Acessibilidade / Reportar erro

Ciência e política no Brasil das últimas décadas

Ciência e política no Brasil das últimas décadas

Que formas de atuação política cabem legitimamente aos cientistas e a suas associações? Esta questão controvertida e sem respostas definitivas não impediu Carolina Bori de atuar consistentemente, em diversas frentes e com diversas armas, no sentido de envolver a comunidade científica na vida do país em todas as questões politicamente relevantes para as quais a ciência brasileira poderia contribuir, a começar pela educação, instrumento fundamental da cidadania e de desenvolvimento sócio-econômico.

Foi durante as gestões de Carolina Bori à frente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que se implantaram programas de divulgação científica como a revista "Ciência Hoje", "Ciência Hoje das Crianças", e o programa "Ciência Hoje pelo Rádio", para não falar de sua atuação no IBECC, na Estação Ciência e em outros projetos e instituições, atuação essa já comentada no ítem anterior e documentada na súmula de seu currículo. Da mesma natureza é sua atuação em comissões e grupos de trabalho ligados ao desenvolvimento do ensino em vários níveis, e à criação, edição e assessoria a revistas científicas.

Desenvolvimento científico e tecnológico autônomos, indispensáveis para a transformação do país, requerem verbas e apoio de agências de fomento. Carolina Bori participou da luta por recursos, tanto para a Psicologia como para a ciência em geral, junto à FAPESP, à CAPES, ao FINEP, ao CNPQ, e à frente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência quando da implantação do PADCT, programa de recursos para a ciência e tecnologia.

Desenvolvimento científico também requer a atuação unificada da comunidade. A contribuição de Carolina Bori para a Psicologia, neste aspecto, é inestimável: pela participação em sociedades científicas como a Associação Brasileira de Psicologia e a Sociedade de Psicologia de São Paulo, ainda na década de 60 e a Associação de Modificação de Comportamento e a Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto, nos anos 70; pela participação na criação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP (da qual foi primeira presidente), e na implantação (como primeira presidente) da Sociedade Brasileira de Psicologia, promotora do principal encontro científico brasileiro na área de Psicologia e editora de duas revistas científicas na área, criadas durante sua gestão.

E, para além da Psicologia, pela participação na criação (como tesoureira da diretoria provisória de implantação) da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo - ADUSP, pioneira e modelo de associações docentes em todo o país.

Para além do país, também: Carolina Bori participou da criação da Associação Interciência, da qual foi vice-presidente na gestão 1983-1985, espaço de interação entre a ciência brasileira e a de países vizinhos.

Os depoimentos que se seguem documentam o papel de Carolina Bori nessas várias frentes de atuação política, mas especialmente na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ao longo de várias gestões como parte da Diretoria, Carolina Bori quebrou várias tradições: uma mulher à frente dos cientistas brasileiros; uma pesquisadora da área de Psicologia, cujo status de ciência ela tanto contribuíu para criar em nosso meio; uma cientista com a clareza e a coragem de liderar a comunidade científica na luta por questões fundamentais no processo de redemocratização do país.

Figura 1: Simão Mathias, Mílton Campos, Carolina Bori, Dalmo Dalari, Domingos Valente, Crodowaldo Pavan, Rocha Barros e José Jeremias, integrantes da primeira diretoria da ADUSP, 1976. (Revista ADUSP, 1996, n.8.)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 1998
  • Data do Fascículo
    1998
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - Bloco A, sala 202, Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, 05508-900 São Paulo SP - Brazil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revpsico@usp.br