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A Escuta Terapêutica como estratégia de intervenção em saúde: uma revisão integrativa

Resumos

Objetivo

Investigar e avaliar as evidências disponíveis na literatura a respeito do uso da Escuta Terapêutica como estratégia de intervenção em saúde.

Método

Revisão integrativa, realizada nas bases de dados PubMed, CINAHL, The Cochrane Library, EMBASE, LILACS e APA PsycNET, sem restrições de ano ou tipo de estudo. Os descritores foram combinados de diferentes formas para garantir a busca ampla de estudos primários.

Resultados

Dentre as 15 publicações sobre Escuta Terapêutica, 33% abordaram o efeito de treinamentos sobre as habilidades de escuta, 27% estudaram a eficácia da escuta como intervenção, 20% exploraram as experiências dos sujeitos quanto às vivências relacionadas à escuta e 20% abordaram aspectos diversos da escuta.

Conclusão

A maior parte dos estudos tem nível de evidência de forte a moderado e, apesar de abordarem diferentes aspectos relacionados à Escuta Terapêutica, apresentam em comum o reconhecimento da necessidade de habilidades, por parte do profissional de saúde, para o desenvolvimento de um processo de escuta eficaz.





Relações interpessoais; Relações profissional-paciente; Comunicação; Assistência ao paciente; Revisão


Objective

To investigate and evaluate the available evidence in the literature regarding the use of Therapeutic Listening as a health intervention strategy.

Method

Integrative review conducted on the following databases PubMed, CINAHL, The Cochrane Library, EMBASE, LILACS and APA PsycNET without restrictions of year or type of study. The keywords were combined in different ways to ensure extensive search of primary studies.

Results

Among the 15 studies on Therapeutic Listening, 33% addressed the effect of training on listening skills, 27% focused on the efficacy of listening as an intervention, 20% explored the experiences lived by the subjects regarding listening and 20% discussed various aspects of listening.

Conclusion

Most studies have strong to moderate level of evidence, although addressing different aspects related to Therapeutic Listening, they have in common the need for recognition of skills on the part of health professionals, to develop an effective process of listening.


Interpersonal relations; Professional-patient relations; Communication; Patient care; Review


Objetivo

Investigar y evaluar las evidencias disponibles en la literatura respecto del empleo de la Escucha Terapéutica como estrategia de intervención en salud.

Método

Revisión integradora, llevada a cabo en las bases de datos PubMed, CINAHL, The Cochrane Library, EMBASE, LILACS y APA PsycNET, sin restricciones de año o tipo de estudio. Los descriptores fueron combinados de distintas maneras para asegurar la búsqueda amplia de estudios primarios.

Resultados

Entre las 15 publicaciones sobre Escucha Terapéutica, el 33% abordó el efecto de los entrenamientos relacionados con las habilidades de escucha, el 27% estudió la efectividad de la escucha como intervención, el 20% exploró las experiencias de los sujetos en cuanto a las vivencias relacionadas con la escucha y el 20% abordó los aspectos diversos de la escucha.

Conclusión

La mayor parte de los estudios tiene nivel de evidencia de fuerte a moderado y, a pesar de abordar los distintos aspectos relacionados con la Escucha Terapéutica, presentan en común el reconocimiento de la necesidad de habilidades, por parte del profesional de salud, para el desarrollo de un proceso de escucha eficaz.

Relaciones interpersonales; Relaciones profesional-paciente; Comunicación; Atención al paciente; Revisión


Introdução

Estudiosos apontam para a necessidade do desenvolvimento de competências de comunicação interpessoal por parte dos profissionais de saúde, para que estes possam estabelecer relações que ofereçam benefícios aos pacientes e seus familiares(101 Haes H, Teunissen S. Communication in palliative care: a review of recent literature. Curr Opin Oncol. 2005;17(4):345-50.). Em uma pesquisa realizada por enfermeiras sobre o suporte emocional em cuidados paliativos, concluiu-se que o uso apropriado de habilidades de comunicação é a base do cuidado emocional do indivíduo e da família que vivenciam estresse psicológico e emocional(202 Skilbeck J, Payne S. Emotional support and the role of Clinical Nurse Specialist in palliative care. J Adv Nurs. 2003;43(5):521-30). Em outro estudo realizado com o objetivo de conhecer como mulheres submetidas à quimioterapia antineoplásica percebem a assistência de enfermagem, as pesquisadoras encontraram que o modo como as pacientes referiram perceber o cuidado prestado pela enfermagem ultrapassa as dimensões dos procedimentos técnicos e privilegia o estabelecimento de uma relação de ajuda no enfrentamento da doença(303 Salimena AMO, Martins BR, Melo MCSC, Bara VMF. Como mulheres submetidas à quimioterapia antineoplásica percebem a assistência de enfermagem. Rev Bras Cancerol. 2010;56(3):331-40).

