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O impacto do trabalho para a saúde do profissional de enfermagem* * Extraído da dissertação: “Trabalho de enfermagem: comunicação, prazer e sofrimento”, Universidade Federal da Paraíba, 2018.

Resumo

Objetivo:

Avaliar o impacto do trabalho para a saúde do profissional de enfermagem.

Método:

Trata-se de um estudo transversal e quantitativo, realizado com enfermeiros de um hospital universitário em João Pessoa, Paraíba, Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevistas, com uso de um instrumento para obtenção dos dados sociodemográficos e condições de saúde e da Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho.

Resultados:

Participaram 152 enfermeiros. A Vivência de Prazer e os seus domínios foram classificados como satisfatórios, enquanto os Fatores de Sofrimento e seus domínios obtiveram avaliação crítica. Foram observadas associações estatisticamente significativas (p≤0,05) entre os indicadores de prazer e sofrimento e algumas condições de saúde, problemas de saúde e uso de medicamentos.

Conclusão:

Os níveis satisfatórios de prazer apresentaram associação com melhores condições de saúde e níveis críticos de sofrimento foram associados a piores condições de saúde.

Descritores:
Trabalho; Enfermagem; Satisfação no Emprego; Saúde do Trabalhador

Abstract

Objective:

To evaluate the impact of work on nursing professionals’ health.

Method:

This is a cross-sectional and quantitative study conducted with nurses from a university hospital in João Pessoa, Paraíba, Brazil. Data were collected through interviews using an instrument to obtain sociodemographic data and health conditions and the Pleasure and Suffering Indicators at Work Scale (PSIWS).

Results:

There were 152 nurses who participated. The Experience of Pleasure and its domains were rated as satisfactory, while Suffering Factors and their domains were critically evaluated. Statistically significant associations were observed (p≤0.05) between the indicators of pleasure and suffering and some health conditions, health problems and medication use.

Conclusion:

Satisfactory levels of pleasure were associated with better health conditions and critical levels of suffering were associated with worse health conditions.

Descriptors:
Work; Nursing; Job Satisfaction; Occupational Health

Resumen

Objetivo:

Evaluar el impacto del trabajo en la salud del profesional enfermero. Método: Se trata de un estudio transversal y cuantitativo, llevado a cabo con enfermeros de un hospital universitario en João Pessoa, Paraíba, Brasil. Los datos fueron recogidos mediante entrevistas, empleándose un instrumento para la obtención de los datos sociodemográficos y las condiciones de salud y de la Escala de Indicadores de Placer y Sufrimiento en el Trabajo.

Resultados:

Participaron 152 enfermeros. La Vivencia de Placer y sus dominios fueron clasificados como satisfactorios, mientras que los Factores de Sufrimiento y sus dominios obtuvieron evaluación crítica. Fueron observadas asociaciones estadísticamente significativas (p≤0,05) entre los indicadores de placer y sufrimiento y algunas condiciones de salud, problemas de salud y uso de fármacos.

Conclusión:

Los niveles satisfactorios de placer presentaron asociación con mejores condiciones de salud, y niveles críticos de sufrimiento estuvieron asociados con peores condiciones de salud.

Descriptores:
Trabajo; Enfermería; Satisfacción en el Trabajo; Salud Laboral

INTRODUÇÃO

O trabalho representa um importante recurso do sistema social do ser humano, haja vista que exercer uma atividade torna o indivíduo mais integrado com o mundo, permite a obtenção e a construção de conhecimentos, fortalece a autonomia e promove o desenvolvimento de habilidades(11. Paolini KS. Desafios da inclusão do idoso no mercado de trabalho. Rev Bras Med Trab. 2016;14(2):177-82. DOI: http://dx.doi.org/10.5327/Z1679-443520162915
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)
. A expansão do modo de produção capitalista e a ascensão do processo de globalização provocaram significativas modificações no mercado financeiro, resultando na alienação, individualidade, precarização dos modelos gerenciais e na fragmentação da própria prática laboral(22. Silva VR, Velasque LS, Tonini T. Job satisfaction in an oncology nursing team. Rev Bras Enferm. 2017;70(5):1040-7. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0422
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)
.

