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Síndrome Metabólica e Importância das Variáveis Associadas em Crianças e Adolescentes de Guabiruba - SC, Brasil

Resumos

Fundamento:

Os fatores de risco que caracterizam a síndrome metabólica (SM) podem estar presentes na infância e adolescência, agravando o risco para as doenças cardiovasculares na idade adulta.

Objetivo:

Verificar a prevalência de SM e a importância de suas variáveis associadas, incluindo resistência à insulina (RI), em crianças e adolescentes do município de Guabiruba-SC, Brasil.

Métodos:

Estudo transversal realizado com 1011 estudantes (6–14 anos; 52,4% meninas; 58,5% crianças). Amostras de sangue foram coletadas para as medidas de parâmetros bioquímicos por métodos laboratoriais de rotina. A RI foi estabelecida pelo índice HOMA-IR e foram aferidos o peso, a altura, a circunferência da cintura e a pressão arterial. Modelos de regressão logística multivariada foram usados para examinar associações entre as variáveis de risco e a SM.

Resultados:

Na população avaliada, as prevalências de SM, RI, sobrepeso e obesidade foram de 14%, 8,5%, 21% e 13%, respectivamente. Dentre os estudantes com SM, 27% tinham RI, 33% apresentavam sobrepeso, 45,5% eram obesos e 22% eutróficos. A RI foi mais frequente nos estudantes com sobrepeso (48%) e obesos (41%) em comparação aos indivíduos eutróficos (11%; p = 0,034). As variáveis com maior influência para o desenvolvimento da SM foram a obesidade (OR = 32,7), o sobrepeso (OR= 6,1), a RI (OR = 4,4; p ≤ 0,0001 para todos) e a idade (OR = 1,15; p = 0,014).

Conclusão:

Foi observada elevada prevalência de SM nas crianças e adolescentes avaliados. Estudantes obesos, com sobrepeso ou resistentes à insulina tiveram maiores chances de desenvolver a síndrome.

Síndrome Metabólica; Resistência à Insulina; Estudantes; Fatores de Risco; Sobrepeso


Background:

The risk factors that characterize metabolic syndrome (MetS) may be present in childhood and adolescence, increasing the risk of cardiovascular disease in adulthood.

Objective:

Evaluate the prevalence of MetS and the importance of its associated variables, including insulin resistance (IR), in children and adolescents in the city of Guabiruba-SC, Brazil.

Methods:

Cross-sectional study with 1011 students (6–14 years, 52.4% girls, 58.5% children). Blood samples were collected for measurement of biochemical parameters by routine laboratory methods. IR was estimated by the HOMA-IR index, and weight, height, waist circumference and blood pressure were determined. Multivariate logistic regression models were used to examine the associations between risk variables and MetS.

Results:

The prevalence of MetS, IR, overweight and obesity in the cohort were 14%, 8.5%, 21% and 13%, respectively. Among students with MetS, 27% had IR, 33% were overweight, 45.5% were obese and 22% were eutrophic. IR was more common in overweight (48%) and obese (41%) students when compared with eutrophic individuals (11%; p = 0.034). The variables with greatest influence on the development of MetS were obesity (OR = 32.7), overweight (OR = 6.1), IR (OR = 4.4; p ≤ 0.0001 for all) and age (OR = 1.15; p = 0.014).

Conclusion:

There was a high prevalence of MetS in children and adolescents evaluated in this study. Students who were obese, overweight or insulin resistant had higher chances of developing the syndrome.

Metabolic Syndrome; Insulin Resistance; Students; Risk Factors; Overweight


Introdução

A síndrome metabólica (SM) é caracterizada por um conjunto de fatores de risco cardiometabólicos, incluindo obesidade abdominal, hipertensão, hipertrigliceridemia, diminuição da concentração sérica do colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL-c) e hiperglicemia 1Expert panel on detection, evaluation, and treatment of high blood cholesterol in adults. Executive Summary of The Third Report of The National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, And Treatment of High Blood Cholesterol In Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA. 2001;285(19):2486-97. , 2Nelson RA, Bremer AA. Insulin resistance and metabolic syndrome in the pediatric population. Metab Syndr Relat Disord. 2010;8(1):1-14.. A SM tem forte associação com outras variáveis metabólicas que podem inclusive ser precursoras da síndrome, como a resistência à insulina (RI), sobrepeso e obesidade3Bao W, Srinivasan SR, Berenson GS. Persistent elevation of plasma insulin levels is associated with increased cardiovascular risk in children and young adults. The Bogalusa Heart Study. Circulation. 1996;93(1):54-9. , 4Poyrazoglu S, Bas F, Darendeliler F. Metabolic syndrome in young people. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2014;21(1):56-63.. Em crianças e adolescentes, a SM é tema polêmico e ainda inconclusivo, principalmente devido à falta de critérios unificados sobre as variáveis que devem compor a síndrome, bem como os pontos de corte para essas variáveis. Além disto, a definição de SM, conforme descrita em elegante revisão por Damiani e cols.5Damiani D, Kuba VM, Cominato L, Damiani D, Dichtchekenian V, Menezes-Filho HC. Síndrome metabólica em crianças e adolescentes: dúvidas na terminologia, mas não nos riscos cardiometabólicos. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2011;55(8):576-82., não identifica necessariamente quais os componentes que estão alterados no indivíduo para permitir melhor tratamento. De qualquer maneira, é consenso que a identificação da SM na população infanto-juvenil indica indubitavelmente a presença de um conjunto de fatores e/ou variáveis clínicas e metabólicas que aumentam os riscos para o desenvolvimento futuro de diabetes melito tipo 2 e doenças cardiovasculares (DCVs)5Damiani D, Kuba VM, Cominato L, Damiani D, Dichtchekenian V, Menezes-Filho HC. Síndrome metabólica em crianças e adolescentes: dúvidas na terminologia, mas não nos riscos cardiometabólicos. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2011;55(8):576-82..

