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Construindo histórias e sentidos sobre uma perda familiar na vida adulta

Constructing stories and meanings about family loss in adulthood

Construire des récits et des significations sur la perte familiale à l’âge adulte

Construir historias y significados sobre la pérdida familiar en la edad adulta

Resumo

Este artigo tem como objetivo descrever os sentidos das histórias de perda familiar na perspectiva de doze pessoas enlutadas devido à morte do cônjuge, filho, pai, mãe ou irmão. Foi realizada uma entrevista qualitativa com aplicação de roteiro temático e mapa de redes, sendo que a organização, integração e análise dos dados ocorreram por meio dos procedimentos de codificação da teoria fundamentada empiricamente. Destacam-se como resultados da pesquisa a construção de histórias e sentidos em torno do que foi perdido, do que causou a perda do familiar e do tipo de sofrimento e legados do luto. Conclui-se que os sentidos das histórias de perda parental reforçam a necessidade da promoção de conversações e ressignificações deste tipo de luto na vida adulta em diversos contextos relacionais de apoio ao luto.

Palavras-chave:
luto; narrativas; construcionismo social; rede social

Abstract

This article describes the meanings of family loss stories from the perspective of 12 bereaved people due to the death of their spouse, son, father, mother or brother. A qualitative interview was conducted with the application of thematic scripts and network mapping, and the organization, integration and analysis of the data took place following the coding procedures of the Empirically Grounded Theory. The results show the construction of stories and meanings around what was lost, what caused the loss of family members, and the type of suffering and legacies of grief. The meanings of parental loss stories reinforce the need to promote conversations and reinterpretations of this type of mourning in adult life in different relational contexts to support mourning.

Keywords:
mourning; narratives; social constructionism; networking

Résumé

Cet article vise à décrire la signification des récits de pertes familiales à partir de 12 personnes endeuillées en raison du décès de leur conjoint, fils, père, mère ou frère. Un entretien qualitatif a été mené avec l’application d’un script thématique et d’une carte du réseau, et l’organisation, l’intégration et l’analyse des données ont eu lieu grâce aux procédures de codage de la Théorie Empiriquement Fondée. La construction de récits et de significations sur ce qui a été perdu, ce qui a causé la perte d’un proche et le type de souffrance et de legs de deuil sont les résultats marquants. Nous concluons que les significations des récits de perte parental renforcent le besoin de promouvoir des conversations et des réinterprétations de ce type de deuil à l’âge adulte dans différents contextes relationnels pour soutenir le deuil.

Mots-clés:
deuil; récits; constructionnisme social; réseau social

Resumen

Este artículo tiene como objetivo describir los significados de las historias de pérdidas familiares desde la perspectiva de doce personas en duelo por la muerte del cónyuge, hijo, padre, madre o hermano. Se realizó una entrevista cualitativa con la aplicación del guion temático y el mapa de red, y la organización, integración y análisis de los datos se llevó a cabo por los procedimientos de codificación de la teoría empíricamente fundamentada. La construcción de historias y significados en torno a lo que se perdió, lo que causó la pérdida de miembros del familiar y el tipo de sufrimiento y legados de dolor se destacan como los resultados de la investigación. Se concluye que los significados de las historias de pérdida parental refuerzan la necesidad de promover conversaciones y reinterpretaciones de este tipo de duelo en la vida adulta en diferentes contextos relacionales para apoyar el duelo.

Palabras clave:
duelo; narrativas; construcionismo social; redes de apoyo

Introdução

Uma situação de luto se estabelece à medida que uma pessoa, família e/ou comunidade se defrontam com a morte e/ou separação de um ente querido ou algo significativo. Especificamente na língua inglesa, há terminologias para se referir à situação de luto e diferenciar os dois aspectos envolvidos: a experiência subjetiva de sofrimento (grief) e o enlutar-se (mourning). O primeiro termo é visto como uma reação emocional, comportamental e fisiológica individual de quem perdeu algo ou alguém; o segundo consiste na expressão ativa do sofrimento por meio de ritos e normas sociais de luto calcados na cultura e sociedade (Franco, 2002Franco, M. H. P. (2002). Uma mudança de paradigma sobre o enfoque da morte do luto na contemporaneidade. In M. H. P. Franco (Org.), Estudos avançados sobre o luto (pp. 15-38). São Paulo, SP: Livro Pleno., 2010Franco, M. H. P. (2010). Porque estudar o luto na atualidade? In M. H. P. Franco (Org.), Formação e rompimento de vínculos: O dilema das perdas na atualidade (pp. 17-42). São Paulo, SP: Summus.). Esses termos também diferenciam a dimensão pública (mourning) do sofrimento da dimensão privada (grief).

Tendo como referência esses termos e suas diferenças, durante o século XX e o início do século XXI, produziu-se um projeto científico em torno da definição de conceitos e processos psicológicos que assinalam a dimensão privada do sofrimento no luto (Walter, 1997Walter, T. (1997). A secularização. In C. M. Parkes, P. Laungani, & B. Young (Orgs.), Morte e luto através das culturas (pp. 195-220). Lisboa: Climepsi Editores.). Por sua vez, o desafio contemporâneo aportado a este projeto envolve o estudo do processo de luto tendo em vista as mais variadas concepções e posicionamentos teóricos. Assim, incialmente, apresentam-se as principais concepções sobre o luto e os pressupostos teóricos que sustentam a investigação apresentada neste artigo - o luto pela perda de um familiar na vida adulta a partir de uma visão complexa e construcionista social.

No âmbito dos estudos psicanalíticos e psicológicos, encontram-se concepções específicas sobre a experiência subjetiva de sofrimento. Cita-se o conceito trabalho de luto e que é identificado como um processo psíquico de desinvestimento do objeto libidinal e que envolve uma profunda dor mental, perda de interesse e a inibição de atividades (Freud, 1917/1974Freud, S. (1974). Luto e melancolia. In Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 14, pp. 112-118). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1917)). O sofrimento do luto também é visto como uma experiência de crise psíquica, de modo que Lindemann (1944Lindemann, E. (1944). Symptomatology and management of acute grief. The American Journal of Psychiatry, 101(2), 141-148.) define um conjunto de reações adaptativas de luto.

