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Resenha de Torrano, J. Mito e imagens míticas. Hesíodo, homéricos, tragédia e Platão (2019)

Review of Torrano, J. Mito e imagens míticas. Hesíodo, homéricos, tragédia e Platão (2019)

Torrano, Jaa. . (. 2019. ). Mito e imagens míticas. Hesíodo, homéricos, tragédia e Platão. .São Paulo: ,Córrego, .

O livro Mito e imagens míticas. Hesíodo, homéricos, tragédia e Platão é o lugar em que encontramos reflexões sobre momentos e aspectos, transformações e permanências, categorias do pensamento mítico analisadas com rigor por Jaa Torrano TORRANO, J. (2019) Mito e imagens míticas. Hesíodo, homéricos, tragédia e Platão. São Paulo, Córrego.. Professor Titular de Língua e Literatura Grega no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP. No prólogo de seu livro, Jaa Torrano esclarece que sua obra reúne dez ensaios que estudam o pensamento mítico em Hesíodo, nos hinos homéricos, nas tragédias e nos diálogos platônicos. Trata-se de dez ensaios recentemente publicados em revistas científicas especializadas e capítulos de livro, entre 2012 e 2018.

No primeiro ensaio Mito e Imagens Míticas, o autor discorre sobre a concretude das palavras usadas por Homero e Hesíodo, que também são imagem e sensibilidade, e explica que “noção mítica de Théos, “Deus(es)”, nomeia os diversos aspectos fundamentais do mundo e delineia-os mediante imagens tradicionais que assim adquirem um dinamismo próprio pelo qual essas imagens se tornam capazes de dizer mais do que nelas se deixa ver e perceber.” (p. 10-11). A Noção Mítica de Kháos na Teogonia de Hesíodo é título segundo ensaio no qual Torrano retoma a noção mítica de Caos de Jean Pierre Vernant e a compara com a de Hesíodo na Teogonia. O autor nos informa que há quatro ocorrências do nome Kháos na Teogonia e que cada uma delas apresenta um significado diferente (p. 25).

A tradução do hino homérico dedicado ao deus Dioniso é o objeto de estudo o autor no terceiro ensaio deste livro, intitulado Hinos Homéricos a Dioniso. Estudo e Tradução. Como o título acusa, o ensaio é um estudo da tradução do Hino Homérico a Dioniso, realizada porJaa Torrano , em que conclui há “preceitos e exigências” nessa narrativa que é “estar alerta e pronto a identificar, nas mais diversas aparências, os indícios e os desígnios da presença divina, de modo a agir em consonância com esses variáveis sinais, e assim ser feliz com o favor divino” (p. 37). O pensamento mítico como produção coletiva é a temática do quarto ensaio O Mito de Dioniso. Por meio da análise desse mito, o autor aponta cinco elementos que caracterizam o pensamento mítico: “1) oralidade; 2) concretude; 3) a importância dos nomes divinos e das palavras em geral; 4) o repertório de sinais divinos; e 5) o nexo necessário entre verdade, conhecimento e existência (p. 42).

No seu quinto ensaio, intitulado A Educação Trágica, Torrano faz uma apresentação do contexto histórico-social ateniense para nos situar no momento em que a tragédia se configura em mais uma das manifestações culturais de um pensamento mítico, que outrora ocupou espaço na poesia épica. Em seguida, analisa vários episódios do drama esquiliano para concluir que: “a tragédia não oferece modelos de conduta, mas mostra conflitos, contradições, erros de avaliação e obstinações fatídicas, que estimulam a reflexão e põem os paradigmas tradicionais.” (p. 91). Na esteira do ensaio anterior, o autor dá sequência a sua análise do pensamento mítico na escrita trágica no sexto ensaio A tragédia como forma de pensar. No seu entendimento, Torrano afirma que “a tragédia é, na verdade, uma expressão da cidade de Atenas e da democracia como regime político que a cidade de Atenas inventou e desenvolveu e no qual chegou ao seu esplendor político e intelectual.” (p. 95).

O sétimo ensaio Ode ao Homem: Sófocles - Antígona, Primeiro Estásimo (332-375) é onde Torrano se debruça sobre o referido estásimo e nos oferece uma tradução singular, antecedida por um resumo dos significados e sentidos míticos contidos no estásimo de Sófocles. Nas palavras do autor: “o segundo anto coral da tragédia de Sófocles Antígona, que se diz “primeiro estásimo” na terminologia de Aristóteles (Poética, 1452b17), é comumente citado como “Ode ao Homem”, por seu notável sentido filosófico e por seu valor documental da história das ideias antropológicas da Grécia no século V a.C.” (p. 107). Em A noção mítica de justiça em Eurípides e Platão, o autor nos convida a pensar quatro traços basilares dos poemas hesiódicos e trágicos, que Torrano assim os enumera: “1) o pensamento mítico opera unicamente com imagens e dispõe de um repertório tradicional de imagens e noções [...] 2) o pensamento mítico instaura a ambiguidade e distinção entre os diversos graus de participação no ser, na verdade e no conhecimento; [...] 3) o pensamento mítico estabelece o nexo necessário entre ser, verdade e conhecimento [...] 4) o pensamento mítico se torna acessível ao discurso filosófico porquanto a noção mítica de Théos/Theoí, “Deus(es) [...] abre a possibilidade do trânsito entre o pensamento mítico e o discurso filosófico.” (p. 111).

E o autor continua a discorrer sobre os elementos constitutivos do pensamento mítico em A Retórica entre o Mito e a Filosofia: A Associação das Noções de Justiça, Belo e Bem em Hesíodo e em Platão. Neste ensaio, Torrano elenca quatro elementos comuns a Hesíodo e Platão: “1) a distinção entre as diversas modalidades e graus de verdade; 2) a noção de que a modalidade e o grau de verdade dependem de quem enuncia [...] 3) a abordagem do assunto não é de uma só vez em caráter definitivo, mas em diversas vezes sob outros pontos de vista diversos; e 4) a associação das noções de justiça, de belo e de bem.” (p. 123). E A última defesa de Sócrates - o corpo como metonímia do sensível é o título do último ensaio deste livro, no qual Torrano analisa os diálogos platônicos Apologia, Górgias, Críton e Fédon e deduz que “o equívoco - como parte integrante do pensamento mítico - tem um lugar de honra e imprescindível função também na fundação do pensamento filosófico” (p. 152).

O professor Jaa Torrano desenvolve trabalhos acerca do pensamento mítico desde os verdes anos de sua formação, tornando-se assim um grande pensador do tema. O seu primeiro livro O Sentido de Zeus. O Mito do Mundo e o Modo Mítico de Ser no Mundo, São Paulo, Roswitha Kempf, 1988, que foi reimpresso pela Iluminuras em 1996, representa a obra basilar para estudos subsequentes sobre o pensamento mítico. Torrano analisou o pensamento mítico dos gregos em suas traduções de Hesíodo, Ésquilo, Sófocles e Eurípides, e diversos artigos e livros escritos ao longo de sua trajetória acadêmica. Trabalhos nos quais o autor pensa o modo grego de interpretar o mundo por meio do pensamento mítico, que também dialoga e se manifesta na realidade, no mundo tangível. Essas e outras reflexões suscitadas em Mito e imagens míticas. Hesíodo, homéricos, tragédia e Platão fundamentam e motivam sua leitura.

Bibliografia

  • TORRANO, J. (2019) Mito e imagens míticas. Hesíodo, homéricos, tragédia e Platão São Paulo, Córrego.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    18 Jan 2021
  • Aceito
    18 Fev 2021
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