerca da trajetória da Linguística Aplicada ao longo da história, enfatizam tal dinamismo sem deixar de lado que existem condições iniciais, e que a produção de conhecimento, impulsionada por tais agentes, é mutável e desenrola-se ao longo do tempo. Assim, observar o movimento e a mudança parece ser imprescindível para compreendermos melhor como a Linguística Aplicada contemporânea emerge como um SAC. Portanto, é necessário identificar suas condições iniciais (“[...] como as histórias começam [...]”), suas trajetórias, perturbações, coadaptações e atratores (“[...] e têm prosseguimento [...]”), além das mudanças e reações do meio (“[...] como os modos de produzir conhecimento se modificam.”).

Mudanças a partir de quais condições iniciais? Moita Lopes (2009)MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24. aventa a possibilidade de Jan Amos Comenius (1985)COMENIUS, J. A. Didáctica Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. Tradução e notas de Joaquim Pereira Gomes. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985., considerado o pai da educação moderna, ter sido o primeiro linguista aplicado, por ter organizado o primeiro compêndio com teorizações sobre ensino de línguas em 1692. Já Celani (1992)CELANI, M. A. A. Afinal, o que é linguística aplicada. In: PASCHOAL, M. S. Z.; CELANI, M. A. (Org.). Linguística aplicada: da aplicação da linguística à lingüística transdisciplinar. São Paulo: EDUC-PUCSP, p. 15-23. 1992. afirma que a necessidade de se definir a Linguística Aplicada começa a aparecer no fim do século XIX. Há que se considerar também a publicação do Cours de Linguistique Générale (SAUSSURE, 1922SAUSSURE, F. Cours de linguistique générale. Paris: Payot, 1922.), realizada a partir das anotações alunos de Saussure na universidade de Genebra, que institucionalizou a Linguística (hegemônica) como disciplina.

Frente a essas opções, assumimos a Linguística saussureana como condição inicial. Tal escolha deve-se pelo fato de a sua episteme determinista, objetivista e estruturalista ter sido o foco de contestações ao longo da história, levando a Linguística a transitar e reorganizar-se como ciência sob a forma de Aplicação de Linguística, Linguística Aplicada e LA contemporânea, esta última entendida como termo guarda-chuva para LA crítica, transgressiva, INdisciplinar e mestiça.

Se por um lado é necessário ponderarmos e sermos cautelosos ao decidir a partir de quais condições iremos abordar a trajetória da Linguística Aplicada como SAC, por outro, é possível visualizar o determinismo, o objetivismo e o estruturalismo como rótulos que provocam perturbações e, consequentemente, desequilíbrios no sistema, fazendo-o chegar ao status atual. Afirmamos isso porque até hoje encontramos artigos que visam a legitimar a agenda da LA em detrimento dos pressupostos estruturalistas, condenando o objetivismo e o determinismo (FABRÍCIO, 2006FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66.; RAMPTON, 2006RAMPTON, B. Continuidade e mudança nas visões de sociedade em linguística aplicada. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 109-128.; PENNYCOOK, 2006PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 67-84.; MOITA LOPES, 2006MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44., 2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24.; dentre outros). Ao fazê-lo, lançam novas propostas de teorização, criam novos rótulos, provocam mais desequilíbrios, agregam novos agentes, e, assim, promovem o dinamismo. O resultado disso é a formação de atratores abertos à influência do meio e, pois, em constante reorganização.

Até emergir como Linguística Aplicada, foi necessário que alguns dos agentes internos da Linguística (hegemônica) provocassem desordem na aparente estabilidade de seu sistema. Ao questionarem o determinismo, o cientificismo e a busca pela Verdade, com “v” maiúsculo, promoveram o desequilíbrio necessário para romper com a teoria dominante, ressignificando as formas de se fazer pesquisa. Dessa forma, a LA se pretende uma ciência autônoma2 2 É importante ressaltar que caracterizar a LA como uma ciência autônoma significa reconhecê-la como um campo do saber, e não uma subárea vinculada a uma área maior. Autônoma aqui não significa autossuficiente, sem a necessidade de recorrer a outras áreas – o que contrariaria a natureza inerentemente transdisciplinar da LA. (embora inerentemente transdisciplinar), e, portanto, quer ser considerada totalmente independente da Linguística. O resultado desse processo é a emergência de um arcabouço teórico diferente – muitas vezes, antagônico ao da teoria hegemônica – que pretende dialogar com saberes oriundos de outras ciências Humanas e Sociais, constituindo um sistema aberto.

Isso, no entanto, não implica necessariamente que a Linguística hegemônica seja um sistema fechado, visto que, ao longo de sua história, diversos rótulos têm agrupado agentes para seus respectivos nichos, desde o Círculo Linguístico de Moscou (1915) e a Linguistic Society of America (LSA, 1924), até os Círculos Linguísticos de Praga (1928) e Copenhague (1931). Também tem formado rótulos, como a Sociolinguística e a Teoria Gerativa iniciadas na década de 1950, até os mais recentes estudos no campo da Psicolinguística, Linguística Cognitiva e Neurolinguística. Acreditamos que desequilíbrios, aninhamentos e coadaptações continuam a ocorrer em cada um deles, fazendo o sistema a transitar entre diferentes estados ao longo do tempo.

