Acessibilidade / Reportar erro

Genética e genômica na cardiopatia congênita: uma revisão clínica Como citar este artigo: Saliba A, Figueiredo AC, Baroneza JE, Afiune JY, Pic-Taylor A, Oliveira SF, et al. Genetic and genomics in congenital heart disease: a clinical review. J Pediatr (Rio J). 2020;96:279-88.

Resumo

Objetivo:

Discutir as evidências referentes ao papel genético em cardiopatias congênitas, sejam alterações cromossômicas ou doenças monogênicas.

Fonte de dados:

Lilacs, PubMed, Medline, SciELO, Google Scholar e referências dos artigos encontrados. Artigos de revisão, relatos de casos, capítulos de livros, dissertações de mestrado e teses de doutorado foram incluídos.

Síntese dos dados:

As cardiopatias congênitas estão entre os tipos mais comuns de defeitos congênitos, afetando até 1% dos nascidos vivos. Tradicionalmente, a etiologia era definida como um modelo multifatorial, com contribuição tanto genética quanto externa, sendo o papel genético menos reconhecido. Recentemente, no entanto, à medida que a evolução natural e a epidemiologia das cardiopatias congênitas mudaram, a identificação de fatores genéticos tem adquirido importância crescente no tratamento clínico e cirúrgico de defeitos cardíacos sindrômicos e não-sindrômicos, fornecendo ferramentas para a compreensão do desenvolvimento do coração.

Conclusões:

O conhecimento concreto da etiologia das cardiopatias congênitas e o reconhecimento das alterações genéticas podem ser úteis no tratamento à beira do leito, definindo o prognóstico e antecipando as complicações.

PALAVRAS-CHAVE
Defeitos cardíacos; Congênita/epidemiologia; Embriologia; Predisposição genética à doença; Aneuploidia; CNV

Abstract

Objective:

Discuss evidence referring to the genetic role in congenital heart diseases, whether chromosomic alterations or monogenic diseases.

Data source:

LILACS, PubMed, MEDLINE, SciELO, Google Scholar, and references of the articles found. Review articles, case reports, book chapters, master's theses, and doctoral dissertations were included.

Summary of findings:

Congenital heart diseases are among the most common type of birth defects, afflicting up to 1% of the liveborn. Traditionally, the etiology was defined as a multifactorial model, with both genetic and external contribution, and the genetic role was less recognized. Recently, however, as the natural evolution and epidemiology of congenital heart diseases change, the identification of genetic factors has an expanding significance in the clinical and surgical management of syndromic or non-syndromic heart defects, providing tools for the understanding of heart development.

Conclusions:

Concrete knowledge of congenital heart disease etiology and recognition of the genetic alterations may be helpful in the bedside management, defining prognosis and anticipating complications.

KEYWORDS
Heart defects; Congenital/epidemiology; Embryology; Genetic predisposition to disease; Aneuploidy; CNVs

Introdução

As doenças cardíacas congênitas (DCCs) são anomalias estruturais do coração e dos grandes vasos intratorácicos presentes ao nascimento; afetam 0,8-1 criança por 100 nascidos vivos e é o tipo mais comum de defeito congênito,11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. responsável por aproximadamente um terço de todas as principais anomalias congênitas.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.

De acordo com as lesões anatômicas e hemodinâmicas, as DCCs são clinicamente classificadas em diferentes subtipos dentro de um espectro de gravidade, como defeitos conotruncais, defeitos na via de saída (OFT, do inglês out flow tract), relações esquerda-direita anormais (heterotaxia), defeitos que afetam o influxo cardíaco e cardiomiopatias.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

Aproximadamente um terço dos pacientes com DCCs tem anomalias categorizadas como graves e potencialmente letais e necessita de intervenção clínica ou cirúrgica no primeiro ano de vida, exige muitas vezes procedimentos cirúrgicos múltiplos.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. Portanto, as DCCs têm um efeito significativo sobre a morbidade, mortalidade e cuidados de saúde e apesar dos avanços nos tratamentos e nos cuidados intensivos, continuam a ser a principal causa de mortalidade infantil nos países desenvolvidos.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

À medida que os cuidados de saúde melhoram nos países mais pobres do mundo, as mortes secundárias a doenças infecciosas diminuem e as DCCs aumentam como importante causa de morbidade e mortalidade. Em 2007, as DCC foram responsáveis por 6% das mortes em crianças com menos de um ano no Brasil.33 Pinto VC, Branco KM, Cavalcante RC, Carvalho WC, Lima JR, Freitas SM, et al. Epidemiology of congenital heart disease in Brazil: approximation of the official Brazilian data with the literature. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2015;30:219-24. As melhorias nas técnicas cirúrgicas e no cuidado perioperatório mudaram drasticamente a história natural das DCCs, permitiram a sobrevivência de até 95%44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52. dos pacientes, resultou em uma população cada vez maior de adultos que atingem a idade fértil e vivem com DCCs e as consequências das anomalias e tratamentos,55 Marelli AJ, Ionescu-Ittu R, Mackie AS, Guo K, Dendukuri N, Kaouachi M. Lifetime prevalence of congenital heart disease in the general population from 2000 to 2010. Circulation. 2014;130:749-56. alterações que no passado levavam à morte em idade muito jovem.

O manejo dos pacientes sobreviventes representa um novo desafio: 13,6% dos pacientes com DCCs submetidos a reparo ou tratamento paliativo apresentam malformações estruturais extracardíacas associadas,11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. além do aumento do risco de arritmias, disfunção miocárdica e deficiências do neurodesenvolvimento, que são potencialmente as comorbidades com maior impacto na qualidade de vida em pacientes com DCCs: eles afetam 10% a 50% dos pacientes, de acordo com a gravidade da doença coronariana.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

A complexidade e a heterogeneidade das DCCs têm sido tradicionalmente atribuídas a etiologias multifatoriais, decorrentes de interações entre múltiplos genes e fatores ambientais.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52. De fato, não é fácil definir com precisão a contribuição genética subjacente aos defeitos cardíacos, devido à complexidade da rede genética que controla a organogênese do coração. Entretanto, muitos estudos apontam para uma importante contribuição genética para DCCs, como maior concordância em gêmeos monozigóticos, risco de recorrência de formas relacionadas de DCCs em irmãos e a presença de formas mendelianas raras de defeitos cardíacos.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

Base do desenvolvimento do coração

O coração é o primeiro órgão funcional a se desenvolver em embriões de vertebrados e esse processo é estritamente controlado por uma rede de regulação gênica,22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,66 Srivastava D. Making or breaking the heart: from lineage determination to morphogenesis. Cell. 2006;126:1037-48. que inclui fatores de transcrição, vias de sinalização, microRNAs e fatores epigenéticos.

Em mamíferos, três linhagens celulares colaboram no curso da morfogênese cardíaca: células do mesoderma cardiogênico (CMC), o proepicárdio (PE) e células cardiogênicas da crista neural (CCCN).77 Brade T, Pane LS, Moretti A, Chien KR, Laugwitz KL. Embryonic heart progenitors and cardiogenesis. Cold Spring Harb Perspect Med. 2013;3:a013847. O primeiro campo cardíaco (PCC) e o segundo campo cardíaco (SCC) que formam a maior proporção de miocárdio ventricular, atrial e da via de saída, além de endocárdio, sistema de condução e coxins pulmonares e aórticos, abrigam-se no mesoderma cardiogênico.77 Brade T, Pane LS, Moretti A, Chien KR, Laugwitz KL. Embryonic heart progenitors and cardiogenesis. Cold Spring Harb Perspect Med. 2013;3:a013847.

8 Vincent SD, Buckingham ME. How to make a heart: the origin and development of cardiac progenitor cells. Curr Top Dev Biol. 2010;90:1-41.
-99 Zhang L, Kitabayashi-Nomura A, Sultana N, Cai W, Cai X, Moon AM, et al. Mesodermal nkx2.5 is necessary and sufficient for early second heart field development. Dev Biol. 2014;390:68-79. Inicialmente, o PCC forma o crescente cardíaco, que evolui para o coração tubular ou tubo cardíaco, que é o principal contribuinte para o ventrículo esquerdo inicial.

À medida que o tubo cardíaco se forma, o SCC migra para a linha média e se posiciona dorsalmente ao tubo cardíaco, compreende o aspecto dorsal-medial da placa cardíaca, enquanto o PCC compreende o aspecto ventral. O PCC diferencia-se como o crescente cardíaco, enquanto a diferenciação do SCC é atrasada pela sinalização inibitória de Wnt que emana da linha média.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,88 Vincent SD, Buckingham ME. How to make a heart: the origin and development of cardiac progenitor cells. Curr Top Dev Biol. 2010;90:1-41. Então, ele cresce e povoa grande parte do OFT, do ventrículo direito primário e dos átrios. Fatores secretados da porção anterior do tubo cardíaco funcionam como quimioatrativos para as células do SCC, embora esses mecanismos permaneçam desconhecidos.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,88 Vincent SD, Buckingham ME. How to make a heart: the origin and development of cardiac progenitor cells. Curr Top Dev Biol. 2010;90:1-41.

Ambas as linhagens parecem ser controladas por sinais positivos e negativos intricados de vias como proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs, do inglês bone morphogenetic proteins), fatores de crescimento de fibroblastos (FGF, do inglês fibroblast growth factors), vias de sinalização Sonic Hedgehog (SHH), WNT e NOTCH.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,77 Brade T, Pane LS, Moretti A, Chien KR, Laugwitz KL. Embryonic heart progenitors and cardiogenesis. Cold Spring Harb Perspect Med. 2013;3:a013847. O comprometimento cardiogênico inicial depende da expressão do fator de transcrição Nkx2.5 em células mesenquimais, como consequência da expressão de BMP2/4 associada a inibidores da via Wnt.99 Zhang L, Kitabayashi-Nomura A, Sultana N, Cai W, Cai X, Moon AM, et al. Mesodermal nkx2.5 is necessary and sufficient for early second heart field development. Dev Biol. 2014;390:68-79.,1010 Harvey RP, Lai D, Elliot D, Biben C, Solloway M, Prall O, et al. Homeodomain factor nkx2-5 in heart development and disease. Cold Spring Harb Perspect Med. 2002;67:107-14.