Outras perspectivas teóricas que se somaram ao projeto científico de estudos sobre o luto são a teoria do luto, de John Bowlby (1961Bowlby, J. (1961). Processes of mourning. The International Journal of Psycho-analysis, 13(4-5), 317-340.), e a teoria da transição psicossocial, de Colin Parkes (2009Parkes, C. M. (2009). Amor e perda: As raízes do luto e suas complicações. São Paulo, SP: Summus.). Ambas as teorias trabalham com a perspectiva das relações objetais, do vínculo de apego e dos papéis sociais para compreender a experiência subjetiva de sofrimento como um processo adaptativo que segue um caminho comportamental de choque, anseio e protesto para recuperar o vínculo, depressão e desorganização do comportamento e, posteriormente, reorganização.

Na perspectiva cognitivista, destaca-se o trabalho de Stroebe e Schut (1999Stroebe, M., & Schut, H. (1999). The dual process model of coping with bereavement: Rationale and description. Death Studies, 23(3), 197-224.), que definiu como a pessoa enlutada se orienta em relação à pessoa perdida, no que diz respeito às cognições, memórias e emoções, ou, ainda, como se orienta em relação à adaptação à vida sem aquela pessoa. Dessa maneira, os referidos autores definiram a concepção Modelo Dual do Processo de Luto, que representa a oscilação entre o enfrentamento de emoções relacionadas à perda (angústia e anseio de recuperar o vínculo perdido) e o enfrentamento de estressores relacionados às mudanças na identidade. Não obstante o enfoque cognitivista tenha trazido um entendimento inovador sobre o processo adaptativo normal do luto, observam-se, no início do século XXI, outras vertentes epistemológicas e teóricas que discutem o luto como processo de construção de significado, e relacionado a determinadas práticas relacionais e linguísticas de grupos sociais.

Assim, sob a perspectiva construtivista e interacionista simbólica, Nadeau (2008Nadeau, J. W. (2008). Meaning-making in bereaved families: Assessment, intervention and future research. In M. Stroebe, R. Hansson, H. Schut., & W. Stroebe (Eds.), Handbook of bereavement research and practice advanced in theory and intervention (pp. 511-530). Washington, DC: American Psychological Association.) demonstra como o ajustamento do sistema familiar à realidade da perda de uma pessoa da família ocorre mediado por modos específicos da família em construir significados compartilhados sobre a realidade da morte. De forma semelhante, Gillies e Niemeyer (2006Gillies, J., & Neimeyer, R. (2006). Loss, grief and the search for significance: Toward a model of meaning reconstruction in bereavement. Journal of Constructivist Psychology, 19, 31-65.) destacam que o processo adaptativo de luto envolve a reconstrução do sistema de significados e que implica na auto-organização de narrativas ou histórias de perda como, por exemplo, na procura dos sentidos e dos benefícios da perda, e em mudanças na identidade.

Por sua vez, na perspectiva construcionista social, os modelos teóricos são opções discursivas importantes menos pelo seu caráter prescritivo do que por suas possibilidades de inspirar e coordenar as ações de pesquisadores, profissionais de saúde, clérigos, enlutados - e seus contextos de relacionamentos - na produção de realidades conversacionais e que sustentam discursos e sentidos sobre como se deve viver a realidade (Gergen, 2017Gergen, K. J. (2017). A construção social e comunicação terapêutica. In M. A. Grandesso (Org.), Práticas colaborativas e dialógicas em distintos contextos: Um diálogo entre teorias e práticas (pp. 107-142). Curitiba, PR: Editora CRV.). No que diz respeito ao luto, Wambach (1985Wambach, J. (1985). The grief process as a social construct. Omega, 16(3), 201-211.), Walter (2000Walter, T. (2000). Grief narratives: The role of medicine in the policing of grief. Anthropology & Medicine, 7(1), 97-114.) e Breen e O’Connor (2010Breen, L. J., & O’Connor, M. (2010). Acts of resistance: Breaking the silence of grief following traffic crash fatalities. Death Studies, 34(1), 30-53.) destacam a visão de que o processo de luto é uma narrativa dominante na sociedade ocidental que retroalimenta as práticas linguísticas e relacionais de enlutados e suas redes de relacionamento.

Tendo em vista a revisão das principais concepções sobre o luto, o estudo apresentado se embasa na perspectiva complexa e construcionista social do luto1 1 É nessa perspectiva que Morin (2015) discute a importância de realizar pesquisas sustentadas no pensamento dialógico e na atitude integradora a fim de manter a dualidade no seio da unidade, associando, ao mesmo tempo, dois elementos complementares e antagônicos e que fazem parte do mesmo objeto de estudo. e que está representada pelos seguintes pressupostos: (1) o processo de luto é uma narrativa social dominante diante da morte e do sofrimento na sociedade ocidental; (2) o processo de luto se dá em um contexto relacional e diz respeito a uma rede de relações que produzem significados em torno do sofrimento; (3) o processo de luto envolve uma complexa construção intersubjetiva e auto-organizadora de histórias e sentidos sobre a perda vivida (Luna, 2014Luna, I. J. (2014). Histórias de perda: Uma proposta de releitura da experiência de luto (Tese de doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Recuperado de https://bit.ly/2Hcvd2P
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).

A partir dessa compreensão teórica, realizou-se uma pesquisa de doutorado que destaca as três dimensões envolvidas no processo de luto: (1) o itinerário linguístico do luto; (2) a rede de conversadores do luto; e (3) os sentidos das histórias de perda. E, com base nos resultados da tese, busca-se, neste artigo, descrever os sentidos das histórias de perda familiar na perspectiva de doze pessoas enlutadas. Ademais, este trabalho visa contribuir com reflexões sobre a complexidade e singularidade dos sentidos das histórias de perda do cônjuge, do filho, do irmão ou dos pais. Também se discutem possibilidades de intervenção no luto sob a perspectiva dos resultados descritos neste artigo.

