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Arteterapia e educação entre pares conectando o grupo: relato de experiência

RESUMO

Objetivo:

relatar a “Oficina de Talentos: a arteterapia conecta o grupo”.

Método:

trata-se de um relato de experiência, de uma oficina desenvolvida em novembro de 2018, em 3 encontros, no cenário Clínica da Família - Rio de Janeiro. Participaram 28 usuários, entre diabéticos e profissionais de saúde. O 1º encontro, foi utilizada dinâmica para apresentação; no 2º encontro, foi utilizado o processo circular e a educação entre pares, para tratar de temas relacionados a diabetes, além da exposição de talentos aos participantes da oficina; e no 3º encontro, a exposição dos talentos a toda unidade de saúde.

Resultados:

a oficina proporcionou a promoção da saúde de maneira integral, individual e coletiva dos usuários, permitindo a multiplicação dos saberes no seu ambiente de convivência.

Considerações Finais:

a oficina foi relevante para a educação em saúde, modificando a compreensão da autonomia do próprio sujeito acerca do seu papel no autocuidado.

Descritores:
Diabetes Mellitus Tipo 2; Educação em Saúde; Terapias Complementares; Promoção da Saúde; Profissional da Saúde

ABSTRACT

Objective:

to report the “Talent Workshop: Art Therapy Connects the Group”.

Method:

this is an experience report of a workshop developed in November 2018, in 3 meetings, at the Family Clinic setting - Rio de Janeiro. Twenty-eight users participated, including diabetics and health professionals. In the first meeting, dynamics was used for presentation. At the second meeting, the circular process and peer education were used to address issues related to diabetes, in addition to exposing talent to workshop participants. At the third meeting, there was exposure of talents to every health unit.

Results:

the workshop provided comprehensive, individual and collective health promotion of users, allowing knowledgemultiplicationin their living environment.

Final Considerations:

the workshop was relevant for health education, changing the understanding of the subject’s autonomy about his role in self-care.

Descriptors:
Diabetes Mellitus, Type 2; Health Education; Complementary Therapies; Health Promotion; Health Personnel

RESUMEN

Objetivo:

informe “Taller de talento: la terapia del arte conecta al grupo”.

Método:

este es un informe de experiencia de untallerdesarrolladoennoviembre de 2018, en 3 reuniones, enelescenario de la Clínica Familiar - Río de Janeiro. Participaron 28 usuarios, incluidos diabéticos y profesionales de lasalud. En la primera reunión, se utilizó la dinámica para la presentación; en la segunda reunión, el proceso circular y la educación entre pares se utilizaron para abordar cuestiones relacionadas con la diabetes, además de exponer los talentos a los participantes del taller; y enlatercerareunión, la exposición de talentos a cada unidad de salud.

Resultados:

el taller proporcionó la promoción integral, individual y colectiva de la salud de los usuarios, permitiendo la multiplicación del conocimiento en su entorno de vida.

Consideraciones Finales:

el taller fue relevante para la educación sanitaria, cambiando la comprensión de la autonomía del sujeto sobre su papel en el autocuidado.

Descriptores:
Diabetes Mellitus Tipo 2; Educación en Salud; Terapias Complementarias; Promoción de la Salud; Profesional de la Salud

INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é considerado uma das grandes epidemias mundiais do século XXI e problema de saúde pública tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. O número de indivíduos com DM2 permite avaliar a magnitude do problema.Havia 240 milhões em 2005 e sua evolução no mundo está prevista para atingir 366 milhões em 2030 um crescimento previsto de 114%. O panorama atual do DM na população brasileira reflete a necessidade de se instituírem medidas de prevenção em todos os níveis, baseada em evidência científica, visando instrumentalizar o profissional de saúde na prática clínica, bem como os órgãos governamentais para estabelecimento de políticas públicas(11 Sociedade Brasileira de Diabetes - Cap 1: Aspectos epidemiológicos do Diabetes Mellitus e seu impacto no indivíduo e na sociedade [Internet]. 2018 [cited 01 Oct 2018]. Available from: https://www.diabetes.org.br/ebook/component/k2/item/73-capitulo-1-aspectos-epidemiologicos-do-diabetes-mellitus-e-seu-impacto-no-individuo-e-na-sociedade
https://www.diabetes.org.br/ebook/compon...
).

