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Mapas-múndi das literaturas: o Brasil no espaço literário internacional no início do terceiro milênio

World Maps of Literatures: Brazil in The International Literary Space at The Beginning of The Third Millennium

RESUMO

O objetivo da presente discussão é refletir sobre o Brasil literário nos mapas-múndi das literaturas, conforme expressão e conceito de Lambert (1990), e sobre o espaço literário internacional, segundo Casanova (1999), em contraponto à chamada literatura mundial de Damrosch (2003). Portanto, num primeiro momento, apresento um panorama teórico com as reflexões e ideias de Lambert e Casanova em contraste com as de Damrosch, e mostro, num segundo momento, qual a contribuição do Brasil literário, principalmente a partir da visão de mundo plural de Casanova e Lambert, nos mapas-múndi das literaturas envolvendo traduções de ficção no sistema cultural e literário francês contemporâneo. Uso, para tanto, documentação oficial oriunda das Feiras de Livro de Paris, da Embaixada Brasileira em Paris e dos catálogos das editoras francesas que publicam traduções da literatura ficcional brasileira.

Palavras-Chaves:
Mapas das literaturas; Literatura brasileira traduzida em francês; Espaço literário internacional

ABSTRACT

The objective of the present discussion is to reflect on literary Brazil in the World Maps of literatures, according to the expression and concept of Lambert (1990); and on the international literary space according to Casanova (1999), as opposed to Damrosch’s so-called “world literature”(2003). Therefore, at first, I present a theoretical panorama with the reflections and ideas of Lambert and Casanova in counterpoint to those of Damrosch, and I show, in a second moment, what the contribution of literary Brazil is, mainly from the plural worldview of Casanova and Lambert, in the world maps of literatures involving fiction translations in the contemporary French cultural and literary system. For this purpose, I use official documentation from the Paris Book Fairs, the Brazilian Embassy in Paris and the catalogs of French publishers that publish translations of Brazilian fictional literature.

Keywords:
Maps of Literatures; Brazilian Literature Translated into French; International Literary Space

Pensamentos valem e vivem pela observação exata ou nova, pela reflexão aguda ou profunda; não menos querem a originalidade, a simplicidade e a graça do dizer.

Machado de Assis (Carta a Joaquim Nabuco, 19/08/1906)

A “literatura mundial” parece se referir a todas as literaturas nacionais do mundo e à circulação de obras no mundo para além do seu país de origem. Cada vez mais considerada num contexto internacional, a literatura circula graças às traduções em diferentes línguas-culturas. O objetivo da presente discussão é tentar refletir sobre o lugar do Brasil nos mapas-múndi das literaturas (LAMBERT, 1990LAMBERT, José. À la recherche de cartes mondiales des littératures in Semper aliquid novi. Mélanges offerts à A. Girard, J. Riesz et A. Richard éd. Gunter Narr Tübingen, 1990.) e sobre o espaço literário internacional (CASANOVA, 1999CASANOVA, Pascale. La république mondiale des lettres. Paris: Seuil, 1999. 512 p.), apreendidos no plural, como contraponto à chamada literatura mundial (DAMROSCH, 2003DAMROSCH, David. What is world literature? Princeton: Princeton University, 2003. 344 p.), no singular. Contextualizando as obras acima citadas nas diferentes línguas-culturas, nota-se que nem todas circulam na língua-cultura do outro - pelo menos, concomitantemente.

O texto seminal do José Lambert, À la recherche de cartes mondiales des littératures(“À procura de mapas-múndi das literaturas”, 2011) foi publicado em francês em 1990, e traduzido um ano depois para o inglês, (reimpresso pela John Benjamins em 2006) (LAMBERT, 2006LAMBERT, José. In quest of literary world maps. In: DELABASTITA, Dirk; D'hulst, Lieven; Meylaerts, Reine (ed.).Functional approaches to culture and translation. Selected papers by José Lambert. Amsterdam: John Benjamins, 2006. p. 15-30.). Ou seja, o texto de José Lambert circulou e circula graças à sua tradução para o inglês. O mesmo processo ocorreu com a obra da Pascale Casanova (2001CASANOVA, Pascale. La república mundial de las letras. Tradução de Jaime Zulaika. Barcelona: Anagrama, 2001. 475 p.), La république mondiale des lettres, que foi traduzida para o espanhol e publicada na Espanha em 2001, para português do Brasil em 2002 e para o inglês americano em 2004. Segundo a Editora Seuil1 1 Disponível em: https://www.seuil.com/ouvrage/la-republique-mondiale-des-lettres-pascale-casanova/9782757809983. Acesso em: 10 out. 2021. , a obra foi traduzida para uma dúzia de línguas. Ambos os textos escritos originalmente em francês - o de Lambert e o de Casanova -, foram traduzidos para as línguas centrais, conforme a própria expressão de Casanova. Em contrapartida, o texto What is world literature? [“O que é literatura mundial?”], de David Damrosch, nunca foi traduzido, nem para o francês, nem para o espanhol, e, até onde sei, nunca foi traduzido para nenhuma outra língua. O motivo aparece escancarado: está escrito na atual língua mundial2 2 Título do último livro de Casanova publicado em vida e traduzido em português por Marie Helene Torres em 2021, A língua mundial: tradução e dominação, publicado pelas editoras universitárias da UFSC e da UnB. - outro termo caro a Casanova.

Pretendo, portanto, num primeiro momento, apresentar um panorama teórico a partir das reflexões e ideias de Lambert e Casanova em contraponto às de Damrosch, e, num segundo momento, determinar qual a contribuição do Brasil literário, principalmente a partir da visão de mundo plural de Casanova e Lambert, nos mapas-múndi das literaturas envolvendo traduções de ficção no sistema cultural e literário francês contemporâneo.

LAMBERT (1990): MAPAS-MÚNDI DAS LITERATURAS

O teórico belga José Lambert, que está radicado no Brasil desde 2009, pesquisando em universidades federais em Florianópolis e em Fortaleza, publicou em 1990 um artigo importante e pioneiro pela editora alemã Gunter Narr Verlag, À la recherche de cartes mondiales des littératures3 3 Usamos nas citações a tradução em português do Brasil de 2011 de Walter Carlos Costa. (“À procura de mapas-múndi das literaturas”). É interessante observar, e de certo modo é sintomático, que as ideias de Lambert sobre mapas-múndi das literaturas se internacionalizaram via Alemanha, berço da Weltliteratur de Goethe e dos românticos, já que o original francês foi publicado em Tübingen e sua tradução4 4 Deveria talvez falar aqui de versão em inglês, pois o tradutor é o autor do texto em francês, ou seja, o próprio José Lambert. em Berlim em 1991 (LAMBERT, 1991aLAMBERT, José. En busca de mapas mundiales de las literaturas. In: BEHAR, Lisa Block de (ed.). Términos de comparación. Los estudios literarios entre historias y teorías. Montevideo: Academia Nacional de Letras, 1991a. p. 65-78.,bLAMBERT, José. In quest of literary world maps. In: KITTEL, Harald; FRANK, Armin Paul (ed.). Interculturality and the historical study of literary translations. Berlin: Eric Schmidt, 1991b. p. 133-144.).