Método

O desafio de pesquisar e compreender o processo de luto como um evento complexo e produzido discursivamente na linguagem instaura a problemática da responsabilidade relacional diante da produção do conhecimento, o que implica, segundo McNamee (2010McNamee, S. (2010). Research as social construction: transformative inquiry. Saúde e Transformação Social, 1(1), 9-19.), que decisões metodológicas sejam, sobretudo, práticas para estar em relação com o outro (os participantes da pesquisa). Nesse sentido, a escolha pela pesquisa qualitativa possibilitou gerar conhecimento contextualizado, relacional e singular. O delineamento de pesquisa foi de cunho exploratório e descritivo e se caracteriza, também, por ser de corte transversal, uma vez que as narrativas foram colhidas num determinado momento (Minayo, 2017Minayo, M. C. S. (2017). Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: Consensos e controvérsias. Revista de Pesquisa Qualitativa, 5(7), 1-12.).

Participaram do estudo doze pessoas que perderam um membro familiar por morte. O critério para definir esse número baseou-se no parâmetro utilizado em pesquisas qualitativas quanto à saturação dos dados (Minayo, 2017Minayo, M. C. S. (2017). Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: Consensos e controvérsias. Revista de Pesquisa Qualitativa, 5(7), 1-12.). Critérios de inclusão também foram utilizados, sustentados na literatura e considerados pertinentes ao fenômeno problematizado no estudo, como: idade entre 20-59 anos; ter perdido um membro familiar há no mínimo um ano e no máximo cinco anos; a circunstância da perda ter sido repentina ou antecipada; e residir em um dos municípios próximos ao contexto da investigação. Constata-se, no estudo sistemático da literatura entre 2010 e 2014 no Brasil (Luna, 2014Luna, I. J. (2014). Histórias de perda: Uma proposta de releitura da experiência de luto (Tese de doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Recuperado de https://bit.ly/2Hcvd2P
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), o privilégio de pesquisas sobre a perda de crianças e adolescentes para pais e mães que estão no início da vida adulta. Esse aspecto evidencia a necessidade de pesquisas que contemplem, além da perda de filho, a do cônjuge, de irmãos e pais, pois estas pessoas desempenham relevante papel no status emocional, relacional e social de adultos.

O estudo realizado se embasou nos procedimentos éticos na condução da pesquisa contemplaram as Resoluções nº 466/2012Resolução CNS nº 466, de 12 de dezembro de 2012. (2012, 12 de dezembro). Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília, DF: Ministério da Saúde. Recuperado de https://bit.ly/3kjc1hT
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e nº 510/2016Resolução CNS nº 510, de 7 de abril de 2016. (2016, 7 de abril). Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais (CHS). Brasília, DF: Ministério da Saúde. Recuperado de https://bit.ly/3kkEBQ9
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, do Conselho Nacional de Saúde2 2 Projeto aprovado pelo Comitê de Ética da UFSC/CAAE nº 196912.50000.0121. , bem como as orientações gerais e específicas para a conduta ética na pesquisa da experiência de luto: a autonomia, beneficência, não maleficência; justiça e equidade à fidelidade e à veracidade são requisitos fundamentais para a condução de uma pesquisa com ética (Franco, Tinoco, & Mazorra, 2017Franco, M. H. P., Tinoco, V., & Mazorra, L. (2017). Reflexões sobre os cuidados éticos na pesquisa com enlutados. Revista M.: Estudos Sobre a Morte, os Mortos e o Morrer, 2(3), 138-151. doi: 10.9789/2525-3050.2017.v2i3
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).

A seleção dos participantes contou com a técnica bola de neve (snowball sampling): dez pessoas foram contatadas por meio da rede de contato profissional da pesquisadora e de duas pessoas pelos próprios participantes da pesquisa. Para a coleta de dados do estudo, foram utilizados dois instrumentos principais: o roteiro de entrevista e o Mapa de Redes. Destaca-se, de forma secundária, o uso do genograma. A técnica da entrevista qualitativa em profundidade - do tipo semiestruturada - foi o recurso que subsidiou a aplicação dos instrumentos citados (Olabuénaga, 2009Olabuénaga, J. I. R. (2009). Metodología de la investigación cualitativa. Universidad de Deusto: Bilbao.).

As temáticas que compõem o roteiro de entrevista foram oriundas de roteiros que possibilitam gerar dados principalmente sobre as reações à morte e o impacto da perda (Moura, 2006Moura, C. M. (2006). Uma avaliação da vivência do luto conforme o modo de morte (Dissertação de mestrado). Universidade de Brasília, Brasília, DF. Recuperado de https://bit.ly/2TgNjmq
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). Já o Mapa de Rede é constituído por um ponto central, que consiste na pessoa que vive uma situação estressante, mais três círculos (interno, intermediário e externo) e quatro quadrantes (relações familiares, de amizades, comunitárias, de serviços, trabalho e estudo). O genograma é uma representação gráfica multigeracional da família que pressupõe o registro da sua história, do traçado da estrutura familiar e a representação das relações e funcionamentos (McGoldrick, Gerson, & Petry, 2001). Esse instrumento foi aplicado para avaliar dois critérios de escolha dos participantes: a perda de um membro familiar no intervalo de tempo entre um e cinco anos desde a data da entrevista.

A coleta de dados ocorreu somente em um encontro de pesquisa, que teve duração em torno de duas horas e meia, tempo computado desde o momento em que a pesquisadora encontrou o participante no local combinado, organizou seu material de trabalho (folhas em branco, lápis, caneta, gravador, roteiro temático, mapa de redes e legenda, caixa de lenço de papel e água), deu sequência aos procedimentos de coleta de dados e despediu-se do participante.

A construção social das histórias de perda como fenômeno central da tese de doutorado, se configurou à medida que o processo de análise de dados foi sendo realizado mediante o uso de ferramentas analíticas principais - as perguntas e comparações - e que possibilitaram conduzir uma análise conceitual qualitativa fundamentada nos procedimentos da teoria fundamentada empiricamente (Strauss & Corbin, 2008Strauss, A., & Corbin, J. (2008). Pesquisa qualitativa: Técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada (2a ed.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas.), como a codificação aberta, seletiva e axial.

A codificação aberta se deu a partir da leitura atenta de toda a entrevista de pesquisa transcrita. Acrescente-se a leitura de linha por linha, frase ou parágrafo inteiro, que possibilitou a seleção dos elementos temáticos. A codificação axial consistiu na congregação dos elementos temáticos, o que possibilitou chegar às categorias principais do fenômeno investigado, bem como proceder à codificação seletiva, que integra todas as categorias em três dimensões, como: (1) itinerário linguístico do luto; (2) rede de conversadores do luto; e (3) sentidos das histórias de perda.

