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O CORPO COMO TEMA DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO: UMA ANÁLISE EM CINCO PERIÓDICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA

THE BODY AS A KNOWLEDGE-PRODUCTION TOPIC: AN ANALYSIS CONDUCTED IN FIVE BRAZILIAN PHYSICAL EDUCATION JOURNALS

EL CUERPO COMO TEMA DE LA PRODUCCIÓN DE CONOCIMIENTO: UN ANÁLISIS EN CINCO REVISTAS DE LA EDUCACIÓN FÍSICA BRASILEÑA

Resumo

Este artigo está inserido no contexto de uma pesquisa cujo objetivo foi oferecer um “estado da arte” da produção do conhecimento sobre o corpo veiculado em cinco periódicos da Educação Física brasileira (Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Motus Corporis, Pensar a Prática, Motrivivência e Revista da Educação Física). Em termos metodológicos, realiza uma análise de conteúdo dos artigos sobre o corpo circunscritos à área sociocultural e pedagógica. A pesquisa foi conduzida a partir da organização dos textos em cinco categorias (Corpo e Educação; Corpo e Representação; Corpo e Gênero; Corpo e Tecnologia; Outros), oportunidade, também, para caracterizar as principais problematizações e os referenciais teóricos e metodológicos mais empregados.

Palavras-chave
Corpo humano; Educação Física; Publicações periódicas

Abstract

This paper is part of the context of a study aimed at looking into the “state of the art” of knowledge production on the body in five Brazilian Physical Education journals (Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Motus Corporis, Pensar a Prática, Motrivivência and Revista da Educação Física). In methodological terms, it conducted content analysis of articles about the body circumscribed to the sociocultural and pedagogical area. The analysis organized the texts into five categories (Body and Education; Body and Representation; Body and Gender; Body and Technology; Others), which was also an opportunity to characterize the main problems and theoretical and methodological references most often used in the texts.

Keywords
Human body; Physical Education; Journals

Resumen

Este artículo está inserido en el contexto de una investigación cuyo objetivo fue ofrecer un “estado del arte” de la producción de conocimiento sobre el cuerpo publicado en cinco revistas de Educación Física brasileñas (Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Motus Corporis, Pensar a Prática, Motrivivência e Revista da Educação Física). En términos metodológicos, se realizó un análisis de contenido de los artículos sobre el cuerpo circunscritos al área sociocultural y pedagógica. La investigación se condujo a partir de la organización de los textos en cinco categorías (Cuerpo y Educación; Cuerpo y Representación; Cuerpo y Género; Cuerpo y Tecnología; Otros), oportunidad, también, para caracterizar las principales problematizaciones y los referentes teóricos y metodológicos más empleados.

Palabras clave
Cuerpo humano; Educación Física; Publicaciones periódicas

1 INTRODUÇÃO

Este artigo está inserido no contexto de uma pesquisa cujo objetivo foi oferecer um “estado da arte” ou “revisão sistemática” da produção do conhecimento sobre o corpo veiculada em cinco periódicos da Educação Física brasileira (Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Motus Corporis, Pensar a Prática, Motrivivência e Revista da Educação Física). A opção foi avaliar, em termos quanti e qualitativos, o conhecimento disponível sobre o corpo circunscrito ao que Manoel e Carvalho (2011CARVALHO, Yara; MANOEL, Edison de Jesus. Pós-graduação na educação física brasileira: a atração (fatal) para a biodinâmica. Educação e Pesquisa, v. 37, n. 2, p. 389-406, maio/ago. 2011.) denominaram subárea sociocultural e pedagógica.

A justificativa para a escolha dessas cinco revistas,1 1 Entre as razões, podemos elencar o fato de elas: expressarem as mudanças que o campo da Educação Física experimentou no período adotado para o estudo; estarem disponíveis para consulta; apresentarem um longo ciclo de vida; publicarem artigos da subárea sociocultural e pedagógica. bem como as decisões de tomar, exclusivamente, o periódico como “fonte” e o recorte temporal adotado (1987-2012) estão explicitadas em outro texto que resulta da investigação aqui anunciada. Nessa publicação, aliás, oferecemos uma descrição de caráter bibliométrico dos 131 artigos dedicados ao corpo na perspectiva sociocultural e pedagógica, oportunidade para identificar onde a pesquisa sobre o corpo está mais concentrada regionalmente no Brasil, a titulação dos autores que assinam os textos, as instituições que mais produzem pesquisa sobre o tema, o sexo de quem mais publica, o “impacto” considerando a produção global de cada periódico, a tipologia dos artigos, entre outros aspectos.

Neste artigo, por sua vez, apresentamos uma reflexão de caráter qualitativo, ocasião em que realizamos uma análise de conteúdo (BARDIN, 1977BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.) a partir dos textos completos. No relatório de pesquisa que dá origem a este artigo, organizamos a análise do material em cinco categorias. A primeira tinha como foco a problematização do corpo e sua educação nos diferentes tempos, espaços e lugares da Educação Física (“Corpo e Educação”). A segunda discutia representações de corpo em artefatos culturais (revistas, jogos, sites, jornais etc.) e práticas corporais e/ou esportivas diversas (“Corpo e Representação”). A seguinte problematizava as relações de gênero e suas manifestações nas escolas e nas práticas corporais e/ou esportivas (“Corpo e Gênero”). A quarta analisava os avanços biotecnológicos e seus impactos na “forma corpo” contemporânea (“Corpo e Tecnologia”). A última (“Outros”), por sua vez, reunia dois tipos de publicações: umas cujas reflexões não possuíam qualquer unidade entre si a ponto de configurarem, claramente, uma categoria; outras com análises sobre o corpo em diferentes épocas históricas da Educação Física (século XIX ou início do século XX) ou em autores clássicos, como Rousseau e Locke.2 2 Não analisaremos a categoria “Outros” (29 escritos) neste artigo. Como consequência, o número total de textos em análise diminui de 131 para 102.

