Acessibilidade / Reportar erro

O ensino do “perfecto compuesto” em E/LE a partir de notícias

The Teaching of the ‘pretérito perfecto compuesto’ in S/FL from News

RESUMO

Sabendo que o pretérito perfecto compuesto em espanhol expressa anterioridade da situação denotada em relação a um ponto de referência situado no presente (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.), pautamos o nosso trabalho na descrição e análise desta categoria a partir de notícias escritas em espanhol e veiculadas de forma online por um jornal hispânico, tendo em vista a sua contribuição para o ensino de Espanhol como Língua Estrangeira (E/LE). Dada a relação entre o uso deste tempo verbal em espanhol e a construção textual-discursiva da notícia, buscamos refletir sobre as contribuições que a vertente funcionalista pode aportar ao ensino-aprendizagem de línguas (maternas e/ou estrangeiras), sem desconsiderar o que apregoa a gramática normativa da língua espanhola em relação ao emprego do pretérito perfecto compuesto.

PALAVRAS-CHAVE:
pretérito perfecto compuesto; notícia; ensino de E/LE

ABSTRACT

Knowing that the pretérito perfecto compuesto in Spanish expresses the priority of the situation shown concerning a reference point located in the present (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.), we set out our work in the description and analysis of this category from news written in Spanish and transmitted online by a Hispanic newspaper, because of their contribution to the teaching of Spanish as a Foreign Language (S/FL). Given the relationship between the use of this verbal time in Spanish and the textual-discursive construction of the news, we sought to reflect on the contributions that the functionalist aspect can contribute to the teaching-learning of languages (maternal and/or foreign), without disregarding what it claims the normative grammar of the Spanish language concerning the use of thepretérito perfecto compuesto.

KEYWORDS:
pretérito perfecto compuesto; news; S/FL teaching

1. Introdução

Este trabalho tem por objetivo fazer uma reflexão sobre o uso do Pretérito Perfecto Compuesto (doravante PPC) em língua espanhola a partir do gênero jornalístico notícia de modo a auxiliar professores de Espanhol como Língua Estrangeira (doravante E/LE) no processo de ensino-aprendizagem deste tempo verbal, no intuito de possibilitar que os alunos consigam compreender e veicular a dinamicidade dessa forma em uso a partir de um contexto real de produção. Desse modo, poderíamos ultrapassar um ensino baseado apenas na estrutura e na decodificação de regras gramaticais, para pautar-se nas funções discursivas que o PPC desempenha em um dado contexto comunicativo.

Acreditamos que o ensino de uma língua estrangeira, particularmente, o de espanhol, não deveria basear-se apenas sob um viés estrutural, mas que os professores deveriam atrelar o ensino ao uso efetivo desta língua, particularmente em determinados contextos comunicativos sejam estes orais ou escritos, pois, de acordo com a perspectiva funcionalista, a língua deve ser vista como um instrumento de interação social (DIK, 1997), condicionada por regras linguísticas e sociais. Nesse sentido, buscamos realizar, nesta pesquisa, uma abordagem funcional do PPC a partir de notícias de jornal veiculadas por um jornal hispânico, cuja variedade do espanhol é a peninsular. O foco nesta variedade linguística está relacionado ao fato de que ela ainda é predominante na elaboração dos materiais didático-pedagógicos de espanhol, apesar do reconhecimento que é dado, hodiernamente, às variedades de espanhol falado na América Latina (mexicano-centro-americana, caribenha, andina, rio-platense, chilena etc.), de acordo com Irala (2004IRALA, V. B. A opção da variedade de Espanhol por professores em serviço e pré-serviço. Revista Linguagem e Ensino, Pelotas, v. 7, n. 2, 2004, p. 99-120. Disponível em: Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/LinguaEspanhola/artigos/art_valesca.pdf . Acesso em: 18 set. 2020.
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/...
). Segundo Oliveira (2014OLIVEIRA, L. C. de. O multifuncional pretérito perfeito composto espanhol em materiais didáticos. Calidoscópio, São Leopoldo, RS, v. 12, n. 1, p. 83-93. DOI: https://doi.org/10.4013/cld.2014.121.09. Disponível em: Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/view/cld.2014.121.09/4076 . Acesso em: 29 set. 2020.
http://revistas.unisinos.br/index.php/ca...
, p. 92), os materiais didáticos apresentam certa simplificação sobre o uso do PPC, colocando em evidência uma unidade de espanhol castelhano, “mas que não representa o conjunto de variedades desse idioma.” (p. 92). Desse modo, é necessário refletir ainda sobre a multifuncionalidade do PPC (Continuidade, Relevância Presente e Perfectivo) nas demais variedades do espanhol.

No que tange ao PPC, constatamos que, segundo a Real Academia Española - RAE (2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.), ele refere-se à anterioridade de uma dada situação evocada em relação a um ponto de referência que está localizado no momento da enunciação, caracterizando-o como um tempo relativo. Dessa forma, acreditamos que o emprego deste tempo verbal é recorrente em notícias de jornal (sejam essas notícias veiculadas em versão impressa ou online), haja vista que, segundo Nascimento (2017NASCIMENTO, T. C. Uma prática de leitura e escrita: o gênero notícia na sala de aula do ensino médio. 2017. 75f. Monografia (Licenciatura Plena em Letras) - Departamento de Letras, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017. ), os fatos são relatados a partir do momento em que são veiculados pelo grupo jornalístico, na intenção de transparecer a atualidade e a precisão do que é reportado por meio da notícia.

Em relação à organização retórico-discursiva deste trabalho, faremos, primeiramente, algumas considerações acerca da perspectiva funcionalista no diz respeito ao conceito de língua como um instrumento de comunicação social e ao ensino de línguas. Em seguida, abordaremos o PPC com base no que apregoa a gramática normativa, especificamente a RAE (2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.), para, posteriormente, apresentarmos a metodologia que será empregada para esta pesquisa. Na continuação, passaremos para a descrição e para a análise deste tempo verbal em notícias de um jornal (em espanhol, diario/periódico) hispânico de divulgação online. Por fim, exporemos as nossas considerações finais acerca do que foi descrito e analisado sobre o tempo verbal estudado nesta pesquisa.

2. A perspectiva teórico-metodológica funcionalista: considerações sobre o conceito de língua e de ensino-aprendizagem de línguas

No que se refere ao ensino-aprendizagem de uma língua materna ou estrangeira, tem-se a crença de que é necessário, única e exclusivamente, para alguns professores e alunos, que a abordagem da língua materna ou estrangeira seja feita por meio de um sistemático ensino da gramática normativa, valendo-se apenas de regras gramaticais, em que as frases são vistas isoladamente, ou seja, fora de seus contextos de uso.

Segundo Bandoli, Detegne e Luquetti (2014BANDOLI, G. M. D.; DETOGNE, K. P.; LUQUETTI, E. C. F. Funcionalismo e ensino de língua: por uma educação linguística. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 11., 2014, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: EDUFU, 2014. p. 1-10. ), nesses casos de ensino normativo e estrutural da língua materna ou estrangeira, o processo de ensino-aprendizado não favorece aos principais objetivos dos estudos de uma língua, que consiste, por exemplo, em habilitar o aprendiz à produção e à interpretação de textos, sejam eles orais ou escritos, concretizados em gêneros discursivos (para este trabalho, o gênero notícia) ou em abordar situações reais de comunicação em que as expressões linguísticas sejam realizadas, tanto nos contextos de formalidade quanto de informalidade. Ainda segundo as autoras, é necessário que se proponha aos professores (tanto de língua materna quanto de língua estrangeira) um encaminhamento mais produtivo sobre os estudos da língua, o que pode ser encontrado nos postulados da Linguística Funcional, em que há uma forte vinculação entre o discurso e a gramática. Segundo as autoras, em uma perspectiva funcionalista, as estratégias que regulam as informações operadas pelo falante por meio da expressão linguística regularizam-se no momento da interação linguística, sendo a gramática uma consequência desse processo.

