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O CÁLCULO E O ENIGMA: MACHADO DE ASSIS E O JOGO DE XADREZ

CALCULATION AND THE PUZZLE: MACHADO DE ASSIS AND THE CHESS GAME

Resumo

O artigo analisa um conjunto de textos literários de Machado de Assis, entre contos, crônicas e romances, nos quais o jogo de xadrez é mencionado ou tematizado, assim como reinterpreta certos momentos da vida do autor de modo a contextualizar e esclarecer a presença do jogo em sua obra. Partindo do primeiro torneio de xadrez realizado no Rio de Janeiro, em 1880, em que Machado participa ao lado do pianista e amigo Arthur Napoleão - provavelmente seu professor no jogo -, assim como do ensaio de Herculano Gomes Mathias sobre a relação de Machado com o xadrez, publicado já em 1952, o presente artigo propõe uma hipótese segundo a qual, por meio das noções de cálculo e enigma, o xadrez aos poucos deixa de ser mero tema literário e passa a constituir a própria estrutura e raciocínio da ficção machadiana. É quando o xadrez passa a ser jogado não mais apenas entre os personagens da trama, e sim entre autor e leitor, em planos cruzados e simultâneos. O torneio de 1880 poderia, nesse sentido, ser tomado como um marco biográfico dessa mudança.

Palavras-chave:
Machado de Assis; Jogo de xadrez; Enigma; Cálculo

Abstract

The article analyzes a set of literary works by Machado de Assis, including short stories, chronicles and novels, in which the game of chess is mentioned or discussed, as well as reinterprets certain moments of the author’s life in order to contextualize and clarify the presence of the game in his work. Starting from the first chess tournament held in Rio de Janeiro, in 1880, in which Machado participates alongside the pianist and friend Arthur Napoleão - probably his chess teacher -, as well as the essay by Herculano Gomes Mathias on Machado’s relationship with chess published already in 1952, the present article proposes a hypothesis according to which, through the notions of calculation and enigma, chess gradually ceases to be a mere literary theme and starts to constitute the very structure and reasoning of Machado’s fiction. It is then that chess starts to be played no longer just between the characters of the plot but between author and reader, in crossed and simultaneous plans. The tournament held in 1880 could, in this sense, be taken as a biographical landmark of this change.

Keywords:
Machado de Assis; Chess Game; Puzzle; Calculation

1. A imortal machadiana

Em janeiro de 1880, a Revista Musical e de Belas Artes do Rio de Janeiro anuncia, em sua coluna de xadrez, “um torneio entre seis dos melhores amadores desta corte”.1 1 Este e os demais comentários sobre o torneio podem ser vistos a partir do segundo número de 1880 da Revista Musical e de Belas Artes, que tinha periodicidade quinzenal. O número saiu no dia 17 de janeiro. Não se tratava de um torneio qualquer, mas do primeiro disputado no país em tal modalidade. Numa nota curtinha, são mencionadas as regras da contenda - cada enxadrista jogará quatro partidas com seus adversários, e será considerado vencedor o que tiver ganhado o maior número de pontos -, assim como os nomes dos participantes e um resultado parcial da competição. Machado de Assis, que dois anos antes havia lançado Iaiá Garcia, romance no qual o jogo de xadrez é tematizado por meio de um personagem enxadrista, liderava o torneio com 6 pontos. A seguir vinha Arthur Napoleão, pianista português, jogador experiente e amigo íntimo de Machado, além de favorito ao título, com 5 pontos e meio. Em terceiro, com 4 pontos e meio, aparecia o nome de C. Vianna, abreviatura de João Caldas Vianna Neto, com 17 anos de idade à época e que viria a ser o grande enxadrista brasileiro nas décadas seguintes. Nas últimas colocações estavam C. Pradez, ainda no páreo, com 4 pontos, Navarro e dr. Palhares, coadjuvantes no torneio e nessa história, com 1 ponto cada.

Ao longo de três meses e mesmo após o fim do torneio, que duraria até abril, os leitores da revista acompanharam os resultados parciais e algumas anotações das partidas de maior destaque, a exemplo da “imortal” de Machado de Assis contra Charles Pradez. No mundo do xadrez, são chamadas de imortais as partidas memoráveis de cada jogador, pois Machado se tornaria de fato imortal apenas duas décadas depois - em sua área principal de atuação - ao fundar e fazer parte da Academia Brasileira de Letras. “Esta partida faz muita honra ao sr. Machado de Assis que a jogou muito bem, e contra um parceiro como o sr. Pradez”, diz a análise, que, embora sem assinatura, provavelmente era redigida por Arthur Napoleão, não apenas editor da coluna como também coeditor da própria revista. “Talvez no seu todo, seja esta uma das partidas mais bem jogadas do torneio”, conclui o comentário (REVISTA MUSICAL..., 1880______. Rio de Janeiro, ano II, n. 10, 8 mai. 1880, p. 79. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/146633/495>. Acesso em: 10 fev. 2021.
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, p. 79).