O artigo está organizado de modo a, inicialmente, descrever os resultados encontrados nas quatro primeiras categorias para, na sequência, encerrar com outras problematizações nas considerações finais.

2 ENTRE O CORPO-MÁQUINA, O CORPO-SUJEITO E O CORPO-INFORMAÇÃO: DISCURSOS SOBRE O CORPO NAS REVISTAS

Em relação às narrativas do eixo “Corpo e Educação”,3 3 Sacardo, Silva e Souza (2013), Vilarinho et al. (2014) e Lüdorf et al. (2014) também aglutinaram seus dados a partir desse binômio. aprendemos que os discursos a seu respeito deram conta de denunciar os mecanismos disciplinares e de controle do corpo, especialmente, mas não exclusivamente, na escola. Essa perspectiva fundamentava-se num tipo de compreensão que considerava que sua presença nos espaços-tempos escolares tem servido, basicamente, a uma educação cuja produtividade o dociliza, o submete, o aliena, o reifica, e que promove o assujeitamento de suas vontades, já que objeto do poder que atua sobre ele.

Embora Foucault (1987FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: a história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1987.) não seja sempre “convocado” para esse tipo de interpretação do corpo,4 4 Apesar disso, Foucault foi um dos autores mais citados nessa “leitura” do corpo. prevalece um modo de concebê-lo que nos remete à sua analítica no clássico Vigiar e punir. Especialmente no caso da escola, instituição a que a maior parte dos artigos se dirige, ela foi concebida como o tempo-espaço em que os corpos foram induzidos a processos educativos marcados pela disciplina, como exemplifica um dos textos analisados:5 5 A pesquisa de Sacardo, Silva e Souza (2013), com base nas revistas Movimento e Revista Brasileira de Ciências do Esporte, também evidenciou a denúncia da lógica disciplinar do corpo na escola.

A escola detém a mobilidade das crianças para racionalizar seus movimentos, enfatizando a produção de gestos mecânicos e estereotipados. Neste sentido, para Foucault (1984) e Guimarães (1987), um dos objetivos da escola é controlar a corporeidade das crianças, de maneira sistemática, impondo-lhes uma infinidade de comportamentos úteis ao sistema de produção [...]. Na sala de aula, seus corpos passam a ser imobilizados, presos às cadeiras, tal qual o operário que fica preso à máquina no seu trabalho (FIGUEIREDO, 1993FIGUEIREDO, Márcio Xavier Bonorino. A corporeidade na escola. Revista da Educação Física /UEM, v. 4, n. 1, p. 6-9, 1993., p. 8).

Essa avaliação é inseparável, por sua vez, de outra acusação, também seguida de uma crítica, pois os artigos revelam ainda existir, no campo, um modo de compreender o corpo que o considera como um objeto, uma “coisa”, um instrumento, lido desde tão somente sua dimensão biológica, “cartesiana”, de modo fragmentado e mecanicista. Trata-se de um corpo-morto (Körper), não vivo (Leib), cuja arquiconhecida metáfora, para exemplificá-lo, é a da máquina.

Por outro lado, o “tom denuncista” e, às vezes, “determinista” das interpretações também convivia com reflexões que defendiam a necessidade de pensar o corpo de outras maneiras, não reduzido à sua dimensão física, natural, fragmentada e “cartesiana”. Assim, antropólogos, sociólogos e filósofos reconhecidos, como Michel Foucault, David Le Breton, Theodor Adorno, Marcel Mauss, Edgard Morin, Pierre Bourdieu, Karl Marx e muitos outros, foram convocados para justificar o pretendido “construcionismo social do corpo”6 6 Este construcionismo afirma que a materialidade do corpo é resultado da linguagem (ORTEGA, 2008). (ORTEGA, 2008ORTEGA, Francisco. O corpo incerto: corporeidade, tecnologias médicas e cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.).7 7 Mendes (2009) e Nóbrega, Mendes e Gleyse (2015) mostram como essa “redescoberta” e a crítica à concepção biologicista de corpo estiveram presentes nas páginas da Revista Brasileira de Ciências do Esporte.

Isso possibilitou o que podemos caracterizar, a partir dos artigos analisados, como uma “virada culturalista do corpo”, com implicações para o entendimento do que seria o objeto de estudo da Educação Física, que cada vez mais passou a ser vinculado à cultura (cultura corporal, cultura corporal de movimento, cultura de movimento, motricidade, corporalidade).

As transformações daí decorrentes refletiram naquilo que poderia o corpo na Educação Física. Se a disciplina, historicamente, contribuiu para a formação de corpos dóceis e submissos, os artigos argumentam que é possível e necessária outra forma de organização das corporeidades. Não deixa de ser impressionante, então, toda uma produção discursiva sobre a Educação Física, o esporte, o lazer, a dança etc. com vistas à promoção de uma educação para a sensibilidade, para o amor, para a compaixão, da ordem dos afetos, da emoção, do prazer, da alegria, da espontaneidade, da suavidade, da lentidão, da expressividade, em suma, do corpo-sensível, do corpo-sujeito, do corpo-vivo (Leib), do corpo-dialógico, do corpo-ecológico, para utilizar expressões, todas elas encontradas nos artigos.8 8 Conclusão parecida é encontrada em Nóbrega, Mendes e Gleyse (2015). Segundo a explicação de Sérgio (2001SÉRGIO, Manuel. Motricidade humana e saúde. Revista da Educação Física/UEM, v. 12, n. 2, p. 129-138, 2001., p. 130-131), entre outros exemplos das fontes analisadas, isso é necessário pois,

Pela corporalidade, o homem adquire a sua subjetividade e a sua consciência. Aquela não se reveste de um mero caráter instrumental, como um outro de si. A corporalidade é um eu, matéria consciencializada, que abre o acesso do mundo a nós. [...] Por isso, a corporeidade, como muito bem o refere José Gil, ‘não concerne o corpo anatômico, mas a unidade da alma e do corpo vivido’ [...]. E assim o corpo não é só estrutura anatomofisiológica, mas conteúdo e sentido existenciais.

