RESUMO
O objetivo foi verificar o efeito agudo do alongamento estático (AE) dos músculos Ísquiotibiais sobre o desempenho da força e ativação mioelétrica (EMGRMS) da musculatura antagonista. Doze homens (20,28 ± 1,50 anos; 83,35 ± 17,86 Kg; 177,28 ± 9,64 cm) experientes em treinamento de força foram divididos aleatoriamente nos grupos AE e controle (GC). No AE foram realizadas três repetições de 30s de alongamento estático nos Ísquiotibiais e em seguida foi medida a amplitude de movimento (ADM). Logo após, foi medido o desempenho da força e EMGRMS dos músculos vasto lateral (VL) e vasto medial (VM) durante o teste de 10-RM na cadeira extensora. A ANOVA de duas entradas encontrou diferença significativa na ADM no efeito principal tempo (P = 0,019), quanto para interação grupo x tempo (P = 0,023), com aumento significativo na ADM após o alongamento (P = 0,013). O número de repetições do AL aumentou significativamente (P = 0,014; 16%) em relação ao GC. Não houve mudança significativa no EMGRMS de nenhum dos músculos testados. O emprego do alongamento estático pode melhorar o desempenho da força na musculatura antagonista.
Palavras-chave:
Exercícios de alongamento muscular; Eletromiografia; Força muscular
ABSTRACT
The present study aimed to verify the acute effect of static stretching (SS) of the hamstrings muscles on the mioletric activation (EMGRMS) and strength performance of the antagonist muscle. Twelve men (20.28 ± 1.50 years, 83.35 ± 17.86 kg, 177.28 ± 9.64 cm) experienced in strength training were randomly divided into SS and control groups (GC). For the SS, three repetitions of 30s of static stretching were performed on the hamstrings and then the range of motion (ROM) was assessed. Subsequently, the strength performance and EMGRMS of the vastus lateralis (VL) and vastus medialis (MV) were assessed during the 10-RM test in the extensor chair. The twoway ANOVA found a significant difference in ROM for the main time effect (P = 0.019) and for group x time interaction (P = 0.023), with a significant increase in ROM after stretching (P = 0.013). The number of repetitions ater stretching increased significantly (P = 0.014; 16%) compared to the CG. There was no significant change in EMGRMS os the assessed muscles. The use of static stretching can improve the strength performance of the antagonist musculature.
Keywords:
Muscle stretching exercises; Electromyography; Muscle strength
Introdução
O alongamento estático é frequentemente utilizado antes da atividade principal com intuído de aumentar a amplitude de movimento (ADM)11 Akagi RTH. Acute effect of static stretching on hardness of the gastrocnemius muscle. Med Sci Sports Exerc 2013;45(7):1348-1354. Doi: 10.1249/MSS.0b013e3182850e17
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, reduzir a tensão passiva e, consequentemente, a rigidez do tecido22 Alencar TAMDA, Matias KFS. Princípios fisiológicos do aquecimento e alongamento muscular na atividade esportiva. Rev Bras Med Esporte 2010;16(3):230-234. https://doi.org/10.1590/S1517-86922010000300015
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, podendo resultar em uma melhora mecânica do movimento articular33 Almeida TT, Jabur NM. Mitos e verdades sobre flexibilidade: Reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos. Motri 2007;3(1):337-344.. O aumento agudo da ADM vem sido postulado na literatura como um de seus principais benefícios44 Behm DG, Bambur A, Cahill F. Effect of acute static stretching on force, balance, reaction time, and movement time. Med Sci Sports Exerc 2004;36(8):1397-1402. Doi: 10.1249/01.mss.0000135788.23012.5f
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,55 Chagas MH, Bhering EL, Bergamini JC, Menzel HJ. Comparação de duas diferentes intensidades de alongamento na amplitude de movimento. Rev Bras Med Esporte 2008;14(2):99-103. http://dx.doi.org/10.1590/S1517-86922008000200003.