Nesse sentido, a educação em saúde possui importância inegável para a promoção da vida dos indivíduos, contribuindo na prevenção das complicações, sendo utilizada como veículo transformador de práticas e comportamentos individuais, e no desenvolvimento da autonomia e da qualidade de vida da pessoa com DM2(22 Janini JP, Bessler D, Vargas AB. Educação em saúde e promoção da saúde: impacto na qualidade de vida do idoso. Saúde Debate [Internet]. 2015 [cited 24 Nov 2018] 39(105):480-90. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v39n105/0103-1104-sdeb-39-105-00480.pdf
http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v39n105/01...
). Para isso, utilizamos como estratégia a “Oficina de Talentos: a arteterapia conecta o grupo”, mediada pela educação entre pares. Essa oficina teve seu ancoradouro nas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), que possuem a arteterapia em seu bojo.

As oficinas são ferramentas relevantes para possibilitar que a relação entre o profissional de saúde e o sujeito ou a comunidade ocorra de forma não verticalizada, sendo facilitadora da expressão individual e coletiva das necessidades, expectativas e circunstâncias de vida que influenciam a saúde, sendo possibilitadas por espaço de valorização do diálogo, permitindo, desta forma, a construção da consciência coletiva e o encontro da reflexão com a ação(33 Lacerda ABM, Soares VMN, Goncalves CGO, Lopes FC, Testoni R. Oficinas educativas como estratégia de promoção da saúde auditiva do adolescente: estudo exploratório [Internet] 2013. [cited 02 Dec 2018]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/acr/v18n2/06.pdf.
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). Há estudos que desenvolveram oficinas como estratégicas para educação em saúde e que apresentaram como resultados a transformação do sujeito inserido(33 Lacerda ABM, Soares VMN, Goncalves CGO, Lopes FC, Testoni R. Oficinas educativas como estratégia de promoção da saúde auditiva do adolescente: estudo exploratório [Internet] 2013. [cited 02 Dec 2018]. Available from: http://www.scielo.br/pdf/acr/v18n2/06.pdf.
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-44 Cardoso RSS, Sá SPC, Domingos AM, Sabóia VM, Maia TN, Padilha JMFO, et al. Educational technology: a facilitating instrument for the elderly care. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018[cited 02 Dec 2018];71(suppl-2):786-92. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v71s2/pt_0034-7167-reben-71-s2-0786.pdf.
http://www.scielo.br/pdf/reben/v71s2/pt_...
).

No que tangeà Educação entre/de Pares (EP) ou peereducation, ela está inserida dentre as práticas atuais de educação em saúde e cresceu em popularidade pela sua larga utilização no âmbito da promoção da saúde. É definida como a troca de conhecimentos entre pessoas que têm o mesmo perfil e compartilha das mesmas experiências, o que facilita muito a troca de saberes e práticas(55 Santos MP, Farre AGMC, Bispo MS, Sousa LB, Marinho DDT. Promoção da saúde sexual e reprodutiva de adolescentes: educação por pares. Rev Baiana Enferm [Internet]. 2017 [cited 02 Dec 2018] 31(3):1-9. Available from: https://portalseer.ufba.br/index.php/enfermagem/article/view/21505
https://portalseer.ufba.br/index.php/enf...
).

No Brasil, o debate sobre as práticas integrativas e complementares (PIC) começou a despontar no final de década de 70, após a declaração de Alma-Ata, sendo validada, principalmente, em meados dos anos 80, com a 8ª Conferência Nacional de Saúde. Em vista disso, o governo Federal, a fim de garantir a atenção integral à saúde, instituiu uma política pública permanente que considerasse não só os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde, mas a abordagem ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano(66 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso. Brasília: Ministério da Saúde; 2015.).