Nesse contexto, a escuta apresenta-se como uma estratégia de comunicação essencial para a compreensão do outro, pois é uma atitude positiva de calor, interesse e respeito, sendo assim terapêutica(404 Benjamim A. A entrevista de ajuda. São Paulo: Martins Fontes; 1983). Na literatura, algumas expressões são utilizadas para nomear a escuta enquanto processo terapêutico: escuta ativa(505 Filgueiras SL, Deslandes SF. Evaluation of counseling activities: analysis of a person-centered prevention perspective. Cad Saúde Pública. 1999;15 Suppl 2:121-31), escuta integral ou atenta(606 Lazure H. Viver a relação de ajuda: abordagem e prática de um critério de competência da enfermeira. Lisboa: Luso Didacta; 1994), ouvir reflexivamente(707 Stefanelli MC. Estratégias de comunicação terapêutica. In: Stefanelli MC, Carvalho EC. A comunicação nos diferentes contextos da Enfermagem. 2ª ed. Barueri: Manole; 2012. p. 77-109), escuta compreensiva(808 Mucchelli R. A entrevista não-diretiva. São Paulo: Martins Fonte; 1978), escutar ativamente(909 Bulechek GM, Butcher HK, Dochterman JM, Wagner CM. Nursing Interventions Classification (NIC). 6th ed. St. Louis: Elsevier; 2013) e escuta terapêutica(505 Filgueiras SL, Deslandes SF. Evaluation of counseling activities: analysis of a person-centered prevention perspective. Cad Saúde Pública. 1999;15 Suppl 2:121-31), termo adotado para esta revisão. A Escuta Terapêutica pode ser definida como um método de responder aos outros de forma a incentivar uma melhor comunicação e compreensão mais clara das preocupações pessoais. É um evento ativo e dinâmico, que exige esforço por parte do ouvinte a identificar os aspectos verbais e não verbais da comunicação(1010 Watanuki MF, Tracy R, Lindquist R. Therapeutic listening. In: Tracy R, Lindquist R. Complementary alternative therapies in nursing. New York: Springer; 2006. p. 45-55).

A partir do Modelo Centrado na Pessoa, desenvolvido por Carl Rogers, a utilização da escuta passa a valorizar a pessoa como sujeito que busca e é capaz de se desenvolver(1111 Souza RC, Pereira MA, Kantorski LP. Therapeutic listening: an essential instrument in nursing care. Rev Enferm UERJ. 2003;11(1):92-97). A Escuta Terapêutica é apreciada por diversas escolas psicológicas e pelo senso comum, representando a base de todas as respostas efetivamente geradoras de ajuda(1212 Bermejo Higuera JC. La escucha activa em cuidados paliativos. ARS Méd (Santiago). 2005;(11):119-36). No cuidado, a escuta pode minimizar as angústias e diminuir o sofrimento do assistido, pois por meio do diálogo que se desenvolve, possibilita ao indivíduo ouvir o que está proferindo, induzindo-o a uma autorreflexão(1313 Brusamarello T, Capistrano FC, Oliveira VC, Mercês NNA, Maftum MA. Cuidado a pessoas com transtorno mental e familiares: diagnósticos e intervenções a partir da consulta de enfermagem. Cogitare Enferm. 2013;18(2):245-52). A prática da escuta significa o reconhecimento do sofrimento do paciente, pois o ato de ouvir assume que há algo para se ouvir, oferecendo a este a oportunidade de falar e expressar-se(1414 Fassaert T, Dulmen S, Schellevi F, Bensing J. Active listening in medical consultations: development of the Active Listening Observation Scale (ALOS-global). Patient Educ Couns. 2007;68(3):258-64). Ainda, a escuta é um instrumento importante para a obtenção de informações, por exemplo, pelo uso de perguntas abertas, resumos e esclarecimento(707 Stefanelli MC. Estratégias de comunicação terapêutica. In: Stefanelli MC, Carvalho EC. A comunicação nos diferentes contextos da Enfermagem. 2ª ed. Barueri: Manole; 2012. p. 77-109).

No entanto, apesar de os profissionais de saúde admitirem que o processo de comunicação é um fator importante na assistência prestada(1515 Araújo MMT, Silva MJP. The knowledge about communication strategies when taking care of the emotional dimension in palliative care. Texto Contexto Enferm. 2012;21(1):121-9) e que saber ouvir é uma habilidade essencial no trato com o paciente(1616 Santos L, Torres HC. Educational practices in diabetes mellitus: understanding the skills of health professionals. Texto Contexto Enferm. 2012;21(3):574-80), é escasso o conhecimento de estratégias de comunicação por parte dos mesmos(1515 Araújo MMT, Silva MJP. The knowledge about communication strategies when taking care of the emotional dimension in palliative care. Texto Contexto Enferm. 2012;21(1):121-9). Assim, torna-se ser necessário suscitar uma reflexão mais aprofundada sobre a escuta enquanto ferramenta terapêutica, para que esta não seja utilizada de forma indefinida e sem propósito(1717 Lima DWC, Silveira LC, Vieira AN. Listening in the treatment of psychological stress an integrative review. J Nurs UFPE on line [Internet]. 2012 [cited 2014 June 17];6(9):2273-80. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/2632/pdf_1479
http://www.revista.ufpe.br/revistaenferm...
).

Considerando que, embora geralmente seja reconhecido o seu valor, a Escuta Terapêutica ainda não foi estudada em profundidade(1414 Fassaert T, Dulmen S, Schellevi F, Bensing J. Active listening in medical consultations: development of the Active Listening Observation Scale (ALOS-global). Patient Educ Couns. 2007;68(3):258-64), que a literatura nacional é carente de estudos que abordem tal intervenção e a importância da mesma como pré-requisito para um encontro bem-sucedido de saúde − com valor terapêutico potencial, especialmente em situações que não necessitam de intervenção médica específica(1414 Fassaert T, Dulmen S, Schellevi F, Bensing J. Active listening in medical consultations: development of the Active Listening Observation Scale (ALOS-global). Patient Educ Couns. 2007;68(3):258-64) −, ponderou-se fazer esta revisão integrativa a partir da seguinte questão norteadora: Quais são as evidências disponíveis na literatura a respeito do uso da Escuta Terapêutica como estratégia de intervenção em saúde? Espera-se que enfermeiros e demais profissionais de saúde possam aprimorar seus conhecimentos sobre essa técnica de comunicação interpessoal, visto a importância de uma interação profissional-paciente que transmita atenção, compaixão e conforto(1515 Araújo MMT, Silva MJP. The knowledge about communication strategies when taking care of the emotional dimension in palliative care. Texto Contexto Enferm. 2012;21(1):121-9).

O presente estudo teve como objetivo investigar e avaliar as evidências disponíveis na literatura a respeito do uso da escuta terapêutica como estratégia de intervenção em saúde.