Em virtude da estratificação desse processo, o profissional pôde se tornar apenas mais um dos componentes de um sistema mecanizado, que prioriza o crescimento da produção(33. Suliman M, Aljezawi M. Nurses' work environment: indicators of satisfaction. J Nurs Manag. 2018;26(5):525-30. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/jonm.12577
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)
. A organização dos serviços de saúde também sofreu influência das transformações ocorridas no mercado de trabalho. Na enfermagem, a exigência da qualidade da assistência prestada, muitas vezes sem as condições necessárias para a sua realização, tem gerado a elevação dos danos ocupacionais, com maior frequência de distúrbios osteomusculares, transtornos de ansiedade e episódios depressivos(44. Guimarães ALO, Felli VEA. Notification of health problems among nursing workers in university hospitals. Rev Bras Enferm. 2016;69(3):475-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016690313i
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)
, o que repercute sobre os determinantes do processo saúde-doença, com níveis elevados de estresse, altos índices de insatisfação e intenção de abandonar a profissão(22. Silva VR, Velasque LS, Tonini T. Job satisfaction in an oncology nursing team. Rev Bras Enferm. 2017;70(5):1040-7. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0422
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-33. Suliman M, Aljezawi M. Nurses' work environment: indicators of satisfaction. J Nurs Manag. 2018;26(5):525-30. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/jonm.12577
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,55. Souza EA, Teixeira CF, Souza MKB. Análise da produção científica nacional sobre o trabalho da enfermeira (1988-2014). Saúde Debate. 2017;41(113):630-46. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-1104201711322
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)
.

O profissional de enfermagem apresenta o risco de sofrer agravos à saúde decorrentes de suas atividades diárias, uma vez que o trabalho exige intensas demandas físicas e psicológicas devido à complexidade dos procedimentos realizados, provocando graves impactos para a sua saúde e qualidade de vida, além de interferir na dinâmica organizacional do serviço e na segurança do paciente(66. Marques DO, Pereira MS, Souza ACS, Vila VSC, Almeida CCOF, Oliveira EC. Absenteeism: illness of the nursing staff of a university hospital. Rev Bras Enferm. 2015;68(5):594-600. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680516i
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)
. Um estudo de revisão sistemática evidenciou que a prevalência de distúrbios musculoesqueléticos relatados pelos enfermeiros nos últimos 12 meses variou entre 33% e 88%. Tais distúrbios estavam diretamente relacionados à sua prática laboral, como elevação, transferência e reposicionamento de pacientes, permanência prolongada em posturas inadequadas para a realização de procedimentos, entre outros(77. Soylar P, Ozer A. Evaluation of the prevalence of musculoskeletal disorders in nurses: a systematic review. Med Sci. 2018;7:479-85. DOI: http://dx.doi.org/10.5455/medscience.2017.06.8747
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)
.

Associado a isso, o sofrimento mental desses profissionais também representa uma fonte de adoecimento, a qual reflete diretamente sobre o seu desempenho no trabalho. Uma revisão sistemática com meta-análise realizada para determinar a prevalência de depressão entre enfermeiros que atuaram em ambiente hospitalar no Irã durante 20 anos, compreendendo o período de 1997 a 2017, evidenciou uma alta taxa entre os 4.062 profissionais (26,9%)(88. Fereidouni Z, Dehghan A, Kalyani MN. The prevalence of depression among nurses in Iran: a systematic review and meta-analysis. Int J Med Rev. 2018;5(4):163-7. DOI: http://dx.doi.org/10.29252/IJMR-050407
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)
.

Nesse sentido, a importância da relação entre o contexto laboral e a sua influência sobre a saúde do trabalhador vem sendo destacada na produção científica por meio do desenvolvimento de pesquisas realizadas na última década, sobretudo em âmbito internacional(33. Suliman M, Aljezawi M. Nurses' work environment: indicators of satisfaction. J Nurs Manag. 2018;26(5):525-30. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/jonm.12577
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,99. Alilu L, Zamanzadeh V, Valizadeh L, Habibzadeh H, Gillespie M. A grounded theory study of the intention of nurses to leave the profession. Rev Latino Am Enfermagem Internet . 2017 cited 2018 July 15 ;25:e2894. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5479374/
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10. Yao Y, Zhao S, An Z, Wang S, Li H, Lu L, et al. The associations of work style and physical exercise with the risk of work-related musculoskeletal disorders in nurses. Int J Occup Med Environ Health. 2019;32(1):15-24. DOI: http://dx.doi.org/10.13075/ijomeh.1896.01331
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11. Biallas B, Froböse I, Zöller M, Wilke C. Analysis of workplace health promotion and its effect on work ability and health-related quality of life in a medium-sized business. Gesundheitswesen. 2015;77(5):357-61. DOI: http://dx.doi.org/10.1055/s-0034-1372625
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-1212. Londoño Restrepo J, Chica Álvarez OP, Marin Agudelo IC. Riesgo de depresión, alcoholismo, tabaquismo y consumo de sustancias psicoactivas en personal de enfermería, de dos instituciones hospitalarias del área metropolitana de la ciudad de Medellín. Med UPB Internet . 2017 citado 2018 jul. 10 ;36(1):34-43. Disponible en: https://revistas.upb.edu.co/index.php/Medicina/article/view/7486/6834
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)
. Todavia, ainda são incipientes os estudos que abordam essa temática no Brasil, em que a maior parte das investigações está restrita à Região Sudeste do país(1313. Dorigan GH, Guirardello EB. Nursing practice environment, satisfaction and safety climate: the nurses' perception. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):129-35. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700021
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-1414. Santos JLG, Menegon FHA, Pin SB, Erdmann AL, Oliveira RJT, Costa IAP. The nurse's work environment in a hospital emergency service. Rev Rene. 2017;18(2):195-203. DOI: http://dx.doi.org/10.15253/2175-6783.2017000200008
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)
. Diante do exposto, evidenciar essa realidade poderá contribuir para a identificação dos processos de adoecimento, a realização de intervenções precoces e o aprimoramento dos programas de saúde do trabalhador, possibilitando o bem-estar do profissional de enfermagem.