A partida demonstra que Machado tinha alguns princípios como enxadrista, correção nos movimentos e certo histórico de estudos ao propor, jogando de pretas, uma abertura ainda pouco utilizada, a siciliana. Após o sexto lance, o comentarista diz que “a abertura tem sido conduzida conforme mandam os mais autorizados clássicos”, indício de um jogo estudado. E após um lance imprudente de Pradez, Machado logo tira proveito com um bonito sacrifício de peão, o que demonstra certa acuidade do escritor nos tabuleiros e, como diz a análise, “dá às pretas decidida vantagem”. É a partir dessa vantagem que Machado monta um plano de ataque paciente e bem-sucedido na ala do rei, embora as brancas tenham deixado escapar oportunidades de empate. Após longa partida de quase 70 lances, Pradez finalmente a abandona, e Machado imortaliza - guardadas as proporções - seu nome na história do xadrez nacional (REVISTA MUSICAL..., 1880______. Rio de Janeiro, ano II, n. 10, 8 mai. 1880, p. 79. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/146633/495>. Acesso em: 10 fev. 2021.
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, p. 79).

Apesar de iniciar o torneio na liderança e de sua elogiada exibição contra Pradez, Machado logo seria ultrapassado - primeiro por Arthur Napoleão, depois por Caldas Vianna e, finalmente, pelo próprio Charles Pradez. No fim, Napoleão confirmou seu favoritismo com 14 pontos e meio, e algumas de suas vitórias figuram não apenas nos anais do torneio, mas também na história do xadrez brasileiro. O pianista tinha um passado consistente no jogo, além de ser o maior incentivador até então da prática do xadrez na corte, onde se fixou a partir de 1868. No entanto, Caldas Vianna é quem teria um futuro brilhante como enxadrista.

Quanto a Machado, a partida contra Pradez talvez tenha sido seu auge como enxadrista, mas em pouco tempo ele ficaria mais conhecido por outro motivo: no mesmo mês de janeiro de 1880______. “Memorias Posthumas de Braz Cubas”. In: ______. Revista Brasileira. Rio de Janeiro, ano I, tomo III, jan./mar. 1880. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/139955/2955>. Acesso em: 10 fev. 2021.
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, enquanto fazia seus primeiros lances no torneio, as Memórias póstumas de Brás Cubas começavam a ser publicadas em formato de folhetim na Revista Brasileira. É possível imaginar os primeiros comentários sobre o romance, que causou grande sensação e estranhamento, entre uma partida e outra na casa de Arthur Napoleão, onde o torneio foi realizado. A publicação das Memórias, ao longo daquele ano, levaria a carreira literária de Machado a outro patamar. Mas isto são histórias já contadas.

A realização do torneio foi a coroação de uma série de iniciativas do pioneiro Arthur Napoleão que se confundem com a história e a consolidação do xadrez no Brasil, e Machado, a seu modo, também fez parte dessa história, por exemplo, divulgando - mesmo que involuntariamente - a prática do jogo em sua obra literária, que vai alcançando cada vez mais circulação nos jornais e revistas a partir dos anos 1870. Jogado a dois, como a própria amizade, o xadrez entra em definitivo na vida do escritor certamente por influência do amigo. E, embora negligenciado pela crítica, o assunto chega a adquirir lugar de relevo, eventualmente central, e das mais variadas formas, na obra literária do bruxo. Além de mencionar o xadrez como tema, Machado entranha na própria forma de suas narrativas certas ideias, imagens e raciocínios que são mais familiares ao enxadrista do que ao escritor. Vamos a elas.

2. Astúcias de enxadrista

A primeira menção que Machado faz ao jogo em seus textos, menção passageira e sem grande importância, encontra-se em uma crônica de 15 de setembro de 1862 que também registra, com grande entusiasmo, a segunda passagem de Arthur Napoleão pelo Rio de Janeiro - o pianista português se apresentou na cidade pela primeira vez em 1857 e voltaria ainda em 1866, antes de lá se estabelecer em definitivo. Data desse período o início da amizade entre os dois e também a primeira parceria artística, na peça teatral O remorso vivo, concebida por Furtado Coelho, na qual Napoleão fez a música e Machado a poesia, embora não se possa precisar quando o escritor passou a receber as primeiras lições no jogo.

Em um dos poucos textos escritos sobre a relação de Machado com o xadrez - texto mais informativo do que analítico -, publicado em 1952 nos Anais do Museu Histórico Nacional, Herculano Gomes Mathias especula que a iniciação do bruxo nos tabuleiros tenha ocorrido justamente entre 1862 e 1865. O certo é que em 1868, conforme confessou em crônica tardia, Machado já frequentava o Clube Fluminense para jogar (MATIAS, 1952MATIAS, Herculano Gomes. “Machado de Assis e o jogo de xadrez”. In: ______. Anais do Museu Histórico Nacional, 1952, v. XIII. , p. 143-144).2 2 Herculano Gomes Mathias, que foi chefe da Divisão de Documentação e Divulgação do Museu, tem vasta produção histórico-literária e era um forte e apaixonado enxadrista, tendo sido presidente da Federação de Xadrez do Rio de Janeiro. Desse período em diante, as referências ao xadrez em sua obra se tornam recorrentes e significativas - seja na trama ou na construção dos personagens, seja no próprio raciocínio narrativo. Se Machado vai pouco a pouco aprimorando tanto sua força no xadrez quanto sua literatura, as combinações entre jogo e texto também vão ficando mais interessantes e complexas em sua obra.