Nesse sentido, o processo de ensino-aprendizagem, segundo Bandoli, Detegne e Luquetti (2014BANDOLI, G. M. D.; DETOGNE, K. P.; LUQUETTI, E. C. F. Funcionalismo e ensino de língua: por uma educação linguística. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 11., 2014, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: EDUFU, 2014. p. 1-10. ), deve pressupor atividades que sejam capazes de formar usuários competentes da língua, em que essa competência baseia-se na capacidade de produção de textos orais ou escritos e/ou no entendimento das expressões linguísticas nos mais variados contextos de uso, sejam eles formais ou informais, considerando que tal capacidade pode ser desenvolvida por meio dos mais variados textos materializados em diversos tipos de gêneros, tais como fábula, crônica, poesia, poema, editorial, artigo de opinião, coluna, notícia (foco deste trabalho) etc. Desse modo, é preciso que os professores entendam a importância de se articular um processo de ensino-aprendizagem em que se aprimorem as habilidades (escrita, oral, leitura e compreensão) e as competências comunicativas dos usuários ao entender que a língua está na base da comunicação dos indivíduos.

Ao considerar a língua como um instrumento de interação social e base da comunicação entre os indivíduos, a perspectiva funcionalista de linguagem, de acordo com Duarte (2015DUARTE, M. C. Uma proposta de sequência didática funcionalista. 2015. 200f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015. ), configura-se na análise da língua em uso, imbricada em seu contexto real, dinâmico e funcional, considerando a seleção e a organização dos elementos lexicais. Ainda segundo o autor, a perspectiva funcionalista centra seu estudo da língua nas mais variadas situações de interação social, enfatizando o contexto social do ato comunicativo na compreensão da natureza das línguas. Por isso, conforme o autor, a gramática tem um papel relevante e significativo na organização interna das línguas (orações, expressões etc.), como configurações orgânicas de funções, possibilitando que os teóricos funcionalistas integrem à análise linguística a pragmática, a semântica e a sintaxe, em que cada parte deve ser interpretada como funcional em relação ao todo.

Para Duarte (2015DUARTE, M. C. Uma proposta de sequência didática funcionalista. 2015. 200f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015. ), o aparato teórico funcionalista fundamenta um ensino de língua, seja materna ou estrangeira, a partir de uma perspectiva interacionista, primando pelo seu caráter dialógico. Nesse sentido, seus princípios acerca do funcionamento da linguagem podem ser aplicados, de maneira eficaz, como suporte para as metodologias de ensino, haja vista que o aparato teórico funcionalista perpassa a descrição e análise da estrutura apenas pela estrutura, destacando-se no que se refere ao engendramento da forma pela função. Segundo o autor, a riqueza epistemológica que caracteriza a perspectiva funcionalista revela-se na aplicabilidade à análise dos diferentes fenômenos linguísticos, desde a constituição do léxico e da gramática, passando pelas questões relativas ao uso e ao ensino de línguas em distintas modalidades, e pelos aspectos sócio-históricos envolvidos nas escolhas discursivas.

Dessa forma, concluímos que a perspectiva funcionalista responde ao que é solicitado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no que concerne ao ensino de língua, haja vista que essa perspectiva se preocupa, primordialmente, pela eficácia comunicativa e pelo uso interativo das línguas (o que pode ser aplicado nas atividades propostas em sala de aula). Assim sendo, conforme a BNCC:

As linguagens, antes articuladas, passam a ter status próprios de objetos de conhecimento escolar. O importante, assim, é que os estudantes se apropriem das especificidades de cada linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas estão inseridas. Mais do que isso, é relevante que compreendam que as linguagens são dinâmicas, e que todos participam desse processo de constante transformação. (BRASIL, 2017BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): Área das Linguagens. Brasília: MEC/SEF, 2017, 600 p., p. 61).

No entanto, ainda que a BNCC atribua uma significativa importância às atividades que promovam uma reflexão sobre os usos efetivos da língua nos mais variados contextos, é perceptível, segundo Furtado da Cunha e Tavares (2016FURTADO DA CUNHA, M. A.; TAVARES, M. A. Linguística funcional e ensino de gramática. In: FURTADO DA CUNHA, M. A.; TAVARES, M. A. Funcionalismo e Ensino de Gramática. Natal: EDUFRN, 2016. p. 12-58.), que o ensino de uma língua, seja ela materna ou estrangeira, em algumas salas de aula, ainda se mantenha atrelado aos aspectos normativo e prescritivo, o que, de acordo com as autoras, aprofunda o fosso existente entre a língua escrita e a língua oral utilizada nas interações comunicativas. Conforme as autoras, algumas correntes da Linguística, na atualidade, voltam seus estudos para a análise dos fenômenos que emergem do uso da língua em contextos do dia-a-dia; entretanto, os resultados obtidos por meio dessas pesquisas raramente chegam ao professor da educação básica, o que dificulta o entendimento e a aplicação de um ensino de língua (materna ou estrangeira) que leve em conta o funcionamento da língua em situação de comunicação, o que leva a reproduzir algumas noções de gramática normativa (entendida, neste trabalho, como aquilo que normatiza e prescreve a gramática tradicional de uma língua).

Considerando o aparato teórico funcionalista, acreditamos que a relação entre funcionalismo e ensino, no que diz respeito à cooperação para a eficiência do ensino de língua, forneça os subsídios adequados e necessários para que possamos oferecer, neste trabalho, aos professores de E/LE, algumas reflexões acerca do PPC, já que este tempo verbal da língua espanhola não apresenta correspondente na língua portuguesa, como veremos na seção seguinte.

3. O pretérito perfecto compuesto na variedade do espanhol peninsular

Nessa seção, abordaremos acerca do PCC com base no que é definido pela Real Academia Espanhola - RAE (2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.) em sua Nueva Gramática de la Lengua Española, elaborada em conjunto com as demais Academias de Língua Espanhola dos países que apresentam o espanhol como língua oficial. Posteriormente, passaremos para alguns teóricos que se debruçaram sobre os usos do PPC na variedade do espanhol peninsular.

Segundo a RAE (2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.), o PPC, também chamado de antepresente, expressa a anterioridade da situação evocada em relação a um ponto de referência situado no presente (no momento da enunciação), caracterizando-o como um tempo relativo. Nesse sentido, o PPC é empregado para fazer referências a situações pretéritas que sejam pontuais (específicas de um tempo no passado) e durativas (que ainda guardam relação com o momento da enunciação). Em outras palavras, o PPC está relacionado a situações que estão situadas em um intervalo de tempo que se abre em um ponto não especificado do passado (pretérito) e que se estende até o momento da enunciação (presente), podendo ser marcado ou não por meio de marcadores temporais, tais como hoy, esta semana, ahora, en este momento, etc., como no exemplo: María no ha llegado (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 438); em que o uso do PPC indica que o evento segue em curso, ainda que não esteja ancorado por meio de um marcador temporal: a situação “a chegada de Maria” ainda segue “aberta”.

Em termos estruturais, o PPC se forma a partir do presente do indicativo do verbo auxiliar do espanhol, o haber (he, has, ha, hemos, habéis, han), mais o particípio do verbo principal, em que o seu uso, normalmente, está atrelado ao de marcadores temporais que delimitam o momento da enunciação, tais como: hoy, este día, esta semana, este mes, este año etc. O fato de o verbo auxiliar estar conjugado no presente do indicativo, de acordo com a RAE (2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.), seria um reflexo para a terminologia antepresente, considerando que essa relação, presente do indicativo para o verbo auxiliar, mostra certa compatibilidade com os casos de referência dêitica, como alguns demonstrativos (este) e adjetivos (presente e actual), como nos exemplos: En este año hemos avanzado mucho (não há a possibilidade de alternância com as formas ese ou aquel), En el presente curso han aprobado todo ou En la actual coyuntura, la empresa ha decidido vender (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 438).