Juntamente com o crescimento da obesidade juvenil, a prevalência de SM vem aumentando nessa população6Van Grouw JM, Volpe SL. Childhood obesity in America. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2013;20(5):396-400.. De acordo com revisões sistemáticas, a prevalência mundial7Friend A, Craig L, Turner S. The prevalence of metabolic syndrome in children: a systematic review of the literature. Metab Syndr Relat Disord. 2013;11(2):71-80. e brasileira8Tavares LF, Yokoo EM, Rosa ML, Fonseca SC. Síndrome metabólica em crianças e adolescentes brasileiros: Revisão sistemática. Cad Saúde Colet. 2010;18(4):469-76. de SM em uma população geral de crianças e adolescentes é de 3,3% (0–19,2%) e 11,9% (2,8–29,3%), respectivamente, e em crianças com sobrepeso e obesidade é de 29,2% (10–66%). Em geral, a prevalência de RI não está bem estabelecida. Porém, em crianças e adolescentes com sobrepeso8Tavares LF, Yokoo EM, Rosa ML, Fonseca SC. Síndrome metabólica em crianças e adolescentes brasileiros: Revisão sistemática. Cad Saúde Colet. 2010;18(4):469-76. ou obesidade8Tavares LF, Yokoo EM, Rosa ML, Fonseca SC. Síndrome metabólica em crianças e adolescentes brasileiros: Revisão sistemática. Cad Saúde Colet. 2010;18(4):469-76. , 9Souza MS, Leme RB, Franco RR, Romaldini CC, Tumas R, Cardoso AL, et al. Síndrome metabólica em adolescentes com sobrepeso e obesidade. Rev Paul Pediatr. 2007;25(3):214-20. a prevalência de RI varia de 0 a 24% e 4,4 a 57%, respectivamente. Com base nos resultados de estudos mais recentes, 33,2%1010 Romualdo MC, de Nóbrega FJ, Escrivão MA. Insulin resistance in obese children and adolescents. J Pediatr (Rio J). 2014;90(6):600-7. e 41,3%1111 Medeiros CC, Ramos AT, Cardoso MA, França IS, Cardoso AS, Gonzaga NC, et al. Resistência Insulínica e sua Relação com os Componentes da Síndrome Metabólica Arq Bras Cardiol. 2011;97(5):380-9. das crianças e dos adolescentes obesos apresentam RI.

Os inúmeros fatores de risco associados à síndrome na criança podem persistir ou se tornarem mais evidentes ao longo da adolescência até a idade adulta1212 Morrison JA, Friedman LA, Harlan WR, Harlan LC, Barton BA, Schreiber GB, et al. Development of the metabolic syndrome in black and white adolescent girls: a longitudinal assessment. Pediatrics. 2005;116(5):1178-82.. Assim, é importante identificar precocemente estes fatores com a finalidade de intervir e minimizar alterações metabólicas futuras. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi verificar a prevalência de SM em estudantes de Guabiruba-SC, bem como a prevalência de RI, obesidade e sobrepeso e a associação de cada uma dessas variáveis no desenvolvimento da síndrome.