Celani (1992)CELANI, M. A. A. Afinal, o que é linguística aplicada. In: PASCHOAL, M. S. Z.; CELANI, M. A. (Org.). Linguística aplicada: da aplicação da linguística à lingüística transdisciplinar. São Paulo: EDUC-PUCSP, p. 15-23. 1992. e Moita Lopes (2009)MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24. apontam alguns marcos históricos que contribuíram para a emergência da Linguística Aplicada. Em 1928 sucede o I Congresso Internacional de Linguística, realizado em Haia, com o objetivo de destacar o ensino de Saussure, consolidando o estruturalismo. No século XX, o avanço da filosofia estruturalista na Linguística resulta em estudos sobre ensino-aprendizagem em muitas disciplinas, abrindo caminhos para a emergência da Linguística Aplicada. E a Segunda Guerra Mundial favorece o desenvolvimento de materiais didáticos para o ensino de línguas, em 1940.

Tais acontecimentos, pelo ângulo da Teoria da Complexidade, podem ser vistos como as perturbações que levaram a Linguística a se mover entre rótulos e atratores até a emergência da LA contemporânea. Por se tratar de um sistema aberto, coadapta-se às pressões do meio interno e externo fazendo-a transitar entre uma tradição que visa a solução de problemas no âmbito do ensino e aprendizagem (como práticas de sala de aula e materiais didáticos) e a criação de inteligibilidade sobre questões da vida contemporânea (gênero, sexualidade, raça, dentre outros, segundo Moita Lopes (2006)MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44.), agora entendida de forma mais holística, extrapolando as investigações sobre educação linguística, passando a incluir problematizações sociais variadas, como por exemplo, acerca das identidades sociais inerentes aos seres humanos e seus consequentes desdobramentos e conflitos. Portanto, a Linguística Aplicada segue uma trajetória que demanda coadaptações e reorganizações de seus agentes em meio à desordem provocada.

Os autores também apontam a fundação de departamentos e associações como importantes marcos na trajetória da Linguística Aplicada. Em 1957, Corder, Widdowson e Davies fundam o Departamento de Linguística Aplicada de Edinburgh, que organiza uma série de livros intitulada The Edinburgh Course in Applied Linguistics (ALLEN; CORDER, 1973ALLEN, J. P. B.; CORDER, S. P. (Ed.). Readings for applied linguistics. Oxford: O.U.P., 1973. (The Edinburgh Course in Applied Linguistics; v. 1)., 1974ALLEN, J. P. B.; CORDER, S. P. Techniques in applied linguistics. Oxford: O.U.P., 1974. (The Edinburgh Course in Applied Linguistics; v. 3)., 1975ALLEN, J. P. B.; CORDER, S. P. Papers in applied linguistics. Oxford: O.U.P., 1975. (The Edinburgh Course in Applied Linguistics; v. 2).; ALLEN; DAVIES, 1977ALLEN, J. P. B.; DAVIES, A. (Ed.). Testing and experimental methods. Oxford: O.U.P., 1977. (The Edinburgh Course in Applied Linguistics; v. 4).), mais tarde modificada por Widdowson e colaboradores. Em 1964, a Association Internationale de Linguistique Appliquée (AILA)3 3 Disponível em: <http://www.aila.info/en/about/history.html>. Acesso em: 9 jul. 2014. é fundada durante o Colóquio Internacional de Linguística Aplicada na universidade de Nancy, na França. O evento foi o resultado de dois anos de preparação e discussão, cujos membros eram principalmente linguistas e professores de línguas da Europa, representantes dos principais eixos de pesquisa da época: Psicologia da Aprendizagem de Segunda Língua, Sociolinguística e Linguística Contrastiva. Em 1965, Peter Strevens formaliza a primeira proposta de formação da British Applied Linguistics Association (BAAL)4 4 Disponível em: <http://www.baal.org.uk/dox/history_of_baal.pdf>. Acesso em: 9 jul. 2014. que se consolida em meio a questões políticas da Europa Ocidental, por conta da necessidade de promover a aprendizagem da língua inglesa como língua estrangeira no Reino Unido e profissionalizar professores de inglês para atuarem nesse campo. Nesse período, a Grã-Bretanha já contava com diversos departamentos de Linguística Aplicada estabelecidos nas universidades desde 1957. Em julho de 1965, os membros da BAAL reúnem-se para formular os objetivos da associação, refletindo os interesses da Linguística teórica, do ensino de inglês como língua mãe e língua estrangeira no Reino Unido, e do bilinguismo. As propostas são encaminhadas para uma outra reunião no mesmo ano, em Reading, onde se decide pela a ampliação do escopo para além do ensino de línguas e tradução. Em 1974, a BAAL finalmente inclui em sua agenda o estudo da linguagem em uso e o incentivo à colaboração interdisciplinar.