Para Lambert5 5 Ver a argumentação desenvolvida no artigo “Traduzir é resistir: Subversão e ateísmo como dispositivo de internacionalização da cultura brasileira” (TORRES, 2021b). , seja em termos de nações, seja em termos de línguas, as literaturas não constituem sistemas homogêneos ou fechados de comunicação, e a interação com outros tipos de comunicação literária, local ou internacional, ocorre o tempo todo. Com este texto sobre os mapas-múndi das literaturas, a representação literária do universo literário foi, pela primeira vez, reorientada graças ao princípio da multiplicação dos mapas. Segundo Lambert,

Todo mapa de línguas e toda representação das línguas conhecidas até agora parece postular, de fato, o princípio da coerência e da homogeneidade dos territórios. O único desvio cartográfico imaginável em relação a este princípio é, aparentemente, o bilinguismo. O multilinguismo é demasiado difícil de mapear. (LAMBERT, 2011LAMBERT, José. Em busca dos mapas-múndi das literaturas. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène Catherine; COSTA, Walter (org.). Literatura & tradução: textos selecionados de José Lambert. Tradução de Walter Carlos Costa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. p. 17-37., p. 24).

Lambert afirma, portanto, que os mapas-múndi das línguas não correspondem ao protótipo dos mapas-múndi, ou seja, aos mapas das nações (LAMBERT, 2011LAMBERT, José. Em busca dos mapas-múndi das literaturas. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène Catherine; COSTA, Walter (org.). Literatura & tradução: textos selecionados de José Lambert. Tradução de Walter Carlos Costa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. p. 17-37.). Contradizendo o conceito de “literaturas nacionais” que privilegiam as zonas literárias institucionalizadas como sendo a (única) construção elementar das configurações supranacionais, Lambert (2011LAMBERT, José. Em busca dos mapas-múndi das literaturas. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène Catherine; COSTA, Walter (org.). Literatura & tradução: textos selecionados de José Lambert. Tradução de Walter Carlos Costa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. p. 17-37., p. 27) questiona um “mapa-múndi das literaturas coincidindo como o mapa das nações (ou instituições políticas)” e que “se revelaria ao mesmo tempo atomista, eclético e anacrônico”. Evoca a impossibilidade de se chegar a um único mapa para colocar a totalidade das línguas ou a totalidade das literaturas e propõe a multiplicação dos mapas por terem mobilidade e permitirem uma visão mais ampla dessas sincronias e diacronias (2011, p. 32). A representação global das literaturas em nível mundial deve revelar questões fundamentais de autonomia, interação, superposição e absorção dos sistemas. Lambert afirma que:

Convém elaborar esquemas que possam levar em conta diferentes configurações possíveis entre as diferentes literaturas. A dificuldade consiste em descrever e interpretar suas relações, ou seja, suas fronteiras e suas interações ou ausência de interações. (LAMBERT, 2011LAMBERT, José. Em busca dos mapas-múndi das literaturas. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène Catherine; COSTA, Walter (org.). Literatura & tradução: textos selecionados de José Lambert. Tradução de Walter Carlos Costa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. p. 17-37., p. 34).

Lambert vê a combinação das perspectivas sincrônica e diacrônica, mesmo num espaço geográfico e cultural limitado, como alternativa para um autêntico mapa-múndi das literaturas. Daí, a complexidade da proposta das superposições de mapas. Lambert questiona os conceitos de mapas, nações e literatura que cada cultura transmite e desenvolve ao passar dos séculos:

Quais são as concepções em matéria de literatura em uma dada cultura? Como se definem uma em relação a outra e em relação aos sistemas político, linguístico (graças ao uso de circuitos de distribuição diferentes - escrito/oral, de línguas diferentes, de públicos diferentes?) Haveria interação entre (as) diferentes concepções literárias, ou funcionariam elas isoladamente? Certas culturas literárias absorveriam ou dominariam as outras, ou haveria simplesmente coexistência sem integração em um espaço dado (é o que acontece em certos setores do país do apartheid)? As diferentes concepções literárias seriam expressas nos metatextos e nas mensagens programáticas, que indicam a autoconsciência dos sistemas? Ou seja: qual é a organização das relações internas e externas das literaturas? (LAMBERT, 2011LAMBERT, José. Em busca dos mapas-múndi das literaturas. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène Catherine; COSTA, Walter (org.). Literatura & tradução: textos selecionados de José Lambert. Tradução de Walter Carlos Costa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. p. 17-37., p. 33-34).

O mundo literário, assim como o mundo em geral, não é binário, não é maniqueísta. É impossível pensar num único mapa-múndi das literaturas. Nem todas as culturas têm o mesmo conceito de literatura. Nem todas as literaturas são unicamente dominantes ou dominadas. Nem todos os gêneros são representados numa determinada literatura. Nem todas as literaturas têm os mesmos gêneros. Nem todas as literaturas são escritas. Nem todas as literaturas são orais. Essas condições, elementos e categorias variam com a época, o ponto de vista interno e o externo de cada uma. Os questionamentos são inúmeros e os mapas também. Lambert nos leva a pensar a pluralidade e a pensar de forma plural. No caso contrário, seria fazer tábula rasa do genius loci. Como diz Lambert (2011LAMBERT, José. Em busca dos mapas-múndi das literaturas. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène Catherine; COSTA, Walter (org.). Literatura & tradução: textos selecionados de José Lambert. Tradução de Walter Carlos Costa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. p. 17-37.), não podemos esquecer de considerar sempre “[...] o caráter provisório de qualquer mapa e mesmo de todas as construções, cartográficas e outras” (LAMBERT, 2011LAMBERT, José. Em busca dos mapas-múndi das literaturas. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène Catherine; COSTA, Walter (org.). Literatura & tradução: textos selecionados de José Lambert. Tradução de Walter Carlos Costa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. p. 17-37., p. 37). E já antecede Casanova quando afirma que deve se considerar os pontos nevrálgicos das literaturas, isto é, as suas autonomias, independências, interações etc.

CASANOVA (1999): O ESPAÇO LITERÁRIO INTERNACIONAL6 6 L'espace littéraire international é o título da tese de doutorado em Literatura Comparada da Casanova. Disponível em: http://www.theses.fr/1997EHESA035. Acesso em: 10 out. 2021.

Na segunda edição do seu livro La république mondiale des lettres, de 2008, Pascale Casanova inseriu um prefácio7 7 Préface à l’édition de 2008, p. xi-xvi. no qual relata a sua experiência com a tradução do livro em várias parte do mundo. Anuncia que o mundo anglófono questiona e faz objeções à visão da geografia literária que ela tentou desenhar:

Não posso explicar de outra forma por que as perguntas ou as objeções que me são feitas no mundo anglófono - e que se relacionam de imediato com a globalização literária e editorial, desafios teóricos e disciplinares de um corpus literário considerado de um ponto de vista mundial, a relação entre subordinações políticas ou coloniais e dependências propriamente literárias, e assim por diante - são totalmente diferentes dos problemas que são formulados, a respeito do mesmo modelo, em São Paulo, no Cairo ou em Bucareste.8 8 Tradução minha. (CASANOVA, 2008, p. 12)9 9 Do original: « Je ne peux expliquer autrement pourquoi les questions qui me sont posées ou les objections qui me sont faites dans le monde anglophone — et qui portent d’emblée sur la globalisation littéraire et éditoriale, sur les enjeux théoriques et disciplinaires d’un corpus littéraire considéré d’un point de vue mondial, sur le lien entre subordinations politiques ou coloniales et les dépendances proprement littéraires, etc. — sont totalement distinctes des problèmes qui sont formulés, à propos du même modèle, à Sao Paulo, au Caire ou à Bucarest. » (p. xii). .