Ao mesmo tempo, alguns autores argumentaram em favor do reconhecimento do potencial linguístico do próprio corpo, do “saber orgânico” (BETTI, 1994BETTI, Mauro. O que a semiótica inspira ao ensino da educação física. Discorpo, n. 3, p. 25-45, 1994.) que ele encerra. De substância “muda”, sem valor cognitivo, alguns artigos indicam não apenas que o corpo é cultura, mas que ele mesmo é uma forma de comunicação com o mundo, “[...] que é um produtor de sentidos e, por isso, merecedor de uma hermenêutica própria” (BENTO, 1992BENTO, Jorge Olimpo. Alguns aspectos da recepção do tema corpo na pedagogia do desporto. Revista Brasileira de Ciência e Movimento , v. 6, n. 4, p. 34-38, 1992., p. 36). De certa forma, Bracht (2015BRACHT, Valter. Prólogo. In: FERREIRA, Adrián. (Org.). Pensando la educación física como área del conocimiento: problematizaciones pedagógicas del sujeto y el cuerpo. Buenos Aires: Miño y Dávila, 2015. p. 1-7., s. p) nos auxilia em uma síntese da trajetória teórica nessa categoria, ao afirmar que:

[...] a hegemonia da perspectiva racionalista e científica fez com que as possibilidades de superação do controle do corpo operado pela Educação Física fossem vistas apenas no plano da reflexão ou do discurso sobre o corpo (tomar consciência dos controles e determinantes sociais ao quais os corpos estão submetidos). Apenas recentemente começam a ser exploradas teoricamente as possibilidades inscritas no próprio corpo para não só resistir a esse controle como para colaborar (um possível caráter subversivo do corpo) no processo de ‘emancipação’, na esteira da pergunta de Spinoza, ‘o que pode o corpo?’. Ou seja, o corpo ‘passivo’ que é resultado de uma determinada construção sócio-discursiva, pode ser pensado também como origem ativa da resistência? De certa forma, trata-se de um ‘retorno’ ao corpo fenomenológico com potencial de ação que não se submete totalmente a uma determinada construção discursiva [...]. Apenas recentemente essa possibilidade começa a aparecer no discurso pedagógico da Educação Física e também mais geral. Diferentes textos do presente livro expressam esses três movimentos: crítica ao corpo máquina, a denúncia dos controles operados por uma determinada construção discursiva do corpo e a possibilidade de ver na corporeidade uma dimensão que resiste a esse controle e que poderia servir de apoio também para transcender esses controles, ou seja, servir de base para outros processos de subjetivação.

No que diz respeito à segunda narrativa (“Corpo e Representação”), o argumento é o de que tanto os artefatos culturais (como jornais e revistas, por exemplo) como as práticas corporais e/ou esportivas produziram “discursos sobre o corpo” ou uma educação do corpo que indicava uma determinada normatividade somática. Nesse âmbito, o corpo transformou-se num parceiro privilegiado da cultura, impondo-se como “lugar” importante do discurso social ao perder seu caráter de res extensa e de materialidade muda em proveito de seu reconhecimento como vetor identitário. Isso porque, no limite, “cuidar” do próprio corpo significaria o melhor meio de cuidar de si mesmo, de afirmar a própria personalidade e de se sentir feliz. Segundo Ortega (2003ORTEGA, Francisco. Práticas de ascese corporal e constituição das bioidentidades. Cadernos Saúde Coletiva, v. 11, n. 1, p. 59-77, 2003.), essas identidades ancoradas nos próprios corpos, por ele designadas de bioidentidades, são fortes o bastante a ponto de tornar a distinção entre o corpo e o self irrelevante, já que, mediante atividades que visam aos cuidados corporais, o psiquismo é externado e os indivíduos são somatizados. Nessas circunstâncias o corpo é um capital e a aparência virou essência (GOLDENBERG, 2006GOLDENBERG, Mirian. O corpo como capital: notas para compreender a cultura brasileira. Arquivos em Movimento , v. 2, n. 2, p. 115-123, 2006.).

Os artigos revelam, fundamentalmente, dois modos de compreender essa redescoberta identitária dos corpos. No primeiro, eles reforçam o argumento de que o corpo, ao deixar de ser uma máquina inerte, tornou-se uma espécie de obra de arte, ponto de contato individual com o entorno de si, local privilegiado do bem-estar, de uma “boa vida” e morada daquele alter ego que, no olhar alheio, deve provocar admiração e sedução. As análises são produzidas na perspectiva de mostrar que a inserção nas práticas corporais e/ou esportivas bem como o consumo de artefatos culturais dedicados ao cuidado de si corporal podem gerar impactos positivos na vida das pessoas, seja produzindo “saúde”, melhorando a performance, a autoestima, escondendo as marcas da velhice, seja criando um novo estilo de vida etc.

O “interesse pelo corpo”, nesse tipo de interpretação, é entendido como uma manifestação da dinâmica democrático-individualista das sociedades ocidentais. Esse é o caso, por exemplo, da investigação conduzida por Novaes (1999NOVAES, Jefferson. A ginástica de academia brasileira analisada segundo os postulados da estética de Schiller, Vieira de Mello e Maffesoli. Motus Corporis, v. 6, n. 1, p. 38-60, maio 1999.) entre os frequentadores de academias, para quem a aparência estética do corpo nesses lugares se mostra mais consistente do que os modismos, os narcisismos e outros postulados relativistas que normalmente se atribuem aos seus frequentadores, devendo ser vistos como um “[...] palco contemporâneo das dimensões filosóficas e sociológicas mais profundas e mais humanas quanto ao cultivo da ‘aparência estética’ do corpo” (NOVAES, 1999NOVAES, Jefferson. A ginástica de academia brasileira analisada segundo os postulados da estética de Schiller, Vieira de Mello e Maffesoli. Motus Corporis, v. 6, n. 1, p. 38-60, maio 1999., p. 51).