Reinterpretando esses acontecimentos à luz dos Sistemas Complexos, as associações e departamentos equivalem aos rótulos, que agregam seus agentes dentro das agremiações de pensamento com seus respectivos posicionamentos teóricos. O aninhamento desses agentes dá-se como coadaptação do sistema às perturbações (embates, debates, discussões, pressões políticas), provocando mudanças, por exemplo de posturas teóricas, que direcionam a trajetória (os objetivos da BAAL em 1965 eram diferentes dos de 1974), criando novos rótulos agregadores de novos agentes. O fato de o The Edinburgh Course in Applied Linguistics ter passado por revisões entre 1973 e 1975, a substituição de Corder por Davies em 1977 e as posteriores mudanças promovidas por Widdowson dão uma mostra de como esse sistema adaptou-se perante as perturbações. Apesar de acomodar agremiações similares de pensamento, é suscetível aos desequilíbrios internos promovidos por seus agentes, levando-o a reorganizar-se ao longo do tempo. A fundação e trajetória da AILA segue um percurso similar, visto que hoje as teorias que eram preponderantes à época dividem lugar com outras. O exemplo da trajetória percorrida pela BAAL evidencia a capacidade adaptativa desse sistema perante as pressões do meio externo, isto é, questões políticas europeias, com a inclusão de suas demandas na agenda de pesquisa, bem como as do meio interno, isto é, diferentes posturas teórico-epistemológicas perante um mesmo material de análise, com as negociações acerca de seus objetivos. Com isso, além de mostrar que se constitui como sistema aberto, há uma relação de causalidade mútua entre os agentes externos e internos, já que ambas a BAAL e a política coadaptam-se por meio de mútuas pressões.

Outra mostra desse fenômeno, agora no Brasil, ocorre a partir da criação do primeiro Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas (LAEL) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Pode-se observar no fragmento a seguir, retirado do site da LAEL5 5 (PUC, [2015]). , que esse sistema apresenta uma trajetória semelhante às associações discutidas no parágrafo anterior, envolvendo fases de (1) aninhamento, (2) perturbações do meio (interno e externo), (3) desequilíbrio, (4) coadaptações, (5) novo aninhamento. Incluímos essas referências numéricas no fragmento para melhor visualizarmos os processos mencionados. A mudança na numeração corresponde à mudança do comportamento:

(1) [...] foi criado em 1970, [...] (2) Foi reconhecido como centro de excelência pelo CNPq em 31/03/1971, credenciado pelo Conselho Federal de Educação em 23/09/1973 e recredenciado em 20/08/1978. (1) O Programa de Doutorado, criado em 1980, (2) foi credenciado em 05/05/1983, com concomitante recredenciamento do Mestrado. Em 1989, Mestrado e Doutorado foram novamente recredenciados. (3) Em 1996, o Programa assumiu a necessidade de reestruturação de sua definição e organização global de pesquisa, dada a diversificação de interesses e mudanças de concepções a respeito do campo da Lingüística Aplicada e dos Estudos da Linguagem, (4) passando a incluir campos múltiplos de atuação. (5) Como decorrência dessa nova perspectiva, a partir de 1997, mantendo a sigla LAEL, o Programa passou a denominar-se LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM [...] (PUC, [2015]PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO [PUC]. Linguística aplicada e estudos da linguagem: história. São Paulo, [2015]. Disponível em: <http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/linguistica-aplicada-e-estudos-da-linguagem#historia>. Acesso em: 1 mar. 2015.
http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestra...
).

Os aninhamentos correspondem às criações das instituições sob a forma de associações de pesquisa (LAEL) como também de subestruturas dentro desse sistema (programa de doutorado). Como é um sistema aberto, recebe pressões do meio, seja sob forma de avaliação de outros sistemas validadores (CNPq), seja pelo reconhecimento de sistemas registradores (Conselho Federal de Educação). Esses agentes externos (indivíduos que representam as referidas instituições) provocam desequilíbrio e desordem na estrutura interna da LAEL, levando seus agentes a promoverem coadaptações no sistema, reestruturando conceitos e incluindo outros. Isso faz com que novos aninhamentos emerjam e o ciclo seja reiniciado até o ponto de haver a ruptura com o sistema inicial, à exemplo do que ocorreu entre a LSA (1924) e a Teachers of English to Speakers of Other Languages (TESOL), criada a partir de 1963.