A visualização destes três pilares em conjunto permite compreender o processo de luto como uma construção social e intersubjetiva de sentidos sobre a perda vivida. Assim, esse processo está sustentado no itinerário de narração das vivências de luto; na rede relacional de apoio - da qual o participante da pesquisa faz parte -; e nos sentidos das histórias de perda. Neste artigo, são apresentados os quatro núcleos de sentidos das histórias de perda: (1) tipo de perda familiar na vida adulta; (2) a causa da perda do membro familiar; (3) o sofrimento do luto; e (4) os legados do luto.

Resultados e discussão

Inicialmente, descrevem-se as características dos participantes da pesquisa tendo em vista os critérios de seleção e, na sequência, apresentam-se a análise e a discussão dos dados. Participaram do estudo dez mulheres em períodos distintos do ciclo vital adulto (início, meio e final da meia idade). O mesmo se deu com os dois participantes do sexo masculino, que estão no início e na metade da vida adulta. Quanto à formação, predominou o ensino superior (dez participantes), seja completo e/ou incompleto, sendo que a profissão declarada pela maioria não corresponde à ocupação à época das entrevistas. Alguns residem em municípios próximos ao contexto da investigação propriamente dita. Dentre os doze participantes selecionados, há uma distribuição equitativa quanto à experiência de luto do membro familiar falecido: três perderam o filho (P2, P6 e P10), três perderam o cônjuge (P1, P3 e P8), três perderam o irmão (P7, P11 e P12) e dois perderam o pai (P4 e P5) e uma perdeu a mãe (P9). Constata-se também que seis participantes aludem à circunstância antecipada da morte do membro familiar, como P2 (aborto induzido), P9 (doença de Parkinson), P4, P5 e P12 (câncer), P11 (infarto do miocárdio) e 6 sobre evento repentino da morte, como P1 e P7 (acidente de carro), P6 e P8 (acidente de moto), P3 (afogamento) e P10 (assassinato). Na sequência, apresentam-se os resultados do processo de análise conceitual qualitativa sendo que os participantes serão identificados também pela história construída, sendo a história 1 referente ao participante P1, história 2, referente ao participante P2 e assim sucessivamente. Na descrição de resultados também apresentam-se breves informações sobre a composição da rede de conversadores do luto dos participantes, a fim de exemplificar com quem e em que contexto ocorreu a negociação dos sentidos apresentados a seguir.

Sentidos das histórias de perda

Os sentidos das histórias de perda se referiram à caracterização do tipo de perda ocorrida na família tendo em vista o que foi perdido com a morte do membro familiar. Visualizam-se nas histórias 1, 3 e 8, sobre a perda do cônjuge, os sentidos da perda interna do self (P1) e a perda de proteção (P3 e P8). Parkes (1996Parkes, C. M. (1996). Estudos sobre o luto na vida adulta. São Paulo, SP: Summus.) aponta que a perda cônjuge é geralmente vista a partir de significados que evidenciam abandono de expectativas e sonhos de um futuro não compartilhado, além de pôr à prova as capacidades adaptativas diante de novas situações. Também se compreendem nas histórias 2, 6 e 10, sobre a perda do filho, os sentidos da perda do vínculo parental (P2, P6 e P10) e perda da continuidade da família (P2 e P10). Segundo Franqueira, Magalhães e Féres-Carneiro (2015Franqueira, A. M. R., Magalhães, A. S., & Féres-Carneiro, T. (2015). O luto pelo filho adulto sob a ótica das mães. Estudos de Psicologia Campinas, 32(3), 487-497. doi: 10.1590/0103-166X2015000300013
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), a morte de um filho é construída a partir de significados simbólicos potentes e, quando se trata da perda de um filho, é a perda do próprio self e da família que é assinalada.

Visualiza-se, nas histórias 4 e 5, sobre a perda do pai, os sentidos perda do melhor amigo e perda interna do self (P4 e P5). Já na história 9, cuja perda foi da mãe, observam-se os sentidos quanto a perda da referência, perda da história familiar e perda de um elo familiar (P9). Para Busa, Silva e Rocha (2019Busa, A. L. A., Silva, G. B., & Rocha, F. P. (2019). O luto do jovem adulto decorrente da morte dos pais pelo câncer. Psicologia: Ciência e Profissão, 39, e183780. doi: 10.1590/1982-3703003183780
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), estes dados caracterizam a descontinuidade de relações de intimidade entre pais e filhos. E, quando a perda do pai ou mãe ocorre na meia idade, McGoldrick (1998McGoldrick, M. (1998). Um tempo para chorar: A morte e o ciclo de vida familiar. In F. Walsh & M. McGoldrick (Orgs.), Morte na família: Sobrevivendo às perdas (pp. 56-75). Porto Alegre, RS: Artmed.) destaca a desintegração da família e descontinuidade desse sistema de referência de apoio na vida adulta, sendo esse o caso da participante 9 que perdeu a mãe. A referida autora também destaca que, quando o último genitor morre, pode ocorrer a fragilização dos relacionamentos familiares, principalmente quando há outros rompimentos ao longo do ciclo de vida familiar.

Nas histórias 11, 12 e 7, sobre a perda do irmão, observa-se o sentido perda de apoio psicológico (P11, P12 e P7), sendo que o estudo de Presa (2014Presa, A. (2014). Luto e perdas ao longo da vida. In A. Barbosa (Org.), Contextos do luto (pp. 65-90). Lisboa: Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.) assinala que, quando morre um irmão adulto, ocorre a perda de um amigo íntimo com o qual se compartilha momentos específicos, conquistas e alegrias ou, ainda, se preserva o significado da família e da identidade das pessoas mais velhas da família.

Assinala-se que existem sentidos semelhantes quanto ao que foi perdido com a morte do membro familiar, como perda do self, da continuidade da família e do suporte. Há histórias, ainda, que destacam os sentidos quanto à causa da perda do membro familiar, ou seja, o que causou a doença, a morte e o modo de morrer do ente querido.

