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Custo-Efetividade do Uso do Escore de Cálcio Coronariano na Prevenção Primária enquanto Norteador da Decisão Terapêutica

Fatores de Risco de Doenças Cardíacas; Doença das Coronárias; Tratamento Farmacológico; Calcificação Vascular; Farmacoeconomia

Ao Editor,

Lemos com muito interesse o artigo: Custo-Efetividade do Emprego do Escore de Cálcio Coronariano na Orientação para Terapia na Prevenção Primária, na População Brasileira . O estudo objetivou avaliar o custo-efetividade do emprego do escore de cálcio na orientação terapêutica para a prevenção primária cardiovascular. As análises foram feitas com base nos dados populacionais do Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis (MESA), uma coorte composta de 6.814 participantes de diversos centros de estudos dos Estados Unidos. 11. Gottlieb I. Cost-Effectiveness of Using the Coronary Calcium Score to Guide Therapeutic Decisions in Primary Prevention in the Brazilian Population. Arq Bras Cardiol. 2022;118(6):1132-3. doi: 10.36660/abc.20220293. As inferências feitas pelos autores são importantes, sobretudo no que tange a identificar fatores relacionados à farmacoeconomia na prevenção de doenças cardiovasculares. Contudo, identificamos que as condutas sugeridas mediante o uso do escore de cálcio (EC) para definir o uso ou não de estatinas pode levar ao viés do tipo atrito, pois há situações clínicas que são necessários mais estudos de imagens sobre o acometimento da estrutura vascular, sobretudo das coronárias para que se consiga definir as condutas posteriores.

É sabido que o comportamento dos segmentos vasculares, sobretudo, arterial, não segue uma regra em diversas doenças, como na hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus (DM), doença renal crônica (DRC) dialítica e não-dialítica, dislipidemias e obesidade. Assim, percebe-se que a estratificação de risco para indicar a prescrição de estatinas ou a realização do EC pode ter sofrido viés de seleção. Outrossim, de acordo com a literatura, há indícios que indivíduos com moderado ou alto risco cardiovascular que apresentaram EC zero, ainda assim, tinham componentes importantes que levavam a alterações vasculares graves, aumentando o risco cardiovascular. Logo, é de grande valia que se investigue as alterações encontradas não só na presença de calcificações vasculares, pois no estudo de Nurmohamed et al. 22. Nurmohamed NS, Cantlay C, Sidahmed A, Choi AD. Refining Cardiovascular Risk: Looking Beneath the Calcium Surface. Arq Bras Cardiol. 2022;119(6):921-2. doi: 10.36660/abc.20220763. fica claro que há a necessidade de investigar o acometimento vascular antes mesmo da presença de placas calcificadas.

Assim, o EC apenas indica uma estimativa da quantidade de placa aterosclerótica presente, desde que esta contenha pontos de calcificação, não importando o comprometimento da luz vascular. Diante disso, acreditamos que seria imprescindível o uso de uma tecnologia diagnóstica que pudesse ser utilizada para avaliar o comprometimento vascular sem necessitar da presença de calcificações para detectar tais alterações. Desse modo, a angiotomografia de coronárias (ATCC) objetiva não identificar as placas calcificadas, mas consegue mensurar o grau de obstrução do lúmen vascular promovida pela placa aterosclerótica.

Nesse sentido, o estudo de Gabriel et al. 33. Gabriel FS, Gonçalves LFG, Melo EV, Sousa ACS, Pinto IMF, Santana SMM, et al. Atherosclerotic Plaque in Patients with Zero Calcium Score at Coronary Computed Tomography Angiography. Arq Bras Cardiol. 2018;110(5):420-7. doi: 10.5935/abc.20180063. avaliou a frequência de placa aterosclerótica coronária, assim como seu grau de obstrução e fatores associados em pacientes com EC zero com indicação clínica de ATCC. Em um total de 367 indivíduos, foi encontrada uma frequência de placa aterosclerótica nas coronárias de 9,3%; IC95%, 6,3 – 12,3. Diante disso, levando em consideração o fluxograma proposto pelos autores do artigo em tela e aplicando-o à população deste estudo, 22. Nurmohamed NS, Cantlay C, Sidahmed A, Choi AD. Refining Cardiovascular Risk: Looking Beneath the Calcium Surface. Arq Bras Cardiol. 2022;119(6):921-2. doi: 10.36660/abc.20220763. teríamos 34 indivíduos que não estariam em uso de estatina. Logo, poderíamos agravar o risco cardiovascular desses indivíduos, pois a lesão aterosclerótica poderia continuar em desenvolvimento e inferir mais risco de lesão isquêmica cardíaca.

Referências

  • 1
    Gottlieb I. Cost-Effectiveness of Using the Coronary Calcium Score to Guide Therapeutic Decisions in Primary Prevention in the Brazilian Population. Arq Bras Cardiol. 2022;118(6):1132-3. doi: 10.36660/abc.20220293.
  • 2
    Nurmohamed NS, Cantlay C, Sidahmed A, Choi AD. Refining Cardiovascular Risk: Looking Beneath the Calcium Surface. Arq Bras Cardiol. 2022;119(6):921-2. doi: 10.36660/abc.20220763.
  • 3
    Gabriel FS, Gonçalves LFG, Melo EV, Sousa ACS, Pinto IMF, Santana SMM, et al. Atherosclerotic Plaque in Patients with Zero Calcium Score at Coronary Computed Tomography Angiography. Arq Bras Cardiol. 2018;110(5):420-7. doi: 10.5935/abc.20180063.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    Dez 2023

Histórico

  • Recebido
    04 Ago 2023
  • Revisado
    06 Set 2023
  • Aceito
    06 Set 2023
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