Resumos
No período de julho a setembro de 1998 foram coletadas 152 pulgas em 18 exemplares da raposa Cerdocyon thous capturados na área endêmica de leishmaniose visceral de Jacobina, Estado da Bahia. As pulgas foram identificadas como: 136 Rhopalopsyllus lutzi lutzi, 11 Pulex irritans, 2 Ctenocephalides canis, 1 Ctenocephalides felis felis e 2 Xenopsylla cheopis.
Cerdocyon thous; Siphonaptera; Pulgas; Raposa; Canidae
From July to September of 1998, 152 fleas were collected from 18 specimens of the fox Cerdocyon thous captured in the visceral leishmaniasis endemic area of Jacobina, State of Bahia, Brazil. The fleas were identified as: 136 Rhopalopsyllus lutzi lutzi, 11 Pulex irritans, 2 Ctenocephalides canis, 1 Ctenocephalides felis felis and 2 Xenopsylla cheopis.
Cerdocyon thous; Siphonaptera; Fleas; Rox; Canidae
COMUNICAÇÃO
Considerações sobre pulgas (Siphonaptera) da raposa Cerdocyon thous (Canidae) da área endêmica de leishmaniose visceral de Jacobina, Bahia, Brasil
Notes on fleas (Siphonaptera) of the fox Cerdocyon thous (Canidae) from the visceral leishmaniasis endemic area of Jacobina, Bahia, Brazil
Elúzio J.L. Cerqueira, Evandro M. Silva, Adriano F. Monte-Alegre e Ítalo A. Sherlock 1
Resumo No período de julho a setembro de 1998 foram coletadas 152 pulgas em 18 exemplares da raposa Cerdocyon thous capturados na área endêmica de leishmaniose visceral de Jacobina, Estado da Bahia. As pulgas foram identificadas como: 136 Rhopalopsyllus lutzi lutzi, 11 Pulex irritans, 2 Ctenocephalides canis, 1 Ctenocephalides felis felis e 2 Xenopsylla cheopis.
Palavras-chaves: Cerdocyon thous. Siphonaptera. Pulgas. Raposa. Canidae.
Abstract From July to September of 1998, 152 fleas were collected from 18 specimens of the fox Cerdocyon thous captured in the visceral leishmaniasis endemic area of Jacobina, State of Bahia, Brazil. The fleas were identified as: 136 Rhopalopsyllus lutzi lutzi, 11 Pulex irritans, 2 Ctenocephalides canis, 1 Ctenocephalides felis felis and 2 Xenopsylla cheopis.
Key-words: Cerdocyon thous. Siphonaptera. Fleas. Rox. Canidae.
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1789) é a única espécie de raposa encontrada naturalmente infectada pela Leishmania chagasi Cunha & Chagas, 1936, na região neotropical4. Na nomenclatura de Canideos Lycalopex vetulus (Lund,1842) é considerado sinônimo de Dusicyon vetulus (Lund,1842)4. Após minucioso estudo comparativo dos crânios e da morfologia dental de exemplares de raposas coletadas no Nordeste do Brasil e de conformidade com a faixa de distribuição geográfica das espécies foi concluido que a raposa existente no Nordeste é a Cerdocyon thous idêntica a encontrada na ilha de Marajó4. A espécie Dusicyon vetulus só existe no Brasil Central.
Exemplares de Cerdocyon thous foram encontrados naturalmente infectados por Leishmania chagasi, em áreas endêmicas do Nordeste do Brasil, onde o flebótomo Lutzomyia longipalpis (Lutz & Neiva, 1912) é o vetor comprovado da protozoose1 6.
Na Ilha de Marajó, Estado do Pará, onde vários exemplares desse canídeo também foram encontrados naturalmente infectados com a mesma leishmânia, uma associação foi observada entre o referido flebótomo e o canídeo9, tudo indicando que o flebótomo seja o principal transmissor da doença. Ainda que Lima10 tivesse admitido que as pulgas pudessem transmitir leishmanioses (Calazar e botão do Oriente) e que Alencar1 tivesse mencionado a infecção da pulga do cão pela Leishmania infantum Nicolle,1908, bem como a transmissão da leishmaniose canina por meio desse inseto, até o momento, não há qualquer dado confirmado na literatura pertinente (Bibikova3, Daoust5). Assim é que Sherlock12 ao examinar exemplares de pulgas retiradas de cães com leishmaniose de zona endêmica, também não encontrou exemplares infectados. Infecções de pulgas por flagelados Herpetomonas ctenocephali foram noticiadas por Alencar1.
