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Apresentação

Este volume temático da revista Letras de Hoje reúne estudos que exploram o potencial do campo da Sociofonética: na produção e percepção da fala, nos níveis segmental, subsegmental e suprassegmental, e em campos aplicados, como o da Fonética Forense.

No primeiro artigo, Smith, Foulkes e Sóskuthy descrevem um experimento que testa a habilidade de um grupo de amigos na tarefa de identificação de suas próprias vozes a partir da produção de fala sussurrada. O desempenho foi muito acima do que se espera ao acaso, até mesmo com amostras de 4 sílabas, mas melhorou com amostras mais longas. O estudo também encontrou variação considerável nos resultados tanto para o falante quanto para o ouvinte. O experimento confirma assim uma observação essencial de muitos estudos forenses, a saber, que os resultados não podem ser supergeneralizados a partir das condições experimentais para as condições forenses. Como alternativa, devem levar em consideração as circunstâncias enfrentadas pela testemunha no momento.

A aplicação forense da Sociofonética também é explorada por Schivinscki Gonçalves no exame da adequação da taxa de fala e da taxa de articulação como parâmetros técnicos comparativos na tarefa de comparação de locutor. A partir de uma amostra de interceptações telefônicas legalmente autorizadas e de uma amostra de gravações de entrevistas semiestruturadas, essas medidas temporais são relacionadas a dimensões sociais como sexo, idade e escolaridade. A análise revela um quadro sobre como questões referentes à pause, disfluência e extensão da amostra de fala podem impactar os resultados finais.

Arantes e Linhares examinam a frequência fundamental em inglês, estoniano, francês, alemão, italiano, português e sueco, com foco especial no efeito do sexo e do estilo de fala em medidas estatísticas globais. Paralelamente aos primeiros dois artigos, os autores levantam questões relevantes à tarefa de comparação de locutor envolvendo a mudança de estilo e seu efeito na frequência fundamental.

Peres investiga o quanto os falantes do Português Brasileiro identificam suas próprias variedades regionais a partir somente da informação intoacional. Três variedades de Português Brasileiro - pelotense (interior do estado do Rio Grande do Sul), paulistana (São Paulo, capital) e senadorense (interior do estado do Ceará) - foram testadas através de experimentos que apresentaram (i) fala deslexicalizada e (ii) fala melódica monotônica. Os resultados foram analisados com base na Teoria da Detecção.

Seara e Sosa estabelecem as características intoacionais de um dialeto particular do Português Brasileiro - o florianopolitano (Santa Catarina, capital) ou manezinho. O interesse por essa variedade não urbana se dá, entre outros motivos, por conta da hipótese de que formas arcaicas da língua portuguesa estariam nela conservadas. Do ponto de vista da percepção da fala, dois experimentos testam a identificação de um contorno declarativo particular como sendo efetivamente florianopolitano ou manezinho. Embora a queda tonal final revele a singularidade desse contorno em comparação ao de outras variedades, os resultados estimulam a discussão sobre uma situação de mudança em progresso ou de nivelamento dialetal na comunidade.

Meireles, Gambarini e Scherre examinam a variação em posição pré-tônica em Montana, uma cidade localizada no norte do estado do Espírito Santo, próxima à fronteira com os estados de Minas Gerais e da Bahia. Como o esperado, já que o Espírito Santo se configura como uma zona de transição entre as variedades do norte e do sul, três variantes foram encontradadas em posição pré- tônica: altas, média-altas e média-baixas. Uma situação de mudança em progresso é indicada na comunidade, assim como também a existência de um padrão local de altura vocálica na posição investigada.

Miranda, Yacovenco, Tesch e Meireles avaliam a influência do estilo na leitura de sentenças e na leitura de textos a partir do exame de vogais acentuadas e préacentuadas. Os parâmetros considerados - medidas formânticas, duração e ênfase espectral - sustentam a discussão, conduzida a partir do ponto de vista Laboviano, sobre a relação entre mudança de estilo e qualidade vocálica.

Bassi e Seara enfocam a produção de fricativas em posição de coda nas variedades do Português Brasileiro (Rio de Janeiro-RJ; Florianópolis-SC; Erechim-RS) e do Português Europeu (Lisboa-Portugal; Granjal-Viseu-Portugal; São Jorge-Açores). O reconhecimento de uma terceira variante na análise dos picos espectrais das fricativas - a ápico-alveolar - ao lado das frequentemente registradas palato-alveolar e alveolar, é explicado pela história de contato entre as variedades no processo de colonização do Brasil.

Ao combinar a análise de produção e de percepção da fala, Vieira e Corrêa examinam a ordem variável dos clíticos pronominais no Português Brasileiro. Os resultados de dois estudos prévios são considerados para a definição da direção fonológica dos pronomes átonos (em posição pré-verbal ou pós-verbal) e os parâmetros acústicos responsáveis por essa direção.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2017
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