Assim, o presente estudo tem por objetivo avaliar o impacto do trabalho para a saúde do profissional de enfermagem.

MÉTODO

Desenho do estudo

Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa.

Cenário

Foi realizado em um hospital universitário localizado no município de João Pessoa, Paraíba, Brasil.

População

A população foi composta por todos os enfermeiros atuantes no referido hospital. O cálculo da amostra foi baseado no quantitativo de profissionais com diploma de Graduação em Enfermagem registrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Sistema Único de Saúde(1515. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde Internet . Brasília; 2017 citado 2018 jun. 12 . Disponível em: http://cnes.datasus.gov.br/pages/consultas.jsp
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)
e que possuíam um único vínculo ativo com o hospital, totalizando 252 enfermeiros. Os dados foram disponibilizados pelo Setor de Gestão de Processos e Tecnologia da Informação da própria instituição.

Foram definidos como critérios de inclusão: possuir vínculo empregatício ativo com o hospital e estar exercendo atividade profissional de enfermeiro nesse serviço há pelo menos seis meses. Definiu-se como critério de exclusão: apresentar-se em período de férias, afastamento ou licença maternidade durante a coleta de dados.

Definição da amostra

O tamanho da amostra foi definido utilizando-se o cálculo para populações finitas com proporções conhecidas, tendo-se como base uma margem de erro de 5% (Erro=0,05) com grau de confiabilidade de 95% (α=0,05, que fornece Z0,05/2=1,96) e considerando a proporção de participantes de 50% (p=0,5), totalizando 152 enfermeiros.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada entre os meses de outubro e novembro de 2017, por meio de entrevistas individuais. Inicialmente, o contato com os enfermeiros se deu no hospital, durante os períodos de intervalo dos plantões ou na entrada e saída dos profissionais, a fim de prestar orientações sobre os objetivos da pesquisa, solicitar a participação no estudo e agendar o encontro para o preenchimento dos instrumentos autoaplicáveis, respeitando a disponibilidade individual de cada um.

Os dados foram coletados a partir de um instrumento para obtenção dos dados sociodemográficos, contendo as variáveis sexo, idade, conjugalidade, religião, renda pessoal e arranjo familiar; das condições de saúde e da Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho (EIPST)(1616. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.). A EIPST é composta por 32 questões com opções de respostas do tipo Likert, variando de 0 (nenhuma vez) até 6 (seis ou mais vezes), que avaliam a ocorrência de indicadores de prazer e sofrimento nos últimos seis meses de trabalho, abrangendo quatro fatores: Liberdade de Expressão, Realização Profissional, Esgotamento Profissional e Falta de Reconhecimento(1616. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.).

Análise e tratamento dos dados

A análise foi realizada a partir da média entre os itens da EIPST, sendo classificada em três níveis diferentes. Para os fatores que avaliam o prazer no trabalho (itens 1 ao 17), os indicadores são classificados em nível positivo, satisfatório (escore ≥ 4,0); moderado ou crítico (escores entre 3,9 e 2,1); avaliação para raramente, grave (escore ≤ 2,0). Para os fatores que avaliam o sofrimento no ambiente de trabalho (itens 18 a 32), os indicadores são classificados em: avaliação mais negativa, grave ≥ 4; avaliação moderada ou crítica entre 3,9 e 2,1; avaliação menos negativa, satisfatória ≤ 2,0(1616. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.).

Para a verificação da normalidade/simetria dos dados numéricos, utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov. O nível de significância máximo utilizado para as análises estatísticas foi de 5% (p≤0,05). A confiabilidade dos fatores foi avaliada estimando-se a consistência interna por meio do Coeficiente Alfa de Cronbach. Foram utilizados os Testes Mann-Whitney e Kruskal-Wallis para associar as variáveis.