Devido à correlação entre o passado (por meio do particípio passado) e o presente (verbo auxiliar), o PPC pode ser empregado em diferentes contextos na variedade do espanhol peninsular, dos quais destacamos o pretérito perfecto (de):

  • (i) interpretação prospectiva, que se refere a situações posteriores ao momento da enunciação, como no exemplo: Mañana a estas horas, ya han terminado ustedes (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 439).

  • (ii) pressuposição existencial, que faz referência à existência ou permanência de alguém ou algo, como nos exemplos: Luis ha estado en Lima e El museo ha sido muy visitado (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 439); em que implica que “Luis está vivo” e que “o museu segue ativo”. No entanto, a pressuposição existencial pode ser nula nos casos de oração atributiva, quando se descreve alguma propriedade do sujeito que se considera vigente na atualidade, por exemplo: Iglesias manifestó que Carlos Gardel ha sido el mejor intérprete de tangos (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 439).

  • (iii) experiência ou experiencial, que é empregado para expressar que um dado acontecimento ocorreu em um lugar em uma única ou mais vezes por um dado período de tempo, de duração variável, podendo ou não ser indicado ou ser expresso por meio de algum marcador temporal que indique a durabilidade do acontecimento, como últimamente, en estos tiempos, en estos días, etc., como no exemplo: He hablado con él tres veces en el último mes/en lo que va de semana/desde enero (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 439).

  • (iv) composto contínuo ou de aspecto contínuo, que diz respeito a uma situação passada que se prolonga até o momento presente e segue “aberta”, sendo, normalmente, expressa por meio de predicados télicos, por exemplo: Conozco todas sus tretas. Las han empleado durante un siglo contra nosotros (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 440). O perfeito contínuo também pode ser utilizado em predicados télicos de contextos negativos: Maite no ha llegado todavía (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 440). O emprego dos advérbios todavía e aún dão margem a uma interpretação de aspecto contínuo com predicados de negação: ¿Todavía no hemos empezado y ya aparecieron los enemigos? (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 440).

  • (v) resultativo, que possibilita a inferência da atualidade do estado-de-coisas resultante da noção denotada por meio da perfectividade do PPC, como nos exemplos: El jarrón se ha roto (implica que o vaso está quebrado) / Me han decepcionado ustedes (refere-se ao fato de estar decepcionado) /¿Viste que los precios han bajado? (no que se refere à baixa nos preços) (RAE, 2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010., p. 441). Tendo em vista que o pretérito perfeito resultativo refere-se a um processo cujo resultado pode ser constatado no momento da enunciação, também pode ser chamado de perfeito evidencial ou perfeito de fatos constatados.

Ainda que a gramática normativa tenha estabelecido alguns contextos próprios de uso do PPC em língua espanhola, especificamente em relação ao emprego desse tempo verbal na variedade peninsular do espanhol, é possível encontrar outras situações de uso em trabalhos posteriores a publicação da Nueva Gramática de la Lengua Espanhola pela RAE (2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.).

De acordo com Kempas e Samaniego (2011KEMPAS, I.; SAMANIEGO, A. L. Sobre la elección entre canté y he cantado en presencia de hace x horas en el español peninsular. Revista OnOmázein, Santiago de Chile, n. 24, 2011, p. 125-153. Disponível em: Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3816366 . Acesso em: 19 set. 2020.
https://dialnet.unirioja.es/servlet/arti...
), na variedade do espanhol peninsular, o PPC passa a ocupar alguns contextos de usos entendidos como hodiernos, especificamente em relação aos casos de aoristo (também denominado de perfectivo ou forma aoristizada), cuja perfectividade está focalizada na relevância do evento anterior para o momento de referência, ou seja, o evento se realizou ou começou a se realizar antes do momento da enunciação, coincidindo na linha temporal com o momento de fala. Para exemplificar esta concepção de valor de aoristo, os autores citam os seguintes enunciados: (1) Siempre he querido hacerlo; e (2) He cambiado de coche (KEMPAS; SAMANIEGO, 2011KEMPAS, I.; SAMANIEGO, A. L. Sobre la elección entre canté y he cantado en presencia de hace x horas en el español peninsular. Revista OnOmázein, Santiago de Chile, n. 24, 2011, p. 125-153. Disponível em: Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3816366 . Acesso em: 19 set. 2020.
https://dialnet.unirioja.es/servlet/arti...
, p. 133). Conforme os autores, no primeiro exemplo, constatamos que o evento é anterior ao momento da enunciação e o evento em si é simultâneo com este (leitura continuativa). Por sua vez, no segundo exemplo, a realização do evento é anterior ao momento da enunciação e está centrada nos resultados desse evento, ou seja, o falante deseja expressar que na verdade possui um carro (Tengo un coche). Em outras palavras, o tempo que o falante pretende focalizar é anterior ao tempo da situação evocada (leitura resultativa).

De acordo com Kempas e Samaniego (2011KEMPAS, I.; SAMANIEGO, A. L. Sobre la elección entre canté y he cantado en presencia de hace x horas en el español peninsular. Revista OnOmázein, Santiago de Chile, n. 24, 2011, p. 125-153. Disponível em: Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3816366 . Acesso em: 19 set. 2020.
https://dialnet.unirioja.es/servlet/arti...
), a leitura de aoristo para o PPC é reforçada, na variedade peninsular do espanhol, pelo marcador temporal hace (tempo), como nos exemplos a seguir: Hace una hora, Juan ha vuelto / Hace dos horas, los abuelos han salido / Hace tres horas, me ha llamado (KEMPAS; SAMANIEGO, 2011KEMPAS, I.; SAMANIEGO, A. L. Sobre la elección entre canté y he cantado en presencia de hace x horas en el español peninsular. Revista OnOmázein, Santiago de Chile, n. 24, 2011, p. 125-153. Disponível em: Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3816366 . Acesso em: 19 set. 2020.
https://dialnet.unirioja.es/servlet/arti...
, p. 135). Segundo os autores, nesses exemplos anteriores, ainda que haja a anteposição de um complemento adverbial de tempo (hace una hora, hace dos horas e hace tres horas), o falante põe em destaque os limites estritos do evento, cuja delimitação temporal remete à leitura de aoristo.

De acordo com Torres (2013TORRES, S. A. Antepresente y pretérito en el español peninsular: revisión de la norma a partir de las evidencias empíricas. Anuario de Estudios Filológicos, Cáceres, Espanha, v. 36, 2013, p. 19-32. Disponível em: Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4759926 . Acesso em: 19 set. 2020.
https://dialnet.unirioja.es/servlet/arti...
), é plenamente possível que, na variedade peninsular do espanhol, em alguns contextos de uso, o PPC possa ser empregado com um valor prehodiernal, designadamente nos casos em que a referência temporal está desvinculada do momento da enunciação, como no exemplo: Ayer he visto a Juan (TORRES, 2013TORRES, S. A. Antepresente y pretérito en el español peninsular: revisión de la norma a partir de las evidencias empíricas. Anuario de Estudios Filológicos, Cáceres, Espanha, v. 36, 2013, p. 19-32. Disponível em: Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4759926 . Acesso em: 19 set. 2020.
https://dialnet.unirioja.es/servlet/arti...
, p. 25). O uso desse valor prehodiernal vai diminuindo a medida em que a origem do evento passado vai se afastando do momento presente. Conforme o autor, esse valor prehodiernal tem uma motivação temporal-afetiva, com base na percepção subjetiva do falante, em que este aprecia eventos passados como hodiernos a partir de sua experiência de vida, na medida em que considera esses eventos como próximos do presente, escolhendo, então, o PPC. Por sua vez, quando o falante já não percebe esses eventos como próximos de sua realidade presente, tende a empregar o pretérito perfecto simple (PPS).