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tanto no rendimento esportivo quanto na reabilitação de lesões.
No entanto, tem sido amplamente evidenciado o efeito negativo do alongamento estático sobre a ativação muscular (EMGRMS) e sobre o desempenho da força, principalmente quando rotinas extensas são empregadas66 Behm DG, Blazevich AJ, Kay AD. Acute effects of muscle stretching on physical performance, range of motion, and injury incidence in healthy active individuals: A systematic review. Appl Physiol Nutr Metab 2016;41(1):1-11. Doi: 10.1139/apnm-2015-0235
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7 Reis EFS, Pereira GB, Sousa NMF, Tibana RA, Silva MF, Araujo M, Gomes IJP. Acute effects of proprioceptive neuromuscular facilitation and static stretching on maximal voluntary contraction and muscle electromyographical activity in indoor soccer players. Clin Physiol Funct Imaging 2013;33(6):418-422. DOI: 10.1111/cpf.12047
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-88 Ryan ED, Beck TW, Herda TJ, Hull HR, Hartman MJ, Stout JR, Cramer JT. Do practical durations of stretching alter muscle strength? A dose-response study. Med Sci Sports Exerc 2008;40(8):1529-1537. DOI: 10.1249/MSS.0b013e31817242eb
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. Porém, quando menores volumes são empregados, os efeitos deletérios tendem a diminuir ou dissipar99 César EP, Paula CAP, Paulino D, Teixeira LML, Gomes PSC. Efeito agudo do alongamento estático sobre a força muscular dinâmica no exercício supino reto realizado em dois diferentes ângulos articulares. Motri 2015;11(3): 20-28. DOI: 10.6063/motricidade.2890
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10 César EP, Santos TM, Batista JJD, Miranda L, GOMES PSC. O alongamento estático aumenta a amplitude de movimento sem prejudicar o desempenho de saltos verticais sucessivos. Rev Educ Fis/UEM 2013;24(1):41-49. https://doi.org/10.4025/reveducfis.v24.1.17919.
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-1111 César EP, Silva TK, Rezende YM, Alvim FC. Comparação de dois protocolos de alongamento sobre a amplitude de movimento e sobre a força dinâmica. Rev Bras Med Esporte 2018;24(1):20-25. ttps://doi.org/10.1590/1517-869220182401160677.
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. Além disso, tais efeitos se manifestam na musculatura alongada, mas não há consenso sobre o efeito do alongamento estático no músculo antagonista sobre o desempenho do agonista1212 Miranda H, Maia MF, Paz GA. Acute effects of antagonist static stretching in the inter-set rest period on repetition performance and muscle activation. Res Sports Med 2015;23(1):37-50. Doi: 10.1080/15438627.2014.975812
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13 Sandberg JB, Wagner DR, Willardson JM. Acute effects of antagonist stretching on jump height, torque, and electromyography of agonist musculature. J Strength Cond Res 2012;4(26):1249-1256. Doi: 10.1519/JSC.0b013e31824f2399.
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-1414 Serefoglu A, Sekir U, Gür H. Effects of static and dynamic stretching on the isokinetic peak torques and electromyographic activities of the antagonist muscles. J Sport Sci Med 2017;1(16):6-13..
É prudente lembrar que durante a contração muscular existe a ação conjunta da musculatura agonista e de musculaturas auxiliares (antagonistas e sinergistas) que, através do mecanismo de co-contração, ajudam na estabilização ou ajuste dinâmico da rigidez das partes móveis1515 Candotti CT, Carvalho KV, Torre ML, Noll M, Varela M. Ativação e co-contração dos músculos gastrocnêmios e tibial anterior na marcha de mulheres utilizando diferentes alturas de saltos. Rev Bras Ciênc Esporte 2012;34(1):27-39. https://doi.org/10.1590/S0101-32892012000100003.
