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COASTAL CLEANUP DAY 97: RETRATO DA SITUAÇÃO DO LIXO SÓLIDO NA COSTA BRASILEIRA

COASTAL CLEANUP DAY 97: solid trash situation in the brazilian coast

RESUMO

O Coastal Cleanup Day (Dia Mundial de Limpeza de Praias) é um evento mundial coordenado pela ONG norte-americana Center for Marine Conservation desde 1989. A cada ano, voluntários se unem para coletar e quantificar os dejetos sólidos das praias de todo o planeta durante um día. Os dados assim obtidos ajudam a Organização das Nações Unidas (ONU) a fazer um retrato do quão poluídos estão os oceanos e a convencer os países a se tornarem signatários da Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição Advinda de Embarcações (MARPOL). Desde 1993, o Brasil está engajado neste evento anual. O objetivo deste artigo é apresentar os resultados advindos do evento brasileiro do ano de 1997, de modo a alcançar a conscientização de nosso povo e autoridades governamentais.

Palavras-chaves:
poluição de praias; educação ambiental

ABSTRACT

Since 1989, The Coastal Cleanup Day is a worldwide event coordinated by The Center for Marine Conservation, a North American NGO. Once a year beaches all around the world are cleaned by vonlunteers, that pick up and quantify the trash during one day. These data help United Nations (UN) to figure how badly polluted the oceans are. UN uses these data to persuade countries to sign The International Convention for the Preservation of Pollution from Ships (MAR POL). Since 1993, Brazil is engaged in The Coastal Cleanup Day. The aim of this report is to present the results of the 1997 Brazilian event, as a way to achieve our people and government awareness.

Key words:
beach polution; environmental education

INTRODUÇÃO

Desde 1989 o Center for Marine Conservation (CMC), uma ONG norte-americana, vem convocando anualmente voluntários de todas as partes do planeta para participarem do Coastal Cleanup Day, o Dia Mundial de Limpeza de Praias. Neste dia, os voluntários vão às praias recolher, quantificar e classificar o lixo sólido nelas encontrado. Como o evento é realizado em um só dia (terceiro sábado do mês de setembro de todos os anos) em todo o planeta, este propicia a obtenção de um retrato do estado de poluição em que se encontram nossos mares e oceanos. Hoje já são mais de um milhão de voluntários de 94 países participando do evento.

Ao coletar o lixo os voluntários anotam em um formulário padrão a quantidade e o tipo de cada objeto retirado da praia.

Os dados quantitativos e qualitativos gerados anualmente pelo evento vêm sendo utilizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para pressionar os países a serem signatários da Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição Advinda de Embarcações (The International Convention for the Prevention of Pollution from Ships). Esta convenção é comumente conhecida como MARPOL (MARine POLlution). Estabelecido em 1973, o MARPOL proíbe o lançamento de lixo e produtos variados ao mar. O Anexo V desta convenção está ligado ao lançamento de residuos sólidos ao mar por embarcações; os outros quatro anexos tratam de outros poluentes. Embora oitenta e três países tenham ratificado o Anexo V até hoje, o problema de lançamento de resíduos sólidos por navios não foi resolvido. Além disto, vários são os países que não possuem legislação que coíba o despejo de lixo nas praias e nos rios pelos usuários.

Historicamente, os oceanos têm sido o depósito final dos dejetos humanos. Com o advento da produção de plásticos, isopores e espumas este problema vem se agravando dia-a-dia. A longa vida útil destes materiais, devido à baixa taxa de biodegradação, tem acumulado montanhas de resíduos sólidos nos oceanos.

Além dos impactos negativos econômicos e estéticos, estes materiais são responsáveis pela morte de inúmeros organismos marinhos e estas mortes estão se intensificando cada vez mais. Pedaços de isopor e espumas plásticas são vistos por aves marinhas, peixes e tartarugas marinhas como se fossem ovas de peixes e são engolidos. Tais materiais não conseguem passar pelo duodeno e ficam aprisionados no estômago de suas vítimas.