As células progenitoras que surgem do PE compreendem o epicárdio e se diferenciam em fibroblastos, músculo liso dos vasos e células endoteliais das coronárias e alguns miócitos formam o septo atrioventricular (AV). A interação entre o epicárdio e o miocárdio é crucial para a maturação da câmara e o crescimento do músculo ventricular.77 Brade T, Pane LS, Moretti A, Chien KR, Laugwitz KL. Embryonic heart progenitors and cardiogenesis. Cold Spring Harb Perspect Med. 2013;3:a013847. Essa interação é proporcionada por uma matriz extracelular denominada geleia cardíaca, que favorece a sinalização recíproca entre o miocárdio externo e o endocárdio interno.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.

Finalmente, as CCCNs originam-se do tubo neural dorsal e migram para os arcos faríngeos 3, 4 e 6, compreendem células distais do OFT e de músculo liso da crista aorticopulmonar, bem como a inervação autonômica do coração.77 Brade T, Pane LS, Moretti A, Chien KR, Laugwitz KL. Embryonic heart progenitors and cardiogenesis. Cold Spring Harb Perspect Med. 2013;3:a013847.

8 Vincent SD, Buckingham ME. How to make a heart: the origin and development of cardiac progenitor cells. Curr Top Dev Biol. 2010;90:1-41.
-99 Zhang L, Kitabayashi-Nomura A, Sultana N, Cai W, Cai X, Moon AM, et al. Mesodermal nkx2.5 is necessary and sufficient for early second heart field development. Dev Biol. 2014;390:68-79. As CCCNs são essenciais para a maturação e septação do polo arterial do coração e contribuem para a formação do septo e da válvula.66 Srivastava D. Making or breaking the heart: from lineage determination to morphogenesis. Cell. 2006;126:1037-48.

O coração é o primeiro órgão a romper a simetria embrionária, à medida que o tubo inicia o looping para a direita, reflete o estabelecimento global da assimetria esquerda-direita (ED), envolve a conversa cruzada complexa entre vias como Notch, Nodal, SHH, FGF, BMP e, finalmente, restringe a sinalização Nodal ao lado esquerdo do embrião,22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,66 Srivastava D. Making or breaking the heart: from lineage determination to morphogenesis. Cell. 2006;126:1037-48. através da atividade de células ciliares que geram um fluxo de sentido direcional de fluido extraembrionário.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.,44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.

O estabelecimento da assimetria ED é seguido pela formação dos coxins endocárdicos dentro do OFT e do canal AV que contribui para dividir o coração nas quatro câmaras cardíacas, inicia a divisão da OFT na aorta e na via pulmonar e precede a formação das válvulas em cada extremidade do tubo cardíaco.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.

Alterações genéticas subjacentes à DCC

A maioria das DCCs ocorre como malformações isoladas, enquanto 25 a 30% delas estão associadas a anomalias extracardíacas, e alguns defeitos específicos são frequentemente encontrados em associação com síndromes genéticas conhecidas.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120. Vários dados apontam que a genética contribui para a maioria dos DCCs,11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. embora padrões clássicos de herança mendeliana não sejam geralmente observados.1212 Chaix MA, Andelfinger G, Khairy P. Genetic testing in congenital heart disease: a clinical approach. World J Cardiol. 2016;8:181-90.,1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.

As principais anomalias cromossômicas têm sido associadas a DCCs por mais de meio século. As aneuploidias são as causas genéticas mais precocemente identificadas nas DCCs e a contribuição das anormalidades citogenéticas varia de 9% a 18%.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. O grande número de genes afetados resulta em fenótipos pleiotrópicos e graves e 98% dos fetos afetados têm pelo menos uma anormalidade extracardíaca.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

Ferramentas de investigação genética mais recentes, como o array-CGH, foram cruciais para revelar a presença de anomalias estruturais submicroscópicas associadas a síndromes genéticas identificáveis, inclusive fenótipos de DCCs.1212 Chaix MA, Andelfinger G, Khairy P. Genetic testing in congenital heart disease: a clinical approach. World J Cardiol. 2016;8:181-90.,1414 Blue GM, Kirk EP, Giannolatou E, Sholler GF, Dunwoodie SL, Harvey RP, et al. Advances in the genetics of congenital heart disease: a clinician's guide. J Am Coll Cardiol. 2017;69:859-70. As mutações somáticas não são uma causa comum de DCC, mas existe a possibilidade de que tenham um papel no desenvolvimento da doença em um ambiente poligênico ou multifatorial.1414 Blue GM, Kirk EP, Giannolatou E, Sholler GF, Dunwoodie SL, Harvey RP, et al. Advances in the genetics of congenital heart disease: a clinician's guide. J Am Coll Cardiol. 2017;69:859-70.

Anormalidades cromossômicas e DCCs

Anomalias cromossômicas clássicas detectáveis pelo cariótipo padrão normal incluem trissomia do 21 (síndrome de Down, OMIM 190685), trissomia do 13 (síndrome de Patau) trissomia do 18 (síndrome de Edwards), monossomia do X (síndrome de Turner).1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120. As DCCs são observadas em até 50% dos nascidos vivos com trissomia do 21, 60% a 80% dos nascidos vivos com trissomia do 13 e 33% com monossomia do X.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. Cada anormalidade cromossômica está preferencialmente associada a tipos específicos de DCC, como a que ocorre com defeitos AV e síndrome de Down ou lesões obstrutivas do ventrículo esquerdo e síndrome de Turner.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.,1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.

Anomalias cromossômicas submicroscópicas são detectáveis por hibridização fluorescente in situ (FISH), amplificação de múltiplas sondas dependente de ligação (MLPA) e microarranjos cromossômicos (CMA). Essas técnicas aumentaram o conhecimento sobre as variações do número de cópias (CNVs): variações genômicas comuns na população que incluem deleções e duplicações com diferentes consequências genômicas. As CNVs geralmente surgem a partir de rearranjos genômicos em pontos de quebra cromossômicos comuns devido à arquitetura genômica e que não são necessariamente patológicos. Entretanto, raras CNVs podem levar a um aumento, ruptura ou redução da expressão de um ou mais elementos genômicos, levar a patologias e problemas de desenvolvimento, e são constantemente ligadas a DCCs sindrômicas e não sindrômicas.1515 Costain G, Silversides CK, Basset AS. The importance of copy number variation in congenital heart disease. NPJ Genom Med. 2016;1:16031.,1616 Geng J, Picker J, Zheng Z, Zhang X, Wang J, Hisama F, et al. Chromosome microarray testing for patients with congenital heart defects reveals novel disease causing loci and high diagnostic yield. BMC Genomics. 2014;15:1127.

A fim de compreender a contribuição das anormalidades cromossômicas estruturais para a etiologia da doença coronariana, detalhamos a seguir os principais distúrbios genômicos (síndromes associadas à CNVs) relacionados à DCC, resumidos na tabela 1.

Tabela 1
CNV associadas com cardiopatias congênitas.×

Deleção de 22q11.2

A microdeleção humana mais comum varia de 0,7 a 3 Mpb, que afeta cerca de uma em 4.000 pessoas, resulta em um amplo espectro de fenótipos característicos da síndrome de DiGeorge (OMIM 188400), síndrome velocardiofacial (OMIM 192430) e síndrome de Shprintzen (OMIM 182212), abrange DCC, especialmente defeitos conotruncais, anormalidades do palato, hipocalcemia, imunodeficiência, características faciais distintas e anormalidades do desenvolvimento neurológico.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

A síndrome da deleção de 22q11.2 (22q11del) inclui alterações no fator de transcrição de T-Box TBX1, o que evidencia a importância da regulação da transcrição de SHF, uma vez que o geneTBX1 é peça central no desenvolvimento adequado da OFT do miocárdio44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.,1717 Kodo K, Yamagishi H, Amagishi H. Current insights into genetics of congenital heart diseases: GATA and T-box cardiac transcription factors as the hotspot pathogenesis. J Pediatr Cardiol Card Surg. 2017;1:18-27. e é expressa apenas na SHF, não na FHF nem nas CCCN. O TBX1 também regula a expressão de fatores de crescimento, como o fator de crescimento de fibroblastos 8 (FGF8), que ativa a diferenciação das CCCN. Portanto, os defeitos da OFT, tipicamente truncus arteriosus, tetralogia de Fallot e anormalidades do arco aórtico estão altamente associados à 22q11del, bem como defeitos craniofaciais, inclusive fenda palatina,1818 Mckusick VA, Hamosh A. Online Mendelian Inheritance in Man Entry #188400 - DiGeorge Syndrome; 2018. Available from: https://www.omim.org/entry/188400 [cited 3.11.18].
https://www.omim.org/entry/188400...
hipoplasia do timo e da paratireoide.

A maioria dos pacientes com 22q11.2del tem deleções de novo, resulta de recombinação não homóloga entre repetições de cópia baixas que flanqueiam a região crítica do cromossomo. Deleções mais proximais mantêm um fenótipo próximo à síndrome de DiGeorge, inclusive imunossupressão, enquanto deleções mais distais apresentam características clínicas incompletas: genes que interagem funcionalmente com TBX1, mas localizados distalmente a ele, como CRKL, ERK2/MAPK1, têm sido propostos como a etiologia de DCC em deleções mais distantes, particularmente a haploinsuficiência do gene MAPK1.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.

Síndrome da duplicação de 22q11.2 (OMIM 608363)

Fenotipicamente semelhante à microdeleção correspondente, é difícil estabelecer qualquer correlação clara genótipo-fenótipo para a microduplicação de 22q11.2; entretanto, os defeitos parecem pertencer a diferentes vias patogênicas: defeitos septais e lesão obstrutiva do ventrículo esquerdo, geralmente associada a distúrbios neurológicos e retardo de crescimento. A prevalência de DCC na duplicação de 22q11.2 é menor em comparação com a deleção da mesma região, mas a base molecular também considera o gene TBX1 como candidato, pois é superexpresso e pode interagir com outros genes dentro e fora da região cromossômica afetada.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120. A patogenicidade da microduplicação ainda é difícil de definir, pois a maioria dos portadores parentais tem um fenótipo normal. Mas o notório enriquecimento dessa microduplicação em pacientes com deficiências do desenvolvimento neurológico e a maior ocorrência de uma segunda CNV em portadores afetados sugerem que as microduplicações de 22q11distais podem atuar como um locus de susceptibilidade para a deficiência do desenvolvimento neurológico.1919 Pinchfsky E, Laneuville L, Srour M. Distal 22q11.2 microduplication: case report and review of the literature. Child Neurol Open. 2017;4:2329048X17737651.