Aspectos éticos

O estudo foi desenvolvido de acordo com o preconizado pela Resolução n. 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley sob o parecer n. 2.259.018, de 04 de setembro de 2017. Os participantes foram devidamente esclarecidos sobre a justificativa da pesquisa, sua finalidade, riscos e benefícios, procedimentos a serem realizados, garantia de sigilo e confidencialidade das informações prestadas e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

Participaram deste estudo 152 enfermeiros, sem perda amostral. Foi observada uma maior prevalência do sexo feminino (91,4%), com idade entre 30 e 39 anos (48,0%) e idade média de 39,3 anos (DP±0,963), casados ou com união estável (62,5%), praticantes de alguma religião (98,7%), com renda pessoal entre R$ 5.000 e R$ 7.999 (65,1%) e que residem com uma a duas pessoas (42,8%).

Ao se avaliar a atividade laboral dos enfermeiros, observa-se que o indicador de Prazer e os seus domínios foram classificados como satisfatórios, enquanto os Fatores de Sofrimento obtiveram avaliação crítica. A escala apresentou uma boa confiabilidade interna, com a maioria dos valores do Alfa de Cronbach superiores a 0,80 (Tabela 1).

Foram evidenciadas associações estatisticamente significativas (p≤0,05) entre o prazer e o sofrimento no trabalho com as variáveis situação de saúde, prática de atividade física, tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas (Tabela 2).

Tabela 1
Avaliação dos indicadores de prazer e sofrimento no trabalho de enfermagem - João Pessoa, PB, Brasil, 2017.

Tabela 2
Associação entre as condições de saúde e os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho de enfermagem - João Pessoa, PB, Brasil, 2017.

Foram identificadas associações estatisticamente significativas (p≤0,05) entre os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho com a presença de doença ou problema de saúde, destacando-se as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo e os transtornos mentais e comportamentais. O uso diário de medicamentos, dentre eles analgésicos e anti-inflamatórios, também apresentou associação estatisticamente significativa (p≤0,05) com os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho (Tabela 3).

Tabela 3
Associação dos problemas de saúde e uso de medicamentos com os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho de enfermagem - João Pessoa, PB, Brasil, 2017.

DISCUSSÃO

Os indicadores de prazer no trabalho apresentaram médias satisfatórias, enquanto os fatores de sofrimento exibiram níveis críticos. Esse achado pode ser reflexo do atual mercado profissional na área da saúde, em que ocorre o decréscimo da humanização das relações interpessoais e no qual o trabalhador é percebido apenas como uma mão-de-obra para atender às necessidades da organização, resultando no adoecimento do profissional e no afastamento das atividades laborais(99. Alilu L, Zamanzadeh V, Valizadeh L, Habibzadeh H, Gillespie M. A grounded theory study of the intention of nurses to leave the profession. Rev Latino Am Enfermagem Internet . 2017 cited 2018 July 15 ;25:e2894. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5479374/
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)
.

Diante desse cenário, percebe-se que o processo organizacional de trabalho e o espaço social no qual este é desenvolvido impactam nas interações socioprofissionais, aumentando a vulnerabilidade do indivíduo ou, em outros casos, promovem o enfrentamento positivo dos obstáculos vivenciados(1717. Maissiat GS, Lautert L, Dal Pai D, Tavares JP. Work context, job satisfaction and suffering in primary health care. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(2):42-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2015.02.51128
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)
. Assim, quando o indivíduo não possui a capacidade de lidar de forma satisfatória com as imposições e pressões no ambiente de trabalho, tem-se o adoecimento, uma vez que as necessidades da organização se sobressaem em detrimento dos interesses do profissional(1313. Dorigan GH, Guirardello EB. Nursing practice environment, satisfaction and safety climate: the nurses' perception. Acta Paul Enferm. 2017;30(1):129-35. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700021
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,1717. Maissiat GS, Lautert L, Dal Pai D, Tavares JP. Work context, job satisfaction and suffering in primary health care. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(2):42-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2015.02.51128
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)
.

O contexto de trabalho não se limita ao espaço físico ou social em que as atividades são desenvolvidas, abrangendo também as relações interpessoais, a percepção do trabalhador sobre a relevância de sua função, a dinâmica do serviço, o suporte organizacional, as características do ambiente e a disponibilidade de recursos, gerando múltiplas perturbações sobre a saúde do profissional(1616. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.).

Nesse sentido, as vivências de prazer, sendo resultado da inter-relação entre a realização profissional e a liberdade de expressão, envolvem aspectos como bem-estar, satisfação, motivação, reconhecimento e orgulho pelas atividades desempenhadas, oportunidades de expressar sentimentos e opiniões para colegas e chefias, a presença de confiança, solidariedade e cooperação entre os trabalhadores, além da oportunidade de utilização da criatividade no ambiente laboral(1616. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.).