Visualiza-se, nas histórias 2, 4, 5, 9, 11 e 12, que o familiar que morreu estava submetido ao tratamento de uma doença crônico-degenerativa (exceto a história 2, que se refere à situação de aborto induzido, e a história 11, que se tratou de uma doença com início agudo e de rápida progressão). A participante P12 define a causa da doença do irmão por meio de sentidos que se referiram ao esforço de segurar o filho no colo; P9 devido à tristeza que se instalou após a morte do filho; P5 ao envelhecimento; e P2 à disfunção hormonal que antecedeu a gestação. Esses dados aludem ao estudo de Gillies e Neimeyer (2006Gillies, J., & Neimeyer, R. (2006). Loss, grief and the search for significance: Toward a model of meaning reconstruction in bereavement. Journal of Constructivist Psychology, 19, 31-65.), que aponta que os enlutados e familiares buscam negociar sentidos sobre como ocorreu a perda, visando encaixar os acontecimentos e definir um modelo de compreensão sobre a causa da perda.

Outro aspecto importante é que a rede de conversadores de luto compartilhava das concepções básicas que norteavam a trajetória de vida de quem morreu. Nessa direção, os membros da rede de conversadores do luto de P12, como familiares e amigos, por exemplo, também estavam envolvidos na busca de sentidos para a causa da morte do irmão de P12, sendo estes definidos como luta e desistência, e o modo de morrer como encontrar dignidade.

Já na história 5, o sentido negociado quanto à causa da morte do pai de P5 foi: desejo de morrer e pelo momento que não estava bem, sendo que o modo de morrer representou atender ao pedido do pai de morrer em casa. Na história 3, o sentido da causa da morte do cônjuge de P3 é descrito como coerente com história de vida dele (o cônjuge foi descrito como alguém que vinha apresentando muito estresse nas semanas anteriores à morte dele) e o modo de morrer como: “afogamento deve ser uma morte muito ruim” (P3). Esta participante relata também que conversou com o cardiologista do cônjuge após algum tempo da morte, buscando receber informações sobre o diagnóstico do possível infarto que o cônjuge havia tido enquanto nadava. Nadeau (2008Nadeau, J. W. (2008). Meaning-making in bereaved families: Assessment, intervention and future research. In M. Stroebe, R. Hansson, H. Schut., & W. Stroebe (Eds.), Handbook of bereavement research and practice advanced in theory and intervention (pp. 511-530). Washington, DC: American Psychological Association.) aponta também o fato da negociação de sentidos ocorrerem na família, pois essa rede de relacionamentos compartilha sentidos e informações sobre vida da pessoa que morreu, seja em relação à história médica ou de vida de forma geral.

Na história 2, os sentidos da causa da morte e o modo de morrer do feto/filho de P2 foram, respectivamente, “um direito por ser mulher, e não ia sobreviver mesmo”. Na pesquisa de Gesteira, Barbosa e Endo (2006Gesteira, S. M. A., Barbosa, V. L., & Endo, P. C. (2006). O luto no aborto provocado. Acta Paulista de Enfermagem, 19(4), 462-467.), observa-se que a interrupção da gestação como causa da morte de um feto, ainda que traga questionamentos à mulher que o realizou, a respeito de si e do mundo, geralmente é significada por meio das crenças e valores que norteiam sua vida e que são compartilhadas no tecido de relações sociais da pessoa enlutada, como os amigos e profissionais de saúde que apoiaram a decisão do aborto induzido.

Na história 7, a causa da morte do irmão foi vista por P7 como deixar de viver a própria vida e viver a vida do filho. Na dimensão rede de conversadores do luto, observa-se que a participante compartilhou narrativas com familiares e amigos sobre o envolvimento e abalo emocional a que estava submetido o irmão desde o diagnóstico e início do tratamento do filho autista. Ainda na história 7, verifica-se que o sentido atribuído ao modo de o irmão morrer foi: “não merecia ser queimado vivo” (P7). Esse sentido também é negociado no contexto da rede de conversadores do luto (amigos, familiares e profissionais de saúde) e que compartilharam vivências e narrativas em torno acidente de carro e a carbonização do corpo do irmão.

Nas histórias 10, 1 e 6, os sentidos da causa da morte foram motivo fútil: assassinado (P10), fatalidade (P1), o primo dirigia em alta velocidade (P6); e, quanto ao modo de morrer, compreendem-se os seguintes sentidos: morreu de um jeito que não gostava (P6), na merecia morrer desse jeito (P10), foi muito rápida (P1). Gillies e Neimeyer (2006Gillies, J., & Neimeyer, R. (2006). Loss, grief and the search for significance: Toward a model of meaning reconstruction in bereavement. Journal of Constructivist Psychology, 19, 31-65.) e Parkes (2009Parkes, C. M. (2009). Amor e perda: As raízes do luto e suas complicações. São Paulo, SP: Summus.) trazem à tona a discussão de que, quando a morte acontece repentinamente, pode ocorrer a busca persistente por respostas que possibilitem construir novos sentidos quanto ao modo como a pessoa morreu. Os participantes P1, P6 e P10 construíram relacionamentos específicos tendo em vista a busca por respostas que auxiliassem a dar outros sentidos para a causa da morte, como pode ser observado na história 1: “esse controle não está na nossa mão, o que acontece comigo, minimamente, eu posso controlar” (P1). A participante P6, por sua vez, não encontra sentidos junto a sua rede de conversas e conversadores do luto: “eu só queria uma explicação, mas quem só pode explicar é Deus”. Na história 10, a participante P10 muda sua maneira de se comunicar diante da circunstância da morte do filho, tendo em vista a constante negociação de novos sentidos para a causa da morte: “quando as pessoas perguntam, eu digo que meu filho foi baleado, não falo mais que ele foi assassinado”. Assinala-se que o conjunto de sentidos apresentados em torno da causa da morte repentina foi negociado entre os membros da rede de conversadores do luto dos referidos participantes, como familiares, amigos, colegas de trabalho e estudo, pastores e profissionais de saúde.

O conjunto de dados apresentados sobre os sentidos das histórias estão relacionadas à singularidade do que causou a doença e a morte do familiar. As histórias também se referem ao sofrimento do luto no que diz respeito à dor subjetiva da perda, aos rituais de luto, ao tempo do sofrimento e à busca por recursos sociais de apoio ao luto.