Na segunda compreensão, por sua vez, os artefatos e práticas dedicados ao cuidado de si corporal são interpretados como mecanismos “dessubjetivadores” ou veículos de despersonalização e despojamento de si. Produz-se, assim, uma contundente crítica à cultura somática, entendida como mecanismos que produzem formas de vida apolíticas e individualistas, baseadas em regras de embelezamento, no prolongamento da juventude e da boa forma, faltando a elas a preocupação com o “outro” e com o bem comum. Nesse contexto, para citar Ortega (2003ORTEGA, Francisco. Práticas de ascese corporal e constituição das bioidentidades. Cadernos Saúde Coletiva, v. 11, n. 1, p. 59-77, 2003., p. 63), “Criam-se novos critérios de mérito e reconhecimento, novos valores com base em regras higiênicas, regimes de ocupação de tempo, criação de modelos ideais de sujeito baseados no desempenho físico”. Como consequência, todo um vocabulário médico‐fisicalista, baseado em constantes biológicas, taxas de colesterol, tono muscular, desempenho físico e capacidade aeróbica, populariza‐se e adquire uma conotação normativa, fornecendo os critérios de avaliação individual. Nessas circunstâncias, o cuidado de si corporal representa uma vontade de uniformidade, de adaptação à norma, da constituição de modos de existência conformistas e egoístas, visando à procura da saúde e do corpo perfeito. Um bom exemplo dessa compreensão crítica é encontrado no artigo de Santos e Damico (2009SANTOS, Flávia da Cruz; DAMICO, José Geraldo. O mal-estar na velhice como construção social. Pensar a Prática , v. 12, n. 1, p. 1-9, 2009., p. 1-3), que aborda

[...] o culto contemporâneo ao corpo como processo que se desdobra em sucessivas aprendizagens que prometem libertar esse corpo de antigas repressões, ao mesmo tempo em que instituem outras - novas? - coerções [...]. Compreendemos essas relações de poder como possíveis estratégias de governo dos corpos, já que estão constantemente envolvidas no exercício de dirigir e regular modos de ser e de agir dos indivíduos e da população.

Embora os cuidados consagrados ao corpo e à aparência atinjam níveis variáveis de geração, gênero, raça e etnia, a busca por um corpo mais delineado e retesado, com músculos mais espessos e menos gordura (vinculado, essencialmente, aos mutantes e efêmeros padrões de beleza), parece incidir principalmente - mas não exclusivamente - sobre as mulheres e, dentre elas, especialmente as mais jovens. Essa é outra característica encontrada na análise dessa segunda categoria.

O corpo feminino também reaparece nas narrativas da categoria “Corpo e Gênero”.9 9 Wenetz, Werle e Araújo (2014), Lüdorf et al. (2014) e Sacardo, Silva e Souza (2013), mesmo a partir de fontes diferentes, também utilizaram o gênero como um eixo de suas análises. Aqui, contudo, o foco é tomá-lo como chave de leitura para problematizar as relações de gênero estabelecidas na sociedade. Isso é possível pois o campo acolhe esse tipo de teoria que, como categoria analítica, “[...] permite refletir sobre o caráter relacional dos sexos, evidenciando, sobretudo, que não é apenas o sexo biológico que estabelece diferenças entre homens e mulheres, mas, também, aspectos sociais, históricos e culturais” (GOELLNER; FIGUEIRA, 2002GOELLNER, Silvana; FIGUEIRA, Márcia Luiz Machado. Corpo e gênero: a revista Capricho e a produção de corpos femininos. Motrivivência , n. 19, p. 1-13, 2002., p. 1).

No pluralismo conceitual que caracteriza essa teorização, os textos têm como foco, basicamente, o questionamento do determinismo biológico que, historicamente, tem explicado a inserção (ou não) das mulheres e dos homens em determinadas práticas, saberes, costumes etc. A tônica dos artigos destaca que lugares e/ou instituições, como a escola e o esporte, têm produzido estereótipos e/ou preconceitos “generificantes”, o que tem feito da mulher o “sexo belo e frágil”.10 10 As narrativas dessa categoria têm como personagem central os corpos femininos, embora encontremos, nos artigos, algumas poucas reflexões destinadas ao tema a partir dos homens (SILVA; CÉSAR, 2012; ROSA, 2002). Essa escassez já havia sido apontada por Cunha Júnior e Melo (1996). A situação não melhorou de lá para cá. Esses trabalhos, em síntese, partem da crítica de que, aos homens, “tudo”: a força, a potência, a coragem, a aventura; às mulheres, por sua vez, uma estética da contenção: “[...] nada de excessos, nem de gorduras, nem de músculo, nem de ousadias, nem de inserções em espaços que parecem não ser seus” (GOELLNER, 2006GOELLNER, Silvana. Entre o sexo, a beleza e a saúde: o esporte e a cultura fitness. Labrys: estudos feministas, v. 10, p. 12, 2006. Disponível em:< Disponível em:https://www.labrys.net.br/labrys10/riogrande/silvana.htm >. Acesso em: 20 mar. 2017.
https://www.labrys.net.br/labrys10/riogr...
, p. 7). Nesse contexto, os artigos cumprem a função de denunciar a “dominação masculina” que faz da mulher, além de “bela e frágil”, o “segundo sexo”, quando comparada com os homens. Nos dizeres de Chagas e Rigo (1990CHAGAS, Eliane Pardo; RIGO, Luis Carlos. O corpo feminino numa perspectiva libertária. Motrivivência , n. 3, p. 125-130, jan. 1990., p. 126),

Um corpo submisso, uma mulher submissa, que se define a partir do homem. O homem só se pensa pensando o Outro: ‘apreende o mundo sob o signo da dualidade, esta não tem, de início, um caráter sexual’ (BEAUVOIR, 1980), porém, naturalmente, sendo diferente do homem que se põe como o Mesmo, é na categoria do Outro que a mulher é incluída, o Outro envolve a mulher. Nessa ótica, sendo a mulher considerada o Outro Absoluto, faz-se precisamente impossível encará-la como sujeito.