Deleção e duplicação de 1q21.1

A DCC é uma característica importante da síndrome de deleção do 1q21.1 (OMIM 612474), com um fenótipo heterogêneo, inclusive incapacidade intelectual leve a moderada, microcefalia e DCC, como obstruções no lado esquerdo (40%), defeitos septais (27%) e defeitos conotruncais (20%).1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120. Não houve diferenças fenotípicas significantes entre portadores de deleções com diferentes pontos de ruptura.2020 Mckusick VA, Kniffin CL. Online Mendelian Inheritance in Man Entry #612474 - Chromosome 1q21.1 deletion Syndrome; 2018. Available from: https://www.omim.org/entry/612474 [cited 2.02.19].
https://www.omim.org/entry/612474...
A síndrome dw duplicação de 1q21.1 (OMIM 612475) é muito menos comum e inclui o GJA5, descrito como um gene de suscetibilidade para DCC, notadamente a tetralogia de Fallot, e foi descrito como tendo sofrido mutação em pacientes com DCC não sindrômica.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.,1818 Mckusick VA, Hamosh A. Online Mendelian Inheritance in Man Entry #188400 - DiGeorge Syndrome; 2018. Available from: https://www.omim.org/entry/188400 [cited 3.11.18].
https://www.omim.org/entry/188400...
,2121 Soemedi R, Topf A, Wilson IJ, Darlay R, Rahman T, Glen E, et al. Phenotype-specific effect of chromosome 1q21.1 rearrangements and GJA5 duplications in 2436 congenital heart disease patients and 6760 controls. Hum Mol Genet. 2012;21:1513-20. O gene GJA5, que codifica a conexina Cx40 (Cx40),2222 Guida V, Ferese R, Rocchetti M, Bonetti M, Sarkozy A, Cecchetti S, et al. A variant in the carboxyl-terminus of connexin 40 alters gap junctions and increases risk for tetralogy of Fallot. Eur J Hum Genet. 2013;21:69-75. é uma proteína da junção do gap cardíaco - proteína do canal da membrana celular que interconecta o citoplasma das células vizinhas e é responsável pela condução célula a célula do potencial de ação. A conexina Cx40 é ricamente expressa no miocárdio atrial e no sistema de condução atrioventricular.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52. O desequilíbrio na expressão dessa conexina está associado com maior propensão a arritmias. Além disso, pacientes com formas mutadas também apresentam atraso no desenvolvimento e características dismórficas.2121 Soemedi R, Topf A, Wilson IJ, Darlay R, Rahman T, Glen E, et al. Phenotype-specific effect of chromosome 1q21.1 rearrangements and GJA5 duplications in 2436 congenital heart disease patients and 6760 controls. Hum Mol Genet. 2012;21:1513-20.,2222 Guida V, Ferese R, Rocchetti M, Bonetti M, Sarkozy A, Cecchetti S, et al. A variant in the carboxyl-terminus of connexin 40 alters gap junctions and increases risk for tetralogy of Fallot. Eur J Hum Genet. 2013;21:69-75.

Síndrome da deleção de 1p36

A síndrome de 1p36Del (OMIM 607872) é o segundo distúrbio de microdeleção mais comum e é caracterizada por deficiência intelectual, epilepsia, características dismórficas, distúrbios metabólicos e neuromusculares. Deleções terminais e intersticiais são observadas com pontos de quebra altamente variáveis. A DCC está presente em 50% dos casos, principalmente cardiomiopatia e alta prevalência de não compactação do ventrículo esquerdo.2323 Arndt AK, Schafer S, Drenckhahn JD, Sabeh MK, Plovie ER, Caliebe A, et al. Fine mapping of the 1p36 deletion syndrome identifies mutation of PRDM16 as a cause of cardiomyopathy. Am J Hum Genet. 2013;93:67-77. O gene que codifica o fator de transcrição PRDM16 localiza-se dentro da região crítica da síndrome 1p36 e está ligado à não compactação do ventrículo esquerdo não sindrômica.2323 Arndt AK, Schafer S, Drenckhahn JD, Sabeh MK, Plovie ER, Caliebe A, et al. Fine mapping of the 1p36 deletion syndrome identifies mutation of PRDM16 as a cause of cardiomyopathy. Am J Hum Genet. 2013;93:67-77.,2424 Ting TW, Jamuar SS, Brett MS, Tan ES, Cham BW, Lim JY, et al. Left ventricular non-compaction: is it genetic?. Pediatr Cardiol. 2015;36:1565-72.

Deleção de 8p23.1

Deleções que envolvem o cromossomo 8p23.1 variam de grandes deleções que incluem o telômero 8p e detectáveis por cariotipagem de rotina a pequenas deleções intersticiais que resultam em diferentes fenótipos, particularmente hérnia diafragmática e DCC.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.,2424 Ting TW, Jamuar SS, Brett MS, Tan ES, Cham BW, Lim JY, et al. Left ventricular non-compaction: is it genetic?. Pediatr Cardiol. 2015;36:1565-72. Defeitos cardíacos são observados em 94% dos casos, variam de defeitos septais isolados a DCC mais complexas, como a tetralogia de Fallot e a síndrome do coração esquerdo hipoplásico.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.

A alta incidência de DCC é devida principalmente à ausência ou à expressão desequilibrada do fator de transcrição GATA4, que é conhecido por ter um papel importante no desenvolvimento do coração em humanos. A haploinsuficiência do gene GATA4 tem sido descrita como a etiologia da DCC não sindrômica em modelos animais e em famílias, especialmente defeitos septais.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.,1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.,1515 Costain G, Silversides CK, Basset AS. The importance of copy number variation in congenital heart disease. NPJ Genom Med. 2016;1:16031. Pacientes com deleções de 8p23.1 podem ter doença coronariana mais grave e complexa quando comparados com pacientes com mutações no gene GATA4isoladas, sugere que outros genes localizados na região podem ter um papel no fenótipo da DCC.2525 Wat MJ, Shchelochkov OA, Holder AM, Breman AM, Dagli A, Bacino C, et al. Chromosome 8p23.1 deletions as a cause of complex congenital heart defects and diaphragmatic hernia. Am J Med Genet A. 2009;149A:1661-77. Entre esses genes, a haploinsuficiência do gene do fator de transcrição SOX7 é um dos mais prováveis de exacerbar os efeitos da deleção do GATA4.2525 Wat MJ, Shchelochkov OA, Holder AM, Breman AM, Dagli A, Bacino C, et al. Chromosome 8p23.1 deletions as a cause of complex congenital heart defects and diaphragmatic hernia. Am J Med Genet A. 2009;149A:1661-77.

Síndrome de Wolf-Hirschhorn (Deleção 4pter)

A síndrome de Wolf-Hirschhorn (WHS, OMIM 194190) é causada pela perda da porção distal da região 4p, com o ponto de ruptura geralmente entre 4p15 e 4p16.2626 Elten K, Sawyer T, Lentz-kapua S, Kanis A, Studer M. A case of Wolf-Hirschhorn syndrome and hypoplastic left heart syndrome. Pediatric Cardiol. 2013;34:1244-6. A frequência estimada é em torno de 1:50.000 nascidos vivos.2626 Elten K, Sawyer T, Lentz-kapua S, Kanis A, Studer M. A case of Wolf-Hirschhorn syndrome and hypoplastic left heart syndrome. Pediatric Cardiol. 2013;34:1244-6. O fenótipo inclui características faciais distintas (conhecidas como fácies de “capacete grego”, com nariz distinto, hipertelorismo ocular, filtro labial curto, testa alta, sobrancelhas arqueadas), atraso neurológico e de crescimento e convulsões. A DCC é descrita em 50% dos casos, particularmente defeitos septais leves e persistência do ductus arteriosus, embora tenham sido relatados defeitos cardíacos mais graves.2626 Elten K, Sawyer T, Lentz-kapua S, Kanis A, Studer M. A case of Wolf-Hirschhorn syndrome and hypoplastic left heart syndrome. Pediatric Cardiol. 2013;34:1244-6.,2727 Battaglia A, Fillippi T, Carey JC. Update on the clinical features and natural history of Wolf-Hirschhorn (4p-) syndrome: experience with 87 patients and recommendations for routine health supervision. Am J Med Gen C Semin Med Genet. 2008;148C:246-51. O gene mais provável implicado no fenótipo de DCC é oWHSC1,uma histona metiltransferase de lisina, que interage com o fator de transcrição cardíaca Nkx2.5 especialmente durante a formação de septo cardíaco.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52. Outro candidato é o gene FGFRL1, que codifica um membro da família de receptores de crescimento de fibroblastos expresso no cérebro, placódios cranianos, arcos faríngeos e coração.

Síndrome de Williams-Beuren

A síndrome de Williams-Beuren (WBS, OMIM 194050) é causada por uma deleção típica de 1,5-1,8 Mbp na região 7q11.23, envolve cerca de 28 genes, afeta 1:7500 a 1:10.000 indivíduos. A maioria dos pacientes é heterozigótica para uma deleção de 1,5-1,8 Mbp.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52. Anomalias cardiovasculares estão presentes em 75% dos indivíduos, geralmente estenose aórtica supravalvar e estenose pulmonar, o que pode ser explicado pela haploinsuficiência do gene da elastina (ELN), causa deficiência ou deposição anormal de elastina na parede arterial, leva à proliferação de células de músculo liso arterial e subsequente hiperplasia intimal.2828 Del Psqua A, Rinelli G, Toscano A, Iacobelli R, Digilio C, Marino B, et al. New findings concerning cardiovascular manifestations emerging from long-term follow-up of 150 patients with the Williams-Beuren-Beuren syndrome. Cardiol Young. 2009;19:563-7. Mutações de ponto no gene ELN foram relatadas em pacientes com estenose aórtica supravalvar não sindrômica.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.