Casanova afirma que a literatura, a “arte literária”, tem duas formas de dependência: comercial e nacional. E nisso, tentou, conforme o que escreve no prefácio do livro, evitar o etnocentrismo caraterístico dos espaços centrais de onde ela fala. Refere-se, portanto, aos “mundos literários” (mondes littéraires) (p. xii), ou ainda à “internacionalidade literária” (internationalité littéraire) (p. xvi).

Casanova fala de espaço literário internacional e não de literatura mundial, apesar de misturar às vezes os conceitos, como no título do seu terceiro capítulo em francês, L’espace littéraire mondial, traduzido em português por “O espaço literário mundial”10 10 Há uma única tradução em português, A república mundial das letras de 2002, feita por Marina Appenzeller a partir da primeira edição francesa de 1999. .

O que Casanova propõe é assumir, sobre os textos e sua história, um ponto de vista, uma perspectiva diferente daquela tradicionalmente tomada pelos comparatistas. Para ela, a tradução é um dos motores essenciais para a constituição e unificação do espaço literário mundial. Por ser o principal veículo para a circulação da literatura, a tradução é muitas vezes descrita como simples translação, veiculação horizontal, neutra e neutralizada dos textos (CASANOVA, 2005CASANOVA, Pascale. Pascale Casanova et Tiphaine Samoyault: Entretien sur La République mondiale des lettres. In: PRADEAU, Christophe; SAMOYAULT, Tiphaine (org.). Où est la littérature mondiale? Saint Denis: PUV, 2005. p. 139-150.). Casanova afirma que existe uma “fábrica” de textos. Assim, ela se interessa pelo poder das literaturas, as literaturas dominantes, independentes e autônomas e as literaturas dominadas que aspiram às inovações e revoluções literárias na cena internacional, e questionam as regras historicamente herdadas, os cânones culturais dominantes, trazendo a contaminação de gêneros legítimos por gêneros ilegítimos e vice-versa, as inovações nas línguas e nas literaturas ditas “periféricas” ou “menores”.

Alguns anos após a primeira edição, Casanova concedeu uma entrevista a Tiphaine Samoyault sobre La République mondiale des lettres11 11 Todas as citações da entrevista foram traduzidas por mim. . Conforme Casanova (2005CASANOVA, Pascale. Pascale Casanova et Tiphaine Samoyault: Entretien sur La République mondiale des lettres. In: PRADEAU, Christophe; SAMOYAULT, Tiphaine (org.). Où est la littérature mondiale? Saint Denis: PUV, 2005. p. 139-150.), é a estrutura mundial que impõe a sua marca em todos os textos do mundo. É o que ela descreveu anteriormente, isto é, “um espaço hierárquico, desigual, coercitivo, violento (mesmo se tratando de violência mais amena) e de maneira invisível (e ainda mais invisível por ser contrário aos pressupostos comuns da crença literária)” (CASANOVA, 2005CASANOVA, Pascale. Pascale Casanova et Tiphaine Samoyault: Entretien sur La République mondiale des lettres. In: PRADEAU, Christophe; SAMOYAULT, Tiphaine (org.). Où est la littérature mondiale? Saint Denis: PUV, 2005. p. 139-150., p. 140).

Casanova afirma que a república mundial das letras é um território invisível e não um conceito político:

o espaço literário é construído contra a política, que foi construído ao longo de quatro séculos numa luta dos escritores para inventar e impor a lei específica da literatura, ou seja, a autonomia. A história do espaço literário mundial é a de um desenraizamento, de uma emancipação progressiva em relação às restrições e imposições das autoridades políticas e nacional. (CASANOVA, 2005CASANOVA, Pascale. Pascale Casanova et Tiphaine Samoyault: Entretien sur La République mondiale des lettres. In: PRADEAU, Christophe; SAMOYAULT, Tiphaine (org.). Où est la littérature mondiale? Saint Denis: PUV, 2005. p. 139-150., p. 141).

Na mesma entrevista, Casanova (2005CASANOVA, Pascale. Pascale Casanova et Tiphaine Samoyault: Entretien sur La République mondiale des lettres. In: PRADEAU, Christophe; SAMOYAULT, Tiphaine (org.). Où est la littérature mondiale? Saint Denis: PUV, 2005. p. 139-150.) se posiciona de modo oposto ao que prega Franco Moretti, que ele fala de “sistema” e se interessa pelos gêneros literários - em especial, o romance. Para Moretti, ainda segundo Casanova, a única maneira de abordar a questão da literatura mundial (world literature) é fazer a história mundial de um gênero como o romance e acompanhar sua evolução (sua “fortuna”, como dizem os comparatistas) e suas transformações de acordo com os países, idiomas e tradições nacionais, culturais e linguísticas. Casanova, por sua vez, não considera que exista uma literatura mundial, mas sim literaturas que lutam pela sua existência e reconhecimento no espaço internacional através das traduções. O que Casanova vai chamar de literatura internacional são os best-sellers:

Hoje existe de fato uma literatura internacional, nova em sua forma e em seus efeitos, que circula com facilidade e rapidez pelo mundo inteiro por meio de traduções quase simultâneas e que faz um sucesso extraordinário porque seu conteúdo “desnacionalizado” pode ser compreendido por toda parte sem riscos de mal-entendido, mas aí passamos do internacionalismo à importação-exportação comercial. (CASANOVA, 2002CASANOVA, Pascale. A república mundial das letras. Tradução de Marina Appenzeller. São Paulo: Estação Liberdade, 2002. 436 p., p. 214).

E, para ela (CASANOVA, 1999CASANOVA, Pascale. La république mondiale des lettres. Paris: Seuil, 1999. 512 p.), o público-leitor de best-sellers traduzidos deve ser considerado como “público internacional”. Conforme Casanova, os editores americanos desvendaram os segredos do novo best-seller internacional, ou seja, o respeito pelas normas estéticas em vigor e por uma visão de mundo ocidental. No intuito de tocar esse público internacional, o best-seller traduzido, sem suas referências originais, será interpretado e avaliado de maneira diferente do que foi no seu estado original (TORRES, 2009TORRES, Marie Helene Catherine. Best-sellers em tradução: o substrato cultural internacional. Revista Alea, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 278-283, jul./dez. 2009. Disponível em: Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-106X2009000200006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt . Acesso em: 10 fev. 2022.
https://www.scielo.br/scielo.php?script=...
).

