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Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Styracaceae

Flora of the cangas of the Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Styracaceae

Resumo

Este estudo apresenta o tratamento florístico da família Styracaceae nas formações de canga da Serra dos Carajás, no estado do Pará, com descrições detalhadas das espécies, ilustrações e comentários morfológicos. Foram registradas duas espécies de Styrax: S. griseus e S. pohlii. Styrax griseus foi descrito com base em material coletado na Serra dos Carajás, mas não é endêmico da área. Styrax pohlii é amplamente distribuído na porção norte da América do Sul.

Palavras-chave:
canga; FLONA Carajás; Styrax

Abstract

This study is the floristic survey for the Styracaceae recorded in the cangas of the Serra dos Carajás, Pará state, bringing detailed descriptions, illustrations, and morphological comments for the species. Two species of Styrax were recorded: S. griseus and S. pohlii. Styrax griseus was described based on material collected in the Serra dos Carajás, but is not endemic to the area. Styrax pohlii is widely distributed throughout the Northern portion of South America.

Key words:
canga; FLONA Carajás; Styrax

Styracaceae

Styracaceae DC. & Spreng. compreende 11 gêneros com cerca de 180 espécies, nas regiões tropicais e temperadas da América, Ásia e Mediterrâneo (Fritsch 1999Fritsch, P.W. 1999. Phylogeny of Styrax based on morphological characters, with implications for biogeography and infrageneric classification. Systematic Botany 24: 356-378.). São árvores ou arbustos com folhas simples, alternas. Suas flores são bissexuadas, actinomorfas; o cálice é campanulado, obcônico ou cupular; a corola geralmente possui cinco lobos; os estames geralmente vistosos com anteras introrsas, rimosas; o ovário pode ser súpero, semi-ínfero ou ínfero, com três a cinco lóculos; os frutos variam de drupa, baga até cápsula (Fritsch 2004Fritsch, P.W. 2004. New species and taxonomic changes in Styrax (Styracaceae) from South America. Novon 14: 43-57.; Wallnöfer 1997Wallnöfer, B. 1997. A revision of Styrax L. section Pamphilia (Mart. ex A.DC.) B.Walln. (Styracaceae). Annalen des Naturhistorischen Museums in Wien. Serie B für Botanik und Zoologie 99: 681-720.). Para o Brasil apenas o gênero Styrax é registrado com 24 espécies, sendo distribuído em todos os domínios fitogeográficos (BFG 2015BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguesia 66: 1085-1113.). No estado do Pará são registradas cinco espécies, Styrax glabratus Mart., S. griseus P.W. Fritsch, S. guyanensis A. DC., S. pohlii A. DC. e S. sieberi Perkins (Fritsch 2015Fritsch, P.W. 2015. Styracaceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponivel em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB24928>. Acesso em 18 janeiro 2016
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/f...
).

1. Styrax L., Sp. Pl. 1: 444. 1753.

Styrax é o maior dos gêneros de Styracaceae com cerca de 130 espécies (Fritsch 2004Fritsch, P.W. 2004. New species and taxonomic changes in Styrax (Styracaceae) from South America. Novon 14: 43-57.). São geralmente árvores ou arbustos, com inflorescências axilares ou terminais e flores com cálice campanulado, com cinco lobos, raramente truncado com dois a seis lobos. A corola geralmente é campanulada com cinco, raro sete lóbulos com deiscência imbricada ou valvar. Os estames, geralmente 10, são geralmente de tamanhos iguais, com anteras oblongas. O ovário é sempre súpero, 3-locular quando jovens, tornando-se unilocular quando maduros. O fruto pode ser deiscente (valvar) ou indeiscente (drupa). Na Serra dos Carajás são registradas três espécies de Styrax, sendo Styrax sieberi Perkins de ocorrência apenas para florestas de terra firme, e duas com ocorrência nas cangas: S. griseus P.W. Fritsch e S. pohlii A. DC.