Outras DCCs, como defeitos septais e tetralogia de Fallot, são descritas em 6-10% dos pacientes e não podem ser explicadas pela deleção do gene ELN. Modelos animais indicam que a deleção de outro gene na região 7q11.23 - BAZ1B, também conhecido como fator de transcrição da síndrome de Williams (WSTF), pode ser responsável por esses defeitos.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.,2929 Yoshimura K, Kitagawa H, Fujiki R, Tanabe M, Takewaza S, Takada I, et al. Distinct function of 2 chromatin remodeling complexes that share a common subunit Williams syndrome transcription factor (WSTF). Proc Natl Acad Sci U S A. 2009;106:9280-5. O gene WSTF codifica uma subunidade em três complexos de remodelação da cromatina dependentes de ATP que é crucial para as cascatas de transcrição gênicas normais no coração em desenvolvimento.2929 Yoshimura K, Kitagawa H, Fujiki R, Tanabe M, Takewaza S, Takada I, et al. Distinct function of 2 chromatin remodeling complexes that share a common subunit Williams syndrome transcription factor (WSTF). Proc Natl Acad Sci U S A. 2009;106:9280-5.

Síndrome de Kleefstra

A síndrome de Kleefstra (KLEFS1, OMIM 610253) é causada pela microdeleção da região 9q34.3 ou, menos comum, por mutações de ponto no gene histona-lisina N-metiltransferase 1 eucromática (EHMT1).A síndrome de Kleefstra é uma doença clínica reconhecível com características típicas da face (face plana com hipertelorismo ocular, sinofris, lábio inferior evertido, macroglossia e narinas antevertidas) e DCC em aproximadamente 40% dos pacientes,44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.,3030 Kleefstra T, Brunner HG, Amiel J, Oudakker AR, Nillesen WM, Magee A, et al. Loss-of-function mutations in euchromatin histone methyl transferase 1 (EHMT1) cause the 9q34 subtelomeric deletion syndrome. Am J Hum Genet. 2006;79:370-7. inclusive defeitos septais, coarctação de aorta, estenose pulmonar ou tetralogia de Fallot.1616 Geng J, Picker J, Zheng Z, Zhang X, Wang J, Hisama F, et al. Chromosome microarray testing for patients with congenital heart defects reveals novel disease causing loci and high diagnostic yield. BMC Genomics. 2014;15:1127. Um importante atraso do desenvolvimento, alterações geniturinárias, constipação crônica e epilepsia também são descritos.3030 Kleefstra T, Brunner HG, Amiel J, Oudakker AR, Nillesen WM, Magee A, et al. Loss-of-function mutations in euchromatin histone methyl transferase 1 (EHMT1) cause the 9q34 subtelomeric deletion syndrome. Am J Hum Genet. 2006;79:370-7.

Mutação de gene único e DCC

O sequenciamento de próxima geração (NGS, do inglês next generation sequencing) abriu as portas para o entendimento da genética de doenças complexas, como as DCCs, além de grandes variações estruturais, permitiu a identificação de mutações que, de outra forma, seriam indetectáveis.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

A rede de controle do desenvolvimento cardíaco é vasta e intricada e mutações genéticas, inclusive aquelas com ganho de função e perda de função, que afetam esse complexo processo desempenham um papel significativo na genética das DCCs.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.

Genes mutados em DCC são geralmente agrupados de acordo com a função e o envolvimento em vias específicas, uma vez que isso esclarece a compreensão desses genes na formação cardíaca.

Abaixo mencionamos algumas das vias/mecanismos importantes e síndromes associadas relacionadas à DCC.

Síndrome de Noonan e RASopatias

As RASopatias são um grupo de síndromes causadas por mutações em genes da via Ras-MAPK, que é essencial para o ciclo celular, com papéis reguladores na proliferação, diferenciação, crescimento e metabolismo celular. Portanto, sua desregulação nessa cascata é responsável por profundas consequências no desenvolvimento.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120. Elas incluem a síndrome de Noonan (NS) e outras doenças relacionadas à síndrome de Noonan (DRSN), inclusive a síndrome cardio-facio-cutânea (CFC; OMIM 115150), síndrome de Costello (SC; OMIM 218040) e SN com lentigos múltiplos (SNLM; também conhecida como síndrome LEOPARD; OMIM 151100). Esses são distúrbios do desenvolvimento que se sobrepõem clinicamente e que compartilham muitos traços característicos, como dismorfismo facial, baixa estatura e anormalidades cardíacas, com fenótipos que são amplos e heterogêneos, e o diagnóstico diferencial entre eles pode ser difícil.3131 Jhang WK, Choi JH, Lee BH, Kim GH, Yoo HW. Cardiac manifestations and associations with gene mutations in patients diagnosed with RASopathies. Pediatr Cardiol. 2016;37:1539-47.

A síndrome de Noonan é uma das síndromes genéticas mais comuns associadas à DCC, com uma prevalência estimada de 1:1000 a 1:2500 nascidos vivos. É um distúrbio clinicamente heterogêneo, transmitido como um traço autossômico dominante.1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70. As características clínicas incluem baixa estatura, características dismórficas (como face triangular, hipertelorismo, baixa implantação das orelhas e ptose) defeitos linfáticos, hematológicos, esqueléticos e ectodérmicos. Além disso, os pacientes podem apresentar comprometimento neurológico variável, variam de incapacidade intelectual moderada a capacidade superior; no entanto, crianças com doença cardíaca grave tendem a apresentar capacidade cognitiva mais baixa.3030 Kleefstra T, Brunner HG, Amiel J, Oudakker AR, Nillesen WM, Magee A, et al. Loss-of-function mutations in euchromatin histone methyl transferase 1 (EHMT1) cause the 9q34 subtelomeric deletion syndrome. Am J Hum Genet. 2006;79:370-7. Perda auditiva, falta de coordenação, distúrbios do humor, hiperatividade e déficit de atenção também foram descritos.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.,1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.,3232 Pierpont EI, Pierpont ME, Mendelsohn NJ, Roberts AE, Tworog-Dube E, Seindenberg MS. Genotype differences in cognitive functioning in Noonan syndrome. Genes Brain Behav. 2011;8:275-82.

DCC ocorre em 60-90% dos pacientes com RASopatias, com menor ocorrência em SNLM. As anormalidades cardíacas mais frequentes são estenose da válvula pulmonar, defeito do septo atrioventricular (DSAV), defeitos septais e cardiomiopatia hipertrófica.88 Vincent SD, Buckingham ME. How to make a heart: the origin and development of cardiac progenitor cells. Curr Top Dev Biol. 2010;90:1-41.,1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.,3131 Jhang WK, Choi JH, Lee BH, Kim GH, Yoo HW. Cardiac manifestations and associations with gene mutations in patients diagnosed with RASopathies. Pediatr Cardiol. 2016;37:1539-47.

Diferentes genes foram identificados como responsáveis pelo fenótipo da síndrome de Noonan ou condições correlacionadas. Mutações missense no gene PTPN11- localizado na região 12q24.1 - são responsáveis por aproximadamente 50% dos casos. Outros 12 genes estão envolvidos e junto com o PTPN11 respondem por aproximadamente 90% dos casos afetados: KRAS, SOS1, RAF1, NRAS, BRAF, SHOC2, PPP1CB, CBL, RRAS, RIT1, LZTR1eSOS2. A maioria desses genes codifica proteínas que estão envolvidas na via de sinalização da proteína quinase ativada por mitógeno RAS (MAPK). A via RAS/MAPK é uma importante cascata de sinalização que permite às células responder adequadamente a múltiplos estímulos extracelulares, inclusive fatores de crescimento, hormônios e citocinas, controla praticamente todos os processos celulares. A maioria dessas mutações leva a um aumento da transdução de sinal ao longo dessa via, causa ativação contínua da MAPK durante o desenvolvimento.1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.,3333 Tidyman WE, Rauen KA. The RASopathies: developmental syndromes of RAS/MAPK pathway. Curr Opin Genet Dev. 2009;19:230-6.SOS1, RIT1, eRAF1são os genes que mais frequentemente sofrem mutações e a prevalência de DCC em pacientes com mutações no gene RIT1 é particularmente alta (90%).1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.,1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.

Defeitos do septo atrioventricular (DSAV) são encontrados especialmente em pacientes com mutações nos genes PTPN11 e RAF1 e DSAV parcial associada a obstruções do lado esquerdo, estenose valvar pulmonar ou cardiomiopatia hipertrófica devem ser consideradas como marcadores para Noonan ou síndromes correlacionadas.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.

Síndrome de Adams-Oliver

A síndrome de Adams-Oliver (AOS1, OMIM 100300) é um distúrbio de desenvolvimento raro, caracterizado por aplasia cutânea congênita do vértice do couro cabeludo, defeito transverso terminal dos membros, com alta variabilidade intra- e interfamiliar.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.,3434 Digilio MC, Marino B, Baban A, Dallapiccola B. Cardiovascular malformations in Adams-Oliver syndrome. Am J Med Genet A. 2015;167A:1175-7. As malformações cardiovasculares ocorrem em 13% a 20% dos pacientes e diferentes aspectos anatômicos tipos têm sido relatados: lesões obstrutivas do lado esquerdo, defeitos septais e conotruncais e atresia tricúspide. As lesões do lado esquerdo são predominantes e ocorrem em múltiplos níveis.3434 Digilio MC, Marino B, Baban A, Dallapiccola B. Cardiovascular malformations in Adams-Oliver syndrome. Am J Med Genet A. 2015;167A:1175-7.

Os genes clássicos envolvidos na síndrome de Adams-Oliver incluem ARHGAP31, DOCK6, RBPJ e EOGT e apenas 9% dos pacientes com essas mutações têm DCC, particularmente, defeitos do septo.3434 Digilio MC, Marino B, Baban A, Dallapiccola B. Cardiovascular malformations in Adams-Oliver syndrome. Am J Med Genet A. 2015;167A:1175-7.