Em “Questão de vaidade”, conto extenso publicado no Jornal das Famílias nesse período, em 1864, pode-se dizer que o jogo de xadrez tem papel central na narrativa, uma vez que se apresenta não como tema secundário ou ilustração cênica, e sim como chave de leitura, talvez a principal. No conto delineia-se, embora de modo ainda óbvio, uma questão que será persistente em toda a obra machadiana e que sua relação com o xadrez talvez ajude a compreender melhor: a questão do cálculo. Em linhas gerais, o conto trata do “amor” de Eduardo (“um dos moços mais elegantes da sociedade fluminense”) por duas mulheres, a viúva Maria Luísa e a jovem Sara. Por meses, o rapaz convive e corteja as duas sem que uma soubesse da outra, até que as mulheres descobrem a farsa em um baile. O xadrez entra na história pelo tio de Sara, o aposentado Silvério - “que para jogo era demasiado sério, e para negócio demasiado frívolo”, segundo o dito de madame Staël que é lembrado a título de graça. Diz o narrador que esse homem era “um grande jogador de xadrez”, mas “Eduardo não o era de menos”, talento que o próprio Silvério faz questão de reconhecer, e na primeira visita que o protagonista faz a Sara os dois jogam duas partidas após o jantar (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 794-795).

Eduardo perde as duas partidas - um prenúncio de que perderia também as duas mulheres? -, mas o narrador explica tais derrotas com um velho adágio que, sem verificação na conclusão da história, soa irônico em retrospecto: azar no jogo, sorte no amor. Já na cena seguinte, o relato confirma que o xadrez não apareceu no conto em vão: Eduardo era um jogador não apenas nos tabuleiros, mas também na vida. “Nas cenas que aqui tenho esboçado, tentei mostrar a leviandade e a vaidade de um homem que fazia jogo com as paixões e os sentimentos ingênuos de duas criaturas”, diz o narrador, que, ainda nas páginas seguintes, usa e abusa do verbo “calcular” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 797). Se Almeida, o pai de Sara, “não calculava o coração de sua filha”, Eduardo, sim, como enxadrista, faz todo tipo de cálculo - com os sentimentos, as paixões e as palavras. No tal baile, quase prevendo sua desgraça, o protagonista “calculava, adivinhava, redigia consigo mesmo os ditos, as observações, os olhares invejosos de toda aquela multidão” (ASSIS, 2008______. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 2., p. 797). Ao receber uma visita inesperada de seu parceiro de xadrez, Eduardo “calculou o pior; calculou que Silvério era comissário do pai de Sara” (ASSIS, 2008______. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 2., p. 803).

Em suma, o protagonista-enxadrista “entretinha com cuidado” os episódios amorosos e “mudava de assunto com […] rara habilidade”, mas o único que ele não conseguia enganar era o melhor amigo, Pedro Elói, que o critica pela farsa e diz em correspondência duas ou três frases que preveem a dupla derrota de Eduardo, agora sim no jogo e no amor: “E repara bem: comigo é inútil o disfarce. Falta-te o talento de iludir homens experimentados. Se mentires, eu cá sei como te hei de ler” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 802). Verdade que o xadrez não é um jogo no qual se pode blefar ou mentir - e nisso, aliás, se singulariza em relação aos jogos de cartas, nos quais o acaso tem grande incidência -, mas o que Pedro diz nas entrelinhas é que, nessa situação, enxerga mais longe do que o amigo, que em sua resposta confirma a lição: “Aconteceu o que previas e eu não previa” (ASSIS, 2008______. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 2., p. 810).

Para os amantes machadianos vale a mesma máxima do enxadrista: joga melhor quem enxerga mais longe - ou seja, quem calcula e mede as consequências, em séries múltiplas, de cada ato e movimento. É o que se chama no mundo do xadrez de “variantes”. Machado sabia bem disso - essa é, afinal, a primeira lição que qualquer enxadrista recebe -, pois é exatamente assim que o narrador de Iaiá Garcia define, quase quinze anos depois da história de Eduardo, as “qualidades necessárias” ao enxadrista: “vista pronta e paciência beneditina”. A expressão “vista pronta” talvez não seja clara o suficiente, como é próprio do estilo alusivo e fugidio de Machado, cuja técnica vai se aperfeiçoando; na versão anterior em folhetim o narrador diz “olho de águia”, deixando idêntico o restante do enunciado, que também interessa pelo que vem depois: “Das qualidades necessárias ao xadrez, Iaiá possuía as duas essenciais: vista pronta [olho de águia] e paciência beneditina; qualidades preciosas na vida, que também é um xadrez, com seus problemas e partidas, umas ganhas, outras perdidas, outras nulas” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 577).3 3 A edição em folhetim foi publicada no jornal O Cruzeiro ao longo dos primeiros meses de 1878, e este capítulo na edição de 30 de janeiro de 1878, na seção “Folhetim do Cruzeiro”.

