Ações educativas sobre primeiros socorros com professores da educação infantil: estudo quase-experimental*

RESUMO

Objetivo:

Verificar o conhecimento dos professores da educação infantil sobre os primeiros socorros antes e após a participação na ação educativa.

Método:

pesquisa quantitativa com delineamento quase-experimental do tipo pré e pós-teste, realizado com 45 professores de quatros escolas de educação infantil. Utilizou-se para coleta de dados um instrumento com questões referentes à caracterização dos participantes e ao conhecimento sobre os primeiros socorros. Os dados foram analisados por meio de técnicas de estatística, sendo realizado o teste de Shapiro Wilk e de Wilcoxon.

Resultados:

houve aumento no número de acertos das questões e melhora em relação aos conceitos, com aumento na pontuação do pré para o pós-teste em 5,17 pontos e com a comparação das somas significativa.

Conclusão:

a realização de ações educativas sobre primeiros socorros aumenta o conhecimento de professores da educação infantil sobre o tema e os enfermeiros possuem destaque na atuação como educadores em saúde.

DESCRITORES
Primeiros Socorros; Educação Infantil; Enfermagem; Educação em Saúde

ABSTRACT

Objective:

To assess the early childhood education teachers’ knowledge about first aid before and after the participation in an educational action.

Method:

Quantitative research with a quasi-experimental pre- and post-test design, carried out with 45 teachers from four early childhood education schools. For data collection, an instrument with questions regarding the characterization of the participants and knowledge about first aid was used. Data were analyzed through statistical techniques, using the Shapiro Wilk and Wilcoxon tests.

Results:

There was an increase in the number of correct answers to the questions and improvement regarding grades, with an increase in the score from pre- to post-test by 5.17 points and with a significant comparison of sums.

Conclusion:

Carrying out educational actions on first aid increases the knowledge of early childhood education teachers on the subject and the nurses’ role as health educators is highlighted.

DESCRIPTORS
First Aid; Child Rearing; Nursing; Health Education

RESUMEN

Objetivo:

Averiguar el conocimiento de los profesores de la educación infantil sobre los primeros auxilios antes y después de la participación en la acción educativa.

Método:

investigación cuantitativa con delineación casi experimental del tipo pre y post-test, realizado con 45 profesores de cuatro escuelas de educación infantil. Se utilizó para recolección de datos un instrumento con cuestiones referentes a la caracterización de los participantes y al conocimiento sobre los primeros auxilios. Los datos fueron analizados por medio de técnicas de estadística, por lo que se realizaron el test de Shapiro Wilk y de Wilcoxon.

Resultados:

hubo aumento en el número de cuestiones correctas y mejora en relación a los conceptos, con aumento en la puntuación del pre para el post-test en 5,17 puntos y con la comparación de las sumas significativa.

Conclusión:

la realización de acciones educativas sobre primeros auxilios aumenta el conocimiento de profesores de la educación infantil sobre el tema y los enfermeros poseen destaque en la actuación como educadores en Salud.

DESCRIPTORES
Primeros auxilios; Crianza del Niño; Enfermería; Educación en Salud

INTRODUÇÃO

A infância caracteriza-se por diferentes fases do desenvolvimento. Entre essas fases, destaca-se a primeira infância, na qual estão inseridas crianças até seis anos de idade. Nessa faixa etária, há o desenvolvimento mental, emocional e de socialização por meio de experiências positivas ou negativas vividas e compartilhadas(¹). No que se refere à educação, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular brasileira de 2018, as crianças dessa faixa etária pertencem à educação infantil, que atende crianças com idades entre zero e cinco anos(²).

Conforme dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade, no ano de 2018 as causas externas foram as principais responsáveis pela ocorrência de óbitos de crianças na faixa etária entre zero a nove anos no Brasil, sendo elas: os acidentes de transporte (19,86%), seguidos pelos afogamentos (19,76%) e outros riscos à respiração(³). As causas externas são traumatismos, lesões ou quaisquer outros agravos à saúde, intencionais ou não, que ocorrem de forma súbita e como consequência imediata de violência ou outra causa exógena, podendo essa ser um acidente(⁴). Entre os acidentes, há os resultantes de causas evitáveis, que são conceituados como sendo os acidentes previsíveis e passíveis de prevenção. Esses são comuns na infância, uma vez que as crianças desenvolvem-se por meio de vivências, entre essas destacam-se as quedas como o tipo mais frequente, seguidas de contato com objetos, cortes e queimaduras(⁵).

Para minimizar os índices de acidentes na infância, em 2001 o Ministério da Saúde (MS) aprovou a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, que estabelece diretrizes e responsabilidades institucionais que contemplam e valorizam medidas inerentes à promoção da saúde e à prevenção de acidentes(⁶). No mesmo sentido, em 2007 foi criado o Programa Saúde na Escola (PSE) que integra e articula a educação e a saúde para contribuir na formação integral dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, enfrentando as vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede pública de ensino(⁷). Na sequência, em 2015, o MS instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), que tem por objetivo promover e proteger a saúde da criança mediante a atenção e cuidados integrais e integrados desde a gestação até os nove anos de vida, com especial atenção à primeira infância, visando à redução da morbimortalidade e ofertando um ambiente facilitador à vida e ao desenvolvimento(⁸).

Ao considerar o contexto da possibilidade de acidentes, o conhecimento sobre a atuação em primeiros socorros para a realização de um atendimento rápido e eficaz para as crianças influenciará na recuperação ou agravamento de sua saúde. Dessa maneira, os primeiros socorros referem-se ao primeiro atendimento prestado à pessoa que está ferida e podem ser realizados por qualquer cidadão que possua conhecimento das técnicas básicas(⁹).