Parte dessa história que interessa para o presente artigo é contada por Celani (1992)CELANI, M. A. A. Afinal, o que é linguística aplicada. In: PASCHOAL, M. S. Z.; CELANI, M. A. (Org.). Linguística aplicada: da aplicação da linguística à lingüística transdisciplinar. São Paulo: EDUC-PUCSP, p. 15-23. 1992.. A autora relata que em maio de 1973, TESOL passa por várias reuniões da LSA com o objetivo de fazer a Linguística Aplicada ser reconhecida como ciência autônoma. Em agosto do mesmo ano, a LSA propõe que a LA fosse incorporada como sua subseção, o que foi aprovado e em dezembro, em San Diego, com a condição de que fossem mantidos os padrões de qualidade da LSA. Diante de um clima de desconfiança, os membros da TESOL rejeitaram a proposta. Mais tarde, em 1976, em Nova Iorque, a TESOL cria um grupo de interesse especial designado Linguística Aplicada, coordenado por Bernard Spolsky que continua até hoje. Trata-se de mais um exemplo de reorganização de um sistema complexo por conta das perturbações do meio externo. Hoje a LSA faz referência à TESOL como formadora e credenciadora de professores de línguas para atuarem profissionalmente como linguistas, indício de um processo de junção entre esses sistemas, ou parte deles, tempos depois de terem se bifurcado:

Professores de línguas podem ensinar suas línguas nativas ou uma língua estrangeira em qualquer nível. Uma formação em linguística é uma boa experiência para aqueles que desejam credenciar-se em Inglês como Segunda Língua (ISL) ou Ensino de Inglês como Segunda e Outra Língua (TESOL). (LINGUISTIC SOCIETY OF AMERICA, 2012LINGUISTIC SOCIETY OF AMERICA. Linguistics as a profession. Washington, 2012. Disponível em: <http://www.linguisticsociety.org/resource/linguistics-profession>.
http://www.linguisticsociety.org/resourc...
, grifo nosso, tradução de Lesliê Vieira Mulico).6 6 Original: Language educators may teach their native or a foreign language at any level. A degree in linguistics is a good background for those pursuing English as a Second Language (ESL) or Teaching English as a Second or Other Language (TESOL) credentials. (LINGUISTIC SOCIETY OF AMERICA, 2012).

Dentre as rupturas que ocorreram na trajetória da Linguística Aplicada em direção à sua autonomia, acreditamos que as chamadas “viradas” (MOITA LOPES, 2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24.) tenham sido as mais preponderantes. Isso porque, ao provocarem grandes perturbações, promoveram reorganizações profundas na estrutura interna do sistema, levando-o a passar para um outro estado atrator. No que tange à “primeira virada”, a qual Moita Lopes (2009)MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24. subintitula “da aplicação de Linguística à Linguística Aplicada”, talvez o aplicacionismo da Linguística e a dependência exclusiva às teorias linguísticas tenham sido os elementos que impulsionaram Widdowson a levantar severos questionamentos ao estado da arte da Linguística Aplicada no fim da década de 1970. Para Widdowson (1979aWIDDOWSON, H. G. The partiality and relevance of linguistic description. In: WIDDOWSON, H. G. Explorations in applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 1979a. p.226-238., 1979bWIDDOWSON, H. G. Linguistic insights and language teaching principles. In: WIDDOWSON, H. G. Explorations in applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 1979b. p.207-225.), a Linguística Aplicada como ramo da pedagogia em ensino de línguas deveria procurar um modelo que servisse ao seu propósito; portanto, os tipos de conhecimentos relevantes para a investigação dos processo de ensino de línguas deveriam ir além daqueles formulados pela Linguística, já que, por envolver inúmeros fatores, não existe uma única teoria com poder explanatório que dê conta dos processos envolvidos nas ações de ensinar e aprender línguas em sala de aula. Moita Lopes (2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24., p.15) observa que as ideias de Widdowson implicam “uma restrição da LA a contextos educacionais” e “a necessidade de uma teoria linguística para a LA que não seja dependente de uma teoria linguística”, além de abrir caminhos para que outras áreas do conhecimento possam dialogar com as questões sobre ensino e aprendizagem de forma interdisciplinar e multidirecional. Consequentemente, a Linguística Aplicada rompe com o aplicacionismo e a unidirecionalidade característicos da relação com a teoria linguística.

As bifurcações encabeçadas por Widdowson nos modos de fazer pesquisa e pensar teoria provavelmente favoreceram novos tipos de organização do sistema, promovendo seu dinamismo. No estado atrator anterior, a Linguística Aplicada caracterizava-se unidirecional e monoteórica em sua relação com a Linguística. Após passar pelo processo de desordem, o sistema passa a admitir a influência de outras teorias, rompe com a sua subserviência às teorias linguísticas e passa a influenciá-las, constituindo-se um sistema aberto. Entretanto, ainda permanece vinculado às questões de ensino-aprendizagem e tradução (estado inicial). Estes provavelmente serviram de agentes perturbadores que levaram o sistema a transitar para contextos institucionais diferentes dos escolares, ao que Moita Lopes (2009)MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24. nomeia de “segunda virada”.