Em relação ao sofrimento no trabalho, a sua avaliação aborda a percepção do trabalhador quanto às vivências negativas presentes durante as suas atividades, como esgotamento emocional, estresse, insatisfação, sobrecarga, frustração e insegurança, além de sentimentos de desvalorização, indignação, inutilidade, desqualificação, injustiça, discriminação e falta de reconhecimento(1616. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.).

A prática de enfermagem é frequentemente permeada por riscos ocupacionais, sobretudo em ambiente hospitalar, devido à complexidade da assistência prestada e ao nível de responsabilidade exigido para cada profissional. Dessa forma, a alta demanda de trabalho pode ocasionar prejuízos para a saúde mental do enfermeiro, gerando consequências físicas como fadiga intensa, enxaqueca, crises de ansiedade, episódios depressivos, Síndrome de Burnout, entre outros, os quais resultam em vivências diárias de sofrimento e podem interferir negativamente sobre a qualidade de vida desse profissional(33. Suliman M, Aljezawi M. Nurses' work environment: indicators of satisfaction. J Nurs Manag. 2018;26(5):525-30. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/jonm.12577
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-44. Guimarães ALO, Felli VEA. Notification of health problems among nursing workers in university hospitals. Rev Bras Enferm. 2016;69(3):475-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016690313i
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)
.

A associação entre a situação de saúde e os indicadores de prazer e de sofrimento no trabalho apresentou significância estatística, sendo as vivências positivas mais frequentes entre os indivíduos que referiram a sua saúde como excelente ou boa. Em contrapartida, as experiências negativas foram mais prevalentes entre os enfermeiros que perceberam a saúde como regular ou ruim. Os profissionais de enfermagem constituem uma população vulnerável para o desenvolvimento de problemas de saúde, os quais estão relacionados aos próprios aspectos organizacionais da prática diária, em que prevalece uma rotina de trabalho intensa e estressante, com frequente exposição a riscos ocupacionais(99. Alilu L, Zamanzadeh V, Valizadeh L, Habibzadeh H, Gillespie M. A grounded theory study of the intention of nurses to leave the profession. Rev Latino Am Enfermagem Internet . 2017 cited 2018 July 15 ;25:e2894. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5479374/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
,1818. Santana LL, Sarquis LMM, Brey C, Miranda FMD, Felli VEA. Absenteeism due to mental disorders in health professionals at a hospital in southern Brazil. Rev Gaúcha Enferm. 2016;37(1):e53485. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2016.01.53485
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)
.

A prática de atividade física também foi estatisticamente significativa quando associada com os indicadores de prazer e de sofrimento, em que as vivências negativas estiveram mais presentes entre os enfermeiros que não realizavam tal atividade. Embora a manutenção de hábitos de vida saudáveis seja de extrema relevância para a promoção da saúde e prevenção de doenças e incapacidades, os enfermeiros apresentam dificuldades para manter uma prática regular de atividade física, devido, principalmente, à rotina intensa de trabalho, com escalas em turnos diurnos e noturnos que dificultam a organização do tempo, o que representa um risco para a saúde desses profissionais(1010. Yao Y, Zhao S, An Z, Wang S, Li H, Lu L, et al. The associations of work style and physical exercise with the risk of work-related musculoskeletal disorders in nurses. Int J Occup Med Environ Health. 2019;32(1):15-24. DOI: http://dx.doi.org/10.13075/ijomeh.1896.01331
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)
.

Nesse sentido, a introdução de programas direcionados para a melhoria da saúde do trabalhador, com incentivo para a prática de atividade física e adesão a uma alimentação saudável, podem proporcionar inúmeros benefícios para os profissionais e para a instituição, tais como maior disposição para o trabalho, satisfação com as atividades desempenhadas e reconhecimento da preocupação da empresa com o bem-estar de seus funcionários(1919. Hipólito MCV, Masson VA, Monteiro MI, Gutierrez GL. Quality of working life: assessment of intervention studies. Rev Bras Enferm. 2017;70(1):178-86. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2015-0069
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)
. Um estudo realizado na Alemanha, com 75 funcionários de uma empresa de médio porte, verificou que a promoção da saúde mediante atividade física no ambiente de trabalho gerou efeitos positivos na qualidade de vida e capacidade laboral, resultando, assim, em benefício mútuo para os envolvidos(1111. Biallas B, Froböse I, Zöller M, Wilke C. Analysis of workplace health promotion and its effect on work ability and health-related quality of life in a medium-sized business. Gesundheitswesen. 2015;77(5):357-61. DOI: http://dx.doi.org/10.1055/s-0034-1372625
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)
.