Ao mesmo tempo, todavia, os escritos incentivam a subversão da “dominação masculina”, pois defendem que lugares e/ou instituições, como a escola e o esporte, podem questionar os estereótipos e/ou preconceitos de gênero que os atravessam. Para Sayão (2002SAYÃO, Deborah Thomé. Por que investigar as questões de gênero no âmbito da educação física, esportes e lazer? Motrivivência , n. 19, p. 1-6, 2002., p. 6),

Cabe desmistificar saberes, poderes, conhecimentos e situações socialmente construídas que impedem a inclusão daqueles/as que não são homens, brancos, heterossexuais, adultos e de classe média. Garantir a igualdade de oportunidades a todos/as no que concerne às práticas corporais no âmbito da Educação Física, Educação Física e Lazer sintetiza uma certa dimensão política que a pesquisa e as práticas, nesse campo, podem contemplar.

A analítica contida nos artigos do quarto eixo (“Corpo e Tecnologia”)11 11 Esse eixo também foi encontrado em Wenetz, Werle e Araújo (2014), ainda que a partir da análise em fontes diferentes. radicaliza, por assim dizer, o “construcionismo social do corpo” que vinha sustentando a “virada culturalista” já em curso. Em função disso, aquela antiga imagem do corpo como máquina bem como a “recente” dignidade a ele atribuída vão aos poucos sendo abaladas por um regime discursivo que passa a concebê-lo como um dispositivo informático, dando origem, assim, a uma mudança de paradigma: não mais o regime mecânico-eletrônico nem mais um regime corporal-sensível, mas, sim, o paradigma molecular-digital, portanto, do corpo-máquina e do corpo-sujeito ao corpo-informação.

Segundo esse novo paradigma tecnológico, a própria materialidade do real se torna virtual, e o mundo natural e orgânico passa a ser percebido como atualização específica e não excludente de uma matriz de possibilidades informacionais. Nessas circunstâncias, o mundo natural já não é mais “coisa em si”, esfera pré-fenomenológica, alteridade que a cultura alternativamente concebeu como domínio ou refúgio (FERREIRA, 2002FERREIRA, Jonatas. O alfabeto da vida. Lua Nova, n. 55/56, p.219-240, 2002.). Agora, a totalidade do organismo humano sequer chegaria a existir, pois a vida estrutura-se a partir de uma lógica independente deste lugar de poder específico que é o corpo físico.

No imaginário pós-humanista, o corpo seria, assim, mais uma mídia a ser explorada ou, se for o caso, descartada. Nessa concepção, o corpo não é mais uma fronteira de identidade, apenas mais um elemento a se conectar no espaço da virtualidade. Isso significa que, concomitantemente àquela preocupação e valorização excessiva com o corpo e sua elevação a sujeito epistêmico, o “fim” da fronteira (metafísica) entre o humano e o inumano, entre a cultura e a natureza, entre o natural e o artificial nos leva a pensar em uma possível obsolescência do corpo e de sua “natureza”. Logo, o resultado desse “amor-ódio pelo corpo” (HORKHEIMER; ADORNO, 1985HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.), principal marca de sua ambivalência, seria um anacronismo indigno, um vestígio arqueológico ainda ligado ao homem, levado a desaparecer. A porosidade e a indeterminação das fronteiras entre tecnologia, natureza e humanidade, defendem alguns autores, não se sustentam diante do processo de digitalização da vida, desfazendo, assim, a nostalgia pelo humano, seu corpo e sua originalidade. Afinal de contas, como diz Silva (2000SILVA, Tomaz Tadeu. Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano . Belo Horizonte: Autêntica , 2000.), quem precisa mais de sujeito ou de uma ontologia humana?

Identificamos, nas análises dos artigos da categoria, basicamente dois modos de apropriação desse debate. No primeiro deles, a leitura é crítica em relação às transformações provocadas no corpo pelo avanço tecnológico. Os artigos são, assim, céticos quanto às possibilidades desconstrucionistas do discurso pós-humanista e da passagem do corpo-sujeito ao corpo informação, já que fortaleceria o caráter de dominação da ciência e de sua racionalidade instrumental, ratificaria a separação entre sujeito e objeto, reforçaria a concepção dualista do humano, provocaria o domínio e a matematização do corpo, resultando na alienação e na coisificação que levam à superação das características humanas (ABRÃO; SILVA, 2004ABRÃO, Elisa; SILVA, Ana Márcia. Reflexões sobre o “corpo In’perfeito”: o Cena 11 e as relações entre arte e tecnologia. Motrivivência, n. 23, p. 1-10, 2004.). Silva e Moreno (2005SILVA, André Luiz; MORENO, Andrea. Frankenstein e cyborgs: pistas no caminho da ciência indicam o “novo eugenismo”. Pensar a Prática , v. 8, n. 2, p. 125-139, 2005., p. 134-135), ao analisarem as tecnologias cyborguianas contemporâneas,

[...] revelam um desejo de normalizar, suprimir aquilo que o homem desconhece e foge a seu controle. Revelam o desejo de remodelamento pelo artifício, substituição do orgânico imperfeito pela réplica melhorada. Revelam uma vontade que se impregna no homem a partir do momento de reconhecimento do corpo como matéria e enquanto matéria, tudo que existe. O rompimento com a transcendência o faz crer apenas no material, sendo assim em seu corpo de carne e osso, tornando-o dependente para sua realização e felicidade. As alterações no corpo, promovidas pela tecnociência, vêm desvinculando o homem da natureza em direção à artificialidade, propondo que a cultura siga em direção à reconstrução da natureza pela técnica.