Método

Este estudo constitui-se de uma revisão integrativa, a qual desde a década de 1980 é relatada na literatura como método de pesquisa(1818 Roman AR, Friedlander MR. Revisão integrativa de pesquisa aplicada à enfermagem. Cogitare Enferm. 1998;3(2):109-12). A revisão integrativa pode ser entendida como uma pesquisa sistemática exaustiva da literatura científica com a finalidade de, a partir de estudos existentes, apresentar uma visão ampla de conceitos complexos, teorias ou destacados problemas de saúde(1919 Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. J Adv Nurs. 2005;52(5):546-53). Vale ressaltar que a revisão integrativa é um dos métodos de pesquisa utilizados na Prática Baseada em Evidência, a qual permite a incorporação das evidências na prática clínica, reforçando a importância da pesquisa na assistência à saúde(2020 Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Integrative literature review: a research method to incorporate evidence in health care and nursing. Texto Contexto Enferm. 2008;17(4):758-64).

As etapas para o desenvolvimento desta revisão foram: desenvolvimento da questão norteadora; busca dos estudos primários nas bases de dados; extração de dados dos estudos; avaliação dos estudos selecionados; análise e síntese dos resultados e apresentação da revisão(1919 Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. J Adv Nurs. 2005;52(5):546-53). A questão norteadora dessa revisão foi Quais são as evidências disponíveis na literatura a respeito do uso da Escuta Terapêutica como estratégia de intervenção em saúde?

A coleta de dados desta revisão foi realizada em dezembro de 2013. Para a seleção dos artigos foram consultadas as bases de dados US National Library of Medicine (PubMed), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), The Cochrane Library, Excerpta Medica Database (EMBASE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciência da Saúde (LILACS) e American Psychological Association (APA PsycNET). Para a busca dos estudos foram utilizados descritores controlados e não controlados de acordo com a indexação em cada base específica (Quadro 1).

Quadro 1
Descritores controlados e não controlados de acordo com as bases de dados selecionadas - Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2013

Os critérios de inclusão delimitados para a pré-seleção dos estudos foram: estudos primários em inglês, português ou espanhol, publicados em periódicos e que abordassem a escuta terapêutica, não sendo estabelecido limite quanto ao ano de publicação. O processo de seleção dos estudos foi executado por meio da leitura minuciosa de títulos e resumos, de modo que foram para a seleção final os estudos que atendiam aos critérios de inclusão supracitados. Os estudos sem resumos disponíveis foram obtidos na íntegra para posterior análise detalhada e delimitação da elegibilidade destes. Para a seleção final dos artigos foi realizada a leitura minuciosa do trabalho como um todo, de modo que foram selecionados aqueles que tivessem, a Escuta Terapêutica como foco central do estudo.

Para a coleta e análise dos dados, utilizou-se um instrumento validado(2121 Ursi ES, Galvão CM. Perioperative prevention of skin injury: an integrative literature review. Rev Latino Am Enfermagem. 2006;14(1):124-31.), o qual foi adaptado para atender ao objetivo do estudo. O instrumento continha variáveis que respondessem à questão norteadora do estudo, de modo que os tópicos de interesse foram: título do artigo, autores, ano de publicação, local do estudo, periódico, objetivo, método, população/amostra, resultados, forma de utilização da escuta terapêutica e nível de evidência.

Resultados

A amostra final consistiu em 15 publicações (Tabela 1) provenientes de periódicos internacionais da área da saúde, sendo o mais antigo publicado em 1955 e o mais recente em 2013.

Tabela 1
Distribuição da seleção de publicações de bases de dados de acordo com os critérios estabelecidos para a inclusão de estudos - Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2013

O Quadro 2 apresenta uma síntese dos estudos incluídos nesta revisão.

Quadro 2
Quadro-síntese das características dos estudos incluídos na revisão de acordo com o objetivo, metodologia e principais resultados - Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2013

Dentre as publicações selecionadas para a revisão, sete (47%) são provenientes de periódicos relacionados à área de Psicologia/Psicoterapia (A1, A4, A8, A10, A11, A13 e A15), três (20%) da área de Saúde Ocupacional (A5, A6 e A9), uma (7%) da área de Educação em Enfermagem (A2), duas (13%) da área de Tecnologias em Saúde (A7 e A12) e as duas (13%) restantes são de periódicos das áreas de práticas em Serviço Social (A3) e Saúde Materno-Infantil (A14) (Quadro 2). Quanto ao local de origem dos estudos, cinco (33%) foram realizados no Reino Unido, quatro (27%) nos Estados Unidos da América, três (20%) no Japão, dois (13%) na Suécia e um (7%) no Canadá.

Como apresentado no Quadro 2, os delineamentos de estudo mais frequentes foram o experimental e o quase-experimental, com cinco publicações cada. Vale ressaltar que, para esta revisão, entende-se como experimento os estudos nos quais há alocação aleatória dos indivíduos nos grupos e controle da exposição ao fator de interesse pelo investigador; os quase-experimentais muito se assemelham aos experimentais, entretanto não possuem características de aleatorização e/ou grupo controle(3737 Polit DF, Beck CT. Essentials of nursing research: appraising evidence for nursing practice. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2014. Quantitative research design; p. 149-75).