Na variedade peninsular do espanhol, o PPC pode ainda ser empregado, conforme Azpiazu (2015AZPIAZU, S. Del perfecto al aoristo en el antepresente peninsular: un fenómeno discursivo. In: AZPIAZU, S. (org.). Formas simples y compuestas de pasado en el verbo español. Lugo: Axac, 2015. p. 17-33.), para a narração genérica de fatos, em que a forma verbal pretérita composta incide mais na interpretação perfectiva que na resultativa do evento. Em outras palavras, o falante destaca que o evento está finalizado, mas suas consequências perduram sobre o presente. Conforme o autor, isso não significa que a leitura resultativa desapareça, mas que dá lugar a uma interpretação meramente perfectiva dos eventos, especificamente em contextos em que são narrados diversos acontecimentos, como no exemplo citado pelo autor:

Entonces, nosotros no hemos notado especialmente la crisis, pero yo creo que el motivo fundamental ha sido porque hemos bajado los precios. Antes, ¿eh? Del tema de la guerra de precios de seguros de salud, no ha tenido absolutamente nada que ver con el tema de crisis, ha sido algo que, bueno, pues que… las compañías - supongo, ¿eh?, mi opinión es que las compañías ha llegado un momento que los grandes directivos han hecho sus grandes y mega- y megagigantes…gantes estudios y han visto que hay mucho futuro en el seguro de… en el ramo de seguros de salud y todas, ¿eh? se han lanzado allí. Todas, me refiero a las que ya estaban, más otras, ¿no? que han querido también, ¿no? sumarse al tema. Si a esto le añades que encima ha venido… en las últimas elecciones ha ganado el PP, que, en este sentido, lo único que añade es más confianza en que el seguro de salud vaya a más, ¿de acuerdo? Vaya o no vaya, pero… eso, pues, añade todavía, pues eso, más voluntad a que las compañías se lancen a este mundo (AZPIAZU, 2015AZPIAZU, S. Del perfecto al aoristo en el antepresente peninsular: un fenómeno discursivo. In: AZPIAZU, S. (org.). Formas simples y compuestas de pasado en el verbo español. Lugo: Axac, 2015. p. 17-33., p. 23).

Para o autor, este exemplo representa um caso típico de narração genérica dos fatos por meio do PPC, pois o falante discorre acerca de eventos sem localização temporal e com agentes no plural. Nesse sentido, os eventos não são apresentados como acontecimentos pontuais, mas como fatos pretéritos que ajudam a explicar a situação vivenciada no presente.

Conforme Araújo (2018ARAÚJO, L. S. O pretérito perfeito em espanhol: entre a expressão do antepresente e outros valores. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 60, n. 1, 2018, p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866 . Acesso em: 28 abr. 2018.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
), o PPC é empregado, na variedade peninsular do espanhol, designadamente em casos em que predomina o valor de antepresente, ou seja, situações que envolvem eventos passados e finalizados, mas que mantém relação com o momento da enunciação, em razão de o tempo, em que ação passada foi finalizada, ainda seguir em curso. Como forma de ilustração, o autor apresenta o seguinte exemplo: Ni hoy se ha precipitado irremediablemente en el infierno de una crisis (ARAÚJO, 2018ARAÚJO, L. S. O pretérito perfeito em espanhol: entre a expressão do antepresente e outros valores. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 60, n. 1, 2018, p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866 . Acesso em: 28 abr. 2018.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
, p. 48); em que a precipitação (ha precipitado) ocorre em um contexto temporal ainda existente (hoy) no ato da enunciação. No entanto, esta característica de antepresente pode apresentar nuances semânticas que variam conforme o contexto de uso do PCC, podendo ser subdividida em três: (i) o antepresente específico; (ii) o antepresente imediato; e (iii) o antepresente ampliado.

Nas palavras de Araújo (2018ARAÚJO, L. S. O pretérito perfeito em espanhol: entre a expressão do antepresente e outros valores. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 60, n. 1, 2018, p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866 . Acesso em: 28 abr. 2018.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
), o antepresente específico diz respeito à relação de anterioridade da situação descrita que se estabelece dentro da perspectiva referencial de presente, ou seja, o falante descreve um evento passado assistido a partir de uma referência concomitante ao momento de fala. Nesses casos, o falante insere a ação passada dentro de um âmbito referencial que persiste ao produzir o seu enunciado, como no exemplo: En esta mañana se han dicho dos cosas eh… yo creo que es interesante ¿no? (ARAÚJO, 2018ARAÚJO, L. S. O pretérito perfeito em espanhol: entre a expressão do antepresente e outros valores. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 60, n. 1, 2018, p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866 . Acesso em: 28 abr. 2018.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
, p. 53); em que o PPC é empregado para indicar que a ação se deu em um período de tempo no qual se encontra compreendido o momento presente do que se fala.

Por sua vez, o antepresente imediato está relacionado ao momento de referência que envolve tanto a situação descrita como o ato de enunciação, que passa a ser mais limitado, obrigando, por conseguinte, que dada situação esteja mais próxima ao momento de fala, como no exemplo: Algo que ha sorprendido en las últimas horas tiene que ver con el crecimiento de algunos proyectos que vienen desde China directamente (ARAÚJO, 2018ARAÚJO, L. S. O pretérito perfeito em espanhol: entre a expressão do antepresente e outros valores. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 60, n. 1, 2018, p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866 . Acesso em: 28 abr. 2018.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
, p. 56); em que a situação passada descrita terminou recentemente, o que é especificado pelo marcador temporal en las últimas horas.

Para o autor, a diferença existente entre o antepresente específico e o antepresente imediato reside, fundamentalmente, na extensão do âmbito primário de coexistência, ou seja, em relação ao momento de referência em que se deu o evento passado. Nesse sentido, o antepresente específico possui uma maior abrangência temporal que o antepresente imediato, haja vista que aquele envolve situações mais distantes do momento da enunciação, enquanto este está relacionado a situações mais próximas, apresentando, portanto, uma menor extensão referencial em relação ao evento passado.

Por seu turno, o antepresente ampliado se trata da indicação de uma situação passada que se manteve, pelo menos uma vez, durante algum tempo anterior ao momento de fala, abrangente e muito pouco especificado. Desse modo, podemos atribuir a esse tipo de antepresente certa indeterminação temporal, haja vista que não há a especificação, na linha do tempo, do momento em que a ação passada ocorreu, como no exemplo: Vamos a hablar ya mismo, precisamente, con Jorge Valentín que ha hecho esa y otras declaraciones para esta nota de la voz del interior (ARAÚJO, 2018ARAÚJO, L. S. O pretérito perfeito em espanhol: entre a expressão do antepresente e outros valores. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 60, n. 1, 2018, p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866 . Acesso em: 28 abr. 2018.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
, p. 57); em que, apesar de não especificar quantas vezes e por quanto tempo o entrevistado fez suas declarações, o exemplo deixa claro que o entrevistado esteve em contato com o jornal por mais de uma ocasião. Assim sendo, constatamos que há um evento passado que não é determinado em termos temporais, mas que está inserido no mesmo âmbito primário de referência presente, abrangendo, portanto, o momento da enunciação.

Considerando os casos em que o PPC pode ser empregado na língua espanhola, passemos agora para a abordagem da metodologia que será empregada, nesta pesquisa, na seção seguinte.

4. Metodologia

Nesta seção, descreveremos a metodologia adotada para esta pesquisa, que tem por finalidade descrever e analisar, qualitativamente, o uso do PPC em notícias online de um jornal (em espanhol, diário/periódico), no intuito de auxiliar os professores de E/LE no processo de ensino-aprendizagem de uso desse tempo verbal.