Afinal, uma partida de xadrez é sempre um duelo, embora mais amistoso, miniatura de guerra, conforme tematiza um segundo conto dessa mesma época, “Astúcias de marido”, publicado no mesmo Jornal das Famílias, logo depois do anterior. Nessa história, dois homens disputam a mão e principalmente o coração da “meiga, dócil e submissa” Clarinha, que é prometida pelo pai a Valentim Barbosa (formado em direito e rico o suficiente para não usar o título), mas por debaixo dos panos a moça deseja mesmo é o primo Ernesto. Valentim, que joga xadrez com o futuro sogro nos tabuleiros, passa a jogar com o rival na vida. Ao descobrir os movimentos de Clarinha, o protagonista (“homem atilado que era”) “estuda melhor a situação” e elabora uma “estratégia”: em vez de exigir uma declaração de culpa da mulher amada, finge que não sabe de nada, ou seja, esconde o jogo, e desenvolve um plano singular que consiste em fazer o rival passar por situações humilhantes diante de Clarinha. Ele justifica sua estratégia afirmando que não há nada neste mundo que resista ao ridículo: “Nem mesmo o amor” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 890).

O conto demonstra que, se comparado a Eduardo, protagonista de “Questão de vaidade”, Valentim é melhor enxadrista, porque sabe esconder seu jogo, isto é, os próprios cálculos. São três as situações ridículas - que poderíamos analisar pelo jargão enxadrístico como “armadilhas” - que o astuto marido “arma” para o adversário (a expressão é do próprio narrador, que pesa a mão no verbo e o repete). A terceira das armadilhas, a mais definitiva, espécie de xeque-mate de Valentim, consiste em uma partida de cartas jogada pelos dois adversários e na qual Valentim, acompanhado de um amigo, acusa o rival de trapaça, resultando ainda em uma proposta de duelo, agora às veras - só que a proposta do duelo era toda encenada, pois as pistolas tinham sido descarregadas, mas só o primo não sabia, e por isso se acovarda. No fim do relato, em típico happy-end, Valentim sai vencedor de seu jogo e ganha o amor de Clarinha: “Quanto aos nossos esposos, amaram-se muito e tiveram muitos filhos” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 895).

3. Problemas, enigmas

Na ficção machadiana desse período, entre a publicação de “Questão de vaidade” até Iaiá Garcia, prepondera tal alegoria: a vida e o amor são como um jogo de xadrez. Notam-se as primeiras lições de cálculo do autor. Por exemplo, em “Qual dos dois?”, outro conto da época, agora quem calcula é a jovem Augusta, analisada pelo narrador nos seguintes termos: “Cálculos inúteis, dirá o leitor de boa-fé, os desta moça provinciana, que fazia do amor um jogo de xadrez” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 1.148). Em outros contos, como “História de uma lágrima” (1867), “Rui de Leão” (1872) e “Antes que cases” (1875), as referências ao xadrez são circunstanciais e não chegam a se sedimentar ou alçar voo, embora tenham seu valor pela regularidade e, sobretudo, ao circunscreverem certas práticas do jogo na corte - como passatempo ilustrado, jogado por homens e em ambientes privados (os clubes e torneios surgiriam só depois). Quase o mesmo vale para as crônicas desses anos, nas quais Machado fala do xadrez, por exemplo, como “a mais nobre ocupação do homem nas horas de vadiação” (ASSIS, 2019______. Badaladas Dr. Semana. Pesquisa, organização, apresentação e notas de Sílvia Maria Azevedo. São Paulo: Nanquin Editorial, 2019. v. 1. , p. 122).

Mas a estrutura e o raciocínio desse conjunto de ficções apresentam uma fraqueza intrínseca que o jogo de xadrez talvez ajude a explicar. A rigor, um grande enxadrista é aquele que oculta seus planos do adversário. Isso ocorre porque o xadrez, disputado em alto nível, é jogado em pelo menos dois planos simultâneos: o primeiro, em nível superficial, o outro, em profundidade. Daí ser tão comum, quando reproduzimos ou acompanhamos - nós, amadores do jogo - partidas entre dois grandes mestres, perder de vista o que acontece realmente no tabuleiro. Uma partida de xadrez torna-se mais “difusa” (como diria Brás Cubas sobre suas memórias) à medida que alcança regiões tão profundas de cálculo, que a nossa vista não as alcança mais. Nesse primeiro conjunto de textos machadianos em que há referências ao xadrez, ao contrário, a estratégia do enxadrista fica explícita - se não aos outros personagens, ao menos ao leitor -, porque segue sendo tratada no nível do tema. Além da visão de águia e da paciência beneditina, portanto, haveria outra qualidade essencial ao enxadrista que poderia ser medida pela capacidade de compor - e resolver - enigmas. É quando o cálculo se confunde com a criação.4 4 Em Machado de Assis: homem lúdico, Wagner Martins Madeira chegou a explorar a categoria do “enigma” para analisar, sobretudo, o romance Esaú e Jacó, sobre o qual comentaremos mais adiante.