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. Esse mecanismo trata-se da contração simultânea de dois ou mais músculos em torno de uma articulação e está presente durante uma ação dinâmica, sendo importante para avaliar a qualidade da coordenação motora e o grau de estabilidade articular., oferecendo um torque concorrente ao músculo agonista durante o movimento, reduzindo o torque efetivo do músculo agonista1616 Norkin CC, Levangie PK. Muscle structure and function. J PhysTher Educ 1992;1:92-104..
Especula-se que ao alongar estaticamente a musculatura antagonista, sua rigidez e tensão passiva diminui, o que poderia reduzir o torque concorrente oferecido ao músculo agonista, aumentando assim o torque efetivo na articulação durante o movimento. No entanto, não é claro o efeito desse mecanismo sobre a força gerada pela musculatura agonista1717 Tuller B, Turvey MT, Fitch HL. The bernstein perspective: II. The concept of muscle linkage or coordenative structure. New York: Psychology Press; 1982. Doi: 10.1007/978-0-387-77064-2_6
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. Sendo assim, o objetivo do presente estudo é investigar o efeito agudo do alongamento estático realizado nos Ísquiotibiais sobre a força (10-RM) e ativação muscular (EMGRMS) do Quadríceps durante o exercício de extensão de joelhos.
Métodos
Procedimentos Gerais
O cálculo amostral teve base na equação proposta por Hopkins1818 Hopkins WG. Measures of reliability in sports medicine and science. Sports Med 2000;30(1):1-15. DOI: 10.2165/00007256-200030010-00001
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para desenhos experimentais com medidas repetidas a fim de alcançar um poder estatístico (1 - β) de 0,80. De posse do valor do erro da medida das variáveis dependentes do presente estudo, obtida por meio de estudo piloto com 6 participantes, foram estimados 15 indivíduos necessários para compor a amostra a fim de garantir um limite de confiança de 95% e uma frequência máxima de erro estatístico do tipo I de 5% e do tipo II de 20%.
Três participantes (um do grupo experimental e dois do grupo controle) não concluíram as visitas por motivos pessoais, abandonando voluntariamente a pesquisa. Sendo assim, 12 homens recreacionalmente treinados no exercício cadeira extensora (20,28 ± 1,50 anos; 83,35 ± 17,86 Kg; 177,28 ± 9,64 cm) fizeram quatro visitas ao laboratório para a totalização da coleta de dados, com intervalo mínimo de 24 horas e máximo de sete dias entre elas. Na primeira visita, após o preenchimento do termo de consentimento livre e esclarecido e da distribuição aleatória dos participantes nos grupos, foi feita a familiarização aos procedimentos experimentais das medidas de ADM, e do teste de 10-RM no exercício de extensão de joelho. O consentimento dos sujeitos foi obtido através do preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com o número do parecer 2.007.253.
Nas visitas 2 e 3 foram feitas as medidas de confiabilidade das variáveis dependentes do estudo e na última visita os participantes foram alocados aleatoriamente em grupo controle (GC) e grupo alongamento estático (AE) e submetidos aos testes de ADM e ao exercício de extensão de joelhos na cadeira extensora, com carga prevista para 10-RM e concomitante aquisição de sinal eletromiográfico dos músculos vasto lateral (VL) e vasto medial (VM), a fim de verificar a inluência do alongamento sobre o desempenho no número de repetições e ativação eletromiográfica nesse exercício. Foram adotados como critérios de inclusão: Serem praticantes de musculação no mínimo 1 ano e não fazer uso regular de qualquer recurso ergogênico nutricional e/ou farmacológico. Excluídos da seleção: indivíduos que não tinham um treinamento regular; com história recente de lesão osteomuscular ou ligamentar nos membros inferiores; ou com alguma outra contra-indicação à prática de exercícios físicos.
Um resumo do delineamento experimental pode ser melhor visualizado na Figura 1.