A variável tabagismo esteve associada com os indicadores de prazer e de sofrimento na prática laboral, o que corrobora estudo realizado com 309 profissionais da equipe de enfermagem no município de Jequié - BA, em que foi constatada uma associação positiva entre o hábito de fumar e a insatisfação com a qualidade de vida no trabalho(2020. Azevedo BDS, Nery AA, Cardoso JP. Occupational stress and dissatisfaction with quality of work life in nursing. Texto Contexto Enferm. 2017;26(1):e3940015. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017003940015
https://doi.org/10.1590/0104-07072017003...
)
. Tal achado poderia ser justificado por o uso do tabaco atuar como uma estratégia para a diminuição ou controle dos níveis de ansiedade, haja vista que o trabalho dos enfermeiros pode se tornar estressante pela elevada demanda de responsabilidade e pela convivência frequente com o sofrimento humano(2121. Carceller-Maicas N, Ariste S, Martínez-Hernáez A, Martorell-Poveda MA, Correa-M, DiGiacomo SM. El consumo de tabaco como automedicación de depresión/ansiedad entre los jóvenes: resultados de un estudio con método mixto. Adicciones. 2014;26(1):34-45. DOI: https://doi.org/10.20882/adicciones.127
https://doi.org/10.20882/adicciones.127...
)
.

Em relação ao consumo de bebidas alcoólicas, também foi evidenciada associação estatisticamente significativa com os indicadores avaliados, sendo as maiores médias de fatores de sofrimento no trabalho evidenciadas pelos enfermeiros que faziam uso dessa substância, o que poderia estar relacionado aos efeitos provocados no corpo, interferindo negativamente sobre o desenvolvimento de suas práticas.

A ingestão frequente de álcool provoca diversas alterações no organismo, que progridem de acordo com a quantidade consumida. Os sistemas cardiovascular e digestivo são os mais afetados, gerando efeitos imediatamente após a sua ingestão, como aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, prejuízos na digestão e no metabolismo hepático e elevação no risco de infarto do miocárdio(2222. Connor JP, Haber PS, Hall WD. Alcohol use disorders. Lancet. 2016;387(10022):988-98. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)00122-1
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)00...
)
.

Essa substância também é bastante utilizada para reduzir o estresse, por provocar o relaxamento físico e mental de forma rápida, sendo frequente seu consumo pela população em geral e pelos profissionais de saúde(1212. Londoño Restrepo J, Chica Álvarez OP, Marin Agudelo IC. Riesgo de depresión, alcoholismo, tabaquismo y consumo de sustancias psicoactivas en personal de enfermería, de dos instituciones hospitalarias del área metropolitana de la ciudad de Medellín. Med UPB Internet . 2017 citado 2018 jul. 10 ;36(1):34-43. Disponible en: https://revistas.upb.edu.co/index.php/Medicina/article/view/7486/6834
https://revistas.upb.edu.co/index.php/Me...
,2323. Tobias JSP, Silva DLF, Ferreira PAM, Silva AAM, Ribeiro RS, Ferreira ASP. Alcohol use and associated factors among physicians and nurses in northeast Brazil. Alcohol. 2019;75:105-12. DOI: https://doi.org/10.1016/j.alcohol.2018.07.002
https://doi.org/10.1016/j.alcohol.2018.0...
)
. Um estudo realizado com enfermeiros na Colômbia identificou uma prevalência elevada de ingestão de bebidas alcoólicas, em que o seu uso poderia estar relacionado à existência de problemas organizacionais e conflitos entre a equipe, o que resultava no consumo do álcool como um mecanismo de defesa para a redução do estresse(1212. Londoño Restrepo J, Chica Álvarez OP, Marin Agudelo IC. Riesgo de depresión, alcoholismo, tabaquismo y consumo de sustancias psicoactivas en personal de enfermería, de dos instituciones hospitalarias del área metropolitana de la ciudad de Medellín. Med UPB Internet . 2017 citado 2018 jul. 10 ;36(1):34-43. Disponible en: https://revistas.upb.edu.co/index.php/Medicina/article/view/7486/6834
https://revistas.upb.edu.co/index.php/Me...
)
.

Os enfermeiros que não possuíam doenças ou problemas de saúde apresentaram uma associação significativa com os indicadores de prazer no trabalho, exibindo maiores médias de vivências positivas no ambiente de prática laboral. As doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo e os transtornos mentais e comportamentais exibiram significância estatística com os indicadores analisados, uma vez que os enfermeiros que não possuíam tais condições obtiveram maiores médias de prazer, enquanto os profissionais que as apresentavam sofriam mais no ambiente laboral.