Métodos

Estudo transversal com 1011 estudantes autodeclarados caucasianos, cursando o ensino fundamental (1ª a 8ª séries), com idade entre seis e 14 anos e que em 2009 representavam 44,0% dos alunos matriculados na rede municipal e estadual do município de Guabiruba-SC, Brasil. Todos os 12 estabelecimentos de ensino do município foram representados no presente estudo, cada um com participação de 21 a 100% dos seus estudantes. O tamanho mínimo necessário para detectar diferenças estatisticamente significativas (α < 0,05) foi calculado considerando o poder de 80% (1 - β) e a prevalência de obesidade abdominal de 26,9% em adolescentes na cidade de Florianópolis1313 Assis MA, Rolland-Cachera MF, Vasconcelos FA, Bellisle F, Conde W, Calvo MC, et al. Central adiposity in Brazilian schoolchildren aged 7-10 years. Br J Nutr. 2007;97(4):799-805., capital do estado de Santa Catarina, com erro tolerável de 2,5% da estimativa e 20% de acréscimo ao valor mínimo calculado para possíveis perdas. Assim, foi estimado o número mínimo de 1005 estudantes a serem avaliados. Para a análise de RI, foi considerada a prevalência de 41,3% 1414 Friedewald WT, Levy RI, Fredrickson DS. Estimation of the concentration of low-density lipoprotein cholesterol in plasma, without use of the preparative ultracentrifuge. Clin Chem. 1972;18(6):499-502. , com erro tolerável de 4% dessa estimativa e acréscimo de 20% ao tamanho mínimo calculado para possíveis perdas, perfazendo o número mínimo de 557 estudantes. O estudo foi constituído por amostra de conveniência voluntária ou de acessibilidade, não selecionada aleatoriamente e foi aprovado pelo Comitê de Ética para Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (nº 210/2009). Todos os participantes apresentaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução CNS 196/96/MS) assinado por seus pais ou responsáveis legais.

As amostras sanguíneas foram obtidas após jejum de 12 a 14 horas e a quantificação dos parâmetros bioquímicos glicose, colesterol total (CT), HDL-c e triglicerídeos (TG) foi realizada com a utilização de metodologia enzimática em equipamento automatizado (BTS 370 BioSystems - Connecticut-EUA). O colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) foi estimado pela equação de Friedewald1414 Friedewald WT, Levy RI, Fredrickson DS. Estimation of the concentration of low-density lipoprotein cholesterol in plasma, without use of the preparative ultracentrifuge. Clin Chem. 1972;18(6):499-502.. A quantificação de insulina sérica foi realizada em 667 amostras por meio de ensaio imunométrico por quimioluminescência com enzima marcada em fase sólida, utilizando-se o sistema de reagentes Immulite 2000 systems® (Siemens Healthcare Diagnostics, Newark, EUA). A RI foi estimada por meio da aplicação do índice HOMA-IR (homeostatic model assessment of insulin resistance): [HOMA-IR = insulina sérica de jejum (μU/mL) x glicose sérica de jejum (mg/dL)/405]1515 Mathews DR, Hosker JP, Rudenski AS, Naylor BA, Treacher DF, Turner RC. Homeostasis model assessment: insulin resistance and beta-cell function from fasting plasma glucose and insulin concentrations in man. Diabetologia. 1985;28(7):412-9.. O ponto de corte adotado foi de > 3,161616 Back Giuliano Ide C, Caramelli B, Pellanda L, Duncan B, Mattos S, Fonseca FH. [I guidelines of prevention of atherosclerosis in childhood and adolescence]. Arq Bras Cardiol. 2005;85 Suppl 6:4-36..

Peso e altura foram aferidos com equipamento constituído por balança com capacidade para até 200 kg e escala de 100 g, e estadiômetro com capacidade para até 2,0 m e escala de 0,5 cm (Welmy, São Paulo-SP). O índice de massa corporal (IMC) foi estimado segundo a fórmula [IMC = Peso (kg)/Altura (m2)] e os valores de z-score para IMC segundo a idade foram calculados usando o programa AnthroPlus da Organização Mundial da Saúde (OMS)1717 WHO AnthroPlus for personal computers manual: software for assessing growth of the world's children and adolescents. Geneva; 2009. [Accessed in 2014 Feb 20]. Available from: http://www.who.int/growthref/tools/en/
http://www.who.int/growthref/tools/en/...
. Resultados > 1 e 2 desvios padrões (DPs) para o z-score do IMC-por-idade1717 WHO AnthroPlus for personal computers manual: software for assessing growth of the world's children and adolescents. Geneva; 2009. [Accessed in 2014 Feb 20]. Available from: http://www.who.int/growthref/tools/en/
http://www.who.int/growthref/tools/en/...
foram definidos como sobrepeso e obesidade, respectivamente.

A circunferência da cintura (CC) foi aferida utilizando-se a medida mínima entre a última costela e a borda superior da crista ilíaca, com fita métrica flexível e inelástica, conforme descrito por Taylor e cols.1818 Taylor RW, Jones IE, Williams SM, Goulding A. Evaluation of waist circumference, waist-to-hip ratio, and the conicity index as screening tools for high trunk fat mass, as measured by dual energy X ray absorptiometry, in children aged 3-19 y. Am J Clin Nutr. 2000;72(2):490-5.. A pressão arterial (PA) foi verificada com manguito e esfigmomanômetro por técnica oscilométrica, de acordo com a I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência1616 Back Giuliano Ide C, Caramelli B, Pellanda L, Duncan B, Mattos S, Fonseca FH. [I guidelines of prevention of atherosclerosis in childhood and adolescence]. Arq Bras Cardiol. 2005;85 Suppl 6:4-36..