Medida de Amplitude de Movimento (ADM)
Foram feitas demarcações nos pontos anatômicos trocantérico, espaço intercondilar e maléolo lateral para o posicionamento do eletrogoniômetro (EMG System do Brasil, EMG 830C). Em seguida o participante foi posicionado em decúbito dorsal com o quadril e o joelho flexionados a aproximadamente 90° e a parte posterior da coxa apoiada em um aparato com o quadril estabilizado por uma fita inextensível. Em seguida, o avaliador realizou a extensão passiva do joelho de forma lenta e gradual até o maior ponto de desconforto relatado pelo participante (Figuras 2A e 2B). Foram feitas três medidas do ângulo máximo obtido durante os testes, com um intervalo de 10 segundos entre elas e utilizou-se a média para análise estatística.
Teste de 10 RM
Os participantes foram posicionados sentados no aparelho cadeira extensora com as costas totalmente apoiadas e o quadril e tronco envoltos por fitas inextensíveis. O eletrogoniômetro foi posicionado com os joelhos fletidos e a parte distal da perna em contato com um aparato acolchoado. A carga foi ajustada seguindo os valores obtidos nos testes de 10-RM das visitas de confiabilidade e cada participante foi orientado a realizar o maior número de repetições possíveis, partindo da fase concêntrica, a 90° de flexão do joelho, até a extensão do joelho, tocando um elástico posicionado em um aparato à sua frente. Caso o elástico não fosse tocado por duas vezes consecutivas, o teste era interrompido. Durante todo o teste o voluntário foi encorajado verbalmente pelos investigadores.
Aquisição do Silnal Eletromiográfico (EMG)
O registro do sinal eletromiográfico foi feito no músculo VL e VM durante o teste de 10-RM em todas as visitas. Previamente, foram removidos os pelos e o local de colocação dos eletrodos foi limpo com álcool e feita uma pequena abrasão com uma lixa para remover o tecido cutâneo morto para reduzir a impedância no local. O posicionamento dos eletrodos foi orientado pelos pontos anatômicos descritos pelo SENIAM e o eletrodo de referência foi fixado no processo estiloide do rádio no membro ipsilateral às coletas. Os pares de eletrodos foram fixados com uma distância aproximada de 2 cm entre seus centros. Todo protocolo de preparação da aquisição do sinal EMG foi baseado em Hermes et al.1919 Hermens HJ, Freriks B, Disselhorst-Klug C, Rau G. Development of recommendations for SEMG sensors and sensor placement procedures. J Electromyogr Kinesiol 2000;10(5):361-374. DOI: 10.1016/s1050-6411(00)00027-4
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.
O registro eletromiográfico foi feito utilizando-se um sistema de aquisição de 04 canais com conversor analógico/digital com resolução de 16 bit e eletrodos de superfície bipolar (EMG System do Brasil, EMG 830C) com 2000 Hz de frequência de amostragem por canal.
Rotina de Alongamento Estático
O participante foi posicionado em decúbito dorsal com o quadril flexionado a 90° Em seguida o avaliador realizou uma mobilização passiva, lenta e gradual de extensão do joelho até o ponto de maior desconforto sinalizado pelo indivíduo e mantida a posição por 30 segundos. Foram realizadas 3 repetições intercalando os membros inferiores.
Estatística
A estabilidade das medidas de ADM e carga máxima utilizada no teste de 10-RM foi determinada por meio do coeficiente de correlação intraclasse (CCI método paralelo), utilizando os valores obtidos durante as duas visitas de confiabilidade. Além disso, foi feito o cálculo do erro típico da medida (ETM) que, de acordo com Hopkins et al.1818 Hopkins WG. Measures of reliability in sports medicine and science. Sports Med 2000;30(1):1-15. DOI: 10.2165/00007256-200030010-00001
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é determinada pela razão entre desvio padrão das diferenças obtidas entre os pares de medida e a raiz quadrada do algarismo dois. Finalmente, para determinação do grau de concordância entre as medidas, foi feita a representação de Bland e Altman2020 Bland JM. Altman DG. Comparing two methods of clinical measurement: A personal history. Int J Epidemiol 1995;24(1):7-14. DOI: 10.1093/ije/24.supplement_1.s7
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para cada par de medidas.