DAMROSCH (2003): A LITERATURA MUNDIAL

Treze anos após a conceptualização dos mapas-múndi por Lambert, (res)surge a expressão de “literatura mundial” (Weltliteratur), cunhada por Goethe no espaço cultural europeu na década de 1820. Desde então, o conceito deu origem a inúmeras reflexões em todos os continentes e a literatura mundial passou a designar um objeto de pesquisa acadêmica, que será institucionalizado nos anos 2000 como um campo “internacional” de pesquisa. Internacional ou norte-americano? A pergunta tem sua importância, já que a noção de world literature é principalmente discutida e teorizada nos Estados Unidos e na Inglaterra. Os trabalhos mais recentes no campo da literatura mundial são evidenciados pelas propostas de David Damrosch e de Franco Moretti, entre outros. David Damrosch, na sua obra What is World Literature? (DAMROSCH, 2003DAMROSCH, David. What is world literature? Princeton: Princeton University, 2003. 344 p., p. 288), aproxima a literatura mundial da existência de traduções: “World literature is writing that gains in translation” [“A literatura mundial é uma escrita que ganha com a tradução”]. Por literatura mundial, é possível entender toda a literatura, de todo o mundo, em todas as línguas, de todas as épocas. A meu ver, parece um tanto complicado e utópico.

Teóricos como Moretti e Damrosch conceitualizaram e argumentaram sobre a existência de uma literatura mundial. Moretti considera a literatura mundial como una e desigual. Segundo Medeiros (2019MEDEIROS, Paulo. Teses sobre o conceito de literatura-mundial. Via Atlântica, São Paulo, n. 35, p. 307-331, jul. 2019.), esse conceito é contrário a qualquer ideia de literatura-mundial, sendo principalmente um cânone de obras-primas basicamente ocidentais. Franco Moretti propôs um atlas literário que organiza a produção de romances numa estrutura em árvore baseada em alguns poucos centros geográficos e desenha as leis de transformação no mundo todo.

Para David Damrosch, numa perspectiva pós-Goethe, a literatura mundial não designa um corpus dentro do qual algumas leis temáticas, genéricas ou formais poderiam ser identificadas, mas sim um modo de leitura (DAMROSCH, 2003DAMROSCH, David. What is world literature? Princeton: Princeton University, 2003. 344 p.). Como destaca Lambert (2016LAMBERT, José. World literature, comparative literature, translation studies: Selective un-attention?. Universidad de Barcelona, International Weltliteratur, 2016. (Apresentação de Trabalho/Simpósio)., p. 43) “a literatura mundial (world literature) se desenvolveu como um conceito dos Estudos Literários”, e compartilha algumas de suas características”. Lambert ainda questiona o seguinte: “Como poderíamos excluir qualquer tipo de literatura/atividades literárias em nosso planeta? Será que a world literature é melhor do que qualquer literatura que excluímos?” (LAMBERT, 2016LAMBERT, José. World literature, comparative literature, translation studies: Selective un-attention?. Universidad de Barcelona, International Weltliteratur, 2016. (Apresentação de Trabalho/Simpósio)., p.43).

Para David Damrosch, a literatura mundial não é uma simples coleção de obras, mas sim uma questão de circulação e recepção. Segundo ele, para que uma obra seja parte da literatura mundial, deve funcionar e adquirir um significado através da tradução. Porém, Damrosch (2003) tem um conceito restrito da tradução literária:

A linguagem literária é, portanto, uma língua que ganha ou perde na/com a tradução. (DAMROSCH, 2003DAMROSCH, David. What is world literature? Princeton: Princeton University, 2003. 344 p., p. 289).12 12 Do original: “Literary language is thus language that either gains or loses in translation”. (DAMROSCH, 2003, p. 289).

A tradução literária não seria um outro original, um outro texto escrito numa outra língua-cultura, para outro público-leitor, em outro tempo e espaço do que o texto primeiro tradicionalmente chamado de “original” e por um autor diferente do autor daquele texto “original”, o tradutor?

O BRASIL NO ESPAÇO LITERÁRIO INTERNACIONAL

Pretendo descrever e analisar aqui, a partir das traduções de ficção em francês entendidas como parte ou como um dos possíveis recortes de mapas literários, a contribuição e o posicionamento do Brasil literário nos mapas-múndi das literaturas, principalmente a partir da visão de mundo plural de Casanova e de Lambert.

Nesse início de terceiro milênio, há uma valorização da literatura brasileira contemporânea, como o comprovam as obras traduzidas no sistema cultural e literário francês. Após ter sido homenageado pela primeira vez em 1998, em fin-de-siècle, o Brasil foi novamente escolhido como país convidado de honra em 2015 no Salon du livre de Paris, a famosa Feira do Livro de Paris que passou a se chamar “Livre Paris” a partir de 2016. Ferreira e Oliveiri-Godet (2015FERREIRA, Maria da Conceição Coelho Ferreira; OLIVIERI-GODET, Rita, Les Lettres brésiliennes. Revue IdeAs, n. 5, p. 1-4, mar. 2015. Disponível em: Disponível em: https://journals.openedition.org/ideas/977 . Acesso em: 19 out. 2021.
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) destacam que o Brasil é o primeiro país a ser homenageado pela segunda vez na Feira do Livro de Paris, o que atesta a importância de sua presença no imaginário social e o crescente interesse da França pelas cultura e literatura brasileiras. Ferreira e Olivieri-Godet (2015FERREIRA, Maria da Conceição Coelho Ferreira; OLIVIERI-GODET, Rita, Les Lettres brésiliennes. Revue IdeAs, n. 5, p. 1-4, mar. 2015. Disponível em: Disponível em: https://journals.openedition.org/ideas/977 . Acesso em: 19 out. 2021.
https://journals.openedition.org/ideas/9...
) salientam ainda que eventos culturais como o Ano do Brasil na França (2005) e o Ano da França no Brasil (2009) contribuíram para intensificar o intercâmbio entre os dois países. Ao analisarmos a “Bibliografia das traduções de romances brasileiros em francês no século XX”, percebe-se que Jorge Amado, Machado de Assis e Clarice Lispector foram os autores mais traduzidos para o francês no período (TORRES, 2004TORRES, Marie Helene Catherine. Variations sur l'étranger dans les lettres: cent ans de traductions françaises des lettres brésiliennes. Arras: Artois Presses Université, 2004. 329 p., 2014TORRES, Marie Helene Catherine. Traduzir o Brasil literário: história e crítica. Tubarão: Copiart, 2014. 2 v. 397 p.). A editora Stock13 13 Disponível em: https://www.editions-stock.fr/auteurs/jorge-amado. Acesso em: 10 out. 2021. reeditou entre 2005 e 2013, em formato impresso e em ePub, as traduções de uma dezena de obras de Jorge Amado publicadas no século passado.

Clarice Lispector, que foi homenageada no mundo todo com novas traduções por ocasião do centenário do seu nascimento em 2020, teve quase todas as suas obras reeditadas entre 2014 e 2020 pela editora Des Femmes. Novas traduções foram editadas pela Des Femmes entre 2020 e 2021, como L’Heure de l’étoile traduzido por Marguerite Wünscher e Sylvie Durastanti, Correspondance, traduzido por Didier Lamaison, Claudia Poncioni e Paulina Roitmane; e La femme qui a tué les poissons et autres contes, traduzido por Izabella Borges, Jacques e Teresa Thiériot.