Para o nível de evidência, foi utilizada a classificação sugerida por Melnyk e Fineout-Overholt(3838 Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Evidence based practice in nursing & healthcare: a guide to best practice. 2th ed. Philadelphia: Lippincot Williams & Wilkins; 2011. Making the case for evidence-based practice; p.3-24), a qual classifica os estudos, a partir do delineamento experimental, em sete níveis: 1 - evidências provenientes de revisão sistemática ou metanálise de ensaios clínicos aleatorizados controlados ou de diretrizes clínicas baseadas em revisões sistemáticas de ensaios clínicos aleatorizados controlados; 2 - evidências oriundas de pelo menos um ensaio clínico aleatorizado controlado bem delineado; 3 - evidências obtidas de ensaios clínicos sem aleatorização bem delineados; 4 - evidências que se originaram de estudos de coorte e de caso-controle bem delineados; 5 - evidências originárias de revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; 6 - evidências derivadas de um único estudo descritivo ou qualitativo; 7 - evidências oriundas de opinião de autoridades e/ou relatório de comitês de especialistas. A maior parte das publicações (40%) apresentou nível de evidência 2 (A3, A4, A7, A10, A12 e A14), seguidas por 33% com nível de evidência 3 (A1, A2, A5, A6 e A11) e 27% com nível de evidência 6 (A8, A9, A13 e A15). Considerando tal classificação, os níveis 1 e 2 são considerados evidências fortes, 3 e 4 moderadas e de 5 a 7 fracas(3838 Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Evidence based practice in nursing & healthcare: a guide to best practice. 2th ed. Philadelphia: Lippincot Williams & Wilkins; 2011. Making the case for evidence-based practice; p.3-24), ou seja, 40% das publicações têm um nível de evidência forte, 33% moderado e 27% fraco.

A maior parte dos estudos (33%) abordou o efeito de treinamentos sobre as habilidades de Escuta Terapêutica (A2, A4, A5, A6 e A10). No estudo A2(2323 Olson JK, Iwasiw CL. Effects of a training model on active listening skills of post-RN students. J Nurs Educ. 1987;26(3):104-7), antes de serem submetidos a um módulo de treinamento sobre comunicação, os estudantes responderam um instrumento que avalia as habilidades interpessoais de profissionais ou estudantes da área da saúde para a realização de entrevistas. O treinamento teve duração de 42 horas, de modo que seis horas foram dedicadas exclusivamente à Escuta Terapêutica. Após o treinamento, os participantes preencheram novamente o instrumento. No pré-treinamento 30,4% dos estudantes identificaram os sentimentos dos entrevistados, enquanto no pós-treinamento a porcentagem foi de 78,5% (p<0,0005). O conteúdo das mensagens foi identificado em 57% das situações antes do treinamento e em 78,8% das situações após o mesmo (p<0,0005). Ainda, no pré-treinamento 6,4% dos estudantes não conseguiram identificar os sentimentos dos entrevistados, enquanto no pós-treinamento esse índice foi reduzido para 1,6% (p<0,005).

No estudo A4(2525 Lisper H, Rautalinko E. Effects of a six hour training of active listening. Scand J Behav Ther. 1996; 25(3-4):117-25) diferentes modos de treinamento de Escuta Terapêutica foram avaliados em um experimento e em um quase-experimento. Doze sujeitos participaram do experimento, grupo este que teve o treinamento baseado em dramatização supervisionada, exercícios escritos e discussão. Doze sujeitos participaram do quase-experimento que utilizou a dramatização parcialmente supervisionada. O terceiro grupo não recebeu treinamento e não tinha conhecimento prévio sobre a Escuta Terapêutica (n=6). Como forma de avaliação, todos os participantes tiveram uma consulta de aconselhamento de sete minutos com a participação de um paciente fictício. O resultado foi que, em 6 das 10 categorias de respostas do instrumento utilizado para avaliar as habilidades dos alunos, o grupo da dramatização utilizou aproximadamente duas vezes mais respostas de Escuta Terapêutica do que o grupo sem treinamento (p<0,05).

O estudo A5(2626 Kubota S, Mishima N, Ikemi A, Nagata S. A research in the effects of active listening on corporate mental health training. J Occup Health. 1997;39(4):274-9) consistiu em dois workshops sobre Escuta Terapêutica de dezesseis horas cada, as quais foram divididas em dois dias, com um intervalo de um mês entre cada workshop. O curso foi ministrado a administradores de empresas por meio de palestras, atividades práticas e discussões. Tais atividades faziam parte de um programa de formação em saúde mental. Os participantes preencheram um instrumento, formulado pelos autores do estudo, que mediu os efeitos do treinamento sobre as habilidades relativas à Escuta Terapêutica, no início do primeiro e no final do segundo workshop. Os resultados mostraram que a média dos escores do instrumento aumentou significativamente após o segundo workshop (p<0,01).

O estudo A6(2727 Kubota S, Mishima N, Nagata S. A study of the effects of active listening on listening attitudes of middle managers. J Occup Health. 2004;46(1):60-7) foi sobre o teste de um programa de treinamento para Escuta Terapêutica baseado em dramatizações e discussões, desenvolvido pelos autores da pesquisa. Os participantes, gerentes corporativos de nível médio, foram divididos em grupos de quatro ou cinco pessoas. O treinamento teve duração de um dia. Os participantes responderam um instrumento para mensurar habilidades e atitudes relacionadas à Escuta Terapêutica antes do início do treinamento, um mês e três meses depois do treinamento. De acordo com os resultados, os escores das subescalas Atitudes de escuta (p<0,001) e Habilidades de escuta (p<0,001) aumentaram tanto no primeiro quanto no terceiro mês após o treinamento.

O estudo A10(3131 Rautalinko E, Lisper HO, Ekehammar B. Reflective listening in counseling: effects of training time and evaluator social skills. Am J Psychother. 2007;61(2):191-209) utilizou a dramatização de consultas de aconselhamento como forma de ensino da Escuta Terapêutica. Os participantes da pesquisa foram distribuídos aleatoriamente em três grupos de treinamento para a prática de habilidades de comunicação. Um dos grupos recebeu 14 horas de treinamento. Os outros dois grupos tiveram o mesmo modelo de treinamento do primeiro grupo, no entanto, os treinamentos foram repetidos, de modo que um recebeu 28 horas e o outro, 42 horas de curso. Os resultados sugerem que os alunos utilizaram a Escuta Terapêutica igualmente, após os diferentes períodos de treinamento (p=0,74). No entanto, maior tempo de treinamento resultou em maior expressão de sentimentos por parte dos aconselhados, de modo que estes relataram mais emoções no pós-teste do que no pré-teste (p<0,05). Ainda, o resultado da relação Recordação de informações versus Tempo de interação foi em favor do grupo de treinamento de 42 horas, que teve o maior valor médio de recordação de informações por parte dos alunos (p<0,01).