No segundo tipo de apropriação, os artigos revelam que não se trata de, simplesmente, se indispor com o desconstrucionismo e a crítica ao humanismo que pressupõe, mas avaliar, das fronteiras, as possibilidades que as biotecnologias apresentam para o corpo e para as subjetividades nele ancoradas. Assim, aceitam o desafio de criar novas formas de agenciamento a partir de uma subjetividade de um novo gênero, chamada de pós-orgânica. Tanto Bezerra e Porpino (2007BEZERRA, Laise Tavares Padilha; PORPINO, Karenine de Oliveira O. Entre corpos reais e virtuais: reflexões da dança contemporânea para pensar o corpo na educação física. Pensar a Prática, v. 10, n. 2, p. 275-290, 2007.) quanto Nóbrega (2001NÓBREGA, Terezinha Petrúcia. Agenciamentos do corpo na sociedade contemporânea: uma abordagem estética do conhecimento da educação física. Motrivivência , n. 16, p. 1-11, 2001.) argumentam que esses processos que levam a uma “virtualização do corpo” não significaram, necessariamente, a sua obsolescência ou desmaterialização,

A identidade não diz respeito apenas ao indivíduo isolado, mas trata da criação de um continuum biológico virtual vasto e ainda inexplorado, capaz de reconceituar o gênero humano, inaugurando uma nova etapa na autocriação da espécie humana (NÓBREGA, 2001NÓBREGA, Terezinha Petrúcia. Agenciamentos do corpo na sociedade contemporânea: uma abordagem estética do conhecimento da educação física. Motrivivência , n. 16, p. 1-11, 2001., p. 2-3).

Os textos dessa segunda apropriação registram a necessidade de diferenciar as potencialidades da transversalidade e da hibridação pelas quais a “forma corpo” passa nesse momento de uma indiferenciação a serviço de manipulações irresponsáveis. De um lado, potências da vida que precisam de corpos virtuais, desterritorizalizados para se experimentarem; por outro, “[...] poder sobre a vida que precisa de um corpo pós-orgânico para anexá-lo à axiomática capitalística” (PELBART, 2003PELBART, Peter. Vida capital: ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003., p. 47).

Concluímos da análise das quatro categorias que, por um lado, o corpo foi desnaturalizado (corpo biológico) para ser culturalizado e entendido como um poderoso vetor identitário das pessoas (por onde se constroem, inclusive, as diferenças de gênero). Por outro lado, houve um “retorno ao corpo” como lugar das experiências primordiais, como sede de outros processos de subjetivação, naquilo que ele escapa/antecede, por assim dizer, à própria cultura e à linguagem instituída. Esse discurso ao mesmo tempo se vê desafiado pela emergência de um imaginário político e estético fundado na pele rasgada pelo metal - no corpo de próteses baseado em uma ontologia do ciborgue, no dizer da feminista Haraway (2000HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: SILVA, T. T. (Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 37-129.) - para uma lógica política e estética que concebe a totalidade da própria natureza (não só corpórea) como um espaço de transitividade virtualmente perfeita.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cada uma das cinco revistas analisadas publicou artigos das quatro categorias construídas na análise. A categoria “Corpo e Educação” é a que reuniu o maior número de escritos, seguida das categorias “Corpo e Representação”, “Corpo e Gênero” e “Corpo e Tecnologia”. Em muitos casos, é importante dizer, os artigos podiam ser inseridos em mais de uma delas ao mesmo tempo.

Os argumentos que sustentam as narrativas da primeira categoria podem ser encontrados ao longo de toda a década de 1990, mas também estão presentes nas publicações dos anos 2000. Por exemplo, a crítica ao corpo-máquina e à sua disciplinarização nas escolas pode ser vista em textos dos dois períodos e nas cinco revistas. Em relação a “Corpo e Representação”, a maioria dos textos foi publicada durante a década de 2000, embora seja possível identificar algumas poucas produções nos anos anteriores. Nessa categoria, diga-se de passagem, predominaram as análises críticas sobre a redescoberta identitária dos corpos na sociedade contemporânea. Sobre “Corpo e Gênero” e “Corpo e Tecnologia”, os textos que as integram foram veiculados na década de 2000, embora, em cada caso, encontremos um artigo publicado nos anos 1990.

Considerando as narrativas sobre o corpo contidas nas quatro categorias, podemos concluir que, em termos teóricos e/ou conceituais, estamos diante de uma pluralidade discursiva e, consequentemente, política, que reúne autores e/ou perspectivas muito diferentes. É o que também concluíram Martineli e Milesky (2012MARTINELI, Telma Adriana; MILESKI, Keros Gustavo. Concepções de “corpo” na educação física: apontamentos históricos. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUL, 9., 2012. Anais... Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2012. Disponível em:< Disponível em:http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/3129/64 . Acesso em: 20 mar. 2017.
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),12 12 Devemos evitar a posição de Martineli e Milesky (2012, p. 14) ao defenderem, diante desse pluralismo, “[...] a superação radical das concepções fenomenológicas e pós-estruturalistas, de viés pós-moderno, como as que fundamentam as concepções de corpo analisadas neste estudo”. Nóbrega, Silva e Lima Neto (2015NÓBREGA, Terezinha Petrúcia; SILVA, Liege Monique F.; LIMA NETO, Avelino Aldo. Movimento s do pensamento: cenários da filosofia do corpo no Brasil. Dialéktike, v. 1, n. 1, p. 38-49, 2015.), mesmo investigando fontes distintas da nossa. Há estudiosas do Gênero, autores pertencentes a diferentes versões do Marxismo Ocidental, autores da Fenomenologia, outros vinculados ao Pós-Estruturalismo francês etc. Ademais, há a influência de distintas disciplinas do conhecimento, desde a Biologia de Humberto Maturana, passando pela Sociologia, Antropologia, História, Psicologia até a Pedagogia etc.