De acordo com Nascimento (2017NASCIMENTO, T. C. Uma prática de leitura e escrita: o gênero notícia na sala de aula do ensino médio. 2017. 75f. Monografia (Licenciatura Plena em Letras) - Departamento de Letras, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017. ), o fato de a notícia ser de caráter jornalístico, faz com que ela seja elaborada para que se transmitam os acontecimentos reais, diários e de certa importância para quem lê ou escuta, por isso, ela está presente no cotidiano das pessoas, sendo, portanto, fácil de encontrá-la, haja vista que ela aparece em diferentes tipos de suportes, tais como o jornal impresso ou online, o rádio, a televisão, as revistas, no Facebook etc, devido facilidade de veiculação das notícias no dia a dia das pessoas, parece-nos um excelente material para ser trabalhado nas aulas de línguas, especificamente, nas aulas de E/LE.

Conforme Marchesi (2018MARCHESI, C. La noticia periodística en el aula de ELE: una propuesta didáctica para mejorar la competencia discursiva. 2018. 97f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Espanhol e Catalão) - Programa de Pós-Graduação em Espanhol e Catalão como Segunda Língua, Universidade de Girona, Girona, 2018. ), o uso de notícias para uma proposta didática em aulas de língua estrangeira parece relevante a considerar que: (i) são uma importante ferramenta para trabalhar as habilidades essenciais para a aprendizagem de língua estrangeira, como a compreensão escrita e a leitora, haja vista que os aprendizes podem refletir acerca das questões relativas ao entendimento global daquilo que é veiculado e dos aspectos mais concretos referentes ao encadeamento discursivo; (ii) podem promover o debate do conteúdo abordado, o que permite o trabalho das competências orais; e (iii) tratam-se de uma boa ferramenta para a apresentação de conteúdos gramaticais, em especial, dos tempos pretéritos, a julgar pelo fato de ser uma forma verbal própria dos gêneros jornalísticos informativos que os utilizam para se referir a ações terminadas no passado.

Em termos estruturais, a notícia, segundo Nascimento (2017NASCIMENTO, T. C. Uma prática de leitura e escrita: o gênero notícia na sala de aula do ensino médio. 2017. 75f. Monografia (Licenciatura Plena em Letras) - Departamento de Letras, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017. ), divide-se na seleção dos eventos, na ordenação dos eventos e na nomeação. A seleção dos eventos consiste na escolha dos fatos mais importantes e interessantes, expondo-os ao público leitor de forma coesa e precisa. Por sua vez, a ordenação dos eventos refere-se ao grau de relevância dos acontecimentos, que vai do maior para o menor, na tentativa de nomear adequadamente as coisas, ao empregar, para isso, as palavras “certas” e que estejam de acordo com o contexto, atingindo, dessa forma, o objetivo do jornal com relação ao público leitor.

Por seu turno, a nomeação trata-se da forma como os fatos são referenciados na notícia, o que causará o “impacto” no público leitor, em que o redator deverá restringir-se ao estilo de comunicação formal, sem deixar, portanto, suas marcas pessoais (o que em certa medida constitui uma tentativa de dar um caráter “impessoal” e “imparcial” às notícias).

Dessa forma, a escolha das notícias que compuseram o corpus se deveu ao seu caráter de atualidade e de apresentar as informações hodiernas, o que poderia propiciar uma maior ocorrência de uso do PPC em virtude de seu aspecto de antepresente. Por isso, optamos por selecionar apenas aquelas notícias que contivessem casos de PPC que ilustrassem, de forma contextualizada, as funções de passado no tocante ao momento de fala e com base no que é prescrito pela RAE (2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.), a saber: (i) a interpretação prospectiva; (ii) a pressuposição existencial; (iii) a experiencial; (iv) o aspecto contínuo; e (v) o resultativo; para, posteriormente, fazermos uma apreciação dos marcadores temporais utilizados e do contexto de produção.

Reiteramos que o córpus foi elaborado em virtude de as notícias: (i) serem textos autênticos e terem sido produzidas por falantes nativos de língua espanhola, o que predispõe a língua em uso (princípio básico da vertente funcionalista); (ii) conterem uso de tempos passados, em especial, o PPC, foco desta pesquisa; e (iii) apresentarem casos que ilustrassem as funções de passado do PPC como apregoa a gramática normativa, designadamente, a gramática da Real Academia Española (RAE).

Acreditamos que o uso de notícias nas aulas de E/LE pode elucidar os contextos de uso e de produção do PPC, além de possibilitar o trabalho pedagógico dos professores em relação à: (i) abordagem do gênero notícia, bem como da sua estrutura, dos temas abordados e das condições de produção; (ii) análise linguística dos tempos passados, como o PPC, podendo também servir como exercícios para explanação do conteúdo ou como atividades de reflexão acerca dos usos do PPC; (iii) leitura das notícias no intuito de os alunos trabalharem as competências e habilidades necessárias em uma língua estrangeira (escrita, oral, leitora, etc.); e (iv) observação daquilo que está implícito na notícia e que tem relação com o uso do PPC.

Vejamos o Quadro 1 que traz as notícias selecionadas que compuseram o córpus.

QUADRO 1
As notícias selecionadas do jornal escrito em espanhol

Após apresentarmos os aspectos metodológicos desta pesquisa, passaremos à descrição e análise qualitativas dos usos do PPC no intuito de explorarmos as possibilidades de abordagem deste tempo verbal nas aulas de E/LE, bem como os seus contextos de uso e de produção.

5. Pretérito perfeito composto e ensino-aprendizagem de E/LE: reflexões a partir do gênero notícia

Trataremos de apresentar, nesta seção, uma análise qualitativa de alguns casos de emprego do PPC encontrado em um tipo de gênero jornalístico, a notícia, procurando auxiliar aos professores de E/LE na abordagem dessa categoria linguística e termos de sua manifestação em língua espanhola, em relação aos seus usos que são apresentados nas gramáticas normativas de língua espanhola e dos contextos de uso em que aparece. Para isso, selecionamos algumas notícias que foram retiradas do periódico online, em questão, o periódico El País, optando apenas pelos exemplos que poderiam servir para a reflexão sobre o uso do pretérito perfeito composto no ensino-aprendizagem de E/LE.

Em (1), vemos o emprego de dois casos de PPC em ha pedido e han pasado:

(1) La dirigente del PP ha pedido a los grupos políticos que sustentan al Consell -PSPV, Compromís y Podem- “coherencia, responsabilidad y sentido común porque se han pasado años dando lecciones de ética y de moral. (N1).

[O presidente do PP pediu aos grupos políticos que apoiam ao Consell - PSPV, Compromís e Podem - “coerência, responsabilidade e sentido comum porque passaram anos dando lições de moral.]

Ao explorar esse fragmento da notícia, os professores de E/LE podem abordar, respectivamente, dois aspectos sobre o PPC: (i) o emprego sem o uso de marcadores temporais; e (ii) a relação com o gerúndio. Segundo Henderson (2010HENDERSON, C. S. El pretérito perfecto compuesto del español de Chile, Paraguay y Uruguay: aspectos semánticos y discursivos. 2010. 202f. Tese (Doutorado em Estudos Hispânicos) - Programa de Pós-Graduação em Estudos Hispânicos, Universidade de Stockholm, Suécia, 2010. ), o emprego do PPC sem especificadores temporais transmite, naturalmente, o significado experiencial do evento apresentado ou a constatação de uma dada situação, como verificamos em (1), La dirigente del PP ha pedido a los grupos políticos que sustentan al Consell; em que se constata a existência de um pedido por parte da presidente do partido aos demais grupos políticos e de que esse mesmo pedido tenha sido reiterado mais vezes pelo próprio presidente do partido. No que diz respeito ao acompanhamento de verbos no gerúndio, o PPC reveste-se de aspecto de continuidade, já que há um prolongamento da situação passada até o momento presente, como pode ser observado em (1), Se han pasado años dando lecciones de ética y de moral, em que o ato de “dar lições de ética e moral” ainda perdura no momento presente, em que o substantivo “anos” atua como um intensificador da continuidade desta ação.