O pesquisador relata que, na segunda virada, as pesquisas sobre o ensino e aprendizagem de língua (sobretudo inglesa) e tradução passam a conviver com as investigações acerca do ensino e aprendizagem de língua materna, dos letramentos e dos contextos institucionalizados, como mídia, empresas, etc. Assim sendo, a Linguística Aplicada recebe influências das teorias socioculturais de Vygotsky e Bakhtin, que contribuem com a visão de linguagem como instrumento de construção de conhecimento e vida social. Moita Lopes (2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24., p.18) enfatiza que “a LA passa a ser reformulada como área centrada na resolução de problemas da prática de uso da linguagem dentro e fora da sala de aula”, trazendo à tona a natureza situada da ação e o estudo sobre os atores sociais agindo por meio da linguagem. Dentro dessa nova perspectiva, a interdisciplinaridade torna-se mister, especialmente porque na transição do século XX para o XXI a efervescência de ideias no campo das Ciências Sociais e Humanidades fizeram com que estas “se reteorizassem em termos de visões pós-estruturalistas, feministas, antirracistas, pós-coloniais e queer” (MOITA LOPES, 2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24., p. 19). Com isso, o sujeito social passa a ser repensado com o olhar voltado para o não-hegemônico. Não coincidentemente, a Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB) é fundada em 1990, com o objetivo de

[...] (re) construir um lócus acadêmico-científico dinâmico e reflexivo, fomentando, por sua vez, estudos e reflexões da área de LA, não concebida como aplicação de teorias linguísticas, mas como um campo de investigação de usos situados da linguagem nas diversas esferas do meio social. (ALAB, [2015]ASSOCIAÇÃO DE LINGUÍSTICA APLICADA DO BRASIL [ALAB]. História. Rio de Janeiro: UFRJ, [2015]. Disponível em: <http://www.alab.org.br/pt/a-alab>. Acesso em: 12 jul. 2014.
http://www.alab.org.br/pt/a-alab...
, grifo nosso).

Se para Celani (1992)CELANI, M. A. A. Afinal, o que é linguística aplicada. In: PASCHOAL, M. S. Z.; CELANI, M. A. (Org.). Linguística aplicada: da aplicação da linguística à lingüística transdisciplinar. São Paulo: EDUC-PUCSP, p. 15-23. 1992. a criação da ALAB é um sinal de desenvolvimento, pois confere uma marca identitária a um grupo de pesquisa que se reúne para discutir um determinado corpus, para a Teoria da Complexidade, trata-se da formação de um novo rótulo na trajetória adaptativa da Linguística Aplicada rumo à contemporaneidade. Percebemos que quanto mais desequilíbrios no sistema da Linguística Aplicada ocorrem ao longo do tempo, mais aberto se torna, promovendo novos aninhamentos e, consequentemente, agregações com outras ciências.

Outro atrator dentro da Linguística Aplicada é rotulado por Pennycook (2006)PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 67-84. de “Linguística Aplicada Transgressiva”. O autor defende que a Linguística Aplicada deve nos conduzir para além de uma concepção disciplinar. Consequentemente, os debates sobre Aplicação de Linguística versus Linguística Aplicada tornam-se periféricos, levando a Linguística Aplicada a tomar uma visão de conhecimento mais ampla e política. Portanto, as teorias transgressivas veem as disciplinas como espaços dinâmicos de investigação intelectual, criticando a noção geral de interdisciplinaridade, por compreender as diferentes disciplinas como entidades estáticas. Interdisciplinaridade, no sentido transgressivo, passa a equivaler a “movimento”, “fluidez” e “mudança”, devendo “[...] atravessar fronteiras disciplinares convencionais como fim de desenvolver uma nova agenda de pesquisa que, enquanto livremente informada por uma ampla variedade de disciplinas, teimosamente procuraria não ser subalterna a nenhuma.” (RAJAGOPALAN, 2004RAJAGOPALAN, K. The philosophy of applied linguistics. In: DAVIES, A.; ELDER, C. (Org.). The handbook of applied linguistics. Oxford: Blackwell, 2004. p. 397-420., p.410).

Se assim o é, então a LA transgressiva passa a habitar em um estado atrator onde o sistema é ainda mais aberto do que o antecessor, visto que Pennycook (2006PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 67-84., p.77) acusa a Linguística Aplicada de tentar ser “tão científica quanto a linguística”. Aqui presenciamos um processo de desequilíbrio e desorganização que resulta na bifurcação entre a LA da primeira e segunda viradas, agora vistas como “tradicionais”, e a LA transgressiva, que passa a adquirir um caráter transdisciplinar, crítico, influenciado pelo ceticismo epistemológico de Michel Foucault (1980)FOUCAULT, M. Power/knowledge: selected interviews and other writings. New York: Pantheon Books, 1980., pelas relações complexas de poder, resistência e embate de Frantz Fanon (1973)FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Buenos Aires: Abraxas, 1973., e pelas inter-relações entre dominação, acesso, diversidade e planejamento de Janks (2000)JANKS, H. Domination, access, diversity and design: a synthesis for critical literacy education. Educational Review, Edinburgh, v.52, n.2, p.175-186, 2000.. Mais uma vez podemos observar a formação de um rótulo que agrega novos agentes, dinamizando o sistema.