Os problemas osteomusculares e do tecido conjuntivo são frequentes nos profissionais de enfermagem, sendo resultantes do desgaste físico e do estresse, devido ao excesso de esforço demandado para a realização das atividades e pelas exigências relativas ao cargo de enfermeiro. Tais problemas geram sofrimento nos profissionais e comprometem o desempenho de suas funções(44. Guimarães ALO, Felli VEA. Notification of health problems among nursing workers in university hospitals. Rev Bras Enferm. 2016;69(3):475-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016690313i
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O sobrepeso e a obesidade também são problemas que podem desencadear os distúrbios musculoesqueléticos ou agravar a sua sintomatologia, sendo referidos na literatura como importantes fatores de risco para as doenças do sistema circulatório, a exemplo da hipertensão arterial e varizes em membros inferiores, além de problemas endócrinos, destacando-se o diabetes mellitus(2424. Kyle RG, Wills J, Mahoney C, Hoyle L, Kelly M, Atherton IM. Obesity prevalence among healthcare professionals in England: a cross-sectional study using the Health Survey for England. BMJ Open Internet . 2017 cited 2018 May 25 ;7(12):e018498. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5719305/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
)
.

Estudo realizado na Inglaterra evidenciou que um quarto dos enfermeiros do país estava obeso(2424. Kyle RG, Wills J, Mahoney C, Hoyle L, Kelly M, Atherton IM. Obesity prevalence among healthcare professionals in England: a cross-sectional study using the Health Survey for England. BMJ Open Internet . 2017 cited 2018 May 25 ;7(12):e018498. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5719305/
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)
. Na Escócia, a prevalência foi elevada, com 69,1% dos enfermeiros apresentando sobrepeso ou obesidade(2525. Kyle RG, Neall RA, Atherton IM. Prevalence of overweight and obesity among nurses in Scotland: a cross-sectional study using the Scottish Health Survey. Int J Nurs Stud. 2016;53:126-33. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2015.10.015
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)
. As implicações do excesso de peso não se restringem apenas à esfera individual, mas interferem também no cuidado prestado e na adesão dos pacientes às recomendações de saúde. Uma revisão sistemática identificou que os comportamentos pessoais influenciam na prática de promoção da saúde, uma vez que os pacientes são mais propensos a aceitar os conselhos de saúde ofertados por profissionais visivelmente saudáveis(2626. Kelly M, Wills J, Sykes S. Do nurses' personal health behaviours impact on their health promotion practice? A systematic review. Int J Nurs Stud. 2017;76:62-77. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2017.08.008
https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2017....
)
.

Os transtornos mentais e comportamentais foram outra condição de saúde que apresentou associação significativa com os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho dos enfermeiros, o que poderia ser justificado por tais problemas interferirem na prática laboral e na percepção dos profissionais quanto à qualidade da assistência prestada(2727. Maciel MPGS, Santana FL, Martins CMA, Costa WT, Fernandes LS, Lima JS. Use of psychoactive medication between health professionals. J Nurs UFPE on line Internet . 2017 cited 2018 June 15 ;11 Suppl 7:2881-7. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/10177
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revi...
)
.

O aparecimento de sintomas de ansiedade, irritabilidade, angústia, tensão e alterações psicoemocionais provocam um intenso sofrimento nos enfermeiros, estando relacionados às elevadas demandas psicológicas requeridas pelo trabalho e pela diminuição do tempo de descanso. Estes geram uma alta taxa de absenteísmo por licença médica, provocam dificuldades no relacionamento interpessoal com os demais profissionais e causam prejuízos para a segurança do paciente, uma vez que tais problemas estão associados a um grande número de eventos adversos(44. Guimarães ALO, Felli VEA. Notification of health problems among nursing workers in university hospitals. Rev Bras Enferm. 2016;69(3):475-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016690313i
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)
.

O uso diário de alguns fármacos, como os analgésicos, anti-inflamatórios e medicamentos que atuam no sistema nervoso, apresentaram associação significativa com os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho dos enfermeiros. A utilização constante de medicamentos denota a presença de problemas de saúde que podem interferir no desenvolvimento das atividades cotidianas dos profissionais investigados, vivenciando sentimentos negativos relacionados à prática laboral.

O uso exacerbado de medicamentos por esses profissionais é uma problemática que gera repercussões sobre a sua saúde, principalmente a automedicação, haja vista que pode interferir no diagnóstico precoce de problemas de saúde por omitir o aparecimento dos sintomas, dificultar a busca pelo tratamento, piorar o quadro apresentado e causar dependência química(2828. Cares A, Pace E, Denious J, Crane LA. Substance use and mental illness among nurses: workplace warning signs and barriers to seeking assistance. Subst Abus. 2015;36(1):59-66. DOI: https://doi.org/10.1080/08897077.2014.933725
https://doi.org/10.1080/08897077.2014.93...
)
.