Quanto a Machado de Assis, suas obras começaram a ser reeditadas, não em papel, mas sim em formato eletrônico pela Métailié a partir de 2014, como L’Aliéniste e Dom Casmurro et les yeux de ressac. No final de 2020, a editora Du Jasmin publicou a primeira tradução de Iaiá Garcia em francês, na tradução de Isabelle Leymarie.

Os romances best-sellers de Paulo Coelho foram todos traduzidos ao francês, no período de 1994-2004, pela Editora Anne Carrière e, a partir de 2005, pela Éditions Flammarion, que comprou os direitos de publicação. As tradutoras dos romances de Paulo Coelho para a Flammarion são: Françoise Marchand-Sauvagnargues até 2016, e, a partir de 2016, Elodie Dupau e Cécile Lombard, com Hippie (2018) e La Voie de l'Archer (2019). Nota-se ainda que, nas listas de autores estrangeiros mais vendidos na França, Coelho continua entre os dez mais vendidos junto com Margaret Atwood, Harlan Coben, Rowling, Higgins Clark ou George Orwell14 14 Disponível em: https://fr.statista.com/statistiques/643332/ecrivains-etrangers-preferes-contemporains-france/; https://livre.fnac.com/top-10-livres-roman-etranger/ta95497. Acesso em: 19 out. 2021. , o que também é sintomático. Reeditar uma obra permite basicamente evitar que os estoques se esgotem em prol da continuidade da sua comercialização. Portanto, os clássicos da literatura brasileira não são retraduzidos, mas sim reeditados no início do 3º milênio, como também é o caso de Diadorim de Joao Guimarães Rosa, reeditado em 2006 pela Albin Michel na tradução Maryvonne Lapouge-Pettorelli (1ª trad. 1991); Hautes Terres, la Guerre de Canudos de Euclides da Cunha reeditado em 2012 pela Editora Métailié na tradução de Jorge Coli e Antoine Seel (a primeira tradução é de 1993) ou ainda Macounaïma, reeditado pela nova editora Cambourakis em 2016 na tradução de Jacques Thiériot (a primeira tradução é de 1979, pela Flammarion).

Graciliano Ramos e Adolfo Caminha fazem exceção à regra. Graciliano Ramos foi retraduzido cinquenta anos após a primeira tradução francesa de Vidas Secas por Marie-Claude Roussel sob o título de Sécheresse por Mathieu Dosse, em 2014, com outro título, Vies arides (editora Chandeigne). O romance Bom-crioulo (1895), de Adolfo Caminha, foi também retraduzido com novo título (Un amour d’ébène) em 2010, por Alexis Pereira de Gamboa para a editora Quintes-Feuilles. O título da primeira edição de 1996 era Rue de la Miséricorde, na tradução de Maryvonne Lapouge Pettorelli (Métailié).

Podemos fazer especulações fundadas na própria divulgação que o Brasil faz da sua literatura e, particularmente, pela Embaixada Brasileira em Paris através do Bulletin culturel spécial “Livre Paris 2017”: échantillon d’auteurs brésiliens parus en France15 15 Disponível em: https://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/Paris/fr/file/BC%20SPECIAL%20LIVRE%20PARIS%202017%20-%20SELECTION%20LITTERATURE.pdf. Acesso em: 19 out. 2021. , para obter um perfil do posicionamento contemporâneo da literatura brasileira nos mapas-múndi das literaturas. Acredito que graças a esse boletim cultural, pode-se ter um panorama dos títulos divulgados de 2015 a 2017 e das editoras francesas que publicam atualmente obras brasileiras em tradução. Conforme o Bulletin Culturel da Embaixada do Brasil em Paris, em relação ao milênio anterior, o Brasil consagrou novos autores, estudiosos, tradutores e editoras. Participaram mais de quarenta convidados em diversas atividades, entre palestras, lançamentos de livro, encontros literários, mesas redondas, leitura de textos etc.

Ruffato é um dos autores mais em voga da nova geração de autores brasileiros traduzidos. Sua obra descreve a vida dos trabalhadores pobres no Brasil. É publicado pela Editora Metailié: Tant et tant de chevaux (Eles eram muitos cavalos), 2005; Des Gens heureux (Inferno provisório), 2007; Le Monde ennemi (O mundo inimigo), 2010; Brésil (2000-2015), coletivo com apresentação e organização de Ruffato; Remords (O verão tardio), de 2021. O coletivo Brésil (2000-2015) reúne vinte e cinco autores brasileiros entre escritores mais novos e mais experientes, como Milton Hatoum, Cristóvão Tezza, Paulo Lins, Cintia Moscovich, Marçal Aquino, Bernardo Carvalho, Patrícia Melo, Adriana Lunardi, Tatiana Salem Levy, Daniel Galera, Luisa Geisler, entre outros. A editora Métailié publicou ainda de Adriana Lisboa, Des roses rouge vif (Sinfonia em branco), 2009; Bleu corbeau (Azul corvo), 2013; e Hanoï (Hanói), 2015.

A literatura amazônica é cada vez mais traduzida na França. De fato, a representação da Amazônia na literatura, seja no imaginário não somente francês, seja em outras culturas, sempre seduziu os leitores, conforme relatos de viagens de estrangeiros na Amazônia através dos tempos, alguns recentemente publicados em tradução no Brasil na revista Cadernos de Tradução: Traduzindo Relatos de Viagem sobre a Amazônia de 2021. É o que chamo de “Literatura Verde”, seguindo o conceito de Magagnin (2019MAGAGNIN, Paolo. Ecologia e ideologia nei Translation Studies cinesi. Costellazioni, v. 7, 2019.), literatura que, de uma forma ou de outra, observa com cuidado o mundo natural e sua marca no destino da humanidade, traz a natureza, a Terra, o meio-ambiente como temáticas, personagens, enredos e mostra as relações da natureza e do homem, de forma crítica, sobre a forma e o trabalho de escrita, essência da literatura.

Recém-chegada ao mercado, a editora Asphalte publica e traduz o belenense Edyr Augusto, com os romances Belém (Os Éguas) em 2013, Nid de vipères (Casa de Caba) em 2015, Pssica (Pssica) em 2017 e Casino Amazonie (Belhell) em 2021. Milton Hatoum, que já era publicado pela Editora Seuil com Récit d’un certain Orient (Relato de um certo oriente), em 1993, e Deux frères em 2003 (Dois Irmãos), passou a ser publicado pela Actes Sud na coleção “Lettres latino-américaines”: Cendres d’Amazonie (Cinzas do Norte) em 2008; Orphelins de l’Eldorado (Órfãos do Eldorado) em 2010; Les deux frères (Dois Irmãos) em 2015; La ville au milieu des eaux (A cidade ilhada) em 2018 e La Nuit de l’attente (A noite da espera) em 2021, traduzido por Michel Riaudel.