Outra faceta desse dinamismo encontra-se nas reflexões de Fabrício (2006)FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66. sobre a Linguística Aplicada face às metamorfoses que observamos diariamente. Frente ao momento atual, descrito como modernidade tardia (GIDDENS, 1991GIDDENS, A. Modernity and self-identity: self-society in the late modern age. Stanford, California: Stanford University Press, 1991.), modernidade líquida (BAUMAN, 2000BAUMAN, Z. Liquid modernity. USA: Blackwell, 2000.), modernidade recente (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999CHOULIARAKI, L.; FAIRCLOUGH, N. Discourse in late modernity: rethinking critical discourse analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press,1999.), pós-modernidade (HALL, 1992HALL, S. Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: L&DP, 1992.) etc., novos significados emergem por conta da transnacionalização das dimensões políticas, culturais e econômicas, da velocidade de circulação de discursos e imagens, da mistura de discursos e práticas, e de novas formas de subjetivação. Tais mudanças, aponta Fabrício (2006)FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66., colocam questões sobre todas as áreas de nossas vidas e promovem implicações para a Linguística Aplicada, que pode ser considerada um “espaço de desaprendizagem” que

[...] aposta [...] nos descaminhos e na desaprendizagem de qualquer tipo de posição axiomática como um refinamento do processo de conhecer [...] que se realiza no trânsito por diferentes regimes de verdade e diferentes áreas disciplinares, desfamiliarizando os sentidos neles presente e modificando a experiência da própria área de conhecimento na qual se insere. (FABRÍCIO, 2006FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66., p.61).

Trata-se, portanto, de uma Linguística Aplicada que revê suas práticas epistemológicas graças à compreensão de que linguagem é prática social, e que estudá-la é estudar a sociedade e a cultura (virada linguística e cultural). Trata-se também de um arcabouço teórico em que nossas escolhas não são neutras, mas pautadas por crenças orientadoras, ideológicas e políticas, dentro de relações de poder (virada crítica), e da plurissemiotização da construção de sentidos na vida contemporânea (virada icônica) (FABRÍCIO, 2006FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66.). Por conta dessas mudanças que pressionam a Linguística Aplicada a reorganizar seu arcabouço teórico, Fabrício (2006)FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66. aponta para a necessidade de se construir uma agenda política, transformadora e ética. Em consonância com Pennycook (2006)PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 67-84., relata que Linguística Aplicada afasta-se da tentativa de traçar fronteiras disciplinares e da busca de uma verdade absoluta, e avança mostrando que as verdades sobre o mundo são construídas dentro dele, emergindo dos discursos produzidos por seus agentes.

Ao sugerir uma Linguística Aplicada como espaço de desaprendizagem, Fabrício (2006)FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66. reconhece a natureza mutável da LA e sua relação de causalidade mútua com o ambiente. Ao longo de seu artigo, utiliza termos que remetem ao dinamismo e transitoriedade, tais como “mundo em movimento” (FABRÍCIO, 2006FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66., p.45), “mutações em curso” (FABRÍCIO, 2006FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66., p.48) e “território movente” (FABRÍCIO, 2006FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66., p.53), que contribuem para as reinterpretações da emergência da Linguística Aplicada à luz da Teoria da Complexidade, como fazemos aqui. Assim sendo, podemos sugerir que os processos de bifurcação passaram a ocorrer dentro da própria Linguística Aplicada, e não mais dentro de sua relação com a Linguística hegemônica. Isso aponta para a emergência da LA contemporânea, que, como todo SAC, passa por processos de perturbação, desequilíbrio, desordem, coadaptação e aninhamento necessários para que o sistema transite para outros atratores, no caso: da LA “tradicional” para a LA “transgressiva” / LA “como espaço de desaprendizagem” / LA “indisciplinar” (como será visto no parágrafo a seguir).

Finalmente, chegamos à avaliação de Moita Lopes (2006MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44., 2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24., 2010MOITA LOPES, L. P. Os novos letramentos digitais como lugares de construção de ativismo político sobre sexualidade e gênero. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, v.49, n.2, p.393-417, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tla/v49n2/06.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2016.
http://www.scielo.br/pdf/tla/v49n2/06.pd...
) acerca do processo de chegada da LA ao status atual. Ao reposicionar-se como linguista da pós-modernidade, o autor, como ele mesmo relata, rompe com os linguistas aplicados que o formaram, trilhando novos caminhos para a produção de conhecimento, agora como forma de politizar a vida social. Passa a advogar uma “LA como um modo de criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagem tem papel central” (MOITA LOPES, 2006MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44., p.14), isto é, sem caráter solucionista, abandonando a preocupação de limitar-se à Linguística como teoria essencial, já que muitas compreensões sobre linguagem hoje podem vir de outros campos do conhecimento. Assim sendo, propõe uma “Linguística Aplicada Indisciplinar”, que, além de ir ao encontro das propostas de Fabrício (2006)FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66. e Pennycook (2006)PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 67-84. no que tange à falta de necessidade de uma LA como disciplina coesa, configura-se

[...] como uma área mestiça e nômade, e principalmente porque deseja ousar pensar de forma diferente, para além de paradigmas consagrados, que se mostram inúteis e que precisam ser desaprendidos (FABRÍCIO, 2006FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66.) para compreender o mundo atual. (MOITA LOPES, 2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24., p.19).