Em (2), constatamos o uso do PPC em ha publicado:

(2) Es uno de los datos más llamativos que revela la primera Encuesta Sociodemográfica de Barcelona realizada por el Ayuntamiento, que se ha publicado este sábado. (N2).

[É um dos dados mais chamativos que revela o primeiro Censo Sócio-demográfico de Barcelona realizado pela Prefeitura, que foi publicado neste sábado.]

Em (2), averiguamos que a utilização do PPC vem acompanhada de um especificador ou marcador temporal, no caso, o sintagma este sábado. Os professores de E/LE podem reiterar o que é característico em relação ao PPC, isto é, o seu aspecto hodiernal ou de antepresente. Segundo Torres (2012TORRES, S. A. El pretérito perfecto en el habla de salamanca: problemas metodológicos de las clasificaciones a la luz de una lingüística de la facticidad. Revista Sociedad Española de Lingüística, Madrid, v. 42, n. 1, 2012, p. 5-33. Disponível em: Disponível em: https://gredos.usal.es/handle/10366/119688 . Acesso em: 28 abr. 2018.
https://gredos.usal.es/handle/10366/1196...
), o emprego de especificadores temporais, tais como hoy, esta mañana, este verano, este mes, este año, esta década, este siglo, etc., aproxima o evento passado e finalizado ao momento presente, como examinamos em (2), La primera Encuesta que se ha publicado este sábado, em que a ação de realizar o primeiro censo é perfectiva, isto é, já está finalizada, no entanto o tempo em que ela foi realizada ainda se encontra em curso, já que a notícia foi veiculada na mesma semana em que se realizou o censo.

Passemos agora a (3), em que constatamos o uso do PPC em ha estado:

(3) En la ceremonia, el Rey ha estado acompañado por la Reina, Puigdemont; la ministra de Sanidad, Dolor Montserrat; la alcaldesa de la ciudad, Marta Madrenas, y el delegado del Gobierno, Enric Millo. (N3).

[Na cerimônia, o Rei esteve acompanhado pela Rainha, Puigdemont; a ministra da Saúde, Dolor Montserrat; a prefeita da cidade, Marta Madrenas, e o delegado de Governo, Enric Millo.]

Em (3), constatamos um caso de PPC de pressuposição existencial que pode ser explicitado pelos professores de E/LE, de acordo com Henderson (2016HENDERSON, C. S. El pretérito perfecto compuesto en el español hablado de Ecuador. 2016. 36f. Monografia (Bacharelado em Estudos Hispânicos) - Departamento de Língua e Literatura, Universidade de Lund, Suécia, 2016. ), para expressar que uma determinada ação ocorreu uma ou mais vezes em um período de tempo específico, no caso, En la cerimononia, que pode funcionar tanto como referente para o espaço (o lugar onde estava o Rei Espanhol) quanto para o tempo (durante a cerimônia); ou a constatação de fatos que, geralmente, não apresentam marcadores temporais típicos, tais como hoy, esta semana, este mes, etc., e por essa razão a leitura comum que se faz destes contextos é de que tenham ocorrido pelo menos “uma vez na vida” ou “que se tenha documentado a sua existência”.

Em (4), atestamos um caso de PPC em ha encarecido:

(4) En Madrid capital la vivienda se ha encarecido un 17% en el último año. (N4).

[Na capital Madri, as residências imobiliárias ficaram mais caras, em torno a 17% no último ano.]

Em (4), temos um caso de PPC experiencial, que, segundo Figuera (2017FIGUERA, C. V. Usos del pretérito perfecto simple y compuesto en la lengua española. 2017. 36f. Monografia (Graduação em Filologia Hispânica) - Departamento de Filologia Hispânica, Universidade de Barcelona, Barcelona, 2017. ), refere-se à indicação de um evento passado de duração variável e repetida em um momento anterior ao da enunciação, cuja frequência e/ou repetição pode ser delimitada por meio de complementos temporais que indiquem a duração desse evento, tais como: últimamente, en estos tiempos, en estos días, etc., ou como no exemplo dado, en el último año. Os professores de E/LE devem estar atentos para este tipo de PPC, já que é empregado, usualmente, para determinar a interpretação de experiência, como nos exemplos: He ido al dentista tres veces/ He hecho los deberes cada día en lo que va de mes/Son pocas las veces que he tenido la oportunidad de verlo (FIGUERA, 2017FIGUERA, C. V. Usos del pretérito perfecto simple y compuesto en la lengua española. 2017. 36f. Monografia (Graduação em Filologia Hispânica) - Departamento de Filologia Hispânica, Universidade de Barcelona, Barcelona, 2017. , p. 9).

Atestamos também, em (4), o uso da voz media em espanhol, se ha encarecido, que pode ser explorada pelos professores de E/LE. De acordo com Hernández (2019HERNÁNDEZ, L. M. M. Condicionamiento pragmático y semántico del marcador de voz media se en el verbo morirse. Cuadernos de Lingüística de El Colegio de México, Ciudad de México, v. 6, n. 1, 2019. DOI: https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/pdf/clcm/v6n1/2007-736X-clcm-6-01-00002.pdf. Acesso em: 16 maio 2019.
https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. ...
), a voz media em espanhol está situada entre as vozes ativa e passiva, na qual o sujeito é dito como o experimentador do evento (no caso, la vivienda se ha encarecido). Conforme a autora, o espanhol apresenta, portanto, três tipos de vozes: (i) a ativa, na qual o sujeito realiza a ação que é designada pelo verbo, como no exemplo: Marta durmió en la casa de su amiga (HERNÁNDEZ, 2019HERNÁNDEZ, L. M. M. Condicionamiento pragmático y semántico del marcador de voz media se en el verbo morirse. Cuadernos de Lingüística de El Colegio de México, Ciudad de México, v. 6, n. 1, 2019. DOI: https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/pdf/clcm/v6n1/2007-736X-clcm-6-01-00002.pdf. Acesso em: 16 maio 2019.
https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. ...
, p. 6); (ii) a média, na qual o sujeito experiencia a ação atribuída pelo verbo, expressando-se por meio da partícula se, como no exemplo: Martina se olvidó de ti (HERNÁNDEZ, 2019HERNÁNDEZ, L. M. M. Condicionamiento pragmático y semántico del marcador de voz media se en el verbo morirse. Cuadernos de Lingüística de El Colegio de México, Ciudad de México, v. 6, n. 1, 2019. DOI: https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/pdf/clcm/v6n1/2007-736X-clcm-6-01-00002.pdf. Acesso em: 16 maio 2019.
https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. ...
, p. 7); e (iii) a passiva, na qual o sujeito sofre a ação determinada pelo verbo, como no exemplo: Se venden muebles (muebles son vendidos) (HERNÁNDEZ, 2019HERNÁNDEZ, L. M. M. Condicionamiento pragmático y semántico del marcador de voz media se en el verbo morirse. Cuadernos de Lingüística de El Colegio de México, Ciudad de México, v. 6, n. 1, 2019. DOI: https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/pdf/clcm/v6n1/2007-736X-clcm-6-01-00002.pdf. Acesso em: 16 maio 2019.
https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. ...
, p. 7).

Em (5), também averiguamos um caso de PPC na voz media, no caso, se han cancelado, mas com valor de interpretação prospectiva (futuridade), em que o periódico noticia que “no domingo pela manhã” (marca de futuridade, haja vista que a notícia veiculada é anterior ao domingo) as autoridades de Saragoça “já terão cancelado os casamentos, o espetáculo que ia se celebrar e o caminho previsto para a maratona”:

(5) La previsión es que la crecida, de unos 2.500 metros cúbicos por segundo, llegue a Zaragoza capital el domingo por la mañana, donde ya sehan canceladobodas, un espectáculo que iba a celebrarse en la ribera de la ciudad y se ha alterado el recorrido del maratón previsto para ese día. (N5).