O manausense Marcio Souza é traduzido pela Métailié com Mad Maria (Mad Maria) em 2002 e L’Empereur d’Amazonie (Galyez emperador do Acre) em 2017. Daniel Munduruku16 16 Disponível em: http://danielmunduruku.blogspot.com. Acesso em: 19 out. 2021. , que recebeu prestigiosos prêmios como o Jabuti ou o Prêmio Tolerância da UNESCO para suas obras infanto-juvenis, não demorará a ser traduzido em francês, pois já tem traduções em inglês e em alemão. O surgimento dos ecogêneros, propondo novas formas de habitar o mundo, novas interações entre o homem e seu meio ambiente, levarão com certeza os estudiosos dos Estudos da Tradução a considerar a ecotradução17 17 Criei o neologismo “ecotradução” a partir do termo inglês ecotranslation de Cronin. Ver a esse respeito minha “Nota da Tradutora” em Cadernos de Tradução “Traduzindo a Amazônia”, 2021a (GUERINI; TORRES, 2021). como possível arcabouço teórico para analisar e explicar a relação entre a literatura, o ambiente natural e a tradução.

Outro autor que teve três das suas obras retraduzidas é Moacyr Scliar por Philippe Poncet para a editora Folies D’Encre: Max et les fauves (Max e os felinos) em 2009, cuja tradução anterior tinha outro título, Max et les chats (1991); Le carnaval des animaux (O carnaval dos animais) em 2010 e Le centaure dans le jardin (O Centauro no jardim) em 2011. Os mesmos tradutor e editora publicaram La Guerre de Bom Fim (A guerra no Bom Fim) em 2010 e Le Manuel de la passion solitaire (Manual da paixão solitária) em 2012, Les léopards de kafka (Os leopardos de Kafka) em 2018 e L’armée d’un seul homme (O exército de um homem só) em 2015. Em 2018, a editora Orphie G. Doyen publicou do mesmo autor Un rêve dans le noyau d’un avocat (Um sonho no caroço do abacate), com tradução de François-Xavier Gérard.

Autores presentes no coletivo Brésil (2000-2015) são também traduzidos, o que atesta a sua circulação em francês. É o caso da Patrícia Mello, cujo romance O matador foi traduzido e publicado pela editora Albin Michel em 1995, para depois ser unicamente publicada pela Actes Sud: Gog Macgog (2021), L’Eloge du mensonge (Elogio da Mentira) em 2000, Enfer (Inferno) em 2001, Acqua Toffana (Acqua Toffana) (2003), Le Diable danse avec moi (Valsa Negra) (2005), Monde perdu (Mundo perdido) em 2008, Le voleur de cadavres (Ladrão de Cadáveres) em 2012, e Feu follets (Fogo-fátuo) em 2017. Bernardo Carvalho, também representado no coletivo Brésil (2000-2015), é publicado pela Métailié e traduzido por Geneviève Leibrich: Mongolia (Mongolia) em 2004; Neuf nuits (Nove Noites) em 2005; Le soleil se couche à São Paulo (O sol se põe em São Paulo) em 2008; Ta mère (O Filho da Mãe) em 2010 e Reproduction (Reprodução) em 2015. Les initiales (2002) foi publicado pela editora Rivages e Payot com a tradução de Maryvonne Lapouge-Pettorelli e Sympathie pour le démon (Simpatia pelo demônio) em 2018 foi traduzido por Danielle Schramm pela Métailié.

O Brasil literário na França se faz mais presente com autores, tradutores e editoras diversificados em comparação com o século XX. Observa-se por exemplo que, entre os setenta e cinco autores representados no Bulletin Culturel: “Livre Paris 2017”: Échantillon d'auteurs brésiliens parus en France, 60% das obras publicadas tiveram apoio financeiro do Brasil: uma obra teve o apoio do Ministério da Cultura, três o apoio do Ministério das Relações Exteriores brasileiro e quarenta o apoio da Fundação Biblioteca Nacional. Há igualmente muitos tradutores novos no mercado da literatura brasileira traduzida em francês nas duas últimas décadas, como os tradutores-escritores Diniz Galhos18 18 Disponível em: https://www.babelio.com/auteur/Diniz-Galhos/168534. Acesso em: 19 out. 2021. , que traduziu romances policiais noir de Edyr Augusto ou os de Noémi Kopp Tanaka19 19 Disponível em: https://www.linkedin.com/in/noemi-kopp-tanaka-b1034144. Acesso em: 19 out. 2021. ,e que escreve e traduz literatura infanto-juvenil; Paula Anacoana, que é editora-tradutora principalmente de literatura brasileira engajada, e publica a maioria das obras brasileiras traduzidas graças ao apoio da Fundação Biblioteca Nacional; o tradutor-professor-pesquisador Mathieu Dosse20 20 Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-79682017000200359. Acesso em: 19 out. 2021. , que é mestre e doutor em Literatura Comparada pela Université Paris VIII - Vincennes-Saint-Denis; Stéphane Chao21 21 Disponível em: https://br.linkedin.com/in/st%C3%A9phane-chao-6b366947. Acesso em: 19 out. 2021. , diretor da Agência Literária SC, entre outros.

Ademais, percebe-se que novas editoras dominam o mercado de publicação de traduções de obras brasileiras no mercado francês, como a Chandeigne (criada em 1992 e que intensificou as publicações de traduções de literatura brasileira22 22 Disponível em: https://editionschandeigne.fr/. Acesso em: 19 out. 2021. ), a Anacoana (criada no final de 2009), a Envolume23 23 Disponível em: https://editionsenvolume.com/nous/. Acesso em: 19 out. 2021. (criada em 2014) e a Anacharsis24 24 Disponível em: http://www.editions-anacharsis.com/Anacharsis. Acesso em: 19 out. 2021. (criada em 2000), suplantando as tradicionais editoras Stock, Gallimard ou ainda Flammarion, que dominavam as publicações na área no século passado (TORRES, 2004TORRES, Marie Helene Catherine. Variations sur l'étranger dans les lettres: cent ans de traductions françaises des lettres brésiliennes. Arras: Artois Presses Université, 2004. 329 p.). Na editora Envolume, que publicou Domício Proença e Godofredo de Oliveira Neto, Pierre Michel Pranville, um dos tradutores, estudou o romance policial português e brasileiro na sua tese de doutorado e traduziu Sem Coração de Miguel Miranda25 25 Disponível em: https://editionsenvolume.com/nous/. Acesso em: 19 out. 2021. . Uma voz editorial feminina única se destaca com Paula Anacoana da editora Anacoana. Paula Anacoana, que é tradutora, apaixonada pela literatura em geral e pela literatura brasileira em particular26 26 Disponível em: https://www.anacaona.fr/les-editions-anacaona-une-passerelle-de-diffusion-de-la-litterature-bresilienne-en-france/. Acesso em: 19 out. 2021. , publica literatura engajada com traduções ecofeministas e literatura negra, como as obras de Djamila Ribeiro, Joice Berth ou o coletivo Je suis favela, Je suis Rio, Je suis toujours favela na coleção Romans Favela. E quanto à editora Chandeigne, foi criada em 1992 por Anne Lima e Michel Chandeigne27 27 Disponível em: https://editionschandeigne.fr/notre-maison/. Acesso em: 19 out. 2021. , se especializou em literatura lusófona e publicou em tradução de Jérôme Thomas em 2021 Les peuples indiens du Brésil do jesuíta português Fernão Cardim ou ainda Miracle au Brésil de Augusto Boal, traduzido por Mathieu Dosse. Todos esses editores têm, na base, uma relação intelectual ou afetiva com a literatura brasileira.