Os critérios utilizados para o diagnóstico da SM foram os descritos pelo National Cholesterol Education Program – Adult Treatment Panel III 1Expert panel on detection, evaluation, and treatment of high blood cholesterol in adults. Executive Summary of The Third Report of The National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, And Treatment of High Blood Cholesterol In Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA. 2001;285(19):2486-97., empregando-se os pontos de corte das variáveis para crianças e adolescentes segundo a I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência1616 Back Giuliano Ide C, Caramelli B, Pellanda L, Duncan B, Mattos S, Fonseca FH. [I guidelines of prevention of atherosclerosis in childhood and adolescence]. Arq Bras Cardiol. 2005;85 Suppl 6:4-36.. Dessa forma, o diagnóstico da SM foi estabelecido pela presença de pelo menos três das seguintes variáveis: CC elevada de acordo com sexo e idade, segundo a tabela referencial de Taylor e cols.1818 Taylor RW, Jones IE, Williams SM, Goulding A. Evaluation of waist circumference, waist-to-hip ratio, and the conicity index as screening tools for high trunk fat mass, as measured by dual energy X ray absorptiometry, in children aged 3-19 y. Am J Clin Nutr. 2000;72(2):490-5., TG ≥ 100,0 mg/dL, HDL-c ≤ 45,0 mg/dL, glicose de jejum ≥ 100,0 mg/dL e PA ≥ percentil 90 (de acordo com sexo, idade e altura).

Análise estatística

Os resultados categóricos estão apresentados na forma de frequência absoluta e percentagem e os quantitativos como mediana e faixa interquartil. Foi utilizado o teste qui-quadrado (χ2Nelson RA, Bremer AA. Insulin resistance and metabolic syndrome in the pediatric population. Metab Syndr Relat Disord. 2010;8(1):1-14.) para detectar as diferenças de prevalências entre portadores ou não de SM, entre meninos e meninas e entre crianças e adolescentes. As diferenças quantitativas entre os grupos foram detectadas pelo teste de Mann-Whitney, após aplicação do teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov. A regressão logística multivariada foi usada para estimar o efeito das variáveis independentes gênero, idade, RI, sobrepeso e obesidade no desfecho clínico de interesse (apresentação concomitante de pelo menos três fatores compatíveis com SM). Razões de chance ajustadas (aOR, adjusted odds ratios) com intervalo de confiança de 95% (IC 95%) foram obtidas para estimar essa associação. A análise de adequação do modelo foi realizada pela aplicação dos testes qui-quadrado e Hosmer-Lemeshow e área sob a curva ROC1919 LaValley MP. Logistic regression. Circulation. 2008;117(18):2395-9.. Todas as análises foram realizadas com o programa MedCalc ® Statistical Software, versão 14.12.0 (MedCalc Software, Ostend, Bélgica) e valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significantes.

Resultados

Participaram do estudo 1011 estudantes voluntários, caucasianos, sendo 52,4% meninas, 58,5% crianças e 41,5% adolescentes. Os resultados das características bioquímicas, antropométricas e clínicas da população estudada estão mostrados na Tabela 1. A prevalência geral de SM foi de 14,1%, enquanto as prevalências de sobrepeso, obesidade e RI foram de 21,1%, 13,2% e 8,5%, respectivamente. Porém, nos estudantes com SM, essas prevalências aumentaram para 32,9%, 45,5% e 27,0%, respectivamente (p ≤ 0,0003). Conforme esperado, os estudantes com SM apresentaram concentrações séricas menores de HDL-c e maiores de TG, glicose e insulina, além de elevação da CC, da PA sistólica e diastólica e do índice HOMA-IR em comparação àqueles sem SM (p < 0,0001). Entretanto, não houve diferença para os valores de CT e LDL-c (Tabela 1).

Tabela 1
Características biodemográficas, clínicas e bioquímicas de crianças e adolescentes (6-14 anos) avaliados no município de Guabiruba-SC, Brasil, 2011

A SM teve prevalência semelhante em meninos e meninas (Tabela 2), porém foi mais frequente nos adolescentes (19,1%) em comparação às crianças avaliadas (10,6%; p < 0,0001; Tabela 3). Em geral, os componentes da SM e as variáveis associadas de maior frequência foram, em ordem decrescente, o HDL-c baixo (91,6%), a obesidade abdominal (85,3%), a hipertrigliceridemia (76,9%), a obesidade (45,5%), a PA elevada (46,1%), a hiperglicemia (35,7%), o sobrepeso (32,9%) e a RI (27,0%). Não houve diferença entre os gêneros e entre crianças e adolescentes, com exceção da obesidade e da RI que foram mais frequentes, respectivamente, nos meninos e nas meninas (Tabela 2), da PA elevada e da RI, que foram mais comuns nos adolescentes, e da obesidade que foi mais prevalente nas crianças (Tabela 3).