Uma das práticas integrativas citadas na PNPICé a arteterapia, que é definida como:

Prática expressiva artística, visual, que atua como elemento terapêutico na análise do consciente e do inconsciente e busca interligar os universos interno e externo do indivíduo, por meio da sua simbologia, favorecendo a saúde física e mental(77 Ministério da Saúde (BR). Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS. Prát Integr[Internet]. 2018 [cited 01 Oct 2018]. Available from: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pic.php?conteudo=praticas_integrativas
http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pi...
).

Este estudo justifica-se pela importância de divulgar ações de educação em saúde desenvolvidas pela EP, sendo norteada pela PNPIC. Ela indica possíveis ações nos processos de cuidado e no processo de aprendizagem dos usuários do serviço de saúde, aprimorando saberes e fazeres e apontando a necessidade de ampliação de pesquisas sobre a temática. Espera-se que esta prática possa ser replicada em novas ações, contextos e cenários.

OBJETIVO

Relatar a “Oficina de Talentos: a arteterapia conecta o grupo” e as diversas possibilidades de estratégias de educação em saúde das pessoas que convivem com DM2, utilizando a EP como mediadora neste processo, sendo norteado pelo PNPIC (2015) e desenvolvido de forma lúdica através da arteterapia.

MÉTODO

Trata-se de um relato de experiência referente à implementação da “Oficina de Talentos: a arteterapia conecta o grupo”, organizada coletivamente por profissionais de saúde, ACS e usuários do serviço que convivem com a DM2, assim como seus familiares, em novembro de 2018, no cenário de saúde denominado Clínica da Família - RJ. Sua finalidade precípua foi ampliar o vínculo entre esses usuários e os profissionais de saúde, criando espaço de trocas de experiências efetivas que os fizessem ressignificar o seu viver com a doença.

Neste cenário, já existia um grupo para DM2 chamado “Grupo Doçura”, que vem trabalhando com a proposta de EP desde 2015. A decisão por adoção desta estratégia foi por conta de osparticipantes conviverem com a DM2 e apresentarem estabilização de seu quadro, podendo, assim, compartilhar o seu viver com outros sujeitos diabéticos que não possuíam controle glicêmico adequado. Inclusive, uma das ACSs da equipe convive com DM2 e através das ações observamos maior adesão de outros usuários seus vizinhos e estes relatavam melhoria na sua saúde.

O “Grupo Doçura” é composto por profissionais de saúde, ACS, usuários do serviço que conviviam com DM2 e seus familiares. Esses usuários possuíam grandes potencialidades de serem facilitadores em seu meio, apresentado por demonstrarem interesse em compartilhar seus aprendizados com pessoas com diagnóstico semelhante e que havia limitações para a adesão ao tratamento. Esses pares facilitadores foram também eleitos por apresentarem melhoria nos resultados glicêmicos, dados observados no prontuário eletrônico (PEP).

Com o intuito de ampliar a integração entre os pares que convivem com DM2, foi implementada a Oficina de Talentos, tendo a arteterapia como processo terapêutico, onde os participantes do “Grupo Doçura” continuam sendo grandes facilitadores neste processo de promoção da saúde.

As reuniões prévias de organização da Oficina contaram com a participação dos integrantes, com o objetivo de rastrear as práticas artísticas comuns entre os usuários e que seriam trabalhadas durante a Oficina: declamação de poesias, confecção de bordados em tecido, pintura em tecido, produção de brinquedos feitos de sucatas, apresentação musical, receitas/menus/cardápios sem adição de açúcar, outras formas de artesanato e dança circular.

A oficina reuniu 28 pessoas que pertenceram ao “Grupo Doçura”: 22 usuários, 6 profissionais de saúde e 02 Agentes Comunitários de Saúde (ACS).Os profissionais que conduziram tanto o grupo, quanto a oficina de talentos, foram: 01 médica, 01 enfermeira, 01 nutricionista, 01 fisioterapeuta.