Esse papel da linguagem para compreender os problemas sociais passa a ser possível na medida em que o pesquisador estabelece a relação entre fazer pesquisa e fazer política. Para tal, situa seu livro: Por Uma Lingüística Aplicada Indisciplinar (MOITA LOPES, 2006MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44.) “no contexto de uma LA ideológica” (MOITA LOPES, 2006MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44., p.21) para concordar com Pennycook (2001)PENNYCOOK, A. Critical applied linguistics: a critical introduction. Mahawah: Lawrence Erlbaum, 2001. que “todo conhecimento é político” e com Nagel (1986)NAGEL, T. The view from now here. New York: Oxford University Press, 1986. para reafirmar que “politizar o ato de pesquisar e pensar alternativas para a vida social são parte intrínseca dos novos modos de teorizar e fazer LA” (MOITA LOPES, 2006MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44., p.22). Moita Lopes (2010)MOITA LOPES, L. P. Os novos letramentos digitais como lugares de construção de ativismo político sobre sexualidade e gênero. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, v.49, n.2, p.393-417, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tla/v49n2/06.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2016.
http://www.scielo.br/pdf/tla/v49n2/06.pd...
confirma essa visão em 2010 ao analisar os ativismos políticos presentes nos novos letramentos digitais, típicos da Web 2.0, onde, juntamente com Boaventura de Souza Santos (2004)SANTOS, B. de S. Do pós-moderno ao pós-colonial: e para além de um e de outro. In: CONGRESSO LUSO-AFRO-BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 8., 2004, Coimbra. Anais... Coimbra: Universidade de Coimbra, 2004. Conferência de Abertura. Disponível em: <http://www.ces.uc.pt/misc/Do_pos-moderno_ao_pos-colonial.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2016.
http://www.ces.uc.pt/misc/Do_pos-moderno...
, sugere que:

Fazer pesquisa pode ser visto como um modo de re-inventar a vida social, o que inclui a re-invenção de formas de produzir conhecimento assim como formas de vida já que a pesquisa é uma maneira de construir a vida social ao passo que tenta compreendê-la. (MOITA LOPES, 2010MOITA LOPES, L. P. Os novos letramentos digitais como lugares de construção de ativismo político sobre sexualidade e gênero. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, v.49, n.2, p.393-417, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tla/v49n2/06.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2016.
http://www.scielo.br/pdf/tla/v49n2/06.pd...
, p.402).

O relato de Moita Lopes leva-nos a algumas conclusões sobre a Linguística Aplicada como SAC. Primeiramente, acerca da mutabilidade e adaptabilidade de seus agentes, desde o nível mais individual até o mais coletivo, o rompimento do autor com as teorias hegemônicas da Linguística e da Linguística Aplicada, e sua adesão a um fazer científico mais militante o identificam como um sistema complexo individual, que passa por adaptações no nível ideológico, discursivo, psicológico, neurológico, etc. Isso reverbera em todos os níveis do sistema, já que sua mudança de postura desequilibra e desordena o meio e outros agentes, provocando novas agregações e desagregações que fazem o sistema coadaptar-se e reaninhar-se, transitando para um novo rótulo e um novo atrator. Não podemos perder de vista que Moita Lopes é um dos agentes que constituem a Linguística Aplicada. Como um SAC é formado por vários agentes heterogêneos, sua estabilidade aparente está constantemente ameaçada pelas perturbações e desequilíbrios iminentes que levam o sistema a transitar entre estados.

Assim sendo, as propostas da LA “indisciplinar” de Moita Lopes (2006MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44., 2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24.), da LA “como espaço de desaprendizagem” de Fabrício (2006)FABRÍCIO, B. Linguística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p.45-66., e da LA “transgressiva” de Pennycook (2006)PENNYCOOK, A. Uma lingüística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 67-84., apesar de fazerem referência a um mesmo arcabouço teórico, constituindo a Linguística Aplicada como um SAC, são passíveis de sofrer desequilíbrios e desmembramentos ao longo do tempo, agregando-se com novas agremiações de pensamento (rótulos) e repelindo outras. Dessa forma, a LA contemporânea torna-se livre para interagir com outras ciências e com as mudanças sociais que ocorrem no mundo (meio externo), além de facilitar o trânsito entre agentes, rótulos e estados atratores, já que se constituem um sistema aberto. Tendo em vista os processos elencados nessa seção que contribuíram com a emergência da LA contemporânea ao longo do tempo, deixamos ao leitor uma observação de Moita Lopes (2009MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de linguística à linguística aplicada indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p.11-24., p.20), à luz de Rampton (1997RAMPTON, B. Retuning in applied linguistics. International Journal of Applied Linguistics, Oslo, v. 7, n. 1, p. 3-25, 1997. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1473-4192.1997.tb00101.x/pdf>. Acesso em: 14 jul. 2014.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.11...
, 2006RAMPTON, B. Continuidade e mudança nas visões de sociedade em linguística aplicada. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 109-128.), que vai ao encontro dos pressupostos da Teoria da Complexidade elencados neste artigo, e ajuda-nos a entender melhor a LA: “A LA está se tornando um espaço aberto com múltiplos centros.”