Vale ressaltar que Pacheco et al11 publicaram recentemente um interessante caso de um paciente com síndrome da imunodeficiência adquirida que apresentava sintomatologia de leishmaniose visceral mas que, no entanto, era provocada pela infecção por um tripanosomatideo monoxeno, a Leptomona pulexsimulantis Beard, Butler & Orshar, 19892, flagelado este que vive normalmente no intestino da pulga Pulex simulans. Os referidos autores ainda apresentaram referências bibliográficas sobre outros casos semelhantes.
Aproveitando a oportunidade em que estão sendo feito exames para o encontro de reservatórios silvestres de leishmaniose visceral, algumas pulgas retiradas de exemplares da raposa Cerdocyon thous capturadas na área endêmica do Município de Jacobina, Estado da Bahia, durante o período de julho a setembro de 1998, foram estudadas e os resultados da identificação especifica, são aqui apresentados.
Após anestesia geral dos canídeos para procedimento de exames parasitológicos, aquelas pulgas que eram visualizadas, eram retiradas com pinças e preservadas em álcool a 70º. Considerando que a coleta dos insetos era feita instantaneamente apenas enquanto durava o efeito anestésico nos mamíferos, um expressivo número de pulgas permanecia nos animais. Após tratamento em hidróxido de potássio a 10% e procedimento convencional, as pulgas eram montados em bálsamo do Canadá e identificadas taxinomicamente, seguindo os critérios de Guimarães7, Lima10 e Johnson8.
A Tabela 1 exibe o número total de pulgas capturadas de 18 exemplares de raposas, e identificadas como: Rhopalopsyllus lutzi lutzi (Baker, 1904), Pulex irritans Linnaeus, 1758, Ctenocephalides canis (Curtis, 1826), Ctenocephalides felis felis (Bouché, 1835) e Xenopsylla cheopis (Rothschild, 1903).
A espécie mais freqüente foi Rhopalopsyllus lutzi lutzi, e embora já assinalada em outras áreas infestando diversas espécies de carnívoros, trata-se do primeiro registro para o estado da Bahia (PM Linardi, LR Guimarães: dados não publicados).
É interessante enfatizar a presença das espécies de pulgas do homem, e de mamíferos domésticos, respetivamente, Pulex irritans, Cetenocephalides canis e Ctenocephalides felis felis, parasitando a raposa, o que poderia sugerir a existência de uma possível conexão eco-epidemiológica do referido hospedeiro silvestre de Leishmania chagasi com o ambiente doméstico, oportunidade em que poderia infestar-se pelas pulgas próprias do homem ou e animais domésticos, quando da incursão dos cães nos ecotópos naturais silvestres próprios da raposa.
A presença de Xenopsylla cheopis, uma pulga habitual de ratos, atesta a favor do intercâmbio e de uma provável comensalidade ecológica do roedor com a raposa, ambos suspeitos como possíveis reservatórios primários de Leishmânia chagasi.
Uma vez que as pulgas têm sido pouco investigadas como possíveis transmissores de leishmanioses, principalmente a visceral, torna-se interessante uma pesquisa sobre o real papel dos sifonápteros como vetores de leishmânias, inclusive através de técnicas de PCR, como aliás já delineada em nosso laboratório.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Prof. Pedro Marcos Linardi, do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, pela revisão da identificação das pulgas. Ao técnico Antônio Carlos dos Santos, do Laboratório de Parasitologia e Entomologia do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz/FIOCRUZ, pela ajuda na captura e exame das raposas.
Laboratórios de Parasitologia e Entomologia do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz e Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA.
Endereço para correspondência: Prof. Eluzio J.L. Cerqueira. CPqGM/FIOCRUZ. Rua Valdemar Falcão 121, Brotas, Salvador, BA.
Tel: 55 71 356-8785, Fax: 55 71 356-4292.
Recebido para publicação em 1/12/98.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
21 Jul 2000 -
Data do Fascículo
Fev 2000
Histórico
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Recebido
01 Dez 1998