Machado de Assis chegou a ficar fascinado com os enigmas de xadrez (ou problemas, como também são chamados), a ponto de ele próprio compor o seu. Conhecido como o primeiro problema enxadrístico publicado por um enxadrista brasileiro, o diagrama saiu em 15 de junho de 1877 na revista Ilustração BrasileiraILUSTRAÇÃO BRASILEIRA. Rio de Janeiro, ano I, n. 24, 15 jun. 1877. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/758370/375 >. Acesso em: 10 fev. 2021.
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, na qual havia uma coluna sobre o jogo sob responsabilidade de Arthur Napoleão. O problema de Machado consiste em um bonito “mate em 2 lances” no qual bispo e rei se movimentam para um arremate descoberto de dama. Não se trata de um problema complexo, e a segunda partida de Machado da qual se tem notícia, jogada nesse mesmo mês de junho com Arthur Napoleão, em que o pianista oferece um cavalo de vantagem e mesmo assim vence o match por 7 a 2, demonstra que o escritor evoluiu bastante no jogo entre essa época e o torneio de 1880. E não há outra razão que explique tal evolução de Machado nos tabuleiros: foram anos em que ele estudou o xadrez não diria seriamente, mas com algum método. A composição e resolução de enigmas foram uns de seus principais métodos.

A relação que Machado estabelece com os enigmas é outro testemunho de seu envolvimento com o jogo. Além de compor seu próprio enigma, ele também participou assiduamente das colunas enxadrísticas editadas por Napoleão, resolvendo problemas de outros jogadores. Não se tratava de uma prática eventual, e, sim, de uma atividade regular, realizada provavelmente em casa, onde o escritor possuía dois tabuleiros à sua disposição. Entre 1877 e 1880, são dezenas de ocorrências do nome do sr. Machado de Assis como correspondente na Ilustração e na Revista Musical, nas quais o escritor invariavelmente chegava ao resultado correto.

Mas é na correspondência passiva de Machado que consta, em curioso bilhete de Arthur Napoleão sobre o tema, uma pista reveladora para este ensaio. O bilhete faz alusão a um “problema muito bonito e difícil; tão difícil que não julgo que terei quem o possa resolver”, conforme afirma o pianista. Machado tentou resolvê-lo, e chegou a considerar que o tinha realmente resolvido, mas Napoleão refutou sua solução: “Quando li, pois, o teu cartão não julguei por um momento que em 12 horas o tivesses resolvido! Há mil jogadas neste problema que parecem ser as verdadeiras e afinal não são”, como era o caso da solução proposta pelo bruxo. O amigo então termina por motivar Machado: “Desculpe, e trabalha de novo, fica certo de que se resolveres o problema eu te considero um grande homem na matéria. Em compensação, quando quiseres eu te mando a solução, que te há de deixar boquiaberto!!… Mais nada. Teu amigo certo, A. Napoleão” (ASSIS, 2009______. Correspondência de Machado de Assis: tomo II 1870-1889. Coordenação e orientação de Sergio Paulo Rouanet. Reunião, organização e comentários de Irene Moutinho e Sílvia Eleutério. Rio de Janeiro: ABL; Fundação Biblioteca Nacional, 2009. Coleção Afrânio Peixoto., p. 168).5 5 Tal bilhete não tem indicação de ano, mas está redigido em papel com as iniciais de Arthur Napoleão e Lívia Santos, sua primeira esposa, do qual se conclui que, possivelmente, foi impresso por ocasião da primeira viagem do casal à Europa, entre 1873 e 1876. Para mais detalhes, consultar Correspondência de Machado de Assis, organizada por Irene Moutinho e Sílvia Eleutério (ASSIS, 2009).

Não se sabe a que enigma em particular os dois se referem, e nem se o escritor conseguiu afinal resolvê-lo, o que é pouco provável, mas a questão mais importante é que, nesse caso, Machado se viu diante da própria impossibilidade de resolver o enigma - ou seja, do inexplicável.

Talvez tenha sido essa sensibilidade para o inexplicável do enigma do jogo ou da vida que levou o autor a compor outros problemas, dessa vez não mais nos tabuleiros, mas em sua literatura - enigmas complexos, às vezes quase irresolúveis, em todo o caso mais difíceis de resolver do que aquele “mate em dois” que Machado compôs para a Ilustração. No capítulo XIII de Esaú e Jacó, intitulado “Epígrafe”, Conselheiro Aires faz referência a esses diagramas enxadrísticos em pequeno comentário que, apesar de passageiro, ou por isso mesmo, já que o comentário é ele próprio um enigma em sua brevidade, se apresenta como chave de leitura reveladora de tal questão, indicando uma influência totalmente nova do jogo de xadrez na obra machadiana. Em outras palavras, o capítulo-enigma de Aires - que trata também de um enigma - seria a própria chave que finalmente desvendaria a relação mais avançada entre o xadrez e a literatura machadiana. A pretexto de comentar um verso de Dante lembrado no capítulo anterior (“Dico, che quando l’anima mal nata…”) e que serviria como “epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr alguma”, Aires diz primeiro o seguinte: “[...] há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trebelhos” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 1.094).