    Chave de identificação das espécies de Styrax das cangas na Serra dos Carajás, Pará
  • 1. Folhas com face adaxial com tricomas estrelados esparsos, margens revolutas; tricomas estrelados nas folhas com raio 0,1-0,13 mm....................................................................................1.1. Styrax griseus

  • 1'. Folhas com face adaxial glabrescente, margens planas; tricomas estrelados nas folhas com raio 0,4-0,9 mm ...............................................................................................................................1.2. Styrax pohlii

1.1 . Styrax griseus P.W. Fritsch, Novon 14(1): 45. 2004. Fig. 1 a-c

Figura 1
a-c. Styrax griseus - a. ramo florífero; b. detalhe indumento face adaxial da lâmina foliar; c. detalhe indumento face abaxial da lâmina foliar. d-f Syrax pohlii. - d. ramo florífero; e. detalhe indumento face adaxial da lâmina foliar; f. detalhe indumento face abaxial da lâmina foliar (a-c. L.M.M. Carreira et al. 3347; d-f. M.F.F. Silva et al. 2451).
Figure 1
a-c. Styrax griseus - a. flowering branch; b. adaxial surface of leaf blade in detail; c. abaxial surface of leaf blade in detail (L.M.M. Carreira et al. 3347). d-f Syrax pohlii. - d. flowering branch; e. adaxial surface of leaf blade in detail, f. abaxial surface of leaf blade in detail (a-c. L.M.M. Carreira et al. 3347; d-f. M.F.F. Silva et al. 2451)

Arvoretas ou arbustos de 1-3 m de altura; ramos jovens densamente estrelado- tomentosos, castanhos. Pecíolo 5-13 mm compr.; lâmina 4,5-11,1 × 2,5-5,5 cm, cartácea a levemente coriácea, elíptica, estreito elíptica a oval, nervuras secundarias 6-8(-9) em cada lado, ápice obtuso a curto acuminado, base cuneada a arredondada, face adaxial com tricomas estrelados esparsos, face abaxial cinérea, densamente estrelado-tomentosa, tricomas castanhos adensados nas nervuras e esparsos ao longo da lâmina; raio dos tricomas estrelados 0,10-0,13 mm, margens revolutas. Inflorescências 2-5.5 cm compr., com 3 a 7 flores; pedicelos 2,5-3 cm compr. Flores 11-14 mm compr.; cálice 3,5-5 × 3,5-5 mm, densamente estrelado-tomentoso, tricomas cinéreos; corola 9-12 mm compr., alva; estames 10, anteras ca. 5,5-6 cm compr., pubescentes; ovário densamente estrelado-tomentoso. Drupa 6-9 × 5-6 mm.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, S11A a S11D, 650 m, 23.III.2015, L.C. Lobato 4414 (MG); S11B, 18.IV.2015, L.M.M. Carreira 3417 (MG); S11D, 6°23'8"S, 50°23'5"W, 753 m, 16.III.2009, V.T. Giorni 186 (BHCB, HCSJ, MG); Parauapebas [Marabá], 3.VI.1986, M.P.M. Lima 135 (MG, RB-Parátipo); 18.IV.1970, P. Cavalcante 2646 (MG-Parátipo); N1, 2.IV.1977, M.G. Silva 2995 (INPA, MG, NY); N1, 2.VI.1983, M.F.F. Silva 1308 (MG-Parátipo); N1, 20.V.1982, R.S. Secco 257 (MG-Isótipo); N3, 14.III.1985, R.S. Secco 460 (MG); N4, 700-750 m, 15.III.1984, A.S.L. Silva 1832 (INPA, MG-Parátipo).

Na descrição original de Styrax griseus, Fritsch (2004)Fritsch, P.W. 2004. New species and taxonomic changes in Styrax (Styracaceae) from South America. Novon 14: 43-57. inclui vários materiais coletados nas cangas de Carajás na relação de parátipos, sendo uma espécie relativamente comum na região. Distingue-se de Styrax pohlii, que também ocorre na área, pelas lâminas foliares cartáceas a subcoriáceas, com margens revolutas e face adaxial com tricomas estrelados, mesmo nas folhas mais velhas. Em S. pohlii as lâminas são cartáceas, com margens planas e face adaxial glabrescente.

Endêmica do Brasil, com registros para Bahia, Mato Grosso, Pará e Rondônia. Serra dos Carajás: Serra Norte: N1, N3 e Serra Sul: S11-B, S11-D. Encontrada em mata baixa e transição para os campos rupestres de canga.