O sofrimento do luto na vida adulta representou para os participantes viver uma dor subjetiva de perda, como pode ser visualizado nas histórias 10, 3, 12, 2, 1, 4, 8 e 6: dor que faz silenciar e paralisar (P6 e P10), que inibe (P2), que faz ficar triste (P10), que faz chorar, que não passa, que vem e volta (P1), que trava e puxa para baixo (P4), que se expressa no corpo (P8), que impõe uma entrega (P1). Esses sentidos aludem à visão clássica da experiência de luto como um processo centrado na dor da ausência do ente querido (Freud, 1917/1974Freud, S. (1974). Luto e melancolia. In Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 14, pp. 112-118). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1917)). Parkes (1996Parkes, C. M. (1996). Estudos sobre o luto na vida adulta. São Paulo, SP: Summus.) aponta que essa dor é emocional e física ao mesmo tempo, além disso, esse tipo de dor é percebido como uma experiência de dano ao self.

Observa-se também que essa é a visão sobre a dor subjetiva com a qual os profissionais de saúde trabalham, de acordo com a pesquisa de Burnett et al. (1994Burnett, P., Middleton, W., Raphael, B., Dunne, M., Moylan, A., & Martinek, N. (1994). Concepts of normal bereavement. Journal of Traumatic Stress, 7(1), 123-128. doi: 10.1002/jts.2490070113
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), que demonstrou que a experiência de luto é percebida por meio de reações emocionais focadas na dor da perda ou desintegração do self. Nesse sentido, se vê que os participantes 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 buscaram psicólogos, médicos e psiquiatras com os quais compartilharam suas vivências de luto e receberem ajuda específica. Assim, aponta-se que os sentidos negociados quanto à natureza da dor da perda pelos participantes se sustenta em discursos médicos e psicológicos sobre as reações de luto.

Há também sentidos que aludem à dor subjetiva de perda como a dor da superação: necessidade de encontrar uma saída (P3) e uma luz, algo para fazer (P8). Esses sentidos estão presentes nos modelos contemporâneos da experiência de sofrimento do luto, que trazem à tona a discussão do enfrentamento focado na restauração (o que implica a reconstrução de projetos e de planos de vida), tendo como contrapartida do enfrentamento focado na perda (que implica no resgate de memórias e emoções que a dor da perda evoca). Essa perspectiva é defendida por Stroebe e Schut (1999Stroebe, M., & Schut, H. (1999). The dual process model of coping with bereavement: Rationale and description. Death Studies, 23(3), 197-224.) como os dois movimentos necessários e importantes da experiência de luto.

Os sentidos dados pelos participantes P2, P6 e P10 à dor subjetiva, tendo em vista que perderam seu filho, indicam que esta dor está focada principalmente na dor da ausência, sendo que este resultado coaduna com estudo Stroebe e Schut (1999Stroebe, M., & Schut, H. (1999). The dual process model of coping with bereavement: Rationale and description. Death Studies, 23(3), 197-224.), em que descrevem que as mães enlutadas focam seu enfrentamento por meio dos sentimentos e reações emocionais de ansiedade de separação. Percebe-se também que as participantes que perderam cônjuge, como nos casos de P1, P3 e P8, e a participante P5 (perdeu o pai), significaram a dor subjetiva da perda como centrada na dor da ausência e na dor da restauração: faz chorar, vem e volta (P1), que está relacionada à busca de saída (P3), de luz, fazer planos (P8) e continuar vivendo (P5). O participante P4 focou na dor da ausência: “comecei a ficar doente fisicamente”; dessa forma, assim como as mães enlutadas, esse participante estava centrado na dor da ausência.

O sofrimento do luto na vida adulta também é significado pela participação e realização de rituais coletivos (P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P11 e P12) e personalizados de luto (P3, P4, P5, P6 e P8). A participante P6 assinala que escolheu a roupa do filho e o velou em casa. E, quanto aos rituais personalizados de luto, que envolveram despedida individual do ente querido e expressão privada dos sentimentos, a participante C2 destaca: “de uma certa forma, fui me despedindo lá mesmo, no Instituto Médico Legal”.

Percebe-se que o sofrimento no luto também é visto por seu tempo de duração, ou seja, um tempo objetivo e subjetivo. Desse modo, o luto tem um tempo para terminar e está relacionado a um acontecimento externo, como a gravidez e o nascimento do filho (P8), ou é um tempo subjetivo de sofrimento que envolve pensar na pessoa que morreu (P7) e o sofrimento é para sempre (P12). Esses resultados podem ser compreendidos por meio dos estudos de Rosenblatt (2001Rosenblatt, P. C. (2001). A social constructionist perspective on cultural differences in grief. In M. Stroebe, R. O. Hasson, W. Stroebe, & W. Schut (Orgs.), Handbook of bereavement: Consequences, coping ad care (pp. 285-300). Washington, DC: American Psychological Association.), que indicam que a cultura ocidental constrói a noção de tempo do sofrimento por meio de noções como início e término do luto, geralmente ligados a acontecimentos incomuns ou mesmo banais, ou seja, que servem como um norteador das mudanças psicossociais que foram ou deverão ser feitas pelo enlutado. Porém esse dado contradiz os sentidos aqui apontados, uma vez que, para os participantes P7 e P12, o tempo do enlutamento está relacionado à condição subjetiva de pensar na pessoa que morreu e significar que uma perda não termina ou se resolve, pois sofrimento é para sempre (P7). Nessa direção, McGoldrick (1998McGoldrick, M. (1998). Um tempo para chorar: A morte e o ciclo de vida familiar. In F. Walsh & M. McGoldrick (Orgs.), Morte na família: Sobrevivendo às perdas (pp. 56-75). Porto Alegre, RS: Artmed.) assinala que a demarcação de um tempo cronológico para o sofrimento desconsidera que a perda de um vínculo afetivo não é um evento banal na vida de uma família, por isso demonstra em seus estudos que a experiência de sofrimento é retomada ao longo de várias etapas do ciclo de vida familiar.