Apesar de obscuro, o raciocínio não deixa dúvidas quanto a pelo menos um aspecto: Aires é o enxadrista nesse jogo - mas qual jogo? -, e seus personagens, a que ele se refere como pessoas, são seus “trebelhos” (palavra raríssima mesmo entre enxadristas, e que necessita, portanto, de uma chave, mas trebelhos significa simplesmente peças de xadrez ou brinquedos). O raciocínio de Aires altera não exatamente as regras do jogo de xadrez na obra machadiana, e sim sua complexidade e alcance: o enxadrista não é mais apenas o personagem (como Eduardo, Valentim ou o Luís Garcia de Iaiá), mas o próprio autor do relato - ou seja, Aires é personagem, narrador, autor e enxadrista. Daí se entender a terceira parte do enigma de Aires, ainda no mesmo capítulo, na qual o conselheiro se refere não mais a seus personagens como peças de xadrez, mas ao próprio leitor, por meio de uma grave mudança na locução da terceira pessoa para a segunda. “Se aceitas a comparação - diz Aires - distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras podem ganhar a partida, e assim vai o mundo”. Ora, parece se tratar sobretudo de um desafio que Aires lança ao leitor (“se aceitas”, ele diz), mas também um aviso, afinal as epígrafes servem para isso, e é o próprio narrador quem explica sua função: as epígrafes são como “um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 1094). Em suma, a epígrafe do romance (como as lunetas, que dão ao leitor visão de águia) seria uma pista para a interpretação do enigma.

E o mais enigmático vem no final do capítulo, quando o narrador conclui seu raciocínio especulando que talvez conviesse “pôr aqui, de quando em quando, como nas publicações do jogo, um diagrama das posições belas ou difíceis”. A despeito de a expressão “pôr aqui” ser outra espécie de enigma - uma alusão ao próprio “caderno” do autor, que, como é dito na Advertência de Esaú e Jacó, possui uma “designação especial [que] não se compreendeu então nem depois” - agora Aires sugere uma comparação entre sua própria escrita e o enigma enxadrístico. Finalmente, o narrador faz um segundo desafio ao leitor - para que este resolva o enigma sem precisar recorrer ao tabuleiro, usando apenas a memória -, e então exclama: “Fora com diagramas! Tudo irá como se realmente visses jogar a partida entre pessoa e pessoa, ou, mais claramente, entre Deus e o Diabo” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 1094). Nesse caso - eis tudo -, não apenas o autor seria o enxadrista, mas também o leitor. Do mesmo modo que os personagens Esaú e Jacó (Deus e Diabo, branco e negro) duelam pelo amor de Flora, e daí se entende toda a composição duplicada do romance, autor e leitor também jogarão seu jogo. Em suma, a literatura passaria a ser, nesse caso, um enigma (de xadrez).6 6 Para avaliar as inúmeras consequências da nova relação que os narradores machadianos estabelecem com seus leitores, ver o livro de Hélio de Seixas Guimarães, Os leitores de Machado de Assis, em especial o capítulo dedicado ao romance em questão, “Esaú e Jacó e o leitor como duplo”.

É a única referência ao jogo de xadrez nesse livro, mas não a única desse personagem que, poucos anos depois, com a publicação do Memorial de Aires, no fragmento do dia 3 de outubro - que inicia fazendo referência a “um duelo entre mim e a velhice” -, confirmaria que era também ele enxadrista, ao registrar em seu diário uma nota quase sem propósito, chave derradeira do problema, que ainda sugere o xadrez como um jogo superior às cartas: “Fico em casa. Se aparecer algum enxadrista, jogarei xadrez; se apenas jogar cartas, cartas. Se não vier ninguém, atiro-me a compor um poema de cabeça” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 1.288-1.289).

4. Memorial

Se o pressuposto do cálculo, do duelo e do enigma se mantêm na ficção madura de Machado, o autor vai deslocar seus termos e multiplicar seus efeitos, como grande mestre da ficção. Ora, os termos são deslocados porque o xadrez chega a ser jogado não mais apenas entre os personagens da trama, mas entre autor e leitor, em planos cruzados e simultâneos; e os efeitos são multiplicados à medida que o autor passa a omitir ou encobrir com habilidade cada vez maior suas táticas e estratégias - ou seja, Machado escamoteia o sentido, a resolução, a chave, o happy-end -, fazendo do leitor então o outro jogador em potencial, certamente um adversário, com suas apostas interpretativas, cálculos próprios, tomadas de decisões, planos de leitura, suas vitórias e derrotas, empates, enfim.

