Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação dos níveis de prolactina sérica: é necessário repouso antes da coleta?

CARTA AO EDITOR

Avaliação dos níveis de prolactina sérica: é necessário repouso antes da coleta?

José Gilberto H. Vieira; Juliana H. Oliveira; Teresinha Tachibana; Rui M.B. Maciel; Omar M. Hauache

Setor de Imunoensaios, Laboratório Fleury, São Paulo, SP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência José Gilberto Henriques Vieira Disciplina de Endocrinologia – UNIFESP/EPM Rua Pedro de Toledo 781, 12º andar 04039-032 São Paulo, SP E-mail: jose.vieira@fleury.com.br

Sr. Editor,

CONDIÇÕES ESTRESSANTES SABIDAMENTE levam à elevação de vários hormônios séricos, sendo a prolactina um deles (1). A descrição de níveis elevados de prolactina, em condições de grande estresse como salto de pára-quedas (2), levou à proposição de que a coleta de prolactina sérica deveria ser feita sempre após repouso. Ferriani e cols. (3) já haviam demonstrado que o estresse induzido pela punção venosa pouco influencia os níveis séricos de prolactina. No entanto, devido à grande variabilidade do conceito de estresse, da dificuldade de medi-lo e da variação da sensibilidade individual, dúvidas ainda persistem quanto à necessidade de repouso (em geral 30 minutos) antes da coleta de amostra para a dosagem de prolactina sérica. Realizamos um estudo sobre o assunto objetivando ter bases mais sólidas sobre a conduta a seguir no que concerne às condições de coleta de amostras séricas para a medida de prolactina em condições de rotina.

A dosagem de prolactina foi realizada empregando ensaio imunofluorométrico (4) e, de um total de 21.854 amostras coletadas sem repouso prévio, selecionamos todas com valores acima de 40 µg/L, que não estavam em uso de medicação que pudesse afetar os níveis de prolactina e que não apresentavam níveis elevados em amostras anteriores. De um total de 1.688 amostras com prolactina acima de 40 µg/L, 390 preencheram os critérios acima, e a estes indivíduos foi sugerida uma nova coleta, desta vez após 30 minutos de repouso. Retornaram e coletaram nova amostra 157 indivíduos, sendo que em 40 deles (25,5%) os resultados foram normais na amostra coletada em repouso (inferior a 20 µg/L, média ± dp= 11,8 ± 1,5) e em 117 (74,5%) os valores continuaram acima do normal (55,6 ± 2,4), caracterizando um grupo que respondeu ao repouso e outro que não respondeu. Os valores iniciais dos dois grupos eram semelhantes (64,1 ± 4,4 e 64,6 ± 1,9 µg/L). Estes resultados indicam que a solicitação de repouso para a coleta de todas as amostras para a dosagem de prolactina pode ser desnecessária, desde que o número de indivíduos que podem se beneficiar da coleta pós-repouso é muito pequeno (inferior a 1%).

Uma dosagem de prolactina deve incluir uma anamnese cuidadosa quanto ao uso de drogas que possam afetar os níveis de prolactina e, nos casos de hiperprolactinemia, a pesquisa de macroprolactina. A coleta em repouso deve ser limitada aos pacientes em que, afastadas as condições supracitadas, a potencial interferência de estresse deva ser afastada. O médico assistente é a pessoa melhor posicionada para este julgamento, lembrando que a própria definição de condição de estresse pode ser muito difícil e deve ser individualizada, para uma correta interpretação dos resultados laboratoriais.

REFERÊNCIAS

1. Jacobs S, Brown AS, Mason J, Wahby V, Kasl S, Ostefeld A. Psychological distress, depression and prolactin response in stressed persons. J Human Stress 1986;12:113-8.

2. Noel GL, Dimond RC, Earl JM, Frantz AG. Prolactin, thyrotropin, and growth hormone release during stress associated with parachute jumping. Aviat Space Environ Med 1976;47:534-7.

3. Ferriani RA, Silva de Sá MF. Effect of venipuncture stress on plasma prolactin levels. Int J Gynaecol Obstet 1985;23:459-62.

4. Vieira JGH, Nishida SK, Lombardi MT, Kasamatsu TS. Desenvolvimento de um ensaio imunofluorimétrico para a dosagem de prolactina sérica e identificação das isoformas circulantes. Arq Bras Endocrinol Metab 1996;40:187-92.

Recebido em 24/02/06

Aceito em 10/03/06

  • Endereço para correspondência

    José Gilberto Henriques Vieira
    Disciplina de Endocrinologia – UNIFESP/EPM
    Rua Pedro de Toledo 781, 12º andar
    04039-032 São Paulo, SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Ago 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 2006
    Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Rua Botucatu, 572 - conjunto 83, 04023-062 São Paulo, SP, Tel./Fax: (011) 5575-0311 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: abem-editoria@endocrino.org.br