Essa pluralidade, nos textos investigados, muitas vezes se manifesta num ecletismo nem sempre salutar, no uso das tradições teóricas. Outra característica é que muitos artigos não anunciam referência norteadora, enquanto alguns assumem e operam a partir de uma orientação específica. Há, também, aqueles que dialogam somente com referências do campo da Educação Física, ao mesmo tempo em que encontramos os que não se reportam a qualquer artigo “da área”. Há, em menor quantidade, autores que não citam absolutamente ninguém.

Em circunstâncias como essas, é difícil afirmar o predomínio desta ou daquela teoria nos discursos sobre o corpo veiculados nos cinco periódicos investigados. É claro que observamos que alguns nomes, ou mesmo algumas correntes teóricas são mais presentes do que outras ou, então, configuram uma tradição de estudos sobre corpo na área,13 13 Este é o caso, por exemplo, de Merleau-Ponty, filósofo fundamental na “redescoberta” do corpo no campo da Educação Física. mas seria imprudente afirmar a primazia de uma em detrimento da outra, ao menos no caso da nossa investigação.

Apesar dessa diversidade, alguns autores fizeram o exercício de aglutinar esse pluralismo em tendências. Baptista et al. (2013BAPTISTA, Tadeu João Ribeiro et al. Perspectivas epistemológicas da produção do conhecimento sobre corpo nos GTTS Memória, Cultura e Corpo (1999, 2003) e Corpo e Cultura (2011). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 18.; CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 5, 2013. Anais...Brasília, DF, 2013. Disponível em: <Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/conbrace2013/5conice/paper/view/5738/2706 >. Acesso em: 20 mar. 2017.
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), por exemplo, empregaram uma conhecida classificação epistemológica para avaliar a produção do conhecimento sobre o corpo nos Grupos de Trabalho Temático “Corpo e Cultura” e “Memória, Cultura e Corpo”, ambos do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Segundo tal esquema paradigmático, os artigos foram alocados entre as perspectivas empírico-analíticas, fenomenológico-hermenêuticas e crítico-dialéticas. Os autores afirmam a predominância dessas duas últimas orientações, com ligeira “vantagem” para o materialismo dialético. Ainda no mesmo artigo, mas também em outros (VILARINHO NETO et al. 2014VILARINHO NETO, Sissilia et al. Balanço da produção do conhecimento sobre corpo e cultura: o Centro-Oeste em questão. Arquivos em Movimento , v. 10, n. 1, p. 57-76, jan./jun. 2014.; VILARINHO NETO; BAPTISTA, 2014VILARINHO NETO, Sissilia; BAPTISTA, Tadeu João Ribeiro. O corpo em relação: uma possibilidade de organização. EF Deporte, Buenos Aires, ano 9, n. 189, feb. 2014. Disponível em: <Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd189/o-corpo-em-relacao-uma-organizacao.htm >. Acesso em: 15 de maio de 2016.
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; VILARINHO NETO et al., 2011), Baptista et al. (2013)BAPTISTA, Tadeu João Ribeiro et al. Perspectivas epistemológicas da produção do conhecimento sobre corpo nos GTTS Memória, Cultura e Corpo (1999, 2003) e Corpo e Cultura (2011). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 18.; CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 5, 2013. Anais...Brasília, DF, 2013. Disponível em: <Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/conbrace2013/5conice/paper/view/5738/2706 >. Acesso em: 20 mar. 2017.
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inauguram outro esquema paradigmático para avaliar a produção sobre o corpo. Estaria assim organizado: “Corpo da alma”, “Corpo de si mesmo (Corpo próprio)”, “Corpo veículo de comunicação e corpo pulsão/Corpo linguagem”, “Corpo com o mundo/natureza”14 14 Michel Foucault, cuja influência é sentida nas quatro categorias aqui analisadas, estaria inserido na concepção “Corpo com o mundo/natureza”. e, por fim, “Corpo sem o corpo/Corpo pós-moderno”. Cada uma dessas vertentes corresponde a um grupo de autores.

No caso de nosso estudo, essas duas classificações se mostraram inadequadas para compreender a produção do conhecimento sobre o corpo. Isso não está relacionado, apenas, com o fato de as fontes da pesquisa não serem idênticas, mas especialmente porque, na abordagem das fontes, aqueles autores já partiram de uma classificação prévia (empírico-analítica, fenomenológico-hermenêutica, crítico-dialética).15 15 Considerando a classificação que organiza o conhecimento produzido entre as tradições empírico-analítica, fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialética, em que “lugar” inserir a perspectiva foucaultiana? Em situações como essa, corre-se o risco de “perder” o objeto, pois se procura “adequá-lo” a uma leitura “anterior”. Soma-se a isso, aliás, o fato de que a classificação que organiza as pesquisas em empírico-analíticas, fenomenológico-hermenêuticas e crítico-dialéticas apresenta inúmeros problemas de ordem conceitual e metodológica (ALMEIDA; BRACHT; VAZ, 2012ALMEIDA, Felipe Quintão de Almeida; VAZ, Alexandre Fernandez Vaz; BRACHT, Valter. Classificações epistemológicas na Educação Física: redescrições... Movimento, v. 18, n. 4, p. 241-263, out./dez. 2012.), de maneira que não vemos sentido em seguir utilizando-as.