Isto faz com que o animal se sinta saciado, pois vai cada vez mais ficando com o estômago cheio, passando então a não mais se alimentar. O resultado é a morte por inanição. O mesmo ocorre no caso de sacos plásticos e algumas espécies de tartarugas marinhas que têm nas águas-vivas o principal componente de sua dieta alimentar. Sacos plásticos flutuando na água são interpretados pelas tartarugas como águas-vivas e são engolidos. O mesmo processo de enchimento do estômago ocorre e a morte por inanição advém deste fato. Diversos recipientes, como copos, garrafas e potes funcionam como esconderijos para caramujos predadores de ovos de peixes. Dentro deles os caramujos ficam protegidos de seus predadores, podendo predar intensamente os ovos; com isto há um desequilíbrio entre as populações de seres marinhos. Restos de redes e linhas de pesca abandonados no mar permanecem no ambiente matando indiscriminadamente e desnecessariamente peixes, aves e mamíferos marinhos. Com uma das pontas presas em pedras ou na vegetação submersa, estes artefatos de pesca são armadilhas mortais. Os animais se enroscam e morrem enforcados, por asfixia ou por inanição. Focas, leões marinhos, golfinhos, peixes-bois, aves marinhas e peixes são algumas das inúmeras vítimas.

Controlar e eliminar a presença destes dejetos nos oceanos é uma necessidade e o Coastal Cleanup Day é uma ferramenta poderosa a ser usada pela população e pelos tomadores de decisão para reverter este quadro.

Desde 1993, venho coordenando anualmente este evento no Brasil. No começo o número de voluntários foi muito pequeno, chegando a cerca de uma centena. Entretanto, em 1997 a participação foi bastante expressiva, devido a esforços de divulgação intensificados e ao patrocínio do evento pela Coca-Cola do Brasil S.A. Este artigo se propõe a divulgar os resultados obtidos durante este evento.

MATERIAIS E MÉTODOS

A cada voluntário foi entregue um formulário padrão de coleta de dados, a ser preenchido durante a coleta do lixo. Nele, o voluntário registrava o número de objetos coletados em cada uma das seguintes categorias:

  1. PLÁSTICO: sacos (de comida, de supermercado, de lixo, outros), garrafas (de bebida, material de limpeza, lubrificantes, outros), baldes, tampas, filtros de cigarro, isqueiros, copos e utensílios, fraldas, linha de pesca, bóias e iscas, rede de pesca, capacetes, varetas luminosas, pedaços, canos de PVC, cordas, folhas (> 60 cm, < 60 cm), tiras, canudinho, seringas, aplicador de OB, brinquedos e outros;

  2. ISOPORES: bóias, copos, embalagens de ovos, embalagens de fast food, material de empacotamento, pedaços, pratos e outros;

  3. VIDRO: garrafas/potes (de bebida, de conservas, outros), lâmpadas fluorescentes, lâmpadas comuns, pedaços e outros;

  4. BORRACHA: balões de festa, preservativos, luvas, pneus e outros;

  5. METAL: tampinha de garrafa, latas (aerossol, de bebida, de comida, outras), armadilha de pesca, tambores (velhos, novos), pedaços, alça lata de bebida, arames e outros;

  6. PAPEL: sacos, cartolina, papelão, copos, jornais/revistas, pedaços, pratos e outros;

  7. MADEIRA: armadilha de pesca, engradados, pedaços, palitos e outros;

  8. TECIDO: roupas/pedaços;

Nesse formulário era também solicitado que fornecesse informações quanto a: o número de pessoas trabalhando naquele formulário; extensão aproximada de praia limpa; número e tamanho dos sacos de lixo utilizados para a coleta de lixo registrada naquele formulário; peso estimado do lixo coletado; nome e localização da praia limpa; nome e endereço do voluntário.

Após o evento, os voluntários encaminharam os formulários à coordenação geral.

RESULTADOS

No dia 20 de setembro de 1997, 2.731 voluntários foram às praias brasileiras para participar do Dia Mundial de Limpeza de Praias. Foram 96 km de praias limpos em 42 localidades de 6 estados (Tabela 1), com a retirada de 1.673 sacos de lixo contendo 10.521 kg de resíduos sólidos, ou seja, 104.411 objetos coletados.

Tabela 1.
Localidades participantes do evento.

Figura 1
Relação percentual da composição dos resíduos sólidos coletados, por categoria, em toda a costa brasileira.

Figura 2
Relação percentual da composição dos resíduos sólidos coletados, por categoría, no Estado do Ceará.

Figura 3
Relação percentual da composição dos resíduos sólidos coletados, por categoria, no Estado da Bahia.

Figura 4
Relação percentual da composição dos resíduos sólidos coletados, por categoria, no Estado do Espírito Santo.

Figura 5
Relação percentual da composição dos resíduos sólidos coletados, por categoria, no Estado do Rio de Janeiro.

Figura 6
Relação percentual da composição dos resíduos sólidos coletados, por categoria, no Estado de São Paulo

Figura 7
Relação percentual da composição dos residuos sólidos coletados, por categoria, no Estado de Santa Catarina

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 1998
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