A automedicação é frequente entre os profissionais de saúde, sobretudo entre os enfermeiros, haja vista que apresentam o conhecimento sobre as características de cada fármaco e as suas respectivas indicações terapêuticas, o que dispensaria a consulta com um médico para a prescrição desses medicamentos(2929. Ross CA, Jakubec SL. Berry NS, Smye V. "A two glass of wine shift": dominant discourses and the social organization of nurses'substance use. Glob Qual Nurs Res. 2018;5:2333393618810655. DOI: https://doi.org/10.1177/2333393618810655
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)
. Nesse sentido, a utilização de analgésicos e anti-inflamatórios poderia estar relacionada ao número elevado de enfermeiros que apresentam problemas musculoesqueléticos no presente estudo, os quais fazem uso desses medicamentos em busca de um alívio imediato para as dores, quando os episódios acontecem no ambiente de trabalho(44. Guimarães ALO, Felli VEA. Notification of health problems among nursing workers in university hospitals. Rev Bras Enferm. 2016;69(3):475-82. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2016690313i
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)
.

As condições laborais da enfermagem podem aumentar a vulnerabilidade dos profissionais ao adoecimento físico e psíquico, uma vez que estão expostos a ambientes laborais insalubres com elevada carga horária, a sobrecarga de trabalho e ao convívio constante com o sofrimento humano, o que representa um risco para o desenvolvimento de diversas doenças ocupacionais(99. Alilu L, Zamanzadeh V, Valizadeh L, Habibzadeh H, Gillespie M. A grounded theory study of the intention of nurses to leave the profession. Rev Latino Am Enfermagem Internet . 2017 cited 2018 July 15 ;25:e2894. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5479374/
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,3030. Prestes FC, Beck CLC, Magnago TSBS, Silva RM. Pleasure-suffering indicators of nursing work in a hemodialysis nursing service. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(3):465-72. DOI: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000300015
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)
.

Transtornos mentais e comportamentais poderiam justificar o uso de medicamentos que atuam no sistema nervoso e a sua associação com os indicadores de sofrimento no trabalho, uma vez que as atividades desempenhadas pelo enfermeiro exigem uma alta carga psíquica e um elevado poder de concentração, excedendo, muitas vezes, a capacidade do indivíduo, o que provoca o adoecimento do trabalhador(2525. Kyle RG, Neall RA, Atherton IM. Prevalence of overweight and obesity among nurses in Scotland: a cross-sectional study using the Scottish Health Survey. Int J Nurs Stud. 2016;53:126-33. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2015.10.015
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)
. Assim, a utilização desses medicamentos ocorre como uma estratégia de defesa ou proteção para o profissional, o qual busca realizar as suas atribuições de maneira satisfatória e também diminuir o desgaste provocado pelo trabalho(2828. Cares A, Pace E, Denious J, Crane LA. Substance use and mental illness among nurses: workplace warning signs and barriers to seeking assistance. Subst Abus. 2015;36(1):59-66. DOI: https://doi.org/10.1080/08897077.2014.933725
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)
.

CONCLUSÃO

Os resultados do presente estudo demonstram que o trabalho dos enfermeiros gerou um impacto negativo sobre a saúde desses profissionais, exibindo níveis críticos de sofrimento. Além disso, algumas características individuais desses trabalhadores também influenciaram no desenvolvimento de suas atividades laborais, como a prática regular de atividade física, o uso do tabaco e o consumo de bebidas alcoólicas.

Nesse sentido, aponta-se a necessidade de os serviços de saúde implementarem estratégias para a promoção da saúde do trabalhador, buscando a prevenção de acidentes, a redução dos riscos ocupacionais e a adoção de hábitos de vida saudáveis. Também é oportuno destacar a importância do reconhecimento do trabalho dos profissionais de enfermagem, garantindo-lhes autonomia profissional, capacitações, atualizações científicas e práticas de gestão saudáveis e humanizadas que contribuam para satisfação desses profissionais.

As limitações deste estudo estão relacionadas à utilização de uma metodologia com corte transversal, impossibilitando o exame das relações causais. Sugere-se, portanto, a realização de novos estudos que possam investigar o impacto de intervenções no âmbito do trabalho de enfermeiros, além de pesquisas longitudinais que permitam conclusões a respeito da relação de causa e efeito.

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    » https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000300015
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    Extraído da dissertação: “Trabalho de enfermagem: comunicação, prazer e sofrimento”, Universidade Federal da Paraíba, 2018.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    18 Out 2018
  • Aceito
    24 Set 2019
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