As pesquisas sobre a eficácia da Escuta Terapêutica em Domicílio como intervenção contabilizaram 27% das publicações (A7, A11, A12 e A14). O estudo A7(2828 Wiggins M, Oakley A, Roberts I, Turner H, Rajan L, Austerberry H, et al. The Social Support and Family Health Study: a randomised controlled trial and economic evaluation of two alternative forms of postnatal support for mothers living in disadvantaged inner-city areas. Health Technol Assess. 2004;8(32):iii,ix-x,1-120) foi um experimento que comparou os resultados de saúde de mães e seus recém-nascidos, os quais foram distribuídos em três grupos: Support Health Visitor (SHV), Community Group Support (CGS) e grupo controle. No SHV foi ofertado um ano de visitas mensais de Escuta Terapêutica em Domicílio. Já o CGS consistiu em grupos comunitários locais que ofereceram serviços às mulheres e seus bebês (creche, conselhos de amamentação, entre outros). No grupo controle foram oferecidos serviços de saúde rotineiros. De acordo com os resultados, não houve diferenças que não pudessem ser atribuídas ao acaso nos desfechos primários (depressão materna, lesão na criança e tabagismo materno). Quanto aos desfechos secundários, em relação aos grupos CGS e controle, as mulheres do SHV reduziram o número de visitas ao médico por conta da criança (Diferença média= -0,21; IC 95% -0,38 a -0,04), aumentaram a utilização dos serviços oferecidos pelos agentes de saúde e assistentes sociais (Diferença média=0,13; IC 95% 0,04-0,21) e tiveram menos preocupação acerca do desenvolvimento da criança (fala: Diferença média=0,43; IC 95% 0,22-0,84; Alimentação: Diferença média=0,65; IC 95% 0,42-1,00).

No estudo A11(3232 Segre LS, Stasik SM, O'Hara MW, Arndt S. Listening visits: an evaluation of the effectiveness and acceptability of a home-based depression treatment. Psychother Res. 2010;20(6):712-21), mulheres com sintomas depressivos receberam até seis visitas de Escuta Terapêutica em Domicílio. As variáveis investigadas foram: depressão, satisfação com a vida e aceitabilidade do tratamento. As participantes foram entrevistadas em três momentos distintos: pré-visita (0 meses), pós-visita (2 meses após as visitas) e follow-up (5 meses após o início das visitas ou 3 meses após a última visita). De acordo com os resultados, durante o período de cinco meses entre o pré e o pós-visita, os escores médios de todas as medidas de depressão diminuíram (p<0,0001; p=0,03; p=0,004). 63,2% das mulheres foram consideradas recuperadas e 2/3 apresentaram melhora clinicamente significativa. Quanto à satisfação com a vida, os resultados indicaram mudança positiva dessa variável ao longo do tempo (p=0,01). A média do instrumento utilizado para mensurar a aceitabilidade do tratamento foi de 5,7, o que indica que as mulheres consideraram a Escuta Terapêutica em domicílio como muito útil.

No estudo A12(3333 Sharp DJ, Chew-Graham C, Tylee A, Lewis G, Howard L, Anderson I, et al. A pragmatic randomised controlled trial to compare antidepressants with a community-based psychosocial intervention for the treatment of women with postnatal depression: the RESPOND trial. Health Technol Assess. 2010;14(43):iii-iv, ix-xi, 1-153), mulheres diagnosticadas com depressão pós-parto foram distribuídas aleatoriamente em dois grupos: em um dos grupos a participante recebeu um antidepressivo (n=129) e, no outro, a participante recebeu a Escuta Terapêutica em Domicílio (n=125). Inicialmente foi oferecida uma série de quatro visitas ao longo de quatro a seis semanas. Na quarta visita, o profissional e a mulher revisavam os progressos e decidiam se finalizariam as visitas (as mulheres poderiam ir para o grupo de antidepressivos ou serviços alternativos), ou realizariam um segundo conjunto de quatro visitas. Em quatro semanas, as mulheres do grupo de antidepressivos tinham mais do que duas vezes mais probabilidade de estarem melhores, em comparação com as que receberam a Escuta Terapêutica em domicílio (Odds Ratio=3,4; IC 95% 1,8-6,5; p<0,001). Com 18 semanas de tratamento, a proporção de melhoria nas mulheres foi 11% maior no grupo de antidepressivos, no entanto, não houve benefício claro de um grupo em relação ao outro (Odds Ratio=1,5; IC 95% 0,8-2,6; p=0,19). Entrevistas com as mulheres revelaram uma preferência pela Escuta Terapêutica em domicílio, no entanto, elas reconheciam que os antidepressivos podiam ser necessários.

O estudo A14(3535 Segre LS, Chuffo-Siewert R, Brock RL, O'Hara MW. Emotional distress in mothers of preterm hospitalized infants: a feasibility trial of nurse-delivered treatment. J Perinatol. 2013;33(12):924-8) avaliou a viabilidade, a aceitação e a eficácia da Escuta Terapêutica oferecida a mães de prematuros hospitalizados em uma unidade de terapia intensiva neonatal. A hipótese dos pesquisadores foi que a Escuta Terapêutica estaria associada à melhora clínica da mãe, bem como à melhora da autopercepção de sua qualidade de vida. A intervenção foi realizada por uma enfermeira neonatal, a qual realizou seis visitas a cada participante. Cada visita teve duração de 45 a 60 minutos e foi realizada em um lugar do hospital que garantia privacidade às mulheres. As variáveis investigadas foram: depressão, ansiedade, qualidade de vida e aceitabilidade das visitas. Após a realização das visitas, os sintomas de depressão (p<0,001) e ansiedade (p<0,005) declinaram significativamente. Quanto à qualidade de vida, os resultados sugerem uma melhora significativa de tal variável (p<0,001). A maior parte das mulheres que receberam as visitas (91,3%), classificaram-nas como excelente.