A normalidade foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk. O efeito dos diferentes tratamentos sobre o desempenho no teste de 10-RM e para o EMGRMS foi analisado por um teste t para amostras independentes.
A diferença entre os valores de ADM foi testada a partir de uma ANOVA de duas entradas com medidas repetidas no fator tempo. Quando foram detectadas diferenças significativas no efeito principal ou interação entre eles, o teste post hoc de Bonferroni foi utilizado. A magnitude do efeito do alongamento foi calculada pelo tamanho do efeito (TE) segundo a classificação proposta por Rhea2121 Rhea MR. Determining the magnitude of treatment effects in strength training research through the use of the effect size. J Strength Cond Res 2004;18(4):918-920. Doi: 10.1519/14403.1.
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. Todas as análises foram realizadas no software SPSS 17.0 for Windows® (IBM Corporation, New York, EUA) e adotou-se uma significância estatística de ( = 0,05.
Resultados
A confiabilidade das medidas de ADM e do teste de 10-RM estão na Tabela 1.
Observa-se que todas as medidas apresentaram associação e repetibilidade altas e um baixo valor de erro associado, atestando um alto grau de confiabilidade.
O teste de normalidade mostrou distribuição normal para todas as medidas com exceção das medidas após alongamento.
Na comparação entre as médias dos grupos testados, foi observada interação significativa para ADM tanto no efeito principal (P = 0,019), quanto para interação entre grupo e tempo (P = 0,023). O teste de post hoc identificou aumento significativo apenas na ADM do AL (P = 0,013; TE = 0,12) em comparação ao GC (P = 0,557) (Figura 3) .
Vale observar no gráfico que ambas as condições de alongamento promoveram melhoras na ordem de 19% na ADM de flexão do joelho, o que ultrapassa o ETM% (18%) e nos dá maior poder de predição e segurança na interpretação desse resultado.
Em relação ao número de repetições realizadas no exercício de extensão de joelho, o grupo AL obteve valor significativamente mais alto (P = 0,014; TE = 1,87; 16%) do que o grupo controle, o que suplanta o ETM% (0,3%).
As medidas de EMGRMS não apresentaram diferenças significativas para nenhuma das comparações realizadas.
Discussão
Um dos principais achados desse estudo foi o aumento significativo do desempenho da força no músculo agonista imediatamente após o emprego do alongamento estático na musculatura antagonista. O número de repetições realizadas na cadeira extensora para o AL foi 16% maior (P = 0,014) do que no GC. Tal fato é reforçado pela grande importância clínica verificada por meio do tamanho do efeito (TE = 1,87). Esse resultado está em acordo com Miranda et al.1212 Miranda H, Maia MF, Paz GA. Acute effects of antagonist static stretching in the inter-set rest period on repetition performance and muscle activation. Res Sports Med 2015;23(1):37-50. Doi: 10.1080/15438627.2014.975812
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e Sandberg et al.1313 Sandberg JB, Wagner DR, Willardson JM. Acute effects of antagonist stretching on jump height, torque, and electromyography of agonist musculature. J Strength Cond Res 2012;4(26):1249-1256. Doi: 10.1519/JSC.0b013e31824f2399.
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, que relatam aumento no número de repetições ou no pico de torque da musculatura agonista após alongamento estático do antagonista. Além disso, esse foi o primeiro estudo a avaliar o efeito do alongamento estático na musculatura antagonista sobre o desempenho da musculatura agonista em exercício isoinercial monoarticular de membros inferiores.
Muito é discorrido sobre o efeito do alongamento estático sobre o desempenho da força na musculatura agonista1313 Sandberg JB, Wagner DR, Willardson JM. Acute effects of antagonist stretching on jump height, torque, and electromyography of agonist musculature. J Strength Cond Res 2012;4(26):1249-1256. Doi: 10.1519/JSC.0b013e31824f2399.