Tabela 2
Prevalência (%) de variáveis associadas à síndrome metabólica em crianças e adolescentes (6-14 anos) avaliados no município de Guabiruba-SC, Brasil, 2011
Tabela 3
Prevalência de variáveis associadas à síndrome metabólica (SM) em crianças (6-10 anos) e adolescentes (11-14 anos) com e sem SM avaliados no município de Guabiruba-SC, Brasil, 2011

Nos estudantes sem SM, as prevalências de hiperglicemia e a PA elevada foram maiores nos meninos, enquanto a CC aumentada e a RI foram mais frequentes nas meninas. Em relação à idade, as prevalências de HDL-c baixo (32,7%), hiperglicemia (10,9%), PA elevada (10,6%) e RI (10,3%) foram maiores nos adolescentes em comparação às crianças (Tabela 3).

A prevalência de mais de um componente da SM presente simultaneamente nos estudantes com e sem SM é apresentada na Tabela 4. Dentre as crianças e adolescentes com SM, 68,5%, 27,3% e 4,2% apresentaram, respectivamente, três, quatro e todas as cinco variáveis metabólicas da síndrome, sem diferenças significativas entre meninos e meninas. Dentre os 27 estudantes com SM e RI, 12 (44,4%) tinham três variáveis da SM, enquanto 12 (44,4%) e três (11,1%) tinham quatro e cinco variáveis, respectivamente. Nas crianças e adolescentes sem SM, 38,2% e 22,3% apresentavam, respectivamente, uma ou duas variáveis da SM, sendo que 46,7% ou 26,7% desses, respectivamente, eram resistentes à insulina (Tabela 4).

Tabela 4
Prevalência (%) de vários componentes da síndrome metabólica presentes simultaneamente em crianças e adolescentes (6-14 anos) avaliados no município de Guabiruba-SC, Brasil, 2011

A prevalência geral de RI não esteve associada ao estado nutricional da população avaliada, sendo que 38,6% dos estudantes eutróficos, 35,1% com sobrepeso e 24,6% com obesidade apresentaram RI (p = 0,1597; Tabela 5). Porém, estratificando-se a prevalência de RI pela presença de SM e pelo estado nutricional, observou-se maior proporção de estudantes com sobrepeso (48,1%) e obesos (40,7%) com SM e RI em comparação aos estudantes eutróficos (11,1%, p = 0,034). Por outro lado, nos estudantes sem SM, a RI foi mais comum nos indivíduos eutróficos (63,3%) do que naqueles com sobrepeso (23,3%) ou obesidade (10,0%, p = 0,0001; Tabela 5).

Tabela 5
Prevalência (%) de resistência à insulina (RI) em crianças e adolescentes (6-14 anos) com e sem síndrome metabólica, avaliados no município de Guabiruba-SC, Brasil, 2011

Os valores de aOR obtidos pela análise de regressão logística multivariada estão mostrados na Tabela 6. A predição de SM nas crianças e adolescentes avaliados foi significativamente aumentada para idade (aOR 1,15; p = 0,0142), RI (aOR, 4,39; p = 0,0001), sobrepeso (aOR 6,09; p < 0,0001) e, principalmente, obesidade (aOR 32,68; p < 0,0001). Em modelo de regressão logística ajustado pelo gênero e considerando o índice HOMA-IR como variável independente, o aumento de cada unidade do índice HOMA-IR esteve associado à SM com OR de 1,25 (IC 95% 1,09-1,44; p = 0,0220).

Tabela 6
Preditores de síndrome metabólica estimados através de regressão logística multivariada em crianças e adolescentes (6-14 anos) avaliados no município de Guabiruba-SC, Brasil, 2011