A “Oficina de Talentos: a arteterapia conecta o grupo” ocorreu em três encontros de, pelo menos, 120min cada um.Foi pensada e realizada como uma estratégia de confraternização de encerramento de atividades do “Grupo Doçura” ao final do ano e, também momento de acolhimento de novos participantes. A ideia da Oficina de Talentos foi decisão coletiva de profissionais e usuários.

Os resultados foram apresentados de forma descritiva. Por se tratar de um Relato de experiência, não foi necessário submeter o estudo ao Comitê de Ética em Pesquisas com seres humanos. Entretanto, cabe ressaltar que foram seguidos os preceitos éticos contidos na resolução CNS n°466/2012, que trata da ética em pesquisas científicas, tanto para a análise dos dados quanto para a socialização dos resultados.

1º Encontro

O primeiro encontro teve início com a realização de uma dinâmica onde todos sentados em roda se apresentaram informandoseu nome, qual seu alimento preferencial e o seu talento. Sendo assim, o participante seguinte, ao se apresentar, deveria repetir a fala de todos que já haviam se apresentado, sequencialmente, trabalhando o entrosamento, quebra de gelo e a memória de cada um dos componentes do encontro.

Todos os alimentos referidos eram alimentos gordurosos/fritura, o que instigou os profissionais de saúde a proporem receitas de alimentos saudáveis e adaptados. Sendo assim, nesse mesmo dia, discutiu-se sobre a temática de alimentação saudável.

Posteriormente, para demonstrar a quantidade de açúcares na alimentação, a nutricionista trouxe saquinhos de açúcar, representando a quantidade de açúcar existente em refrigerantes, sucos de caixa, mate, achocolatado em pó e água. A utilização da metodologia causou grande espanto aos usuários, que não sabiam que alguns alimentos eram prejudiciais a sua saúde. Depois dessa atividade, foi explicada a diferença entre os alimentos light, diet e zero.

Posteriormente, foi decidido sobre o tema e o usuário facilitador para o próximo encontro, pelo coletivo participante de forma democrática. Para o próximo encontro da oficina, também foi proposto aos usuários que trouxessem receitas ou lanches saudáveis, além de demonstrarem/exporem seus talentos.

2º Encontro

O segundo encontro foi realizado no Auditório da Unidade de Saúde e criamos áreas para cada um expor seus trabalhos, seguindo as temáticas: artesanato, música, textos/poemas e alimentos.

O início deste encontro aconteceu com os participantes em roda, utilizando o Processo Circular, que é um processo realizado em roda, com a finalidade de promover apoio e integração ou mediar conflitos. É necessário um mediador que apresente objetos para ser um bastão da fala, que sirva para que somente quem estiver com o bastão tenha o direito à fala. Após a escolha do bastão, são apresentados materiais selecionados e uma pergunta que norteie o processo. Posteriormente, em roda, os participantes respondem a pergunta(88 Abrahão AL, Franco CM (Orgs.). Curso de Aperfeiçoamento em Gerência de Unidades Básicas de Saúde, Gestão da Clínica e do Cuidado. Niterói: CEAD-UFF, 2016.).

Deste modo, foi apresentado aos participantes o Processo Circular, sendo a enfermeira foi mediadora deste processo. Foram apresentados 3 objetos para seleção do bastão da fala. Os objetos foram: glicosímetro, cenoura de brinquedo, chaveiro de coração.Os participantes optaram pela cenoura de brinquedo para bastão da fala. Iniciou-se o Processo Circular, com a exposição do Vídeo “Se ame e seja amor. Se permita errar” de Braulio Bessa. Ao final da exposição, formulou-se a pergunta “Tenho voado como gostaria?”. Sendo assim, o bastão da fala foi passado em ordem aos participantes, a fim de responder a questão proposta.

Após a atividade, o usuário facilitador, escolhido no 1º encontro trouxe a discussão sobre o papel da família no cuidado da DM2, proposta pelo grupo no primeiro encontro, através da metodologia de EP.