[A previsão é de que a enchente, cerca de 2.500 metros cúbicos por segundo, chegue à capital Saragoça no domingo de manhã, onde os casamentos já terão sido cancelados, um espetáculo que seria realizado na orla da cidade e alterou-se o percurso da maratona programada para aquele dia.]

Segundo Araújo (2018ARAÚJO, L. S. O pretérito perfeito em espanhol: entre a expressão do antepresente e outros valores. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 60, n. 1, 2018, p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866 . Acesso em: 28 abr. 2018.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
), os casos como (5) em que o PPC apresenta uma interpretação prospectiva podem ser entendidos com o valor de “antefuturo” ou “futuro posterior”, em que, ao se enunciar que “os casamentos, o espetáculo e o percurso da maratona” estarão cancelados, tem-se em mente que os eventos manifestados por meio do han cancelado são posteriores ao momento de fala, mas anteriores à referência futura el domingo por la mañana. Conforme o autor, o uso do PPC, ao ancorar eventos que são posteriores à enunciação, mostra-se com maior certeza de potencialização do evento, haja vista que, já no momento de fala, tem-se a garantia de que eles realizar-se-ão, o que, de fato, pode-se constatar pela própria notícia veiculada, em que os casamentos que haviam sido marcados, foram cancelados.

Para além do gênero notícia, foco desta pesquisa, a partir da qual pretendíamos expor aos professores de E/LE os diferentes tipos de PPC que podem ser explorados em suas aulas, acreditamos que o professorado de espanhol possa ainda fazer uso de outros tipos de gêneros textuais que propiciem o uso do PPC. Nesse sentido, tendo em vista os diferentes empregos e contextos de uso do PPC em língua espanhola, apresentaremos aos professores de E/LE algumas propostas de produção textual, baseada em diferentes tipos de gênero, que poderão ser trabalhadas em sala de aula e que poderão auxiliar no processo e ensino-aprendizagem desta categoria verbal a partir do uso real da língua; podendo o professor de língua espanhola explorar os efeitos de sentido veiculados por meio do uso do PPC, com base no que é prescrito pela RAE (2010REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.): (i) a interpretação prospectiva; (ii) a pressuposição existencial; (iii) a experiencial; (iv) o aspecto contínuo; e (v) o resultativo. Diante disso, apresentamos três propostas distintas: (i) um notícia de jornal (foco deste trabalho); (ii) um diário pessoal; e (iii) uma letra de música.

  • (1) Proposta de produção textual 2: notícia de jornal, em que os aprendizes deverão elaborar um jornal com as principais notícias referentes aos eventos ou acontecimentos recentes de sua escola, de seu bairro, de sua cidade, de seu país, ou do mundo hispânico, etc., o que também implica no uso do pretérito perfeito composto do tipo pressuposição existencial, resultativo e/ou contínuo, como no exemplo: Domingo, 9 de noviembre de 2014. Una enfermedad nueva ha nacido, es una especie de parásito al que los científicos han decidido llamar Clépola, aunque según informan, es un nombre provisional. El parásito, una vez entra en un cuerpo, va hacia el cerebro y, en el trayecto, se va alimentando de tejido corporal, músculos, órganos, etc. Una vez llega a su destino asume total control del cuerpo y su único propósito es el de reproducirse. Una vez hecho esto, expulsa el nuevo parásito hacia otro cuerpo mediante heridas, saliva, etc. El parásito tarda unos dos días en apoderarse de un cuerpo. Así que el ejército ha decidido colocar muros alrededor de las ciudades para controlar las entradas y las salidas. Se ha declarado la ley marcial en todo el país y se recomienda a la población que se quede en sus casas. Están habilitando zonas de cuarentena para los infectados y se ha creado una comisión de investigación compuesta por los mejores médicos y científicos del país para, entre ellos, buscar un antídoto o cura.

  • (2) Proposta de produção textual 1: diário pessoal, em que os alunos serão incentivados a relatar sobre os acontecimentos mais relevantes de seu cotidiano, o que implica na utilização do pretérito perfeito composto do tipo experiencial, como no exemplo: Querido diario: Hoy te escribo para contarte el ajetreado día que he pasado. Me he levantado muy temprano y he recogido a mi primo pequeño para acompañarle a la guardería. Luego he estado en clase de castellano y al terminar he ido corriendo a preparar cuatro cosas para ir al trabajo por la tarde. He podido descansar veinte minutos al terminar de comer y, ya con las cosas preparadas, me he dirigido al trabajo. Allí he dado la clase de gimnasia a las niñas, que hoy tenían ganas de cansarse, y finalmente he llegado a casa, donde estoy escribiendo esto. Y nada más. Buenas noches y hasta mañana.

  • (3) Proposta de produção textual 3: letra de música, em que os estudantes deverão elaborar uma letra de música em que seja possível a utilização do pretérito perfeito composto com diferentes efeitos de sentido, tais como interpretação prospectiva, pressuposição existencial, experiencial, resultativo, e/ou composto contínuo, como nesta canção Un Buen Día do Grupo Los Planetas:Me he despertado casi a las diez/Y me he quedado en la cama/Más de tres cuartos de hora/Y ha merecido la pena. Ha entrado el sol por la ventana/Y han brillado en el aire/Algunas motas de polvo/He salido a la ventana/Y hacía una estupenda mañana. Aconselhamos também aos professores de espanhol que, se possível, coloquem a música para que os alunos a escutem, podendo explorar também os marcadores temporais empregados pelo autor música que ancoram o uso do pretérito perfeito composto.

Mediante o que foi exposto, ressaltamos que uma abordagem do PPC por meio do gênero notícia (podendo o professor de E/LE fazer uso de outros tipos de gênero textuais que propiciem o uso desse tempo verbal em espanhol) poderia facilitar o processo de aprendizagem tanto da forma estrutural do pretérito perfeito composto quanto dos efeitos de sentido que esse tempo verbal acarreta à produção do discurso. Acreditamos também que as análises propostas, neste trabalho, poderão contribuir para que os alunos de espanhol como língua estrangeira consigam veicular os significados e os sentidos que almejam, sendo capazes de compreender as estratégias argumentativas quando fizerem uso deste tempo verbal.

6. Considerações finais

A análise do PPC em espanhol, em foco deste trabalho, teve como meta apresentar aos professores de E/LE não apenas a morfossintaxe desse tempo verbal, mas os diferentes contextos de uso em que ele pode ser empregado (referimo-nos, neste trabalho, especificamente, a variedade peninsular) em um gênero textual jornalístico (a notícia), que poderia vir a ser utilizado pelo professor para abordar os diferentes efeitos de sentido desprendidos mediante o uso que o falante faz desse tempo pretérito em seu discurso.

Vimos que o PPC pode ser empregado em diferentes contextos e com diferentes tipos de matizes, tais como: (i) uma interpretação prospectiva, quando diz respeito a situações que tem lugar em um momento posterior ao da enunciação; (ii) uma pressuposição existencial, quando faz alusão a existência de algo ou alguém; (iii) uma pressuposição experiencial, quando é utilizado para manifestar que um dado acontecimento ocorreu uma ou mais vezes por um dado período de tempo; (iv) um aspecto de continuidade, quando versa sobre uma situação passada que se prolonga até o momento presente, porém seguindo em aberto; e (v) um matiz resultativo, quando há a possibilidade de inferir a atualidade do estado-de-coisas que resulta da noção denotada pela perfectividade do pretérito composto.