1.2. Styrax pohlii A.DC. Prodr. 8: 264. 1844.

Fig. 1d-f

Árvores ou arbustos de 3-6 m de altura; ramos estrelado- tomentosos, castanhos a ferrugíneos. Pecíolo 6-11 mm compr.; lâmina 5,5-11,4 × 2-6,4 cm, cartácea, elíptica, estreito elíptica a oval, nervuras secundarias 6-8(-9) em cada lado, ápice agudo a levemente acuminado, base cuneada a arredondada, face adaxial glabrescente, face abaxial cinérea a fosco-acinzentada, densamente estrelado-tomentosa, tricomas castanhos a ferrugíneos adensados nas nervuras e esparsos ao longo da lâmina, raio dos tricomas estrelados 0,4-0,9 mm, margens planas. Inflorescências 2-4 cm compr. com 2 a 9 flores; pedicelos 1,5-4 cm compr. Flores 16-14 mm compr.; cálice 4,5-5,5 × 4-5 mm, densamente estrelado-tomentoso, tricomas cinéreos, dourados e ferrugíneos; corola 12-17 mm compr., alva; estames 10, anteras ca. 5-5,5 cm compr., pubescentes; ovário densamente estrelado-tomentoso. Drupa 10-11 × 5-6 mm.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, S11A, 6°19'6"S, 50°27'9"W, 673 m, 21.III.2012, P.B. Meyer 1139 (BHCB); S11D, 6°23'17" S, 50°20'57"W, 666 m, 7.XII.2007, P.L. Viana 3376 (BHCB, MG); S11A, 6°6'17" S, 50°28'1"W, 700 m, 21.VII.2012, A.J. Arruda 1207 (BHCB, MG); S11B, 6°21'17"S, 50°23'17"W, 666 m, 9.XII.2007, N.F.O. Mota 1133 (BHCB, MG); Parauapebas [Marabá], N5, 28.V.1987, M.F.F. Silva 2451 (MG).

As afinidades e diferenças entre Styrax pohlii e S. griseus são discutidas nas notas sobre S. griseus.

Ocorre na América do Sul: Bolívia, Brasil, Peru, Suriname. No Brasil é amplamente distribuída. Na Serra dos Carajás foi encontrada na Serra Norte: N5 e na Serra Sul: S11-A, S11-B, S11-C, S11-D. Encontrada na mata associada aos campos rupestres de canga.

Lista de exsicatas

  • Arruda, A.J. 1207 (1.2); Bastos, J.A.A. 110 (1.1); Carreira, L.M.M. 3347 (1.1), 3417 (1.1); Cavalcante, P. 2646 (1.1); Giorni, V.T. 186 (1.1); Lima, M.P.M. 135 (1.1); Lobato, L.C. 4414 (1.1); Meyer, P.B. 1139 (1.2); Mota, N.F.O. 1092 (1.1), 1133 (1.2); Nascimento, O.C. 1172 (1.1); Secco R.S. 257 (1.1), 460 (1.1); Silva, A.S.L. 1832 (1.1); Silva, L.V.C. 534 (1.2); Silva, M.F.F. 1308 (1.1), 2451 (1.2); Silva, M.G. 2995 (1.1); Viana, P.L. 3376 (1.2).

Agradecimentos

Agradecemos ao Museu Paraense Emílio Goeldi e ao Instituto Tecnológico Vale, a estrutura e o apoio fundamentais ao desenvolvimento desse trabalho. Aos curadores dos herbários consultados. Ao ICMBio, o suporte logístico e licença de coletas na FLONA Carajás, especialmente ao Frederico Drumond Martins. Ao Programa de Capacitação Institucional (MPEG/MCTI), a bolsa concedida à segunda autora. Ao projeto objeto do convênio MPEG/ITV/FADESP (01205.000250/2014-10) e ao projeto aprovado pelo CNPq (processo 455505/2014-4), o financiamento.

Referências

  • BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguesia 66: 1085-1113.
  • Fritsch, P.W. 1999. Phylogeny of Styrax based on morphological characters, with implications for biogeography and infrageneric classification. Systematic Botany 24: 356-378.
  • Fritsch, P.W. 2004. New species and taxonomic changes in Styrax (Styracaceae) from South America. Novon 14: 43-57.
  • Fritsch, P.W. 2015. Styracaceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponivel em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB24928>. Acesso em 18 janeiro 2016
    » http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB24928
  • Wallnöfer, B. 1997. A revision of Styrax L. section Pamphilia (Mart. ex A.DC.) B.Walln. (Styracaceae). Annalen des Naturhistorischen Museums in Wien. Serie B für Botanik und Zoologie 99: 681-720.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    16 Maio 2016
  • Aceito
    17 Ago 2016
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