3º Encontro

O terceiro encontro ocorreu com a exposição de todos os talentos no pátio da Unidade de Saúde, sendo aberto ao público em geral, inclusive, muitos trouxeram seus familiares. Neste momento, também foi distribuído um livro de receitas elaborado com os alimentos que foram trazidos no segundo encontro pelos participantes.

Para encerramento dos encontros, os participantes apresentaram seus talentos, compartilhando com os demais a importância que a arte tem em sua vida. Foi feito um lanche saudável, com alimentos que todos os participantes trouxeram

RESULTADOS

A oficina resultou inicialmente em ”quebra de gelo” e vínculo entre os profissionais, usuários participantes. A forma dinâmica da arteterapia e dos outros recursos educativos criaram expectativas nos participantes para os próximos encontros, tanto em relação às receitas/menus, quanto da apresentação de seus talentos aos demais dos participantes.

O primeiro encontro ampliou o interesse de todos nas atividades do “Grupo Doçura” e, consequentemente, no seu cuidado em saúde. Deste modo, observamos que durante os encontros,os participantes apresentaram suas dificuldades sobre viver com diabetes e a necessidade do apoio de amigos e familiares nesse processo.

No segundo encontro, a exposição dos talentos e a discussão sobre o papel da família no cuidado da DM2 resultaram em uma troca entre todos os participantes e autoconfiança por poderem compartilhar seus saberes, experiências e habilidades.

O processo circular atingiu sua proposta de promover apoio e integração dos participantes, além disso, a maioria se emocionou com o vídeo “Se ame e seja amor. Se permita errar”, compartilhando experiências e situações sentidas ao longo da vivência com a DM2. A formulação da frase “Tenho voado como gostaria?”e os momentos vividos nesses encontros aumentaram o desejo de cada um apresentar o seu talento no pátio da Unidade de Saúde, contribuindo para a auto-estima dos usuários que apresentaram seus talentos. Deste modo, criou-se uma relação de amizade e cumplicidade entre os participantes, visto que a maioria já se conhecia da vizinhança, e a partir da Oficina de Talentos, passaram a indicar outras atividades de promoção à saúde uns aos outros.Outra relação que vimos se estreitar foi a familiar.Além disso, os usuários com maior tempo de convivência demonstraram grande facilidade de troca, sendo fundamentais e puderam compartilhar com seus pares com menos tempo de convivência com a doença e familiares, suas práticas de cuidado, os desafios e as muitas possibilidades de ter uma vida saudável. Alguns participantes da Oficina de talentos, após a exposição dos seus talentos, relataram que começaram a se apropriar da arte após descobrirem o seu diagnóstico de DM2, ocupando melhor seu tempo e assim deixando de acessar alimentos que possuem restrição em sua dieta. Evidenciou-se, desta forma, que o artesanato trouxe grande satisfação aos usuários e que a arte além de um mecanismo de autocontrole, pode promover saúde.

O resultado final da “Oficina de Talentos: a arteterapia conecta o grupo” foi proporcionar a promoção da saúde de maneira integral, individual e coletiva dos usuários, permitindo a multiplicação dos saberes no seu ambiente de convivência e a interação entre os participantes com os profissionais de saúde. Ou seja, o indivíduo torna-se participante e responsável da mudança de hábitos da sua comunidade.

DISCUSSÃO

Como visto nos resultados da “Oficina de Talentos: a arteterapia conecta o grupo”através das ricas trocas de experiências,os usuários com mais tempo de tratamento e de autocuidado foram fundamentais e puderam compartilhar com seus pares com menos tempo de convivência com a doença e familiares.Este comportamento contribui para apoiar a adesão ao autocuidado, pois a EP é um método favorável ao autogerenciamento, inclusive aos usuários diabéticos(99 Zhong X, Wang Z, Fisher EB, Tanasugarn C. Peer support for diabetes management in primary care and community settings in Anhui Province, China. Ann Fam Med [Internet]. 2015 [cited 09 Dec 2018];13 (Suppl.1):50-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26304972
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).