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, mas poucos estudos e com resultados controversos investigaram o desempenho da musculatura agonista quando o seu antagonista é alongado previamente.
Miranda et al.2222 Miranda H, Maia M, Paz GA. Acute effects of antagonist static stretching in the inter-set rest period on repetition performance and muscle activation. Res Sport Med 2015;23(1)37-50. Doi: 10.1080/15438627.2014.975812
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reportaram que o volume de treino do grupo que realizou 40 s de alongamento estático na musculatura antagonista entre as séries no exercício remada sentado foi significativamente maior (P = 0,010; TE = 2,66) do que o controle. De forma semelhante, Sandberg et al.1313 Sandberg JB, Wagner DR, Willardson JM. Acute effects of antagonist stretching on jump height, torque, and electromyography of agonist musculature. J Strength Cond Res 2012;4(26):1249-1256. Doi: 10.1519/JSC.0b013e31824f2399.
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evidenciaram melhora no pico de torque isocinético para a extensão de joelho somente em velocidades altas (300°s.-1; P = 0,032; TE = 0,29) e para a altura do salto com contra-movimento (P = 0,011; TE = 0,09) após três repetições de 30s de alongamento estático na musculatura antagonista, sugerindo que o efeito pode ser específico para velocidades altas ou movimentos que envolvam potência. No entanto, Serefoglu et al.1414 Serefoglu A, Sekir U, Gür H. Effects of static and dynamic stretching on the isokinetic peak torques and electromyographic activities of the antagonist muscles. J Sport Sci Med 2017;1(16):6-13. não foram capazes de evidenciar diferença estatística no pico de torque isocinético do quadríceps e dos Ísquiotibiais após terem seus respectivos músculos antagonistas alongados por quatro repetições de 30s. Os autores, no entanto, não realizaram medida de ADM na musculatura antagonista para verificar se o alongamento surtiu algum tipo de efeito e mesmo utilizando o volume citado, o fato do alongamento ter sido feito de forma ativa e com intensidade no ponto de médio desconforto pode ter reduzido o efeito esperado, uma vez que tais fatores são evidenciados na literatura como intervenientes no efeito do alongamento estático 2323 Apostolopoulos N, Metsios GS, Flouris AD, Koutedakis Y. The relevance of stretch intensity and positiona systematic review. Front in Psychol 2015;6:1128. Doi: 10.3389/fpsyg.2015.01128
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.
Apesar do aumento significativo no número de repetições realizadas no exercício de extensão de joelhos (P = 0,014; TE = 1,87; 16%), não foi observada mudança significativa no EMGRMS da musculatura agonista após o emprego do alongamento estático no antagonista. Esse fato sugere que essa diferença observada para o AE não está relacionada com o aumento da ativação muscular dos agonistas e que, possivelmente, mecanismos mecânicos e metabólicos tais como alterações na sensibilidade aguda de proprioceptores musculares específicos, fadiga e armazenamento de energia elástica seriam os responsáveis pela melhora no desempenho. Além disso, Sandberg et al.1313 Sandberg JB, Wagner DR, Willardson JM. Acute effects of antagonist stretching on jump height, torque, and electromyography of agonist musculature. J Strength Cond Res 2012;4(26):1249-1256. Doi: 10.1519/JSC.0b013e31824f2399.