O gene RBPJ foi proposto como candidato à síndrome de Adams-Oliver com DCC mais complexa, pois codifica uma proteína altamente preservada que coordena a ativação transcricional dos genes-alvo da via NOTCH, é uma chave importante para a formação de células mesenquimais, esqueléticas, vasculares e formação da epiderme e folículos pilosos.3535 De la Pompa JL, Epstein JA. Coordinating tissue interactions: NOTCH signaling in cardiac development and disease. Dev Cell. 2014;22:244-54. Demonstrou-se que as variantes do gene NOTCH1, pertencentes à via de sinalização NOTCH, estão relacionadas à síndrome de Adams-Oliver com DCC e foi proposto que os defeitos nos membros e no couro cabeludo são secundários à vasculopatia causada pela haploinsuficiência do NOTCH1.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120. O gene NOTCH1 não foi apenas implicado na DCC não sindrômica, mas também é conhecido por ser essencial para a transformação da epiderme em células mesenquimais migratórias, definição do território valvar, além de ser amplamente expresso na OFT.3535 De la Pompa JL, Epstein JA. Coordinating tissue interactions: NOTCH signaling in cardiac development and disease. Dev Cell. 2014;22:244-54.

Síndrome de Holt-Oram

A síndrome de Holt-Oram (SHO, OMIM 142900) afeta 1:100.000 indivíduos e pode ser esporádica ou hereditária, transmitida como doença autossômica dominante causada por mutações non sense ou frameshift no gene TBX5,1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.,1616 Geng J, Picker J, Zheng Z, Zhang X, Wang J, Hisama F, et al. Chromosome microarray testing for patients with congenital heart defects reveals novel disease causing loci and high diagnostic yield. BMC Genomics. 2014;15:1127. ou até mesmo duplicações que envolvem esse gene na região 12q.3535 De la Pompa JL, Epstein JA. Coordinating tissue interactions: NOTCH signaling in cardiac development and disease. Dev Cell. 2014;22:244-54. TBX5 é um fator de transcrição que é um conhecido regulador-chave da organogênese do coração, especialmente quando em combinação com outros fatores de transcrição, como NKX2.5 e GATA4.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.,1717 Kodo K, Yamagishi H, Amagishi H. Current insights into genetics of congenital heart diseases: GATA and T-box cardiac transcription factors as the hotspot pathogenesis. J Pediatr Cardiol Card Surg. 2017;1:18-27.

Esta síndrome é caracterizada por malformações dos membros superiores e DCC, especialmente defeitos do septo e distúrbios de condução. As anormalidades dos membros superiores estão sempre presentes, envolvem estruturas derivadas do raio radial e são mais comumente bilaterais e assimétricas, variam de achados radiológicos subclínicos a focomelia. Os defeitos cardíacos são tipicamente defeitos septais, mas doenças cardíacas mais complexas já foram descritas. Anormalidades da condução cardíaca também são usualmente encontradas. Nenhuma correlação pode ser feita entre a gravidade das malformações cardíacas e nos membros.3636 Patel C, Silcock L, Mcmullan D, Brueton L, Cox H. TBX5 intragenic duplication: a family with an atypical Holt-Oram syndrome phenotype. Eur J Hum Genet. 2012;20:863-9.

Síndrome de Alagille

A síndrome de Alagille (ALGS1, OMIM 118450) é um distúrbio multissistêmico com prevalência estimada de 1:70.000 recém-nascidos, que afeta o coração, fígado, olhos, face e esqueleto, e a DCC está presente em 90% dos casos. O envolvimento da via de saída pulmonar é o tipo mais comum de DCC descrita, entre os quais a estenose pulmonar valvar e/ou arterial e a tetralogia de Fallot são usualmente mencionadas. A escassez de ductos biliares interlobulares e a consequente colestase também são uma característica clínica importante.1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.

A grande maioria dos pacientes com síndrome de Alagille (> 90%) tem mutações no gene JAG1, que codifica uma ligante sinalizadora de NOTCH. Casos selecionados (< 1%) têm mutações no gene NOTCH2.3737 Turpenny PD, Ellard S. Alagille syndrome: pathogenesis, diagnosis and management. Eur J Hum Genet. 2012;20:251-7. O gene JAG1 está fortemente correlacionado com malformações cardiovasculares e é subjacente à DCC não sindrômica, mais frequentemente a tetralogia de Fallot.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

Como as DCCs podem ser uma manifestação isolada da síndrome de Alagille, pacientes com histórico familiar de tetralogia de Fallot ou aqueles com estenose ou hipoplasia de ramo de artéria pulmonar devem ter direito a testes genéticos, mesmo que outras características fenotípicas estejam ausentes.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.,1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.

Genes envolvidos no controle epigenético

Novas abordagens têm sido usadas na busca pela compreensão da etiologia e variabilidade fenotípica de doenças genéticas complexas. O estudo da epigenética - alterações genômicas que não envolvem modificações na sequência de DNA - sugere que a estrutura da cromatina e/ou os distúrbios epigenéticos podem levar a alterações na transcrição de múltiplos genes e vias metabólicas que podem desempenhar um papel fundamental nas DCC. Diversos estudos têm demonstrado a importância de vários mecanismos de regulação epigenética durante a cardiogênese.3838 Moore-Morris T, Van Vilet PP, Andelfinger G, Puceat M. Role of epigenetics in cardiac development and congenital diseases. Physiol Rev. 2018;98:2453-75.

Diversos estudos demonstram a importância de vários mecanismos de regulação epigenética durante a cardiogênese. Alterações da metilação do DNA, especialmente nas ilhas CpG próximas a fatores de transcrição, foram identificadas em pacientes com malformações cardíacas.3838 Moore-Morris T, Van Vilet PP, Andelfinger G, Puceat M. Role of epigenetics in cardiac development and congenital diseases. Physiol Rev. 2018;98:2453-75. Estudos com sequenciamento de próxima geração identificaram enriquecimento significativo para mutações em genes que envolvem modificação de histonas em pacientes com DCC, especialmente H3K4, H2K7, H3K9 e H3K27, sugere que a modificação de histonas pode ser significativa na patologia da doença isolada.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.,44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.

A investigação do remodelamento da cromatina em organismos modelo mostrou que a modificação dinâmica da estrutura da cromatina desempenha um papel importante na regulação da expressão gênica durante o desenvolvimento do coração.1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70. Mutações de novo que afetam os genes de regulação da cromatina contribuem para cerca de 3% das DCCs. Além disso, os genes reguladores da cromatina incluem cerca de 600 genes que regulam a expressão gênica dinâmica e alteram fatores epigenéticos ou catalisam alterações na estrutura da cromatina.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. Portanto, genes que codificam proteínas que modificam ou se ligam a histonas têm sido implicados como a etiologia de síndromes que causam DCCs, como:

Síndrome de Kabuki

A síndrome de Kabuki (KABUK1, OMIM 147920) é um distúrbio genético que afeta 1:30.000 recém-nascidos e causa atraso no desenvolvimento, dismorfismo facial e lesões obstrutivas do lado esquerdo, que inicialmente levantaram uma suspeita de envolvimento do cromossomo X, embora defeitos do septo e conotruncais também possam ser detectados.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120. De fato, apesar da identificação do gene MLL2 - uma histona metiltransferase - como causa primária da síndrome de Kabuki através do sequenciamento do genoma completo, deleção de novo parcial ou completa de genes do cromossomo X, que codifica as modificadoras de histonas KMT2D e KDM6A que interagem com o gene MLL2 também podem resultar em um fenótipo da síndrome de Kabuki.1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.,1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.

Síndrome Charge

A síndrome Charge (OMIM 214800) é um acrônimo que significa coloboma, cardiopatia, atresia coanal, atraso do crescimento e desenvolvimento, hipoplasia dos genitais, anomalias dos pavilhões auriculares/surdez (do inglês iris Coloboma, Heart malformation, choanal Atresia, Retarded growth and development, Genital hypoplasia and Ear anomalies and deafness), embora outras malformações e alterações comportamentais possam estar presentes e os critérios diagnósticos tenham sido refinados várias vezes.3939 Jongmans MC, Admiraal RJ, Van der Donk KP, Visser LE, Bass AF, Kapusta L, et al. CHARGE syndrome: the phenotypic spectrum of mutations in the CHD7 gene. J Med Genet. 2006;43:306-14. Ela afeta 1:8.000 a 1:10.000 recém-nascidos, cerca de 70% dos pacientes têm DCC e cerca de metade deles apresenta defeitos conotruncais maiores, como a tetralogia de Fallot e dupla via de saída do ventrículo direito, embora outros defeitos da OFT, como a síndrome do coração esquerdo hipoplásico, também sejam descritos.1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.,3939 Jongmans MC, Admiraal RJ, Van der Donk KP, Visser LE, Bass AF, Kapusta L, et al. CHARGE syndrome: the phenotypic spectrum of mutations in the CHD7 gene. J Med Genet. 2006;43:306-14. Mais de dois terços dos casos são causados por mutações non sense ou frame shift no gene CHD7, que codifica uma proteína modificadora da cromatina, embora alterações no gene da semaforina (SMA3E) possam resultar em fenótipo semelhante.4040 Lalani S, Safiullah AM, Molinari LM, Fernbach SD, Martin DM, Belmont JW. SEMA3E mutation in a patient with CHARGE syndrome. J Med Genet. 2004;41:e94. A proteína CHD7 é essencial para a migração da crista neural, o que pode explicar a alta frequência de defeitos da OFT.1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.,3939 Jongmans MC, Admiraal RJ, Van der Donk KP, Visser LE, Bass AF, Kapusta L, et al. CHARGE syndrome: the phenotypic spectrum of mutations in the CHD7 gene. J Med Genet. 2006;43:306-14.

Síndrome de Koolen-De Vries

A Síndrome de Koolen-De Vries (KDVS, OMIM 610443) é causada pela deleção do locus 17q21.31 ou mutação do gene KANSL1, localizado no loco supracitado, caracteriza-se por grave déficit intelectual, hipotonia, convulsões e dismorfismo facial. A DCC está presente em 27% dos casos, com defeitos marcadamente septais, embora a estenose pulmonar também possa ser descrita.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.,4141 Mckusick VA, Kniffin CL. Online Mendelian Inheritance in Man Entry #610443 - Koolen-De Vries Syndrome; 2018. Available from: https://www.omim.org/entry/610443 [cited 31.01.19].
https://www.omim.org/entry/610443...
Estudos recentes identificaram que o gene KANSL1 desempenha um papel como gene modificador em pacientes com 22q11.2DS.4242 Leon LE, Benavides F, Espinoza K, Vial C, Alvarez P, Palomares M, et al. Partial microduplication in the histone acetyltransferase complex member KANSL1 is associated with congenital heart defects in 22q11.2 microdeletion syndrome patients. Sci Rep. 2017;7:1795.