Como composição enigmática, o caso de Dom Casmurro talvez seja o mais emblemático. Como se sabe, o romance foi lido e naturalizado ao longo de décadas a partir da temática do adultério, que depois se mostrou apenas uma das variantes possíveis de interpretação. Nota-se que, nesse caso, como também nas Memórias póstumas de Brás Cubas, ou mesmo em contos como “O espelho” e “Missa do galo”, não faz mais diferença se o xadrez é mencionado ou não ao longo da trama, pois os princípios do cálculo e do enigma (assim como a experiência do duelo) estão mais além do tema, isto é, se fizeram forma literária. A conhecida dúvida de Capistrano de Abreu a respeito das Memórias, que Machado comenta a partir de um novo prólogo que escreve para a quarta edição do romance, é uma dúvida interpretativa diante do enigma não resolvido: “As Memórias póstumas de Brás Cubas são um romance?”. No mesmo prólogo, de maneira astuta e irônica, Machado concede pela segunda vez a palavra a seu narrador, que também não responde: “[…] respondia já o defunto Brás Cubas (como o leitor viu e verá no prólogo dele que vai adiante) que sim e que não, que era romance para uns e não o era para outros” (ASSIS, 2008ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1. , p. 625).

Herculano Gomes Mathias sugere que, após o torneio de 1880, o entusiasmo de Machado pelo xadrez teria começado a declinar. E se serve de dois argumentos para tal sugestão: nos torneios efetuados pelo Clube Beethoven, a partir de 1883, não há referências à sua participação; e as referências ao jogo, colhidas em suas obras, vão rareando desse ano em diante. Ora, ao tratar das alusões ao xadrez na obra romanesca do autor, escapam a Gomes Mathias as duas mais importantes menções que Machado faz ao jogo por meio do Conselheiro Aires, tanto em seu Memorial quanto no Esaú e Jacó, como se apenas o romance Iaiá Garcia tratasse do tema.

E nos jornais dos anos 1883 e 1884 foi possível encontrar três notas que passaram batidas por Herculano, assim como pelos biógrafos e pela crítica posterior que chegou a tratar da questão do xadrez na obra machadiana. Machado, que era sócio e bibliotecário do Clube Beethoven, atuou nos torneios dessa época não como competidor, e sim, surpreendentemente, como juiz. Na Gazeta de Notícias de 16 de janeiro de 1883, em nota sobre o início do torneio, o jornal informa os participantes e depois o “júri”, que “compõe-se dos srs.: dr. Machado de Assis, comendador Arthur Napoleão dos Santos, e dr. Joaquim Gonçalves de Araújo” (GAZETA..., 1883GAZETA DE NOTÍCIAS. Rio de janeiro, ano IX, n. 16, 16 jan. 1883. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/103730/per103730_1883_00016.pdf >. Acesso em: 10 fev. 2021.
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, p. 2). E no minúsculo jornal A Folha Nova, na edição de 2 de março do mesmo ano, em crônica sobre as partidas simultâneas de Caldas Vianna (nas quais jogou com dois adversários ao mesmo tempo, e de costas para o tabuleiro) que foram uma espécie de evento comemorativo de seu título, o jornalista descreve:

Colocadas as mesas na própria sala dos concertos e armados sobre elas os jogos de xadrez, os parceiros tomaram os seus lugares. Uma grande ansiedade transparecia em todos os rostos. O sr. Machado de Assis, de lápis em punho, sentado em frente às tiras de papel de marcação, vis-à-vis aos dois adversários do sr. Caldas Vianna, recomendava silêncio. (A FOLHA..., 1883A FOLHA NOVA. Rio de Janeiro, ano II, n. 99,2 mar. 1883. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=363723&pagfis=384 >. Acesso em: 10 fev. 2021.
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, s./p.)

E pelo jeito Machado possuía autoridade, sem falar no título que recebe de doutor, pois “houve então uma pequena pausa, em que não se ouvia sequer o palpitar de um leque” (A FOLHA..., 1883A FOLHA NOVA. Rio de Janeiro, ano II, n. 99,2 mar. 1883. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=363723&pagfis=384 >. Acesso em: 10 fev. 2021.
http://memoria.bn.br/docreader/DocReader...
, s./p.). Em ano posterior, ao informar o resultado do segundo torneio promovido pelo mesmo clube, há outra menção à nova função enxadrística de Machado, na mesma A Folha Nova de 4 de março: “No Clube Beethoven terminou ontem o 2o torneio de xadrez, sendo este o resultado: / dr. João Caldas Vianna ganhou 17 1/2 pontos, 1o prêmio; Arthur Napoleão ganhou 14 pontos, 2o prêmio [...] / Foram juízes os srs. Machado de Assis, E. Eichbaum e Carlos Graça” (A FOLHA..., 1884______. Rio de Janeiro, ano II, n. 101, 4 mar. 1884. Disponível em: <http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=363723&pagfis=392>. Acesso em: 10 fev. 2021.
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, s./p.). Não deixa de ser revelador que Machado seja mais lembrado, no mundo do xadrez, como enxadrista e também por conta da composição do seu enigma, mas não como juiz. Pois foi com o olho atento no tabuleiro, mas com o lápis em punho, sentado em frente ao papel e pedindo silêncio aos espectadores, que Machado fez seus grandes lances e jogou sua imortal.