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e Serefoglu et al.1414 Serefoglu A, Sekir U, Gür H. Effects of static and dynamic stretching on the isokinetic peak torques and electromyographic activities of the antagonist muscles. J Sport Sci Med 2017;1(16):6-13. também não foram capazes de detectar mudanças na ativação muscular do VL após alongar os Ísquiotibiais com volumes semelhantes ao do presente estudo. Por sua vez, Miranda et al.2222 Miranda H, Maia M, Paz GA. Acute effects of antagonist static stretching in the inter-set rest period on repetition performance and muscle activation. Res Sport Med 2015;23(1)37-50. Doi: 10.1080/15438627.2014.975812
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não encontraram modificação na atividade do músculo peitoral maior após 40 s de alongamento estático durante o exercício de remada sentado, sugerindo que a melhora no número de repetições demostrada pelo grupo que realizou os alongamentos não está associada à redução da coativação da musculatura antagonista. No presente estudo, o tipo de exercício utilizado não nos permitiu captar o sinal eletromiográfico da musculatura alongada durante as repetições realizadas na cadeira extensora. Porém, a falta de alteração do EMG do quadríceps atrelada ao aumento no número de repetições nesse exercício e ao aumento da ADM de extensão do joelho com quadril flexionado sugerem que fatores mecânicos, como mudança na curva de coprimento tensão dos ísquiotibiais, levaram à redução da força de frenagem promovida por essa musculatura durante o movimento.
De fato, tem sido evidenciado na literatura que alterações no EMGRMS são mais evidentes mediante volumes extensos de alongamento estático2424 Fowles JR, Sale DG. Reduced strength after passive stretch of the human plantarflexors. J Appl Physiol 2000; 89(3):1179-1188. Doi: 10.1152/jappl.2000.89.3.1179
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,2525 Herda TJ, Cramer JT, Ryan ED, McHugh MP. Acute effects of static versus dynamic stretching on isometric peak torque, electromyography, and mechanomyography of the biceps femoris muscle. J Strength Cond Res 2008;3(22):809-817. Doi: 10.1519/JSC.0b013e31816a82ec
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. Porém, quando volumes menores são empregados, tais alterações são menos frequentes1111 César EP, Silva TK, Rezende YM, Alvim FC. Comparação de dois protocolos de alongamento sobre a amplitude de movimento e sobre a força dinâmica. Rev Bras Med Esporte 2018;24(1):20-25. ttps://doi.org/10.1590/1517-869220182401160677.
https://doi.org/10.1590/1517-86922018240...
,2626 Ryan ED, Beck TW, Herda TJ, Hull HR, Hartman MJ, Costa PB, Defreitas JM, Stout JR. The Time course of musculotendinous stiffness responses following different durations of passive stretching. J Orthop Sport Phys Ther 2008;10(38):632-639. DOI: 10.2519/jospt.2008.2843
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. Dessa forma, podemos especular que o volume de alongamento utilizado no presente estudo foi suficiente apenas para alterar as propriedades mecânicas da musculatura antagonista, reduzindo assim o torque concorrente ao quadríceps durante o exercício.
Outro fato importante que ajuda a explicar a melhora do desempenho da força no grupo que realizou o alongamento foi o aumento significativo da ADM (P = 0,013; TE = 0,12; 19%) no movimento de extensão do joelho. O aumento agudo da ADM já é amplamente evidenciada na literatura por diversos autores, considerando rotinas contínuas, fracionadas e com diversos volumes diferentes22 Alencar TAMDA, Matias KFS. Princípios fisiológicos do aquecimento e alongamento muscular na atividade esportiva. Rev Bras Med Esporte 2010;16(3):230-234. https://doi.org/10.1590/S1517-86922010000300015
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,99 César EP, Paula CAP, Paulino D, Teixeira LML, Gomes PSC. Efeito agudo do alongamento estático sobre a força muscular dinâmica no exercício supino reto realizado em dois diferentes ângulos articulares. Motri 2015;11(3): 20-28. DOI: 10.6063/motricidade.2890
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,1010 César EP, Santos TM, Batista JJD, Miranda L, GOMES PSC. O alongamento estático aumenta a amplitude de movimento sem prejudicar o desempenho de saltos verticais sucessivos. Rev Educ Fis/UEM 2013;24(1):41-49. https://doi.org/10.4025/reveducfis.v24.1.17919.