DCC não sindrômica

A grande maioria das DCCs - cerca de 70% - ocorre como malformações isoladas,1111 Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.,1212 Chaix MA, Andelfinger G, Khairy P. Genetic testing in congenital heart disease: a clinical approach. World J Cardiol. 2016;8:181-90.,4343 Calgani G, Digilio MC, Sarkozy A, Dallapiccola B, Marino B. Familial recurrence of congenital heart disease: an overview and review of the literature. Eur J Pediatr. 2007;166:111-6. inclusive as mais complexas: atresia da tricúspide, transposição das grandes artérias, síndrome do coração esquerdo hipoplásico e atresia pulmonar. Vários novos genes com herança mendeliana foram identificados e estudos de famílias afetadas não só lançaram luz sobre os padrões de herança, mas também têm sido essenciais para a compreensão da complexa organogênese do coração, uma vez que os genes etiologicamente ligados às DCCs afetam diretamente o desenvolvimento embriológico e também podem desempenhar um papel na regulação do coração durante toda a vida.1212 Chaix MA, Andelfinger G, Khairy P. Genetic testing in congenital heart disease: a clinical approach. World J Cardiol. 2016;8:181-90. A tecnologia de sequenciamento de próxima geração (NGS) abriu as portas para se descobrir a importância das variantes de novo sem herança mendeliana clara, variantes com penetrância reduzida e alterações somáticas, entre outras.1212 Chaix MA, Andelfinger G, Khairy P. Genetic testing in congenital heart disease: a clinical approach. World J Cardiol. 2016;8:181-90.,1313 Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.

A maioria das mutações identificadas é família-específica e não pode ser considerada uma causa comum de DCC, mas é possível que múltiplas variantes possam ter um papel no desenvolvimento da doença como ambiente poligênico, embora a interpretação dessas variantes possa ser muito desafiadora e não é sempre é possível estabelecer sua patogenicidade. Essas associações podem ser altamente significativas do ponto de vista estatístico e de pesquisa, mas têm relevância clínica baixa.1414 Blue GM, Kirk EP, Giannolatou E, Sholler GF, Dunwoodie SL, Harvey RP, et al. Advances in the genetics of congenital heart disease: a clinician's guide. J Am Coll Cardiol. 2017;69:859-70.

Em muitas famílias e indivíduos com DCC, as variações nos genes expressos durante a formação do coração estão presentes com diferentes perfis de herança, sugere um continuum entre formas mendelianas e complexas das doenças, além de distúrbios de gene único, como exemplificado abaixo e listados na tabela 2.1414 Blue GM, Kirk EP, Giannolatou E, Sholler GF, Dunwoodie SL, Harvey RP, et al. Advances in the genetics of congenital heart disease: a clinician's guide. J Am Coll Cardiol. 2017;69:859-70.

Tabela 2
Genes associados a cardiopatias congênitas não sindrômicas

Mutações na família NK2

A família NK2 é constituída por genes homeobox que desempenham papéis cruciais no desenvolvimento do coração, regulam processos essenciais, como a expressão gênica espacial e temporal.88 Vincent SD, Buckingham ME. How to make a heart: the origin and development of cardiac progenitor cells. Curr Top Dev Biol. 2010;90:1-41.,99 Zhang L, Kitabayashi-Nomura A, Sultana N, Cai W, Cai X, Moon AM, et al. Mesodermal nkx2.5 is necessary and sufficient for early second heart field development. Dev Biol. 2014;390:68-79.,4444 Fahed AC, Nemer GM. Genetic causes of syndromic and nonsyndromic congenital heart disease. In: Cooper D, editor. Mutations in human genetic disease. InterchOpen; 2012. p. 119-48. O gene NKX2-5é expresso em ambos, o primeiro e o segundo campos cardíacos, como um dos primeiros marcadores da diferenciação cardiomiogênica e é fundamental para a hierarquia reguladora cardíaca.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401. Várias mutações foram descritas, levaram principalmente a defeitos septais e anormalidades da condução atrioventricular,22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401. mas também foram descritas DCC mais complexas, como a tetralogia de Fallot e a hipoplasia do coração esquerdo.4545 Chung I, Rajakumar G. Genetics of congenital heart defects: the NKX2-5 gene, a key player. Genes (Basel). 2016:7. Estudos recentes têm se concentrado na região reguladora do gene NKX2-5, propõem que essas variantes não codificantes podem melhorar a transcrição e alterar a rede que controla a morfogênese cardíaca. Também foi postulado que essas versões mutantes podem se ligar a promotores de genes não específicos e permitir que os cofatores induzam um efeito mais forte do que o usual, o que pode explicar as grandes variações de fenótipos em indivíduos afetados.4545 Chung I, Rajakumar G. Genetics of congenital heart defects: the NKX2-5 gene, a key player. Genes (Basel). 2016:7.

O gene NKX2-6 se sobrepõe parcialmente ao NKX2-5 nos perfis de expressão temporal e espacial e nas características funcionais durante a embriogênese. As mutações que causam perda de função do NKX2-6 já foram identificadas em pacientes com tetralogia de Fallot, dupla via de saída do ventrículo direito e defeitos do septo ventricular.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.

Mutações na família TBX

A família do fator de transcrição toolbox (TBX) é um grupo de seis proteínas que compartilham um domínio de ligação de DNA altamente conservado e com papel significativo no desenvolvimento de células progenitoras cardíacas - especialmente no segundo campo cardíaco - bem como na padronização das câmaras e OFT.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,1717 Kodo K, Yamagishi H, Amagishi H. Current insights into genetics of congenital heart diseases: GATA and T-box cardiac transcription factors as the hotspot pathogenesis. J Pediatr Cardiol Card Surg. 2017;1:18-27.

O gene TBX1 é expresso no mesênquima e no epitélio da faringe e é um dos principais determinantes genéticos de distúrbios cardíacos e craniofaciais, é incluído no conjunto de genes deletados na síndrome de 22q11del. Mutações no gene TBX5 foram associadas à síndrome de Holt-Oram, como descrito. Existem muito poucos casos de doença coronariana isolada relacionados a mutações nesses dois genes.4444 Fahed AC, Nemer GM. Genetic causes of syndromic and nonsyndromic congenital heart disease. In: Cooper D, editor. Mutations in human genetic disease. InterchOpen; 2012. p. 119-48.

Mutações no gene TBX20, por outro lado, têm sido associadas com defeitos do septo atrial e ventricular e valvulogênese aberrante: o TBX20 é necessário nas linhagens endoteliais para septação, regulagem do versican, um proteoglicano da matriz extracelular e a proliferação e diferenciação dos cardiomiócitos nos septos.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.,4646 Boogerd CJ, Zhu X, Aneas I, Sakabe N, Zhang L, Sobreira DR, et al. Tbx20 is required in mid-gestation cardiomyocytes and plays a central role in atrial development. Circ Res. 2018;123:428-42. Mutações no TBX20 aumentam a suscetibilidade da dupla via de saída do ventrículo direito em humanos e também têm sido associadas de maneira causal à cardiomiopatia dilatada.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.

Mutações na família GATA

A família dos fatores de transcrição de “dedos de zinco” GATA compreende seis membros: GATA 1 a GATA 6, que se ligam à sequência de bases (A/T) GATA (A/G) na região reguladora de vários genes. A maioria dos tecidos de origem mesodérmica ou endodérmica expressa pelo menos um dos seguintes: GATA4, GATA5 ou GATA6 e todos os três estão presentes no mesoderma pré-cardíaco.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,77 Brade T, Pane LS, Moretti A, Chien KR, Laugwitz KL. Embryonic heart progenitors and cardiogenesis. Cold Spring Harb Perspect Med. 2013;3:a013847. Experimentos em modelos animais mostraram que o silenciamento dos genes GATA pode resultar em DCC, varia de defeitos valvulares-septais a acardia.4444 Fahed AC, Nemer GM. Genetic causes of syndromic and nonsyndromic congenital heart disease. In: Cooper D, editor. Mutations in human genetic disease. InterchOpen; 2012. p. 119-48.

GATA4 é o membro mais investigado e também um dos primeiros fatores de transcrição expressos no desenvolvimento de células cardíacas.1717 Kodo K, Yamagishi H, Amagishi H. Current insights into genetics of congenital heart diseases: GATA and T-box cardiac transcription factors as the hotspot pathogenesis. J Pediatr Cardiol Card Surg. 2017;1:18-27.,4747 Lentjes MH, Niessen HE, Yoshimitsu A, Brüine AP, Melotte V, Van Engeland M. The emerging role of GATA transcription factors in development and disease. Expert Rev Mol Med. 2016;18:e3. Uma diminuição na expressão do gene GATA4 leva a várias formas de DCC, como defeitos do septo atrioventricular, dupla via de saída do ventrículo direito e formas familiares da tetralogia de Fallot.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,1717 Kodo K, Yamagishi H, Amagishi H. Current insights into genetics of congenital heart diseases: GATA and T-box cardiac transcription factors as the hotspot pathogenesis. J Pediatr Cardiol Card Surg. 2017;1:18-27.,4747 Lentjes MH, Niessen HE, Yoshimitsu A, Brüine AP, Melotte V, Van Engeland M. The emerging role of GATA transcription factors in development and disease. Expert Rev Mol Med. 2016;18:e3.

O gene GATA5 pode promover o destino dos cardiomiócitos a partir de células-tronco embrionárias murinas.66 Srivastava D. Making or breaking the heart: from lineage determination to morphogenesis. Cell. 2006;126:1037-48. Pouco se sabe sobre as mutações do GATA5 em humanos, mas três mutações em heterozigose foram identificadas em famílias com malformações anatômicas cardíacas ou fibrilação atrial familiar22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,4747 Lentjes MH, Niessen HE, Yoshimitsu A, Brüine AP, Melotte V, Van Engeland M. The emerging role of GATA transcription factors in development and disease. Expert Rev Mol Med. 2016;18:e3. e na tetralogia de Fallot esporádica.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.