Dentre os estudos selecionados, apenas três (20%) utilizaram a abordagem qualitativa (A8, A13 e A15). Por meio de entrevista em profundidade, a qual permite explorar um ou mais temas com maior flexibilidade, diferentemente do que acontece no caso do uso de questionários ou de uma entrevista totalmente estruturada, os estudos A8(2929 Shakespeare J, Blake F, Garcia J. How do women with postnatal depression experience listening visits in primary care? A qualitative interview study. J Reprod Infant Psychol. 2006;24(2):149-62.) e A13(3434 Turner KM, Chew-Graham C, Folkes L, Sharp D. Women's experiences of health visitor delivered listening visits as a treatment for postnatal depression: a qualitative study. Patient Educ Couns. 2010;78(2):234-9) buscaram explorar as experiências de mulheres com depressão pós-parto que receberam Escuta Terapêutica em domicílio. De acordo com os resultados do estudo A8(2929 Shakespeare J, Blake F, Garcia J. How do women with postnatal depression experience listening visits in primary care? A qualitative interview study. J Reprod Infant Psychol. 2006;24(2):149-62.), os fatores que fizeram das visitas uma experiência positiva foram: concordar com o modelo médico para a depressão pós-parto, ter um bom relacionamento com o profissional que realiza as visitas, ter a oportunidade de realizar escolhas e o fato das visitas se desenvolverem como um processo claro e flexível. Já os achados do estudo A13(3434 Turner KM, Chew-Graham C, Folkes L, Sharp D. Women's experiences of health visitor delivered listening visits as a treatment for postnatal depression: a qualitative study. Patient Educ Couns. 2010;78(2):234-9) indicaram que todas as entrevistadas relataram que a Escuta Terapêutica em Domicílio foi benéfica, embora muitas delas tivessem necessitado de uma intervenção adicional para controlar os sintomas depressivos. Ainda, a eficácia das visitas parece estar ligada às causas da depressão, à forma como as visitas são realizadas e por quem são realizadas. As pesquisadoras concluíram que as mulheres com depressão pós-parto consideram a Escuta Terapêutica em domicílio como algo útil, mas insuficiente para o tratamento da depressão.

No estudo A15(3636 Lee B, Prior S. Developing therapeutic listening. Br J Guid Couns. 2013;41(2):91-104), por meio de entrevistas, estudantes de um curso sobre aconselhamento foram convidados a refletir sobre experiências pessoais vivenciadas durante o primeiro ano do curso. Um dos temas que surgiu durante as entrevistas foi sobre aprender a ouvir, isto é, tornar-se consciente do que se está fazendo quando se está a ouvir. Alguns participantes disseram que costumavam filtrar o que as pessoas diziam a partir de suas próprias experiências pessoais. Outro aspecto revelado foi sobre o ouvir como relacionamento e envolvimento com a outra pessoa. Ainda, os participantes referiram sobre a revelação da alteridade, ou seja, o ouvir como revelação das realidades de outras pessoas. Por fim, os pós-graduandos discursaram sobre a diferença existente entre ser capaz de ouvir e apenas receber informações.

No estudo A1(2222 Sommer GR, Mazo B, Lehner GFJ. An empirical investigation of therapeutic "listening". J Clin Psychol. 1955;11(2):132-6) estudantes de psicologia e psicoterapeutas participaram da pesquisa com o objetivo de observar se informações prévias sobre o paciente podem influenciar no processo de Escuta Terapêutica. Metade dos participantes de cada grupo (alunos e profissionais) recebeu apenas as instruções para a participação no estudo, já a outra metade, além das instruções, recebeu também algumas informações sobre o paciente. Uma entrevista terapêutica real gravada em fita foi utilizada como material de estímulo. Após ouvir as falas do paciente, o participante deveria responder a seguinte pergunta: O que o paciente lhe disse? De acordo com os resultados, os psicoterapeutas deram mais respostas interpretativas do que os estagiários (0,01<p<0,05), no entanto, a análise do possível efeito da informação clínica sobre o paciente não produziu diferenças significativas.

Para a realização do estudo A9(3030 Mineyama S, Tsutsumi A, Takao S, Nishiuchi K, Kawakami N. Supervisors’ attitudes and skills for active listening with regard to working conditions and psychological stress reactions among subordinate workers. J Occup Health. 2007;49(2):81-7), os supervisores responderam um instrumento sobre atitudes e habilidades de escuta. Já os subordinados responderam dois instrumentos, um sobre suas condições de trabalho e outro sobre suas reações ao estresse psicológico. De acordo com os achados, os subordinados que trabalhavam com supervisores com altos escores de habilidades e atitudes de Escuta Terapêutica reportaram reações mais favoráveis ao estresse psicológico (homens: p=0,47; mulheres: p=0,004) e maior controle no trabalho (homens: p=0,026; mulheres: p=0,007).

No estudo A3(2424 Nugent WR, Halvorson H. Testing the effects of active listening. Res Soc Work Pract. 1995;5(2):152-75) uma série de experimentos foi realizada com a finalidade de observar se, no processo da Escuta Terapêutica, a forma como as respostas são formuladas pode interferir na reação afetiva dos pacientes. Foram estudados dois tipos de respostas. No tipo A as respostas são neutras ou implicam a existência de interpretações alternativas quanto à interpretação do paciente sobre uma situação. Os pesquisadores encontraram que, ao se parafrasear as declarações do paciente de forma a aceitar interpretações alternativas à interpretação do mesmo a respeito de uma determinada situação, o paciente poderá apresentar níveis menos intensos de raiva (p<0,0001) e depressão (p=0,0105) do que se as declarações forem usadas de forma que pressuponha a exatidão das interpretações do paciente.