Discussão

A identificação precoce da SM em crianças e adolescentes é importante para a estratificação de risco de eventos cardiovasculares futuros 1Expert panel on detection, evaluation, and treatment of high blood cholesterol in adults. Executive Summary of The Third Report of The National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, And Treatment of High Blood Cholesterol In Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA. 2001;285(19):2486-97.. No presente estudo, 14,1% da população de estudantes avaliados no município de Guabiruba-SC foi identificada como portadora de SM, principalmente indivíduos com obesidade ou sobrepeso, RI e adolescentes. Merece destaque o fato de que 22% dos portadores de SM eram eutróficos. Em comparação com outros estudos brasileiros que utilizaram critérios idênticos para a classificação, a prevalência de SM encontrada em nosso estudo foi superior à verificada em Maracaí-SP (3,6%)2020 Seki M, Matsuo T, Carrilho AJ. Prevalence of metabolic syndrome and associated risk factors in Brazilian schoolchildren. Public Health Nutr. 2008;12(7):947-52., porém inferior às descritas em Salvador-BA (17,7%)2121 Oliveira AC, Oliveira AM, Almeida MS, Silva AM, Adan L, Ladeia AM. Alanine aminotransferase and high sensitivity C-reactive protein: correlates of cardiovascular risk factors in youth. J Pediatr. 2008;152(3):337-42. e em Feira de Santana-BA (22,6%)2222 Guimarães IC, Moura de Almeida A, Guimarães AC. Metabolic syndrome in Brazilian adolescents: the effect of body weight. Diabetes Care. 2008;31(2):e4., provavelmente devido às diferentes proporções de indivíduos obesos nas populações avaliadas.

A SM em crianças e adolescentes está se tornando um problema global de saúde pública2323 Kelishadi R. Childhood overweight, obesity, and the metabolic syndrome in developing countries. Epidemiologic Rev. 2007;29:62-76.. Essa síndrome tem etiologia complexa e multifatorial e o controle dos seus fatores de risco modificáveis no período pré-natal e/ou na infância pode ter efeito a longo prazo na prevenção de doenças crônico-degenerativas, incluindo as DCVs. Considerando as crescentes evidências sobre a progressão dos fatores de risco desde a infância até a idade adulta, deve-se enfatizar o papel potencial dos determinantes genéticos, pré-natais, ambientais, biológicos e comportamentais na SM na infância2424 Gupta N, Goel K, Shah P, Misra A. Childhood obesity in developing countries: epidemiology, determinants, and prevention. Endocr Rev. 2012;33(1):48-70. , 2525 Halfon N, Verhoef PA, Kuo AA. Childhood antecedents to adult cardiovascular disease. Pediatr Rev. 2012;33(2):51-60.. Nesse contexto, a SM em crianças está relacionada principalmente à “globesidade”, termo usado pela OMS para enfatizar a crescente epidemia mundial de sobrepeso e obesidade juvenil. No presente estudo, realizado em crianças e adolescentes de um município semirrural de Santa Catarina, foi encontrada elevada prevalência de estudantes com sobrepeso (21%) e obesidade (13%), com as maiores chances de desenvolver a SM (6,1 e 32,7 vezes, respectivamente). Dentre os estudantes com SM, 33% tinham sobrepreso e 45,5% eram obesos. Resultados semelhantes foram descritos para crianças e adolescentes obesos em Maracaí-SP2020 Seki M, Matsuo T, Carrilho AJ. Prevalence of metabolic syndrome and associated risk factors in Brazilian schoolchildren. Public Health Nutr. 2008;12(7):947-52., adolescentes obesos em Porto Alegre-RS2626 Costa RF, Santos NS, Goldraich NP, Barski TF, de Andrade KS, Kruel LF. Metabolic syndrome in obese adolescents: a comparison of three different diagnostic criteria. J Pediatr (Rio J). 2012;88(4):303-9. e em três cidades do Paraná2727 Stabelini-Neto A, Bozza R, Ulbrich A, Mascarenhas LP, Boguszewski MC Campos W. Síndrome metabólica em adolescentes de diferentes estados nutricionais. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2012;56(2):104-9.. Em crianças obesas em Taguatinga-DF, a prevalência de SM foi de 16,7%2828 Ferreira AP, Nóbrega OT, França NM. Associação do índice de massa corporal e da resistência à insulina com síndrome metabólica em crianças brasileiras. Arq Bras Cardiol. 2009;93(2):147-53..