O gene GATA6 é altamente expresso não apenas no coração em desenvolvimento - mesoderme pré-cardíaca, tubo cardíaco - mas também em cardiomiócitos adultos em ventrículos e átrios humanos e células de músculo lisovascular.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,4747 Lentjes MH, Niessen HE, Yoshimitsu A, Brüine AP, Melotte V, Van Engeland M. The emerging role of GATA transcription factors in development and disease. Expert Rev Mol Med. 2016;18:e3. A deleção do GATA6 em células de músculo liso derivadas da crista neural pode resultar em defeitos na OFT, como arco aórtico interrompido e persistência do truncus arteriosus, fenótipos associados à expressão gravemente diminuída do SEMA3C.1717 Kodo K, Yamagishi H, Amagishi H. Current insights into genetics of congenital heart diseases: GATA and T-box cardiac transcription factors as the hotspot pathogenesis. J Pediatr Cardiol Card Surg. 2017;1:18-27.,4747 Lentjes MH, Niessen HE, Yoshimitsu A, Brüine AP, Melotte V, Van Engeland M. The emerging role of GATA transcription factors in development and disease. Expert Rev Mol Med. 2016;18:e3. A formação do coxim endocárdico também é afetada pelo GATA6, portanto mutações nesse gene têm sido implicadas na tetralogia de Fallot não sindrômica e no defeito do septo atrioventricular.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.

Mutações no gene ZIC3

O gene ZIC3 codifica um fator de transcrição do “dedo de zinco” que está envolvido no desenvolvimento do eixo esquerdo-direito (ED), conhecido como gene da heterotaxia. Localizado no cromossomo X, as mutações que causam a perda de função em Zinc3 levam à heterotaxia ligada ao X e DCC isolada,22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,1414 Blue GM, Kirk EP, Giannolatou E, Sholler GF, Dunwoodie SL, Harvey RP, et al. Advances in the genetics of congenital heart disease: a clinician's guide. J Am Coll Cardiol. 2017;69:859-70. como a transposição-D das grandes artérias e a dupla via de saída do ventrículo direito.4848 Li S, Liu S, Chen W, Yuan Y, Gu R, Song Y, et al. A novel ZIC3 gene mutation identified in patients with heterotaxy and congenital heart disease. Sci Rep. 2018;8:12386.

Mutações no gene PITX2

O gene PITX2 pertence à família homeobox de fatores de transcrição da pituitária que desempenha um papel tanto na ligação do DNA quanto do RNA e consiste em três isoformas: PITX2a, PITX2b e PITX2c. A assimetria esquerda-direita do coração depende da expressão de PITX2 na via nodal do lado esquerdo, com ativação de vias de ciclo celular wnt-dependente downstream e sua repressão à direita.22 Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.,4949 Franco D, Campione M. The role of PITX2 during cardiac development: linking left-right signaling and congenital heart diseases. Trends Cardiovasc Med. 2003;13:157-63. A perda de função do PITX2 de qualquer isoforma causa isomerismo atrial grave, ventrículo esquerdo com dupla via de entrada, transposição-D de grandes artérias e persistência do truncus arteriosus.4949 Franco D, Campione M. The role of PITX2 during cardiac development: linking left-right signaling and congenital heart diseases. Trends Cardiovasc Med. 2003;13:157-63.

Genes que codificam componentes do sarcômero cardíaco

Genes sarcoméricos são amplamente reconhecidos como candidatos a diversas cardiomiopatias familiares, mas alguns genes também têm sido associados a doenças cardíacas estruturais.44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.,5050 Posh MG, Waldmuller S, Müller M, Scheffold T, Fournier D, Andrade-Navarro MA, et al. Cardiac alpha-myosin (MYH6) is the predominant sarcomeric disease gene for familial atrial septal defects. PLoS ONE. 2011;6:e28872. Mutações no gene MYH6 (cadeia pesada da miosina 6) foram identificadas em formas familiares de comunicação interatrial (CIA) e a regulação molecular envolve fatores de transcrição como GATA4 e TBX5. A incidência de CIA também pode estar super-representada na não compactação do ventrículo esquerdo, causada pela mutação do geneMYH7,44 Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52. que também está relacionada à anomalia de Ebstein.5050 Posh MG, Waldmuller S, Müller M, Scheffold T, Fournier D, Andrade-Navarro MA, et al. Cardiac alpha-myosin (MYH6) is the predominant sarcomeric disease gene for familial atrial septal defects. PLoS ONE. 2011;6:e28872.,5151 Postma AV, Van Engelen K, Van de Meerakker J, Rahman T, Probst S, Baars MK, et al. Mutations in the sarcomere gene MYH7 in Ebstein anomaly. Circ Cardiovasc Genet. 2011;4:43-50.

Genes da via de Notch

A sinalização de Notch é uma via altamente conservada que faz a mediação da comunicação intercelular local e regula o padrão celular e é crucial em órgãos com arquitetura complexa.3434 Digilio MC, Marino B, Baban A, Dallapiccola B. Cardiovascular malformations in Adams-Oliver syndrome. Am J Med Genet A. 2015;167A:1175-7. A via Notch é particularmente importante durante a formação e morfogênese do canal atrioventricular e da OFT e mutações dos genes envolvidos em seres humanos resultam em deficiências e síndromes de desenvolvimento cardiovascular muito específicas, como a de Alagille ou Adams-Oliver.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.,3434 Digilio MC, Marino B, Baban A, Dallapiccola B. Cardiovascular malformations in Adams-Oliver syndrome. Am J Med Genet A. 2015;167A:1175-7. Mutações no gene JAG1 podem estar implicadas em casos isolados de DCC, especialmente na tetralogia de Fallot.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. As mutações do NOTCH1 foram associadas, dentro de uma única família, com uma variação de DCC de válvula aórtica bivalvular à síndrome do coração esquerdo hipoplásico. O geneGALNT11 foi associado à heterotaxia em seres humanos.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.

Genes ciliares

Os genes ciliares têm múltiplas funções, inclusive sinalização, propulsão de fluido extracelular e controle do ciclo celular, e mutações nesses genes podem causar diversos distúrbios humanos com fenótipos pleiotrópicos. No desenvolvimento do coração, o papel mais bem compreendido para os cílios é o estabelecimento da assimetria esquerda-direita, portanto mutações que afetam a motilidade ciliar podem resultar em heterotaxia e DCC.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. Em modelos animais, mutações em genes que codificam componentes do complexo motor de dineína (Dnah11/LRD e Dnah5) resultam em anormalidades DE cardíacas e viscerais.11 Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40. Não surpreendentemente, 12,1% dos pacientes com discinesia ciliar primária apresentam algum tipo de defeito de lateralidade, com ou sem defeitos cardíacos.5252 Shapiro AJ, Davis ST, Ferkol T, Dell SD, Rosenfeld M, Olivier KN, et al. Laterality defects other than situs inversus totalis in primary ciliary dyskinesia: insights into situs ambiguus and heterotaxy. Chest. 2014;146:1136-8.

Conclusão

O desenvolvimento do coração é extremamente complexo e exige interações entre inúmeros fatores moleculares e epigenéticos. À medida que o cuidado do paciente com DCC evolui e permite que ele cresça e se reproduza, a compreensão do papel genético, particularmente na DCC esporádica, aumenta. No tratamento à beira do leito, o reconhecimento das alterações genéticas subjacentes à cardiopatia pode ser útil na definição do prognóstico e na antecipação de complicações, como resposta inflamatória sistêmica, arritmias e insuficiência cardíaca precoce.

Com a tecnologia de sequenciamento de próxima geração, nossa compreensão da biologia da DCC se expandiu rapidamente, mas ainda há muitas questões a serem respondidas, pois os fundamentos genéticos de mais de 50% dos casos permanecem desconhecidos. A extrema heterogeneidade genética e clínica e a fraca correlação genótipo-fenótipo tornam esse caminho ainda mais desafiador.

  • Financiamento
    Ministério da Ciência e Tecnologia/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (MCT/CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF).
  • Como citar este artigo: Saliba A, Figueiredo AC, Baroneza JE, Afiune JY, Pic-Taylor A, Oliveira SF, et al. Genetic and genomics in congenital heart disease: a clinical review. J Pediatr (Rio J). 2020;96:279-88.