O sofrimento do luto também representou a busca por recursos de apoio social por meio do uso de terapias psicológicas e/ou espirituais, amigos, trabalho e/ou estudo. Assim, nas histórias 1, 10 e 12, ocorreu a busca por terapias espiritualistas e que esta envolveu a construção de uma nova visão sobre o mundo e sobre a pessoa que morreu (Koury, 2014Koury, M. G. P. (2014). Luto no Brasil no final do século XX. Caderno CRH, 27(72), 593-612. Recuperado de https://bit.ly/2HpdLI4
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). Destaca-se que os terapeutas espirituais fizeram parte das redes de conversadores do luto das participantes P1, P10 e P12. Já nas histórias 1, 2, 3, 5, 6, 9, 10 e 12, realizaram-se terapias psicológicas, de modo que a participante P1 relata que fez parte de um grupo de apoio ao luto como forma de se socializar com pessoas que também vivenciaram a problemática da dor da perda. Isso vai ao encontro do estudo de Freire (2005Freire, M. C. B. (2005). O som do silêncio: Isolamento e sociabilidade no trabalho de luto. Natal, RN: EDUFRN.), que apontou para a sociabilidade desenvolvida por enlutados no contexto dos grupos de apoio oferecidos por um cemitério local. Já para a participante P10, a terapia psicológica foi vista como um recurso de apoio social para voltar à vida cotidiana e prosseguir no seu processo de luto. É digno de nota que os terapeutas do luto também fizeram parte da rede de conversadores do luto de cada participante da pesquisa que fez terapia psicológica.

A busca e a valorização do apoio social de amigos representaram aos participantes da pesquisa lidar com uma crise, de modo que eles referiram falta de clareza e capacidade de tomada de decisão, principalmente nas circunstâncias de morte repentina. Por sua vez, destaca-se que os amigos foram às pessoas que compuseram a rede de conversadores do luto em termos de proximidade, apoio e vínculo, perdendo apenas para os membros familiares (Gonçalves & Bittar, 2016Gonçalves, P. C., & Biter, C. M. L. (2016). Estratégias de enfrentamento no luto. Mudanças: Psicologia da Saúde, 24(1), 39-44. doi: 10.15603/2176-1019/mud.v24n1p39-44
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). No estudo de Koury (2014Koury, M. G. P. (2014). Luto no Brasil no final do século XX. Caderno CRH, 27(72), 593-612. Recuperado de https://bit.ly/2HpdLI4
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) se vê que os amigos representaram apenas 8,18% do apoio recebido diante do luto, nesse sentido, esse autor demonstra que as relações de amizades, diferente das de parentesco, constituem-se sob um espectro mais individualista, e isso implica uma rede de sociabilidade determinada por afinidades no campo dos valores, das crenças e dos objetivos de vida.

Os recursos de apoio social provindos do estudo (P1, P7, P8 e P11) e do trabalho (P2, P3, P5, P9, P10 e P12) significaram para os participantes da pesquisa a possibilidade de lidar com a experiência de separação por meio da ocupação e com novas distrações. Destaca-se que voltar ao trabalho ou ocupar-se com estudos também esteve relacionado com um sentido comum, que é manter o projeto de vida que a pessoa que morreu tinha com o enlutado. Segundo Klass (2015Klass, D. (2015). Continuing bonds, society and human experience: Family dead, hostile dead, political dead. Omega, 70(1) 99-117. doi: 10.2190/OM.70.1.i
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), este tipo de apoio se caracteriza por meio da imaginação de como a pessoa que morreu agiria em momentos específicos. Por outro lado, retoma-se a pesquisa de Koury (2014Koury, M. G. P. (2014). Luto no Brasil no final do século XX. Caderno CRH, 27(72), 593-612. Recuperado de https://bit.ly/2HpdLI4
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), que apontou que se ocupar com o trabalho é uma espécie de fuga do sofrimento e, além disso, uma instância individualizadora, que retira o sujeito do social e empurra o sofrimento para sua interioridade.

Os dados apresentados apontam sentidos diversos sobre o sofrimento do luto na vida adulta, como uma dor subjetiva focada na ausência e/ou na restauração. Especialmente as mães enlutadas estavam focadas na dor da ausência dos filhos. Outros sentidos foram a participação em rituais coletivos personalizados de luto, o tempo de sofrimento do luto, sendo que, para alguns participantes, o sofrimento terminou tendo em vista a ocorrência de fatos externos e, para outros, ele é uma contínua experiência de convivência com sentimentos de perda. Ademais, o sofrimento do luto também foi visto por meio da busca por recursos de apoio social em terapias específicas, amigos, trabalho e estudo, signifi-cando maneiras de expressar a dor da perda e retomar a vida cotidiana.

Observam-se sentidos quanto aos legados do luto, como transformações do self e esperanças de cada participante em relação a sua vida e ao futuro. Este aspecto foi identificado quando cada participante da pesquisa construiu o desfecho para sua história ao final da entrevista qualitativa.

A participante P9 enfatizou a seguinte questão quando encerrou a sua história: “mas ainda pretendo juntar esse grupo todo [irmãos]”. Esse desfecho alude ao legado positivo quanto a restaurar o elo familiar e sinaliza o que McGoldrick (1998McGoldrick, M. (1998). Um tempo para chorar: A morte e o ciclo de vida familiar. In F. Walsh & M. McGoldrick (Orgs.), Morte na família: Sobrevivendo às perdas (pp. 56-75). Porto Alegre, RS: Artmed.) aponta quanto aos desafios dos filhos diante da possibilidade de desintegração da família quando o último genitor morre. Já a participante P10 concluiu sua história evidenciando o sentido de descontinuidade de sua família: “As pessoas dizem: ‘ah R. [participante], quem vai te enterrar? Eu não tenho filho, a minha, eu sei que eu vou enterrar, eu começo a projetar isso, é só eu e o B. [cônjuge]”. Esse desfecho alude à visão negativa sobre o self e coaduna com o estudo de Franqueira (2019Franqueira, A. M. R. (2019). Entre o público e o privado: Rituais no processo de luto parental. Tempo da Ciência, 26(51), 59-72.), que constata o sentimento de desesperança e de descontinuidade da família a que estão submetidos os pais que perdem filhos únicos.

