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Distonia de torção: Antonio de Moraes Austregésilo Filho

ANÁLISES DE LIVROS

Distonia de torção. Antonio de Moraes Austregésilo Filho. Tese apresentada à Faculdade Nacional de Medicina em concurso para a cátedra de neurologia. 1 volume com 316 páginas. Impressa por Irmãos di Giorgio e Cia., Rio de Janeiro, 1945

O A. analisa, inicialmente, com minúcia, os trabalhos de Ziehen, Schwalbe, Oppenheim, Thomalla, assim como os de Hall e Wimmer, referindo-se cronologicamente a tôdos os que contribuíram para o esclarecimento do assunto. Destaca-se nesta revisão bibliográfica a contribuição brasileira que se fêz sentir com os trabalhos de Rocha Vaz e J. Carvalho (1912), Vampré, Pinto de Carvalho, F. Cintra do Prado (1922), J. Almeida Camargo (1927), Waldemiro Pires, Austregésilo e Marques (1928), Pinto Cesar (1930), Austregésilo, Galloti e A. Marques (1934). No tocante àetiologia, analisa os fatores desembriogenéticos e os ocasionais, êstes naturalmente em correlação com os espasmos de torção sintomáticos. Aborda, depois, a sintomatologia e as formas clínicas, descrevendo com minúcias as modalidades de exteriorização destas distonias, objetivando-as com clichês dos casos clássicos da literatura, procurando dar uma descrição tão completa quanto possível desta síndrome, separando as formas clínicas segundo sua etiologia, localização dos sintomas, para abordar o complexo capítulo do diagnóstico diferencial; considera com detalhes a atetose, a coréia, as síndromes parkinsonianas, as moléstias do grupo wilsoniano e as mioclonias. O capítulo da anatomia patológica é extenso, procurando o A. analisar as mais importantes contribuições, iniciando pelos clássicos trabalhos de Thomalla e de Wimmer. Nesta minuciosa análise salienta a topografia dos distúrbios anátomo-patológicos dizendo haver constante comprometimento do putamen e do pálido, e lesões outras, atingindo a corticalidade extrapiramidal, o cerebelo, o tálamo, o núcleo vermelho, o de Luys e a substância negra. Do ponto de vista lesionai, há distúrbios que podem ser classificados como endógenos, provavelmente desembriogenéticos, e alterações outras de natureza vária - tóxica, traumática, circulatória, inflamatória - correlacionadas naturalmente com os espasmos de torção sintomáticos. O A. destaca as alterações da oligodendroglia - degeneração mucóide - que poderiam ser, na sua opinião, primitivas e, com isso "modificariam o funcionamento das células nervosas do estriado e do pálido, do cerebelo, da cortiça cerebral extrapiramidal e de outras regiões".

Após rápidas referências à evolução, prognóstico e tratamento, o A. apresenta sua contribuição pessoal constante de 2 observações anátomo-clínicas, 1 anatômica e 12 clínicas. Estas observações se referem a casos de espasmo de torção - enfermidade de Ziehen-Oppenheim - como o próprio A. as identifica, e a casos de espasmo de torção sintomáticos. A primeira observação classificada clinicamente como espasmo de torção, anatomicamente evidencia, ao lado de uma dismie-linização do pálido, um quadro típico de meningoencefalite cisticercótica, com um cisticerco em pleno núcleo caudado. As manifestações inflamatórias na cortiça cerebral, o cisticerco do núcleo caudado, a hiperplasia glial no caudado e no putamen, e mesmo as alterações cerebelares com " desaparecimento das células de Purkinje", se enquadram perfeitamente no quadro histopatológico da cisticercose encefálica. A segunda observação se refere a um caso de distonia de torção do grupo Wilson, cujo estudo histológico do encéfalo evidencia atrofia dos núcleos cinzentos da base, assim como da cortiça cerebral e cerebelar, histopatològicamente estruturada por lesões celulares graves, principalmente das células Golgi tipo I. alterações gliais e das fibras mielínicas. As alterações da oligodendroglia eram difusas. Nesta base admite o A. tratar-se de um processo degenerativo primário e, portanto, de uma forma idiopática de espasmo de torção. Na terceira observação o A. estuda fragmentos dos núcleos lenticular, e caudado e da 1.a circunvolução frontal de um caso de espasmo de torção típico, não familial, evolutivo em indivíduo adulto, que foi observado no Serviço do Prof. Enjolras Vampré (S. Paulo) e pelo Prof. Paulino W. Longo durante perto de 20 anos; encontrou, entre outras alterações, um processo desmielinizante do pálido e dos núcleos internos do tálamo bilateralmente. Das observações clínicas, duas eram de espasmo de torção do grupo wilsoniano, casos que haviam sido examinados por Guillain, Lher-mitte, Nonne e Stewart e dêles obtiveram diagnósticos díspares, uma era de espasmo de torção idiopático, quatro eram de espasmo de torção sintomático em en-cefalopatas infantis e quatro outras, seqüelas de processo encefalítico.

Da revisão do assunto e de seu próprio material, o A. conclui confirmando o que se conceitua clàssicamente para o espasmo de torção, isto é, que há espasmos de torção provàvelmente ligados a processos endógenos degenerativos, sendo outros nitidamente manifestações sintomáticas de lesões focais comprometendo os núcleos dos sistemas extrapiramidais. Completa revisão bibliográfica termina esta monografia.

P. PINTO PUPO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Set 1945
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