Em crianças e adolescentes, sabe-se que a obesidade está associada aos demais componentes da SM e à RI2929 Weiss R, Bremer AA, Lustig RH. What is metabolic syndrome, and why are children getting it? Ann N Y Acad Sci. 2013;1281:123-40., assim como existe forte associação entre a RI e a SM ou variáveis de risco cardiometabólico1010 Romualdo MC, de Nóbrega FJ, Escrivão MA. Insulin resistance in obese children and adolescents. J Pediatr (Rio J). 2014;90(6):600-7. , 1111 Medeiros CC, Ramos AT, Cardoso MA, França IS, Cardoso AS, Gonzaga NC, et al. Resistência Insulínica e sua Relação com os Componentes da Síndrome Metabólica Arq Bras Cardiol. 2011;97(5):380-9. , 2828 Ferreira AP, Nóbrega OT, França NM. Associação do índice de massa corporal e da resistência à insulina com síndrome metabólica em crianças brasileiras. Arq Bras Cardiol. 2009;93(2):147-53.. No presente estudo, 35% e 25% dos estudantes com sobrepeso e obesidade, respectivamente, eram resistentes à insulina. A RI vem sendo considerada como potencial marcador de risco cardiovascular1010 Romualdo MC, de Nóbrega FJ, Escrivão MA. Insulin resistance in obese children and adolescents. J Pediatr (Rio J). 2014;90(6):600-7. , 1111 Medeiros CC, Ramos AT, Cardoso MA, França IS, Cardoso AS, Gonzaga NC, et al. Resistência Insulínica e sua Relação com os Componentes da Síndrome Metabólica Arq Bras Cardiol. 2011;97(5):380-9. e esteve presente em 33% e 41% dos adolescentes obesos atendidos, respectivamente, em ambulatório especializado em Osasco-SP1010 Romualdo MC, de Nóbrega FJ, Escrivão MA. Insulin resistance in obese children and adolescents. J Pediatr (Rio J). 2014;90(6):600-7. e pelo Sistema Único de Saúde em Campina Grande-PB1111 Medeiros CC, Ramos AT, Cardoso MA, França IS, Cardoso AS, Gonzaga NC, et al. Resistência Insulínica e sua Relação com os Componentes da Síndrome Metabólica Arq Bras Cardiol. 2011;97(5):380-9., 39,4% das crianças e adolescentes obesos avaliados na Bolívia3030 Caceres M, Teran CG, Rodriguez S, Medina M. Prevalence of insulin resistance and its association with metabolic syndrome criteria among Bolivian children and adolescents with obesity. BMC Pediatr. 2008;8:31. e 7,7% das crianças obesas (3–5 anos) avaliadas na região norte da Holanda3131 Bocca G, Ongering EC, Stolk RP, Sauer PJ. Insulin resistance and cardiovascular risk factors in 3- to 5-year-old overweight or obese children. Horm Res Paediatr. 2013;80(2):201-6.. Nos escolares avaliados em nosso estudo, a RI teve prevalência geral de 8,5% e esteve presente principalmente nas meninas e nos adolescentes. Nos estudantes com SM, a prevalência de RI aumentou para 27%, principalmente nos indivíduos com sobrepeso (48%) ou obesidade (41%) e foi também mais frequente nas meninas (39%) e nos adolescentes (44%), confirmando assim sua associação com o excesso de peso e alguma influência hormonal2828 Ferreira AP, Nóbrega OT, França NM. Associação do índice de massa corporal e da resistência à insulina com síndrome metabólica em crianças brasileiras. Arq Bras Cardiol. 2009;93(2):147-53. , 3232 Hoffman RP, Vicini P, Sivitz WI, Cobelli C. Pubertal adolescent male-female differences in insulin sensitivity and glucose effectiveness determined by the one compartment minimal model. Pediatr Res. 2000;48(3):384-8.

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- 3535 Lottenberg SA, Glezer A, Turatti LA. Metabolic syndrome: definition and prevalence in children. J Pediatr (Rio J). 2007;83(5 Suppl):S204-8.. De acordo com nossa análise de regressão logística, a RI esteve associada à SM (aOR = 4,4), sendo que o aumento de uma unidade de HOMA-IR elevou em 25% a chance de ocorrência da síndrome (aOR = 1,25). Em geral, os nossos resultados corroboram os achados de Medeiros e cols.1111 Medeiros CC, Ramos AT, Cardoso MA, França IS, Cardoso AS, Gonzaga NC, et al. Resistência Insulínica e sua Relação com os Componentes da Síndrome Metabólica Arq Bras Cardiol. 2011;97(5):380-9., os quais relataram que as meninas e os adolescentes com RI apresentaram risco elevado para componentes da SM. Outros autores brasileiros também reportaram associações importantes e significativas entre a RI e inúmeras alterações clínicas e metabólicas compatíveis com a SM em adolescentes1010 Romualdo MC, de Nóbrega FJ, Escrivão MA. Insulin resistance in obese children and adolescents. J Pediatr (Rio J). 2014;90(6):600-7. e em crianças2828 Ferreira AP, Nóbrega OT, França NM. Associação do índice de massa corporal e da resistência à insulina com síndrome metabólica em crianças brasileiras. Arq Bras Cardiol. 2009;93(2):147-53. , 3636 Ferreira AP, Oliveira CE, França NM. Metabolic syndrome and risk factors for cardiovascular disease in obese children: the relationship with insulin resistance (HOMA-IR). J Pediatr (Rio J). 2007;83(1):21-6. , 3737 Strufaldi MWL, da Silva EM, Puccini RF. Insulin resistance among Brazilian schoolchildren: association with risk factors for cardiovascular diseases. Acta Pædiatr. 2009;98(10):1646-50. com obesidade.