Discussão

Apesar do reconhecido valor terapêutico da escuta(1414 Fassaert T, Dulmen S, Schellevi F, Bensing J. Active listening in medical consultations: development of the Active Listening Observation Scale (ALOS-global). Patient Educ Couns. 2007;68(3):258-64), os estudos primários sobre essa temática ainda são escassos, afinal, foram encontradas apenas 15 publicações na literatura científica relacionadas ao objetivo desta revisão. No entanto, vale ressaltar que, embora escassos, a maior parte dos estudos apresenta níveis de evidência que possibilitam confiança no uso de seus resultados(3939 Polit DF, Beck CT. Essentials of nursing research: appraising evidence for nursing practice. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2014. Fundamentals of evidence-based nursing practice; p.20-39).

Pode-se observar que um ponto comum entre a maior parte dos estudos selecionados é o reconhecimento da necessidade de habilidades, por parte do profissional de saúde, para o desenvolvimento de um processo de escuta eficaz. Há uma série de maneiras de ouvir. Uma delas, por exemplo, é quando se ouve um amigo ou familiar, situação na qual se é convidado a oferecer os próprios pontos de vista enquanto se ouve com simpatia ou se faz comentários que têm o objetivo de acalmar quem é ouvido(4040 Jones AC, Cutcliffe JR. Listening as a method of addressing psychological distress. J Nurs Manag. 2009;17(3):352-8). Outra maneira seria quando o indivíduo procura um profissional para ouvir e aconselhar ou oferecer informações corretas sobre suas preocupações, como por exemplo, quando se procura um advogado para questões legais. Nesse caso, uma consultoria especializada é prestada e a informação transmitida. Uma terceira forma de ouvir, distinta das outras, envolve a absorção da narrativa de uma pessoa, sem o oferecimento de conselhos ou informações, de modo que, ao ouvir relatos de doença ou experiências de vida de um ponto de vista psicológico, tal atitude seja terapêutica(4040 Jones AC, Cutcliffe JR. Listening as a method of addressing psychological distress. J Nurs Manag. 2009;17(3):352-8).

A Nursing Interventions Classification( 9) apresenta a intervenção Listening Visits, que pode ser traduzida como Escuta Terapêutica em domicílio, a qual foi criada no Reino Unido para contornar barreiras relacionadas à acessibilidade e à aceitabilidade do tratamento da depressão em mulheres de minorias étnicas e de baixa renda(4141 Segre LS, McCabe JE, Stasik SM, O'Hara MW, Arndt S. Implementation of an evidence-based depression treatment into social service settings: the relative importance of acceptability and contextual factors. Adm Policy Ment Health. 2012;39(3):180-6-4242 Levy LB, O’Hara MW. Psychotherapeutic interventions for depressed, low-income women: a review of the literature. Clin Psychol Rev. 2010;30(8):934-50). Esta intervenção consiste na utilização de técnicas provenientes do aconselhamento não diretivo, como a exploração de um problema por meio da Escuta Terapêutica e a resolução do mesmo em colaboração com o paciente atendido(3232 Segre LS, Stasik SM, O'Hara MW, Arndt S. Listening visits: an evaluation of the effectiveness and acceptability of a home-based depression treatment. Psychother Res. 2010;20(6):712-21). A Escuta Terapêutica em domicílio apresenta-se como uma atividade eficaz na redução de índices de ansiedade e depressão em mulheres com depressão pós-parto ou mães de bebês prematuros(2828 Wiggins M, Oakley A, Roberts I, Turner H, Rajan L, Austerberry H, et al. The Social Support and Family Health Study: a randomised controlled trial and economic evaluation of two alternative forms of postnatal support for mothers living in disadvantaged inner-city areas. Health Technol Assess. 2004;8(32):iii,ix-x,1-120,3232 Segre LS, Stasik SM, O'Hara MW, Arndt S. Listening visits: an evaluation of the effectiveness and acceptability of a home-based depression treatment. Psychother Res. 2010;20(6):712-21,3535 Segre LS, Chuffo-Siewert R, Brock RL, O'Hara MW. Emotional distress in mothers of preterm hospitalized infants: a feasibility trial of nurse-delivered treatment. J Perinatol. 2013;33(12):924-8). Para tais mulheres esta intervenção foi benéfica, pois se apresentou como uma oportunidade de falar e se concentrar em seus próprios sentimentos e circunstâncias(3434 Turner KM, Chew-Graham C, Folkes L, Sharp D. Women's experiences of health visitor delivered listening visits as a treatment for postnatal depression: a qualitative study. Patient Educ Couns. 2010;78(2):234-9). De acordo com estudiosos do tema, muitas vezes, o indivíduo necessita apenas de alguém que o escute para que possa ordenar e organizar sua própria experiência e, mesmo que a solução para seus problemas pareça distante ou até impossível, o simples falar causa uma sensação de alívio imediato(4343 Miranda CF, Miranda ML. Construindo a relação de ajuda. 10ª ed. Belo Horizonte: Crescer; 1996), o que impede que o indivíduo se desestruture por experimentar um nível de tensão acima de seu limite(1111 Souza RC, Pereira MA, Kantorski LP. Therapeutic listening: an essential instrument in nursing care. Rev Enferm UERJ. 2003;11(1):92-97). No entanto, para que o processo de escuta se desenvolva de forma satisfatória, é importante que o profissional tenha habilidades para fornecer apoio emocional e prático ao paciente, de modo que este se identifique e se sinta capaz de confiar neste profissional que presta o atendimento(2929 Shakespeare J, Blake F, Garcia J. How do women with postnatal depression experience listening visits in primary care? A qualitative interview study. J Reprod Infant Psychol. 2006;24(2):149-62.,3434 Turner KM, Chew-Graham C, Folkes L, Sharp D. Women's experiences of health visitor delivered listening visits as a treatment for postnatal depression: a qualitative study. Patient Educ Couns. 2010;78(2):234-9).