A utilização da arteterapia foi uma experiência inovadora na oficina e bem aceita, estimulando o autoconhecimento por meio da utilização de recursos como poesias, bordados, pintura em tecido, construção de brinquedos a partir de sucatas, música, construçãode receitas de alimentos sem adição e açúcar, artesanato e dança circular. O manejo desta atividade é facilitador de conhecimento e, ao mesmo tempo, promove maior a expressão dos talentos dos participantes, valorizando recursos natos e não repassados por profissionais. Esse método aumenta a confiança dos usuários pelo autocuidado, autoestima e autogerenciamento

A atividade foi embasada na arteterapque “além de saudável gera criatividade, reprimidos por experiências negativas, levando à superação da timidez, da baixa autoestima, colaborando em diversas situações nos processos de educação e saúde, no sentido de ajudar na superação de dores e sofrimentos(1010 Espindola KSS, Dittrich MG. Tecnologia em Arteterapia para à Saúde de Pessoas com Câncer de Mama. Saúde Transform Soc [Internet]. 2014 [cited 26 Nov 2018] 5(3):10-19. Available from: http://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/saudeetransformacao/article/view/2638
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).”Este recurso foi bem aceito pela população, não havendo rejeição, visto que todos tinham algum talento para apresentar.

Todos os métodos utilizados na oficina atingiram o esperado e favoreceram os resultados, sendo positivos para o grupo e consequentemente tendo maior adesão a existencia de um grupo de diabetes na unidade de saúde.

Limitações do estudo

A limitação deste estudo está relacionada com a não generalização dos seus resultados para demais cenários de Atenção Básica à Saúde, pois tais resultados representaram o relato de um cenário e participantes específicos.

Contribuições para a área da saúde

Espera-se que esse relato possa contribuir incentivando outros profissionais e Unidades de Saúde na promoção de atividades similares, refletindo sobre novas práticas de educativas, ampliando a autonomia e reduzindo, deste modo, o risco de reinternações tão frequentes entre dos usuários que convivem com a DM2.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta da “Oficina de Talentos: a arteterapia conecta o grupo” foi exitosa em sua abordagem. A possibilidade da troca de experiência na modalidade de EP, utilizando a arteterapia entre os participantes ampliou a adesão.Gerou maior interesse de usuários diabéticos na participação de grupos da unidade e posteriormente, maior adesão às consultas ambulatoriais e às atividades físicas, que ocorrem através da “Academia Carioca”. Também propiciou o autocuidado e o autogerenciamento quando se efetivou o convite aos vizinhos, familiares e amigos, servindo de apoiadores no manejo da DM2.

Por fim,a oficina gerou a criação de um produto, que foi um livro de receitas, que será utilizado na unidade e em ações de promoção da saúde e distribuído aos usuários diabéticos e familiares, com receitas procedentes de profissionais e participantes da oficina.

Conclui-se que a oficina foi uma ferramenta importante para a melhoria de vida dos usuários diabéticos e que sua criação foi exitosa dado ao vínculo pré-existente entre eles, pois, em sua maioria, eram vizinhos e cadastrados na equipe de saúde da família que dirige o “Grupo Doçura”, sendo responsáveis pelo seu acompanhamento de saúde.

Acredita-se que a periodicidade dos encontros e a responsabilidade dos profissionais envolvidos também foram decisivas na adesão à Oficina de Talentos e, consequentemente, na consolidação da frequência junto ás atividades da Unidade de Saúde.

Sendo assim, a abordagem artística é um recurso de grande valor aos profissionais de saúde quando utilizadas com vistas à promoção da saúde.

Espera-se que esse relato possa contribuir incentivando outros profissionais e Unidades de Saúde na promoção de atividades similares com usuários diabéticos, reduzindo, deste modo, o risco de reinternações tão frequentes entre estes usuários.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Hugo Fernandes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    23 Jul 2019
  • Aceito
    24 Set 2019
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