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. No entanto, alguns autores sugerem que, para que esse aumento aconteça, mudanças estruturais como a redução na rigidez e na tensão passiva da unidade músculo-tendínea (UMT) ocorrem de forma aguda após a realização do alongamento estático2727 Hirata K, Mikami EM, Kanehisa H. Muscle-specific acute changes in passive stiffness of human triceps surae after stretching. Eur J Appl Physiol 2016;116(5):911-918. DOI: 10.1007/s00421-016-3349-3
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. Essas mudanças estão fortemente associadas à capacidade do músculo de sofrer deformação (mudanças de comprimento)2828 Taneda M, Pompeu JE. Fisiologia e importância do órgão tendinoso de Golgi no controle motor normal. Rev Neuoc 2006;14(1):37-42.. Admitindo que há uma redução na viscoelasticidade da UMT, consequentemente, o tecido se torna mais complacente e oferece menos resistência à mudança de comprimento.
Uma das possíveis explicações desse mecanismo é a combinação da ação dos fusos musculares com os órgãos tendinosos de Golgi (OTG), que regulam o tônus e a complacência muscular2929 Aquino CF, Gonçalves GGP, Fonseca ST. Mancini MC. Análise da relação entre flexibilidade e rigidez passiva dos isquiotibiais. Rev Bras Med Esporte 2006;12(4):195-200. Doi: 10.1590/S1517-86922006000400006.
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. No presente estudo não foram realizadas medidas de rigidez, tensão passiva ou EMGRMS da musculatura antagonista, mas com base no aumento significativo da ADM e amparado por consistentes achados na literatura, pode-se presumir que a melhora no desempenho no exercício de cadeira extensora provavelmente se deu em função de modificações estruturais sofridas na musculatura antagonista após o alongamento estático, o que evidentemente gerou um menor torque concorrente durante o exercício3030 Fowles JR, Sale DG. Reduced strength after passive stretch of the human plantarflexors. J Appl Physiol 2000;3(89):1179-1188. Doi: 10.1152/jappl.2000.89.3.1179.
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.
Deve-se considerar algumas limitações do presente estudo. Uma delas foi o fato de três participantes não concluírem todas as visitas, impossibilitando atingir o n amostral calculado. Outro fator a ser destacado foi a ausência de medidas de rigidez, tensão passiva e EMGRMS da musculatura antagonista. Tal fato de deveu a dificuldade operacional em colocar os eletrodos na musculatura posterior da coxa durante o exercício de cadeira extensora e a ausência de equipamento adequado para se medir a tensão passiva durante o teste de ADM. No entanto, o resultado de aumento agudo da ADM na extensão passiva de joelho atrelado às evidências disponíveis na literatura se tornam razoáveis para explicar parcialmente a melhora do desempenho do músculo agonista no exercício de extensão de joelhos. Além disso, o presente estudo apresenta achados relevantes sobre o aumento do volume de treinamento (n° de repetições) com carga de 10-RM após uma rotina simples de alongamento estático. Esse aumento está associado a melhora do ganho de força e massa muscular, o que pode favorecer os praticantes com esses objetivos.
Conclusões
O resultado do presente estudo indica que a realização do alonamento estático dos ísquiotibiais é capaz de aumentar o número de repetições no exercício cadeira extensora sem que, no entanto, haja alteração na atividade mioelétrica dos músculos vasto lateral e vasto medial. Tal fato somado ao aumento da amplitude de movimento observada no movimento de extensão de joelho com o quadril estendido após o alongamento, nos leva a concluir que a melhora no desempenho de deve a mudança de fatores mecânicos e estruturais da musculatura alongada.
Esses achados trazem implicações práticas quanto à utilização do alongamento estático na musculatura antagonista previamente ao desempenho da força do músculo agonista. Dessa forma, praticantes recreacionais de treinamento de força podem utilizar essa estratégia caso o objetivo seja aumentar o volume de treinamento.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
05 Maio 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
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Recebido
24 Abr 2019 -
Revisado
30 Jun 2020 -
Aceito
10 Jul 2020