A habilidade para a Escuta Terapêutica, componente importante do processo de comunicação, envolve a compreensão do que a outra pessoa diz e sente e, em seguida, a comunicação desse entendimento de volta a ela(2323 Olson JK, Iwasiw CL. Effects of a training model on active listening skills of post-RN students. J Nurs Educ. 1987;26(3):104-7). A equipe de saúde pode e deve proporcionar ao paciente uma assistência de qualidade, no entanto, para que isso ocorra é necessário assimilar habilidades de comunicação(4444 Bertachini L. A comunicação terapêutica como fator de humanização da Atenção Primária. Mundo Saúde. 2012;36(3):507-20) as quais não são adquiridas de forma empírica ou com o passar do tempo, mas somente com educação adequada(1515 Araújo MMT, Silva MJP. The knowledge about communication strategies when taking care of the emotional dimension in palliative care. Texto Contexto Enferm. 2012;21(1):121-9). Nesse contexto, torna-se relevante o estudo de métodos que possam auxiliar no processo de ensino da Escuta Terapêutica. De acordo com os estudos dessa revisão que investigaram a eficácia de treinamentos sobre as habilidades de escuta, atividades como a dramatização(2525 Lisper H, Rautalinko E. Effects of a six hour training of active listening. Scand J Behav Ther. 1996; 25(3-4):117-25,2727 Kubota S, Mishima N, Nagata S. A study of the effects of active listening on listening attitudes of middle managers. J Occup Health. 2004;46(1):60-7,3131 Rautalinko E, Lisper HO, Ekehammar B. Reflective listening in counseling: effects of training time and evaluator social skills. Am J Psychother. 2007;61(2):191-209), leituras, atividades práticas, discussões acerca do processo da escuta, palestras(2323 Olson JK, Iwasiw CL. Effects of a training model on active listening skills of post-RN students. J Nurs Educ. 1987;26(3):104-7,2626 Kubota S, Mishima N, Ikemi A, Nagata S. A research in the effects of active listening on corporate mental health training. J Occup Health. 1997;39(4):274-9) entre outras, podem contribuir para o ensino dessa técnica de comunicação.

A falta de habilidade para a prática da Escuta Terapêutica pode, por exemplo, a depender da forma como forem parafraseadas as declarações do paciente, gerar sentimentos de raiva e depressão no mesmo(2424 Nugent WR, Halvorson H. Testing the effects of active listening. Res Soc Work Pract. 1995;5(2):152-75). Já o saber escutar terapeuticamente, pode ter um impacto positivo sobre aquele que é ouvido, como por exemplo, auxiliar na formulação de reações mais favoráveis ao estresse psicológico(3030 Mineyama S, Tsutsumi A, Takao S, Nishiuchi K, Kawakami N. Supervisors’ attitudes and skills for active listening with regard to working conditions and psychological stress reactions among subordinate workers. J Occup Health. 2007;49(2):81-7). Por fim, o processo de escuta exige tornar-se consciente do que se está fazendo quando se está a ouvir e entender que há uma diferença entre saber ouvir e apenas receber dados(3636 Lee B, Prior S. Developing therapeutic listening. Br J Guid Couns. 2013;41(2):91-104).

Conclusão

Com base nos resultados apresentados é possível concluir que a maior parte dos estudos selecionados para esta revisão tem nível de evidência de forte a moderado, o que possibilita a confiança em seus resultados e, apesar de abordarem diferentes aspectos relacionados à Escuta Terapêutica, apresentam em comum o reconhecimento da necessidade de habilidades, por parte do profissional de saúde, para o desenvolvimento de um processo de escuta eficaz.

Dentre as 15 publicações selecionadas, cinco abordaram o efeito de treinamentos sobre as habilidades de Escuta Terapêutica, quatro estudaram a eficácia da escuta como intervenção, três exploraram as experiências dos sujeitos quanto às vivências relacionadas à escuta, e três abordaram aspectos diversos da escuta (a influência de informações prévias sobre o paciente no processo de Escuta Terapêutica; a relação entre as atitudes e habilidades de escuta de supervisores e as condições de trabalho e reações de estresse psicológico de seus subordinados; e, finalmente, como a formulação das respostas no processo da Escuta Terapêutica pode influenciar a reação afetiva dos pacientes).

Um dos aspectos que podem ter interferido nos resultados obtidos diz respeito à busca ter sido realizada em cinco bases de dados com os descritores apresentados. O estudo, além de sintetizar as evidências a respeito do uso da Escuta Terapêutica enquanto intervenção de saúde, fornece uma direção para que enfermeiros e demais profissionais de saúde possam pensar o uso de tal intervenção em sua prática clínica, já que esta apresenta-se como uma intervenção comprovadamente benéfica para o bem-estar do indivíduo. No entanto, é importante atentar para a necessidade da capacitação dos profissionais de saúde para a realização de tal atividade, visto que a falta de habilidades para a condução da Escuta Terapêutica pode acarretar prejuízos ao paciente. Novos estudos, principalmente experimentos que considerem os aspectos teóricos que sustentam esta intervenção, permitirão explorar com maior profundidade os efeitos da Escuta Terapêutica aplicada no contexto da saúde e conhecer possíveis condições dos pacientes que possam influenciar a obtenção dos resultados esperados com esta técnica.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    02 Jul 2014
  • Aceito
    12 Out 2014
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