Segundo Bradshaw e cols.3838 Bradshaw PT, Monda KL, Stevens J. Metabolic syndrome in healthy obese, overweight, and normal weight individuals: the atherosclerosis risk in communities study. Obesity (Silver Spring). 2013;21(1):203-9., um número substancial de crianças e adolescentes têm alguns dos componentes da SM. De fato, nossos resultados são preocupantes e merecem atenção, pois entre os estudantes sem SM, 38% e 22% apresentaram um e dois componentes da SM, respectivamente. Além disto, 29% desses indivíduos apresentaram HDL-c baixo, 21% tinham obesidade abdominal – a qual representa maior risco para as DCVs3939 Schwandt P, Bertsch T, Haas GM. Anthropometric screening for silent cardiovascular risk factors in adolescents: the PEP Family Heart Study. Atherosclerosis. 2010;211(2):667-71. – e 63% eram resistentes à insulina, indicando percentual elevado de jovens com grande probabilidade de agravamento futuro de risco cardiometabólico. Nos estudantes com SM, também foi elevada a proporção de indivíduos com até quatro componentes (27%), sendo que 44% desses eram resistentes à insulina. Igualmente, chama a atenção que 4,2% dos estudantes tinham cinco componentes da SM, incluindo RI, indicando uma situação pouco usual em crianças e adolescentes. Em geral, esses resultados são comparáveis aos de outros estudos brasileiros1010 Romualdo MC, de Nóbrega FJ, Escrivão MA. Insulin resistance in obese children and adolescents. J Pediatr (Rio J). 2014;90(6):600-7. , 1111 Medeiros CC, Ramos AT, Cardoso MA, França IS, Cardoso AS, Gonzaga NC, et al. Resistência Insulínica e sua Relação com os Componentes da Síndrome Metabólica Arq Bras Cardiol. 2011;97(5):380-9. , 2626 Costa RF, Santos NS, Goldraich NP, Barski TF, de Andrade KS, Kruel LF. Metabolic syndrome in obese adolescents: a comparison of three different diagnostic criteria. J Pediatr (Rio J). 2012;88(4):303-9. , 3636 Ferreira AP, Oliveira CE, França NM. Metabolic syndrome and risk factors for cardiovascular disease in obese children: the relationship with insulin resistance (HOMA-IR). J Pediatr (Rio J). 2007;83(1):21-6. , 4040 Gontijo CA, Faria ER, Oliveira RM, Priore SE. Síndrome metabólica em adolescentes atendidos em Programa de Saúde de Viçosa-MG. Rev Bras Cardiol. 2010;23(6):324-33.. Entre as variáveis associadas à SM, as de maior frequência foram o HDL-c baixo, a obesidade abdominal, a hipertrigliceridemia e a PA elevada, com prevalências de 92%, 85%, 77% e 46%, respectivamente. Vale notar que em crianças3131 Bocca G, Ongering EC, Stolk RP, Sauer PJ. Insulin resistance and cardiovascular risk factors in 3- to 5-year-old overweight or obese children. Horm Res Paediatr. 2013;80(2):201-6. e em adolescentes2626 Costa RF, Santos NS, Goldraich NP, Barski TF, de Andrade KS, Kruel LF. Metabolic syndrome in obese adolescents: a comparison of three different diagnostic criteria. J Pediatr (Rio J). 2012;88(4):303-9. obesos, a PA elevada costuma ser mais prevalente que as alterações lipídicas.

Devido ao delineamento transversal, este estudo é limitado pela impossibilidade de definir uma relação temporal de causalidade. Além disto, podem ser considerados como limitação o fato dos resultados não poderem ser extrapolados para a população geral de crianças e adolescentes do município de Guabiruba-SC. Outras limitações incluem a não realização da medida laboratorial de insulina em todos os estudantes, a falta de avaliação dos hábitos alimentares, nível de atividade física e medida de maturação puberal, e ausência de história familiar para doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes melito.

Conclusão

Em resumo, este estudo mostrou alta prevalência de SM na população infanto-juvenil avaliada, principalmente entre os estudantes com obesidade ou sobrepeso, os resistentes à insulina e os adolescentes. O HDL-c baixo foi o componente presente com maior frequência, seguido da obesidade abdominal e da hipertrigliceridemia. Além disto, confirmamos que as variáveis obesidade, sobrepeso, RI e idade estiveram associadas frequentemente à SM.

  • Fontes de financiamento

    O presente estudo foi financiado por FAPESC – Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina, processo n° 15.981/2009-6.
  • Vinculação acadêmica

    Não há vinculação deste estudo a programas de pós‑graduação.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Jul 2015

Histórico

  • Recebido
    15 Out 2014
  • Revisado
    24 Fev 2015
  • Aceito
    26 Fev 2015
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