Além das editoras recentes das quais falei anteriormente, das editoras Cambourakis criada em 2006, da Asphalte e da Quintes-Feuilles, ambas criadas em 2010, há duas editoras que publicam traduções de autores brasileiros, como a Folies d’Encre ou a Actes Sud. A Folies d’Encre28 28 Disponível em: https://actualitte.com/article/17161/distribution/folies-d-encre-l-ennemi-du-libraire-c-est-l-isolement. Acesso em: 19 out. 2021. é uma livraria que se expandiu e criou paralelamente uma editora. Essa publicou, como vimos, Moacyr Scliar, mas também traduções de contos de Luis Fernando Veríssimo, traduzidos em 2003 pela editora: L’Écailler du Sud, Jack Tance, un privé à Rio bem como quatro romances Et mourir de plaisir (2001), Borges et les orangs-outangs éternels (Borges e os Orangotangos Eternos) em 2004 e Le doigt du diable (O Jardim do Diabo) em 2006 na editora Seuil e Les espions (Os Espiões) em 2013 publicado pela editora Folies D’Encre. A editora Actes Sud publicou traduções de Luiz Schwarcz, também editor-fundador da Companhia das Letras no Brasil (Eloge de la coïncidence, 2007, e La langue des signes, 2014), bem como as investigações do delegado Espinosa de Luiz Alfredo Garcia-Roza: Le Silence de la pluie (O silêncio da chuva) em 2004, Objets trouvés (Achados e Perdidos) em 2005, Bon anniversaire, Gabriel! (Vento Sudoeste) em 2006, Une fenêtre à Copacabana (Uma janela em Copacabana) em 2008, L’étrange cas du docteur Nesse (Perseguido) em 2010 e Nuit d’orage à Copacabana (Espinosa sem saída) em 2015.

Apesar das previsões de lançamento de livros para o início de 2022 não incluírem nenhum oriundo do Brasil entre os romances mais esperados segundo o Livres Hebdo29 29 Disponível em: https://www.livreshebdo.fr/article/545-romans-pour-la-rentree-dhiver-2022. Acesso em: 19 out. 2021. , até março de 2022, foi lançado pela Editora Michel Lafon o livro para adolescentes Confessions d’une fille invisible, rejetée et (un peu) drama-queen - livro da autora Thalita Rebouças que inspirou um filme da Netflix. É infelizmente impossível saber quem traduziu, pois, como de costume, as editoras francesas quase nunca mencionam o tradutor na apresentação dos seus livros. Outro romance lançado em janeiro, Le poids de cet oiseau-là (O peso do pássaro morto30 30 Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/05/como-aline-bei-virou-autora-best-seller-vendendo-seus-livros-no-instagram.shtml. Acesso em: 19 out. 2021. ) de Aline Bei nas Editions Aldeia, tem o nome da tradutora na capa, Anne-Claire Ronsin.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A imagem da literatura brasileira na França era, dezessete anos atrás, segundo Riaudel e Rivas (2005RIAUDEL, Michel; RIVAS, Pierre. Littérature du Brésil. Revue Europe, n. 919/920, nov./dez. 2005.) a de uma literatura voltada para o colapse, a catástrofe, a ruptura das relações sociais e para a questão de unidade nacional. Observei na minha análise das traduções desse início de terceiro milênio, até março de 2022, que a França traduz também obras brasileiras cujas temáticas ultrapassam os estereótipos miséria/violência/crueldade/favelas/corrupção para se voltar para a tradução de romances sociais inovadores (Ruffato), romances envolvendo a Amazônia não somente como elemento da natureza mas como personagem (Hatoum, Edyr Augusto, Marcio Souza), romances policiais (Veríssimo, Schwarcz) ou escritos de ativistas mulheres (Djamila Ribeiro, Joice Berth).

O perfil dos escritores convidados para a Feira do Livro de Paris em 2017 é um retrato representativo das obras brasileiras em francês neste início de milênio. Trata-se de um perfil acadêmico, isto é, deu-se visibilidade a autores contemporâneos, jovens, oriundos da academia ou professores de universidades de renome no Brasil, na França ou em Portugal (60%) e mais feminino, já que um terço dos nomes são de autoras mulheres. Participaram ainda quatro professores universitários nos debates e apresentações. Essa é a tendência contemporânea das traduções de obras brasileiras em francês. Autores clássicos como Clarice Lispector ou Machado de Assis continuam sendo publicados, como observado. A editora Des Femmes na França, detentora dos direitos de publicação de Clarice Lispector, publicou em 2020 La Passion selon G.H., traduzido por Paulina Roitman e Didier Lamaison e L’Heure de l’étoile traduzido por Marguerite Wünscher e Sylvie Durastanti31 31 Disponível em: https://www.desfemmes.fr/litterature/coffret-clarice-lispector. Acesso em: 19 out. 2021. . Em 2015, a Garnier, que era a editora de Machado no Rio de Janeiro, e detentora dos direitos autorais de todas as suas obras na época, publicou uma retradução de Várias Histórias por Saulo Neiva (Histoires Diverses) Ademais, a maioria das obras dos escritores brasileiros contemporâneos traduzidos na França obtiveram prêmios no Brasil antes de serem traduzidos no sistema literário francês - como o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), o Prêmio Copa de Literatura Brasileira, o Prêmio Jabuti, o Prêmio São Paulo de Literatura, o Prêmio SESC ou ainda o selo Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ. Ocorre, portanto, através das traduções das obras, uma universalização dos prêmios literários nacionais. Entretanto, apesar de Casanova considerar a literatura brasileira como uma “literatura menor” nos mapas-múndi das literaturas, ela trata o Brasil como um caso especial, pois o país conseguiu alcançar uma verdadeira independência literária (FREITAS; TORRES, 2020FREITAS, Luana Ferreira de; TORRES, Marie-Hélène Catherine. Brazil in the world map of translation: the french case. Cadernos de Tradução, Florianópolis, v. 40, n. 2, p. 65-76, maio/ago. 2020. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/2175-7968.2020v40n2p65/43258 . Acesso em: 1 fev. 2022.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/tra...
). E, assim como afirmou José Lambert a respeito dos mapas-múndi,

A questão das literaturas do mundo inteiro dificilmente pode ser tratada à margem das questões fundamentais de autonomia, interação, superposição e absorção dos sistemas. (LAMBERT, 2011LAMBERT, José. Em busca dos mapas-múndi das literaturas. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène Catherine; COSTA, Walter (org.). Literatura & tradução: textos selecionados de José Lambert. Tradução de Walter Carlos Costa. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. p. 17-37., p. 33-34).