Em suma, acreditamos que o que foi exposto neste trabalho possa trazer algumas reflexões sobre o PPC e suas possíveis aplicações ao ensino de E/LE. Embora a língua portuguesa (para um alunado lusófono) não apresente um “correspondente direto” para o PPC com as mesmas nuances em que é empregado em espanhol, acreditamos que as aulas de E/LE possam ser produtivas quando os aprendizes conseguem entender o “funcionamento” da categoria por meio de textos reais e produzidos por falantes nativos, de modo que os alunos infiram sobre quando e como deve ser empregado o PPC e qual(is) o(s) diferente(s) matize(s) que dele decorrem quando empregado nos mais variados tipos de contextos comunicativos, levando-o, portanto, a refletir sobre os usos já explicitados nas gramáticas normativas de língua espanhola.

Referências

  • ARAÚJO, L. S. O pretérito perfeito em espanhol: entre a expressão do antepresente e outros valores. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 60, n. 1, 2018, p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866 Acesso em: 28 abr. 2018.
    » https://doi.org/https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649719» https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649719/17866
  • AZPIAZU, S. Del perfecto al aoristo en el antepresente peninsular: un fenómeno discursivo. In: AZPIAZU, S. (org.). Formas simples y compuestas de pasado en el verbo español. Lugo: Axac, 2015. p. 17-33.
  • BANDOLI, G. M. D.; DETOGNE, K. P.; LUQUETTI, E. C. F. Funcionalismo e ensino de língua: por uma educação linguística. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 11., 2014, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: EDUFU, 2014. p. 1-10.
  • BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): Área das Linguagens. Brasília: MEC/SEF, 2017, 600 p.
  • CENOZ IRAGUI, J. El concepto de competência comunicativa. In: LOBATO, J. S.; GARGALLO, I. S. Vademécum para la formación de profesores. Madrid: SGEL, 2008.
  • DUARTE, M. C. Uma proposta de sequência didática funcionalista. 2015. 200f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015.
  • FIGUERA, C. V. Usos del pretérito perfecto simple y compuesto en la lengua española. 2017. 36f. Monografia (Graduação em Filologia Hispânica) - Departamento de Filologia Hispânica, Universidade de Barcelona, Barcelona, 2017.
  • FURTADO DA CUNHA, M. A. Funcionalismo. In: MARTELOTTA, M. E. (org.). Manual de Linguística. São Paulo: Editora Contexto, 2010.
  • FURTADO DA CUNHA, M. A.; TAVARES, M. A. Linguística funcional e ensino de gramática. In: FURTADO DA CUNHA, M. A.; TAVARES, M. A. Funcionalismo e Ensino de Gramática. Natal: EDUFRN, 2016. p. 12-58.
  • GUTIÉRREZ ARAUS, M. L. Problemas fundamentales de la gramática el español como 2/l. Madrid: Arco Libros, 2007.
  • KEMPAS, I.; SAMANIEGO, A. L. Sobre la elección entre canté y he cantado en presencia de hace x horas en el español peninsular. Revista OnOmázein, Santiago de Chile, n. 24, 2011, p. 125-153. Disponível em: Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3816366 Acesso em: 19 set. 2020.
    » https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3816366
  • IRALA, V. B. A opção da variedade de Espanhol por professores em serviço e pré-serviço. Revista Linguagem e Ensino, Pelotas, v. 7, n. 2, 2004, p. 99-120. Disponível em: Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/LinguaEspanhola/artigos/art_valesca.pdf Acesso em: 18 set. 2020.
    » http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/LinguaEspanhola/artigos/art_valesca.pdf
  • REAL ACADEMIA ESPANHOLA. Nueva Gramática de la Real Academia Española. Madrid: Editorial Espasa Libros, 2010.
  • HENDERSON, C. S. El pretérito perfecto compuesto del español de Chile, Paraguay y Uruguay: aspectos semánticos y discursivos. 2010. 202f. Tese (Doutorado em Estudos Hispânicos) - Programa de Pós-Graduação em Estudos Hispânicos, Universidade de Stockholm, Suécia, 2010.
  • HENDERSON, C. S. El pretérito perfecto compuesto en el español hablado de Ecuador. 2016. 36f. Monografia (Bacharelado em Estudos Hispânicos) - Departamento de Língua e Literatura, Universidade de Lund, Suécia, 2016.
  • HERNÁNDEZ, L. M. M. Condicionamiento pragmático y semántico del marcador de voz media se en el verbo morirse. Cuadernos de Lingüística de El Colegio de México, Ciudad de México, v. 6, n. 1, 2019. DOI: https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/pdf/clcm/v6n1/2007-736X-clcm-6-01-00002.pdf Acesso em: 16 maio 2019.
    » https://doi.org/10.24201/clecm.v6i1.81. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/pdf/clcm/v6n1/2007-736X-clcm-6-01-00002.pdf
  • LEIDENS, A.; MESCKA, P. M. Ensino de gramática: abordagem analítica. Revista Perspectiva, Florianópolis, v. 39, n. 148, 2015. Disponível em: Disponível em: http://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/148_530.pdf Acesso em: 15 maio 2019.
    » http://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/148_530.pdf
  • MARCHESI, C. La noticia periodística en el aula de ELE: una propuesta didáctica para mejorar la competencia discursiva. 2018. 97f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Espanhol e Catalão) - Programa de Pós-Graduação em Espanhol e Catalão como Segunda Língua, Universidade de Girona, Girona, 2018.
  • NASCIMENTO, T. C. Uma prática de leitura e escrita: o gênero notícia na sala de aula do ensino médio. 2017. 75f. Monografia (Licenciatura Plena em Letras) - Departamento de Letras, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017.
  • OLIVEIRA, L. C. de. O multifuncional pretérito perfeito composto espanhol em materiais didáticos. Calidoscópio, São Leopoldo, RS, v. 12, n. 1, p. 83-93. DOI: https://doi.org/10.4013/cld.2014.121.09. Disponível em: Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/view/cld.2014.121.09/4076 Acesso em: 29 set. 2020.
    » https://doi.org/https://doi.org/10.4013/cld.2014.121.09» http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/view/cld.2014.121.09/4076
  • SILVA, M. A. C. da. Do impresso ao digital: a construção da notícia e sua adaptação para plataformas narrativas. 2014. 72f. Monografia (Graduação em Jornalismo e Comunicação Social) - Departamento de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2014.
  • SILVA, B. R. C. da; CASTEDO, T. M. de. Ensino do espanhol no Brasil: o caso das variedades linguísticas. Revista Holos, Natal, v. 3, 2008, p. 67-74. DOI: https://doi.org/10.15628/holos.2008.145. Disponível em: Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/145/164 Acesso em: 18 set. 2020.
    » https://doi.org/https://doi.org/10.15628/holos.2008.145.» http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/145/164
  • TORRES, S. A. El pretérito perfecto en el habla de salamanca: problemas metodológicos de las clasificaciones a la luz de una lingüística de la facticidad. Revista Sociedad Española de Lingüística, Madrid, v. 42, n. 1, 2012, p. 5-33. Disponível em: Disponível em: https://gredos.usal.es/handle/10366/119688 Acesso em: 28 abr. 2018.
    » https://gredos.usal.es/handle/10366/119688
  • TORRES, S. A. Antepresente y pretérito en el español peninsular: revisión de la norma a partir de las evidencias empíricas. Anuario de Estudios Filológicos, Cáceres, Espanha, v. 36, 2013, p. 19-32. Disponível em: Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4759926 Acesso em: 19 set. 2020.
    » https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4759926

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Fev 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2021

Histórico

  • Recebido
    07 Jan 2020
  • Aceito
    12 Out 2020
Faculdade de Letras - Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais - Faculdade de Letras, Av. Antônio Carlos, 6627 4º. Andar/4036, 31270-901 Belo Horizonte/ MG/ Brasil, Tel.: (55 31) 3409-6044, Fax: (55 31) 3409-5120 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: rblasecretaria@gmail.com