Referências

  • A FOLHA NOVA. Rio de Janeiro, ano II, n. 99,2 mar. 1883. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=363723&pagfis=384 >. Acesso em: 10 fev. 2021.
    » http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=363723&pagfis=384
  • ______. Rio de Janeiro, ano II, n. 101, 4 mar. 1884. Disponível em: <http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=363723&pagfis=392>. Acesso em: 10 fev. 2021.
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  • ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1.
  • ______. Obra completa em quatro volumes Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 2.
  • ______. “Memorias Posthumas de Braz Cubas”. In: ______. Revista Brasileira Rio de Janeiro, ano I, tomo III, jan./mar. 1880. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/139955/2955>. Acesso em: 10 fev. 2021.
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  • ______. Correspondência de Machado de Assis: tomo II 1870-1889. Coordenação e orientação de Sergio Paulo Rouanet. Reunião, organização e comentários de Irene Moutinho e Sílvia Eleutério. Rio de Janeiro: ABL; Fundação Biblioteca Nacional, 2009. Coleção Afrânio Peixoto.
  • ______. Badaladas Dr. Semana Pesquisa, organização, apresentação e notas de Sílvia Maria Azevedo. São Paulo: Nanquin Editorial, 2019. v. 1.
  • GAZETA DE NOTÍCIAS. Rio de janeiro, ano IX, n. 16, 16 jan. 1883. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/103730/per103730_1883_00016.pdf >. Acesso em: 10 fev. 2021.
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  • GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editorial; EdUSP, 2004.
  • ILUSTRAÇÃO BRASILEIRA. Rio de Janeiro, ano I, n. 24, 15 jun. 1877. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/758370/375 >. Acesso em: 10 fev. 2021.
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  • MADEIRA, Wagner Martins. Machado de Assis: homem lúdico - uma leitura de Esaú e Jacó São Paulo: Annablume; Fapesp, 2001.
  • MATIAS, Herculano Gomes. “Machado de Assis e o jogo de xadrez”. In: ______. Anais do Museu Histórico Nacional, 1952, v. XIII.
  • REVISTA MUSICAL E DE BELAS ARTES. Rio de Janeiro, ano II, n. 2, 17 jan. 1880, p. 15. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/146633/per146633_1880_00002.pdf >. Acesso em: 10 fev. 2021.
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  • ______. Rio de Janeiro, ano II, n. 10, 8 mai. 1880, p. 79. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/146633/495>. Acesso em: 10 fev. 2021.
    » http://memoria.bn.br/DocReader/146633/495
  • 1
    Este e os demais comentários sobre o torneio podem ser vistos a partir do segundo número de 1880 da Revista Musical e de Belas ArtesREVISTA MUSICAL E DE BELAS ARTES. Rio de Janeiro, ano II, n. 2, 17 jan. 1880, p. 15. Disponível em: <Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/146633/per146633_1880_00002.pdf >. Acesso em: 10 fev. 2021.
    http://memoria.bn.br/pdf/146633/per14663...
    , que tinha periodicidade quinzenal. O número saiu no dia 17 de janeiro.
  • 2
    Herculano Gomes Mathias, que foi chefe da Divisão de Documentação e Divulgação do Museu, tem vasta produção histórico-literária e era um forte e apaixonado enxadrista, tendo sido presidente da Federação de Xadrez do Rio de Janeiro.
  • 3
    A edição em folhetim foi publicada no jornal O Cruzeiro ao longo dos primeiros meses de 1878, e este capítulo na edição de 30 de janeiro de 1878, na seção “Folhetim do Cruzeiro”.
  • 4
    Em Machado de Assis: homem lúdicoMADEIRA, Wagner Martins. Machado de Assis: homem lúdico - uma leitura de Esaú e Jacó. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2001., Wagner Martins Madeira chegou a explorar a categoria do “enigma” para analisar, sobretudo, o romance Esaú e Jacó, sobre o qual comentaremos mais adiante.
  • 5
    Tal bilhete não tem indicação de ano, mas está redigido em papel com as iniciais de Arthur Napoleão e Lívia Santos, sua primeira esposa, do qual se conclui que, possivelmente, foi impresso por ocasião da primeira viagem do casal à Europa, entre 1873 e 1876. Para mais detalhes, consultar Correspondência de Machado de Assis, organizada por Irene Moutinho e Sílvia Eleutério (ASSIS, 2009).
  • 6
    Para avaliar as inúmeras consequências da nova relação que os narradores machadianos estabelecem com seus leitores, ver o livro de Hélio de Seixas Guimarães, Os leitores de Machado de AssisGUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editorial; EdUSP, 2004., em especial o capítulo dedicado ao romance em questão, “Esaú e Jacó e o leitor como duplo”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Out 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    23 Nov 2020
  • Aceito
    15 Mar 2021
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