Acrescentaria que a tradução se apresenta cada vez mais como um fato e um ato político (TORRES, 2021aTORRES, Marie Helene Catherine. Traduzindo a Amazônia, nota da tradutora. Cadernos de Tradução, Florianópolis, v. 41, n. esp, 2021a. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/84952 . Acesso em: 25 jun. 2022.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/tra...
). É nessa luta pelo poder e pela dominação que surgiu o manifesto Pour une littérature-monde[“Por uma literatura-mundo”], lançado em 2007 por Michel Le Bris, Jean Rouaud e Eva Almassy (2007LE BRIS, Michel; ROUAUD, Jean; ALMASSY, Eva. Manifeste: pour une littérature-monde. Paris: Gallimard, 2007. 344 p.)32 32 Disponível em: http://www.gallimard.fr/Catalogue/GALLIMARD/Hors-serie-Litterature/Pour-une-litterature-monde. Acesso em: 19 out. 2021. , e assinado por escritores como Tahar Ben Jelloun, Édouard Glissant, Le Clézio ou ainda Amin Maalouf. O manisfesto defende o conceito de literatura-mundo em detrimento do conceito de literatura em ou de língua francesa. Trata-se, paradoxalmente, de luta pela hegemonia e pela possibilidade de mais um mapa-múndi literário. Sem os principais agentes mediadores, editores, estudiosos, instituições locais que exportam suas literaturas com programas promovendo as traduções em línguas-culturas estrangeiras e, principalmente os tradutores, não existiriam tantos possíveis mapas-múndi literários, tantos conceitos envolvendo as literaturas do mundo. São justamente estes agentes mediadores e transformadores que, superando o que Casanova (2021CASANOVA, Pascale. A língua mundial: tradução e dominação. Tradução de Marie Helene Torres. Florianópolis: EDUFSC, 2021.) afirma, desempenham um papel internacional, ao levarem a periferia (o Brasil literário como um todo) para um grande centro (o sistema cultural e literário francês) em busca de reconhecimento e consagração da sua literatura.

REFERÊNCIAS

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  • TORRES, Marie Helene Catherine. Variations sur l'étranger dans les lettres: cent ans de traductions françaises des lettres brésiliennes. Arras: Artois Presses Université, 2004. 329 p.
  • 1
    Disponível em: https://www.seuil.com/ouvrage/la-republique-mondiale-des-lettres-pascale-casanova/9782757809983. Acesso em: 10 out. 2021.
  • 2
    Título do último livro de Casanova publicado em vida e traduzido em português por Marie Helene Torres em 2021, A língua mundial: tradução e dominação, publicado pelas editoras universitárias da UFSC e da UnB.
  • 3
    Usamos nas citações a tradução em português do Brasil de 2011 de Walter Carlos Costa.
  • 4
    Deveria talvez falar aqui de versão em inglês, pois o tradutor é o autor do texto em francês, ou seja, o próprio José Lambert.
  • 5
    Ver a argumentação desenvolvida no artigo “Traduzir é resistir: Subversão e ateísmo como dispositivo de internacionalização da cultura brasileira” (TORRES, 2021bTORRES, Marie Helene Catherine. Traduzir é resistir: subversão e ateísmo como dispositivo de internacionalização da cultura brasileira. Revista Belas Infiéis, Brasília, v. 10, n. 4, p. 1-15, 2021b. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/34136/31638 . Acesso em: 22 jun. 2022.
    https://periodicos.unb.br/index.php/bela...
    ).
  • 6
    L'espace littéraire international é o título da tese de doutorado em Literatura Comparada da Casanova. Disponível em: http://www.theses.fr/1997EHESA035. Acesso em: 10 out. 2021.
  • 7
    Préface à l’édition de 2008, p. xi-xvi.
  • 8
    Tradução minha.
  • 9
    Do original: « Je ne peux expliquer autrement pourquoi les questions qui me sont posées ou les objections qui me sont faites dans le monde anglophone — et qui portent d’emblée sur la globalisation littéraire et éditoriale, sur les enjeux théoriques et disciplinaires d’un corpus littéraire considéré d’un point de vue mondial, sur le lien entre subordinations politiques ou coloniales et les dépendances proprement littéraires, etc. — sont totalement distinctes des problèmes qui sont formulés, à propos du même modèle, à Sao Paulo, au Caire ou à Bucarest. » (p. xii).
  • 10
    Há uma única tradução em português, A república mundial das letras de 2002, feita por Marina Appenzeller a partir da primeira edição francesa de 1999.
  • 11
    Todas as citações da entrevista foram traduzidas por mim.
  • 12
    Do original: “Literary language is thus language that either gains or loses in translation”. (DAMROSCH, 2003DAMROSCH, David. What is world literature? Princeton: Princeton University, 2003. 344 p., p. 289).
  • 13
    Disponível em: https://www.editions-stock.fr/auteurs/jorge-amado. Acesso em: 10 out. 2021.
  • 14
    Disponível em: https://fr.statista.com/statistiques/643332/ecrivains-etrangers-preferes-contemporains-france/; https://livre.fnac.com/top-10-livres-roman-etranger/ta95497. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 15
    Disponível em: https://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/Paris/fr/file/BC%20SPECIAL%20LIVRE%20PARIS%202017%20-%20SELECTION%20LITTERATURE.pdf. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 16
    Disponível em: http://danielmunduruku.blogspot.com. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 17
    Criei o neologismo “ecotradução” a partir do termo inglês ecotranslation de Cronin. Ver a esse respeito minha “Nota da Tradutora” em Cadernos de Tradução “Traduzindo a Amazônia”, 2021aTORRES, Marie Helene Catherine. Traduzindo a Amazônia, nota da tradutora. Cadernos de Tradução, Florianópolis, v. 41, n. esp, 2021a. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/84952 . Acesso em: 25 jun. 2022.
    https://periodicos.ufsc.br/index.php/tra...
    (GUERINI; TORRES, 2021GUERINI, Andreia; TORRES, Marie Helene (org.). Traduzindo a Amazônia. Cadernos de Tradução, Florianópolis, v. 41, 2021. Disponível em: Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/issue/view/3201 . Acesso em: 10 fev. 2022.
    https://periodicos.ufsc.br/index.php/tra...
    ).
  • 18
    Disponível em: https://www.babelio.com/auteur/Diniz-Galhos/168534. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 19
    Disponível em: https://www.linkedin.com/in/noemi-kopp-tanaka-b1034144. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 20
    Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-79682017000200359. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 21
    Disponível em: https://br.linkedin.com/in/st%C3%A9phane-chao-6b366947. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 22
    Disponível em: https://editionschandeigne.fr/. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 23
    Disponível em: https://editionsenvolume.com/nous/. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 24
    Disponível em: http://www.editions-anacharsis.com/Anacharsis. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 25
    Disponível em: https://editionsenvolume.com/nous/. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 26
    Disponível em: https://www.anacaona.fr/les-editions-anacaona-une-passerelle-de-diffusion-de-la-litterature-bresilienne-en-france/. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 27
    Disponível em: https://editionschandeigne.fr/notre-maison/. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 28
    Disponível em: https://actualitte.com/article/17161/distribution/folies-d-encre-l-ennemi-du-libraire-c-est-l-isolement. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 29
    Disponível em: https://www.livreshebdo.fr/article/545-romans-pour-la-rentree-dhiver-2022. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 30
    Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/05/como-aline-bei-virou-autora-best-seller-vendendo-seus-livros-no-instagram.shtml. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 31
    Disponível em: https://www.desfemmes.fr/litterature/coffret-clarice-lispector. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 32
    Disponível em: http://www.gallimard.fr/Catalogue/GALLIMARD/Hors-serie-Litterature/Pour-une-litterature-monde. Acesso em: 19 out. 2021.

Editado por

Editor-chefe:

Rachel Esteves Lima

Editor executivo:

Regina Zilberman

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    10 Fev 2022
  • Aceito
    15 Maio 2022
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