Dúvidas também poderiam ser endereçadas àquela nova classificação. Alguns exemplos. O “Corpo próprio” é a denominação para se referir ao corpo “[...] visto apenas pela sua existência. Dessa forma, ele é tratado como máquina ou como elemento meramente biológico” (VILARINHO NETO et al., 2011VILARINHO NETO, Sissilia et al. A produção sobre corpo, saúde e estética: primeiras aproximações sobre os anais do Conbrace (1997-2009). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 17.; CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 4, 2011. Anais... Porto Alegre: CBCE, 2011. p. 1-15., p. 6) e teria como principais representantes Descartes e Le Mettrie. Ora, “corpo próprio” é um conceito importante na analítica de Merleau-Ponty, utilizado, inclusive, para se contrapor ao racionalismo cartesiano. A corrente “Corpo veículo de comunicação e corpo pulsão/Corpo linguagem” reúne autores que pertencem a tradições teóricas muito distintas (Merleau-Ponty, Freud e Lacan) e que, do nosso ponto de vista, não poderiam ser reunidas numa única categoria. Além disso, é muito pouco preciso adjetivar de pós-moderno um autor como David Le Breton, supostamente integrante da corrente “Corpo sem o corpo/Corpo pós-moderno”. Repetem-se, aqui, os mesmos problemas já levantados na crítica de Almeida, Bracht e Vaz (2012ALMEIDA, Felipe Quintão de Almeida; VAZ, Alexandre Fernandez Vaz; BRACHT, Valter. Classificações epistemológicas na Educação Física: redescrições... Movimento, v. 18, n. 4, p. 241-263, out./dez. 2012.) quanto ao uso das classificações epistemológicas.

Sem perder de vista o pluralismo teórico, no caso de nossa investigação, identificamos que diferentes metodologias de pesquisa foram mobilizadas nos estudos sobre o corpo. Igualmente, portanto, é difícil afirmar o predomínio de uma sobre a outra. A situação é ainda mais árdua pois inúmeros textos não fazem qualquer menção à metodologia nele empregada.16 16 Até textos de jornal encontramos publicados nos periódicos investigados. Entre as estratégias mais citadas, devemos incluir, em primeiro lugar, as reflexões teóricas e ensaísticas, seguidas das pesquisas de campo em lugares muito variados (escolas, academias, parques, estúdios de dança, internet etc.) e com diferentes populações (indígenas, alunos, professores, atletas, idosos, crianças etc.); há, também, pesquisa com imagens, a investigação histórica, documental, os estudos de revisão etc. Os autores utilizaram, também, diferentes estratégias para coleta ou produção dos dados, desde a entrevista, o questionário e o grupo focal até o diário de campo, a observação participante, entre outras. Não é, no entanto, de se estranhar essa situação, já que a existência do pluralismo teórico leva, consequentemente, ao emprego de estratégias metodológicas também distintas.

Em suma, a análise do desenvolvimento dos aportes teóricos e metodológicos presentes nos artigos evidencia, como traço significativo, a pluralidade que se instalou no campo da Educação Física nos últimos anos. A esse respeito, a tendência é de que os estudos sobre o corpo continuarão a sofrer a influência de grande número de autores, de diferentes correntes teóricas e perspectivas metodológicas, de maneira que o pluralismo instalado é, aparentemente, irreversível, sem a perspectiva do estabelecimento de uma hegemonia.

Apoio

Pesquisa financiada pelo edital universal do CNPq (n. 14/2013).

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  • 1
    Entre as razões, podemos elencar o fato de elas: expressarem as mudanças que o campo da Educação Física experimentou no período adotado para o estudo; estarem disponíveis para consulta; apresentarem um longo ciclo de vida; publicarem artigos da subárea sociocultural e pedagógica.
  • 2
    Não analisaremos a categoria “Outros” (29 escritos) neste artigo. Como consequência, o número total de textos em análise diminui de 131 para 102.
  • 3
    Sacardo, Silva e Souza (2013), Vilarinho et al. (2014) e Lüdorf et al. (2014) também aglutinaram seus dados a partir desse binômio.
  • 4
    Apesar disso, Foucault foi um dos autores mais citados nessa “leitura” do corpo.
  • 5
    A pesquisa de Sacardo, Silva e Souza (2013), com base nas revistas Movimento e Revista Brasileira de Ciências do Esporte, também evidenciou a denúncia da lógica disciplinar do corpo na escola.
  • 6
    Este construcionismo afirma que a materialidade do corpo é resultado da linguagem (ORTEGA, 2008).
  • 7
    Mendes (2009) e Nóbrega, Mendes e Gleyse (2015) mostram como essa “redescoberta” e a crítica à concepção biologicista de corpo estiveram presentes nas páginas da Revista Brasileira de Ciências do Esporte.
  • 8
    Conclusão parecida é encontrada em Nóbrega, Mendes e Gleyse (2015).
  • 9
    Wenetz, Werle e Araújo (2014), Lüdorf et al. (2014) e Sacardo, Silva e Souza (2013), mesmo a partir de fontes diferentes, também utilizaram o gênero como um eixo de suas análises.
  • 10
    As narrativas dessa categoria têm como personagem central os corpos femininos, embora encontremos, nos artigos, algumas poucas reflexões destinadas ao tema a partir dos homens (SILVA; CÉSAR, 2012; ROSA, 2002). Essa escassez já havia sido apontada por Cunha Júnior e Melo (1996). A situação não melhorou de lá para cá.
  • 11
    Esse eixo também foi encontrado em Wenetz, Werle e Araújo (2014), ainda que a partir da análise em fontes diferentes.
  • 12
    Devemos evitar a posição de Martineli e Milesky (2012, p. 14) ao defenderem, diante desse pluralismo, “[...] a superação radical das concepções fenomenológicas e pós-estruturalistas, de viés pós-moderno, como as que fundamentam as concepções de corpo analisadas neste estudo”.
  • 13
    Este é o caso, por exemplo, de Merleau-Ponty, filósofo fundamental na “redescoberta” do corpo no campo da Educação Física.
  • 14
    Michel Foucault, cuja influência é sentida nas quatro categorias aqui analisadas, estaria inserido na concepção “Corpo com o mundo/natureza”.
  • 15
    Considerando a classificação que organiza o conhecimento produzido entre as tradições empírico-analítica, fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialética, em que “lugar” inserir a perspectiva foucaultiana?
  • 16
    Até textos de jornal encontramos publicados nos periódicos investigados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    26 Maio 2017
  • Aceito
    13 Nov 2017
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