References

  • 1
    Zaidi S, Brueckner M. Genetics and genomics of congenital heart disease. Circ Res. 2017;120:923-40.
  • 2
    Li Y, Yang Y. An update on the molecular diagnosis of congenital heart disease: focus on loss-of-function mutations. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:393-401.
  • 3
    Pinto VC, Branco KM, Cavalcante RC, Carvalho WC, Lima JR, Freitas SM, et al. Epidemiology of congenital heart disease in Brazil: approximation of the official Brazilian data with the literature. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2015;30:219-24.
  • 4
    Andersen TA, Troelsen KL, Larsen LA. Of mice and men: molecular genetics of congenital heart disease. Cell Mol Life Sci. 2013;71:1327-52.
  • 5
    Marelli AJ, Ionescu-Ittu R, Mackie AS, Guo K, Dendukuri N, Kaouachi M. Lifetime prevalence of congenital heart disease in the general population from 2000 to 2010. Circulation. 2014;130:749-56.
  • 6
    Srivastava D. Making or breaking the heart: from lineage determination to morphogenesis. Cell. 2006;126:1037-48.
  • 7
    Brade T, Pane LS, Moretti A, Chien KR, Laugwitz KL. Embryonic heart progenitors and cardiogenesis. Cold Spring Harb Perspect Med. 2013;3:a013847.
  • 8
    Vincent SD, Buckingham ME. How to make a heart: the origin and development of cardiac progenitor cells. Curr Top Dev Biol. 2010;90:1-41.
  • 9
    Zhang L, Kitabayashi-Nomura A, Sultana N, Cai W, Cai X, Moon AM, et al. Mesodermal nkx2.5 is necessary and sufficient for early second heart field development. Dev Biol. 2014;390:68-79.
  • 10
    Harvey RP, Lai D, Elliot D, Biben C, Solloway M, Prall O, et al. Homeodomain factor nkx2-5 in heart development and disease. Cold Spring Harb Perspect Med. 2002;67:107-14.
  • 11
    Digilio MC, Marino B. What is new in genetics of congenital heart defects?. Front Pediatr. 2016;4:120.
  • 12
    Chaix MA, Andelfinger G, Khairy P. Genetic testing in congenital heart disease: a clinical approach. World J Cardiol. 2016;8:181-90.
  • 13
    Calgani G, Unolt M, Digillio MC, Baban A, Versacci P, Tartaglia M, et al. Congenital heart disease and genetics syndromes: new insights into molecular mechanisms. Expert Rev Mol Diagn. 2017;17:861-70.
  • 14
    Blue GM, Kirk EP, Giannolatou E, Sholler GF, Dunwoodie SL, Harvey RP, et al. Advances in the genetics of congenital heart disease: a clinician's guide. J Am Coll Cardiol. 2017;69:859-70.
  • 15
    Costain G, Silversides CK, Basset AS. The importance of copy number variation in congenital heart disease. NPJ Genom Med. 2016;1:16031.
  • 16
    Geng J, Picker J, Zheng Z, Zhang X, Wang J, Hisama F, et al. Chromosome microarray testing for patients with congenital heart defects reveals novel disease causing loci and high diagnostic yield. BMC Genomics. 2014;15:1127.
  • 17
    Kodo K, Yamagishi H, Amagishi H. Current insights into genetics of congenital heart diseases: GATA and T-box cardiac transcription factors as the hotspot pathogenesis. J Pediatr Cardiol Card Surg. 2017;1:18-27.
  • 18
    Mckusick VA, Hamosh A. Online Mendelian Inheritance in Man Entry #188400 - DiGeorge Syndrome; 2018. Available from: https://www.omim.org/entry/188400 [cited 3.11.18].
    » https://www.omim.org/entry/188400
  • 19
    Pinchfsky E, Laneuville L, Srour M. Distal 22q11.2 microduplication: case report and review of the literature. Child Neurol Open. 2017;4:2329048X17737651.
  • 20
    Mckusick VA, Kniffin CL. Online Mendelian Inheritance in Man Entry #612474 - Chromosome 1q21.1 deletion Syndrome; 2018. Available from: https://www.omim.org/entry/612474 [cited 2.02.19].
    » https://www.omim.org/entry/612474
  • 21
    Soemedi R, Topf A, Wilson IJ, Darlay R, Rahman T, Glen E, et al. Phenotype-specific effect of chromosome 1q21.1 rearrangements and GJA5 duplications in 2436 congenital heart disease patients and 6760 controls. Hum Mol Genet. 2012;21:1513-20.
  • 22
    Guida V, Ferese R, Rocchetti M, Bonetti M, Sarkozy A, Cecchetti S, et al. A variant in the carboxyl-terminus of connexin 40 alters gap junctions and increases risk for tetralogy of Fallot. Eur J Hum Genet. 2013;21:69-75.
  • 23
    Arndt AK, Schafer S, Drenckhahn JD, Sabeh MK, Plovie ER, Caliebe A, et al. Fine mapping of the 1p36 deletion syndrome identifies mutation of PRDM16 as a cause of cardiomyopathy. Am J Hum Genet. 2013;93:67-77.
  • 24
    Ting TW, Jamuar SS, Brett MS, Tan ES, Cham BW, Lim JY, et al. Left ventricular non-compaction: is it genetic?. Pediatr Cardiol. 2015;36:1565-72.
  • 25
    Wat MJ, Shchelochkov OA, Holder AM, Breman AM, Dagli A, Bacino C, et al. Chromosome 8p23.1 deletions as a cause of complex congenital heart defects and diaphragmatic hernia. Am J Med Genet A. 2009;149A:1661-77.
  • 26
    Elten K, Sawyer T, Lentz-kapua S, Kanis A, Studer M. A case of Wolf-Hirschhorn syndrome and hypoplastic left heart syndrome. Pediatric Cardiol. 2013;34:1244-6.
  • 27
    Battaglia A, Fillippi T, Carey JC. Update on the clinical features and natural history of Wolf-Hirschhorn (4p-) syndrome: experience with 87 patients and recommendations for routine health supervision. Am J Med Gen C Semin Med Genet. 2008;148C:246-51.
  • 28
    Del Psqua A, Rinelli G, Toscano A, Iacobelli R, Digilio C, Marino B, et al. New findings concerning cardiovascular manifestations emerging from long-term follow-up of 150 patients with the Williams-Beuren-Beuren syndrome. Cardiol Young. 2009;19:563-7.
  • 29
    Yoshimura K, Kitagawa H, Fujiki R, Tanabe M, Takewaza S, Takada I, et al. Distinct function of 2 chromatin remodeling complexes that share a common subunit Williams syndrome transcription factor (WSTF). Proc Natl Acad Sci U S A. 2009;106:9280-5.
  • 30
    Kleefstra T, Brunner HG, Amiel J, Oudakker AR, Nillesen WM, Magee A, et al. Loss-of-function mutations in euchromatin histone methyl transferase 1 (EHMT1) cause the 9q34 subtelomeric deletion syndrome. Am J Hum Genet. 2006;79:370-7.
  • 31
    Jhang WK, Choi JH, Lee BH, Kim GH, Yoo HW. Cardiac manifestations and associations with gene mutations in patients diagnosed with RASopathies. Pediatr Cardiol. 2016;37:1539-47.
  • 32
    Pierpont EI, Pierpont ME, Mendelsohn NJ, Roberts AE, Tworog-Dube E, Seindenberg MS. Genotype differences in cognitive functioning in Noonan syndrome. Genes Brain Behav. 2011;8:275-82.
  • 33
    Tidyman WE, Rauen KA. The RASopathies: developmental syndromes of RAS/MAPK pathway. Curr Opin Genet Dev. 2009;19:230-6.
  • 34
    Digilio MC, Marino B, Baban A, Dallapiccola B. Cardiovascular malformations in Adams-Oliver syndrome. Am J Med Genet A. 2015;167A:1175-7.
  • 35
    De la Pompa JL, Epstein JA. Coordinating tissue interactions: NOTCH signaling in cardiac development and disease. Dev Cell. 2014;22:244-54.
  • 36
    Patel C, Silcock L, Mcmullan D, Brueton L, Cox H. TBX5 intragenic duplication: a family with an atypical Holt-Oram syndrome phenotype. Eur J Hum Genet. 2012;20:863-9.
  • 37
    Turpenny PD, Ellard S. Alagille syndrome: pathogenesis, diagnosis and management. Eur J Hum Genet. 2012;20:251-7.
  • 38
    Moore-Morris T, Van Vilet PP, Andelfinger G, Puceat M. Role of epigenetics in cardiac development and congenital diseases. Physiol Rev. 2018;98:2453-75.
  • 39
    Jongmans MC, Admiraal RJ, Van der Donk KP, Visser LE, Bass AF, Kapusta L, et al. CHARGE syndrome: the phenotypic spectrum of mutations in the CHD7 gene. J Med Genet. 2006;43:306-14.
  • 40
    Lalani S, Safiullah AM, Molinari LM, Fernbach SD, Martin DM, Belmont JW. SEMA3E mutation in a patient with CHARGE syndrome. J Med Genet. 2004;41:e94.
  • 41
    Mckusick VA, Kniffin CL. Online Mendelian Inheritance in Man Entry #610443 - Koolen-De Vries Syndrome; 2018. Available from: https://www.omim.org/entry/610443 [cited 31.01.19].
    » https://www.omim.org/entry/610443
  • 42
    Leon LE, Benavides F, Espinoza K, Vial C, Alvarez P, Palomares M, et al. Partial microduplication in the histone acetyltransferase complex member KANSL1 is associated with congenital heart defects in 22q11.2 microdeletion syndrome patients. Sci Rep. 2017;7:1795.
  • 43
    Calgani G, Digilio MC, Sarkozy A, Dallapiccola B, Marino B. Familial recurrence of congenital heart disease: an overview and review of the literature. Eur J Pediatr. 2007;166:111-6.
  • 44
    Fahed AC, Nemer GM. Genetic causes of syndromic and nonsyndromic congenital heart disease. In: Cooper D, editor. Mutations in human genetic disease. InterchOpen; 2012. p. 119-48.
  • 45
    Chung I, Rajakumar G. Genetics of congenital heart defects: the NKX2-5 gene, a key player. Genes (Basel). 2016:7.
  • 46
    Boogerd CJ, Zhu X, Aneas I, Sakabe N, Zhang L, Sobreira DR, et al. Tbx20 is required in mid-gestation cardiomyocytes and plays a central role in atrial development. Circ Res. 2018;123:428-42.
  • 47
    Lentjes MH, Niessen HE, Yoshimitsu A, Brüine AP, Melotte V, Van Engeland M. The emerging role of GATA transcription factors in development and disease. Expert Rev Mol Med. 2016;18:e3.
  • 48
    Li S, Liu S, Chen W, Yuan Y, Gu R, Song Y, et al. A novel ZIC3 gene mutation identified in patients with heterotaxy and congenital heart disease. Sci Rep. 2018;8:12386.
  • 49
    Franco D, Campione M. The role of PITX2 during cardiac development: linking left-right signaling and congenital heart diseases. Trends Cardiovasc Med. 2003;13:157-63.
  • 50
    Posh MG, Waldmuller S, Müller M, Scheffold T, Fournier D, Andrade-Navarro MA, et al. Cardiac alpha-myosin (MYH6) is the predominant sarcomeric disease gene for familial atrial septal defects. PLoS ONE. 2011;6:e28872.
  • 51
    Postma AV, Van Engelen K, Van de Meerakker J, Rahman T, Probst S, Baars MK, et al. Mutations in the sarcomere gene MYH7 in Ebstein anomaly. Circ Cardiovasc Genet. 2011;4:43-50.
  • 52
    Shapiro AJ, Davis ST, Ferkol T, Dell SD, Rosenfeld M, Olivier KN, et al. Laterality defects other than situs inversus totalis in primary ciliary dyskinesia: insights into situs ambiguus and heterotaxy. Chest. 2014;146:1136-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2020

Histórico

  • Recebido
    2 Mar 2019
  • Aceito
    22 Jul 2019
  • Publicado
    14 Ago 2019
Sociedade Brasileira de Pediatria Av. Carlos Gomes, 328 cj. 304, 90480-000 Porto Alegre RS Brazil, Tel.: +55 51 3328-9520 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: jped@jped.com.br