Implicações

Recontar a história da LA sob a ótica do SAC, além de complementar o relato histórico registrado em livros e artigos sobre a Linguística Aplicada, e nos sites das Associações, traz-nos algumas vantagens. Dentre elas destacamos o entendimento da Linguística Aplicada como sistema em constante processo de mudança, mesmo nos momentos em que se encontra estável. Isso porque seus agentes também passam individualmente por processos de mudança, que podem ser motivados, por exemplo, pelo simples contato com agentes de outros Sistemas Complexos, ou mesmo pelo acúmulo de conhecimento capitalizado ao longo do tempo. Para ilustrar tal fato, é notório que as preocupações de Moita Lopes presentes no seu livro Oficina de Linguística Aplicada, publicado em 1996 e considerado um dos marcos do nascimento da Linguística Aplicada brasileira, diferem imensamente das do Linguística Aplicada na Modernidade Recente, publicado em 2013 – embora ambos tenham o mesmo recorte: a contribuição da Linguística Aplicada para o ensino de línguas. Consequentemente, se um SAC é formado por diversos agentes heterogêneos, então é possível dimensionarmos que sofre perturbações mesmo quando aparenta ter atingido estabilidade.

Outra vantagem do olhar a partir dos SACs é que reforça o entendimento da Linguística Aplicada como um organismo vivo, passível tanto de interferir quanto de receber interferências dos meios internos e externos. Sendo assim, é capaz de adaptar-se como sistema ao longo do tempo, sem necessariamente fechar-se como disciplina.

Uma última vantagem é a noção de que a LA contemporânea, por constituir-se um sistema aberto, continua e continuará passando por diversas adaptações e mudanças por entre espaços de estado ao longo do tempo. No entanto, se é difícil determinar as condições iniciais deste SAC, seria impossível precisar sobre seus próximos movimentos, pois, como afirmam Larsen-Freeman e Cameron (2008b)LARSEN-FREEMAN, D.; CAMERON, L. Research methodology on language development from a complex systems perspective. The Modern Language Journal, Madison, v.92, n.2, p.200-213, 2008b., um sistema em mudança deve ser abordado por meio de um dizer em retrospectiva (retrodiction ou retrocasting), ao invés de um dizer “previsionista” (prediction). Resta-nos, daqui para frente, envelhecermos e termos memória, para que possamos testemunhar como essa história continua e como os modos de produzir conhecimento continuarão se modificando.

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  • WIDDOWSON, H. G. Linguistic insights and language teaching principles. In: WIDDOWSON, H. G. Explorations in applied linguistics Oxford: Oxford University Press, 1979b. p.207-225.
  • 1
    Em várias universidades, diferentemente da UFRJ, citada anteriormente, Linguística e Linguística Aplicada são parte do mesmo programa de pós-graduação. Não é incomum a segunda ser considerada um braço da primeira, e vários cursos ainda trazem disciplinas de “Linguística Aplicada ao ensino”, remetendo, assim, a uma antiga dicotomia (WIDDOWSON, 1979aWIDDOWSON, H. G. The partiality and relevance of linguistic description. In: WIDDOWSON, H. G. Explorations in applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 1979a. p.226-238.) de Linguística Aplicada (Applied Linguistics) versus Linguística aplicada a... (Linguistics applied to...), em que a Linguística Aplicada é entendida como nada mais do que a aplicação de teorias da Linguística.
  • 2
    É importante ressaltar que caracterizar a LA como uma ciência autônoma significa reconhecê-la como um campo do saber, e não uma subárea vinculada a uma área maior. Autônoma aqui não significa autossuficiente, sem a necessidade de recorrer a outras áreas – o que contrariaria a natureza inerentemente transdisciplinar da LA.
  • 3
    Disponível em: <http://www.aila.info/en/about/history.html>. Acesso em: 9 jul. 2014.
  • 4
    Disponível em: <http://www.baal.org.uk/dox/history_of_baal.pdf>. Acesso em: 9 jul. 2014.
  • 5
    (PUC, [2015]PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO [PUC]. Linguística aplicada e estudos da linguagem: história. São Paulo, [2015]. Disponível em: <http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/linguistica-aplicada-e-estudos-da-linguagem#historia>. Acesso em: 1 mar. 2015.
    http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestra...
    ).
  • 6
    Original: Language educators may teach their native or a foreign language at any level. A degree in linguistics is a good background for those pursuing English as a Second Language (ESL) or Teaching English as a Second or Other Language (TESOL) credentials. (LINGUISTIC SOCIETY OF AMERICA, 2012)LINGUISTIC SOCIETY OF AMERICA. Linguistics as a profession. Washington, 2012. Disponível em: <http://www.linguisticsociety.org/resource/linguistics-profession>.
    http://www.linguisticsociety.org/resourc...
    .

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2016

Histórico

  • Recebido
    Set 2015
  • Aceito
    Fev 2016
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