A participante P2 destaca o sentido da transformação do self como (i)mobilizado: “eu não tenho perfil para ser mãe, não tenho desejo… eu fico mobilizada e imobilizada quando a R. [amiga] fala sobre uma nova gestação, e eu não falo nada”. Este aspecto vai ao encontro do que Gesteira et al. (2006Gesteira, S. M. A., Barbosa, V. L., & Endo, P. C. (2006). O luto no aborto provocado. Acta Paulista de Enfermagem, 19(4), 462-467.) evidenciam quanto às perdas fetais por aborto, ou seja, de que esse tipo de perda gera sentimentos de inadequação e negação da maternidade.

No que diz respeito à participante P6, destaca-se um legado positivo e outro negativo quanto ao self em transformação “eu quero viver, eu queria viver um pouco bem, pois só tenho infelicidade e angústia”. A infelicidade e a angústia destacadas pela participante é um legado negativo e traz o sentido de descontinuidade do self.

A participante P8 relata que o cônjuge cumpriu sua missão de ajuda, evidenciando o sentido dado à vida que foi vivida com ele: “O B. [cônjuge] transformou minha vida… não sei se talvez isso tenha sido a missão dele, ter vindo, ter me ajudado”. Já a participante P7 destaca sentidos positivos para o self como aprender a conviver com a ausência do irmão: “Hoje eu olho, ah, cinco anos, parece que foi ontem, é tanto tempo sem ver o meu irmão, é muito tempo, assim, o meu sentimento, hoje, eu convivo com ausência dele”.

O participante P4 sustenta o sentido das mudanças do self no luto destacando o ensinamento dado pelo pai: “foi uma lição, às vezes eu fico pensando, será que eu vou ter uma lição como essa, porque é pai, pai e mãe são os maiores tesouros que a gente tem”. E a participante P5, que também perdeu o pai, descreve o seguinte desfecho: “eu fiquei mais forte para perda, de ver a vida, você pode continuar vivendo sem uma pessoa do seu lado”. Esse desfecho sustenta o legado positivo de fortalecimento, evidenciando que a perda do pai no início da vida adulta foi compreendida como uma experiência de crescimento e independência.

A participante P3 enfatizou o sentido do self no luto como peso e resistência e relata o seguinte desfecho: “poucas vezes eu tenho noção do quanto as coisas que vivemos foram fortes, porque, na hora, tu tens que suportar, é como se sentisse que não fosse tão forte. E algumas horas vem a consciência de que é pesado”. A participante P1, que também perdeu o cônjuge, relata o seguinte desfecho: “esses cinco anos me deram: eu não vou morrer agora, eu tenho coisa para fazer, eu sou importante para o Z. [enteado] é e para o F. [filho]”. Visualizam-se, neste desfecho, os legados positivos quanto ao self em transformação como reafirmação da vida e dos vínculos.

O participante P11 destaca o sentido redefinição da identidade quando finaliza a narração de sua história: “você começa a olhar para si mesmo, quem é você, como as pessoas te veem”. A participante P12 conclui a história destacando as seguintes palavras: “sempre na minha cabeça as coisas que ele [irmão] me dizia, que ele fazia, lembra a minha autoestima, e mesmo o lado espiritual eu acabei deixando para lá, acho que eu preciso voltar”. Este desfecho sustenta o legado positivo quanto ao self como manter o vínculo, sinalizando que a perda do irmão representou reafirmar a importância deste vínculo, tendo em vista que este sustenta sua autoestima.

Os desfechos descritos acima apontam que a maioria dos participantes encontraram benefícios na perda da vida adulta, o que significa compreender que estes assinalaram as mudanças identitárias positivas quanto ao self. Somente as mães enlutadas não destacaram legados positivos do luto pela perda de um filho na vida adulta. Ademais, os desfechos apresentados não encerram a possibilidade de construção e negociação de novos sentidos para o self, apenas delimita o encerramento da coleta de dados.

Considerações finais

Este artigo se deteve na descrição dos sentidos das histórias de perda de cônjuge, filho, mãe, pai ou irmão. Constatam-se sentidos que assinalam a singularidade de como foram entendidos e assimilados pelos participantes e suas redes de conversadores do luto o que foi perdido com a morte do membro familiar e o que causou a doença, a morte e o modo de morrer do ente querido. Outro aspecto que pode ser destacado é o conjunto de ações e sentimentos singulares que caracterizaram o sofrimento do luto na vida adulta e os legados do luto em termos da transformação do self.

Neste artigo, aponta-se a vulnerabilidade em termos das expectativas quanto à continuidade do self e falta de esperanças quanto à vida e ao futuro das mães enlutadas. Nesse sentido, sugere-se a necessidade de promover contextos reflexivos sobre os significados culturais do luto parental e seus legados em todos os âmbitos e setores da sociedade. É por meio de redes de conversações ampliadas que novos sentidos sobre as vivências de luto parental podem ser negociados e construídos, à medida que novas pessoas, tipos de apoios e significações são ensejadas. Destaca-se que construir histórias e sentidos da perda de um familiar não para no tempo, ela é apenas finalizada pelos enlutados no contexto das negociações de sentidos em dado momento histórico e contexto relacional.

Assim, sugere-se o fortalecimento de práticas de apoio social ao luto e de formação de amplas redes de conversadores de luto em torno dos outros tipos de perdas na vida adulta e que foram apresentadas neste estudo. Esse fortalecimento é uma estratégia primária de intervenção no luto e pode ocorrer tanto no contexto da atenção básica à saúde quanto da atenção psicossocial, uma vez que ambos os contextos podem se engajar em ações domiciliares e grupais com familiares e amigos de pessoas enlutadas.

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  • Wambach, J. (1985). The grief process as a social construct. Omega, 16(3), 201-211.
  • 1
    É nessa perspectiva que Morin (2015Morin, E. (2015). Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Epistemologia e Sociedade.) discute a importância de realizar pesquisas sustentadas no pensamento dialógico e na atitude integradora a fim de manter a dualidade no seio da unidade, associando, ao mesmo tempo, dois elementos complementares e antagônicos e que fazem parte do mesmo objeto de estudo.
  • 2
    Projeto aprovado pelo Comitê de Ética da UFSC/CAAE nº 196912.50000.0121.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    13 Abr 2020
  • Revisado
    17 Ago 2020
  • Aceito
    08 Out 2020
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