Na educação infantil, as crianças encontram-se em constante descoberta de novos objetos, o que as expõe a situações de risco, geralmente levando à ocorrência de acidentes. Diante dessa situação, o professor precisa prestar o primeiro atendimento e encaminhar a criança ao serviço médico, quando necessário, já que ele é o responsável por ela naquele momento. Nesse sentido, o professor deve possuir noções básicas de primeiros socorros para atuar diante dessas situações(¹⁰).

Considerando essa necessidade vivenciada pelos professores, destaca-se a importância de treinamentos formais e continuados sobre primeiros socorros(¹¹–¹²). Em estudos, nota-se que os professores demonstram consciência sobre o despreparo para prestarem os primeiros socorros e sobre a importância de a vítima receber o atendimento adequado(¹²–¹⁴). Nessa perspectiva, foi criada a Lei nº 13.722, de 4 de outubro de 2018, que torna obrigatória a capacitação de professores e funcionários de estabelecimentos de ensino públicos e privados de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil(¹⁵) em noções básicas de primeiros socorros. Destaca-se também que os professores têm papel importante e crescente na promoção de saúde e prevenção de acidentes entre crianças(¹⁶).

À vista disso, evidencia-se que o ambiente escolar é um local privilegiado para a educação em saúde(¹⁷) e o enfermeiro ganha papel de destaque pois, de acordo com seu exercício profissional, a educação que vise à melhoria na condição de saúde da população é uma de suas funções(¹⁸). Esse profissional é capacitado, na teoria e prática, para contribuir como educador, orientando e mobilizando a sociedade acerca da promoção e prevenção de saúde(¹⁹). Assim, é importante difundir conhecimentos acerca da atuação em primeiros socorros à classe dos professores infantis, visto que os educadores mostram-se leigos em relação ao atendimento inicial dos acidentes escolares, embora apresentem interesse em aprender(¹⁷). A busca que foi realizada aponta para a necessidade de atividades nesse sentido.

Partindo do exposto, frente aos índices relacionados aos acidentes na infância, muitas vezes ocorridos no ambiente escolar, além do despreparo dos professores da educação infantil para atuar diante de situações que envolvam os primeiros socorros, tem-se como questão de pesquisa: uma ação educativa melhora o conhecimento de professores da educação infantil sobre primeiros socorros? E como hipóteses: H0 – A ação educativa inalterou o conhecimento de professores de educação infantil sobre primeiros socorros em ambiente escolar; H1 – A ação educativa alterou o conhecimento de professores de educação infantil sobre primeiros socorros em ambiente escolar. Para tanto, tem-se como objetivo verificar o conhecimento dos professores da educação infantil sobre os primeiros socorros antes e após a participação na ação educativa.

MÉTODO

Tipo de Estudo

Trata-se de uma pesquisa quantitativa com delineamento quase-experimental do tipo pré e pós-teste. A pesquisa teve como cenário as quatro Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs) de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul (RS), referenciadas pela Secretaria de Município de Educação como as que apresentavam o maior número de professores.

População

Os participantes da pesquisa foram os professores municipais que atuam no ensino infantil. O critério de inclusão adotado foi possuir curso superior de licenciatura ou pedagogia, e os critérios de exclusão foram estar afastado por férias, licença ou afastamento de qualquer outra natureza durante o período da coleta de dados ou faltar em alguma das etapas do estudo (pré-teste, ação educativa, pós-teste). Assim, sete participantes foram excluídos da pesquisa; destes, seis devido à ausência em uma das etapas da coleta de dados e um por estar em licença maternidade.

Coleta de Dados

A coleta de dados ocorreu em três momentos: aplicação do pré-teste (diagnóstico da realidade), ação educativa (intervenção frente às demandas emergidas na etapa anterior) e pós-teste (avaliar aquisição de conhecimento). Todas as etapas foram realizadas durante os anos de 2018 e 2019, com o intervalo de uma semana entre uma etapa e outra. Todas as etapas ocorreram em salas de aula disponibilizadas pelas escolas, após agendamento de datas com os participantes da pesquisa.

O instrumento utilizado no pré e pós-teste foi adaptado do estudo de Cabral e Oliveira(¹⁰), considerando as taxas de morbimortalidade e os achados na literatura científica sobre os acidentes que ocorrem em escolas de educação infantil(²⁰–²¹), e foi composto por questões objetivas, dividido em dois blocos, sendo o primeiro referente à caracterização dos participantes e o segundo ao conhecimento sobre os primeiros socorros, incluindo: queimadura, corte, fratura, engasgo/asfixia, convulsão, intoxicação, traumatismo dentário, picada por animais peçonhentos, desmaio, parada cardiorrespiratória, choque elétrico, lesão causada por objeto perfurocortante, hemorragias, mordedura e números de contato do socorro especializado. Foi realizado, em 2018, um estudo piloto do instrumento com dois professores de educação infantil de um município vizinho, que não compunham a população do estudo. A partir dele, foram realizadas adequações na escrita de algumas questões para torná-las mais claras e com linguagem acessível.

A ação educativa foi realizada pautada na metodologia participativa(²²) e planejada a partir das demandas que surgiram após a realização do pré-teste; assim, deu-se maior enfoque aos temas referentes a parada cardiorrespiratória (PCR), engasgo ou asfixia e picada de animal peçonhento, que apresentaram menor percentual de acerto no pré-teste; no entanto, buscou-se abordar todos os temas apresentados no pré-teste para sanar possíveis dúvidas. Para tanto, foram utilizadas salas de aula disponibilizadas pelas escolas e materiais como uma apresentação com imagens e vídeos, utilização de um boneco do tamanho de um bebê e materiais como gazes e ataduras para simulação de primeiros socorros.

Análise e Tratamento dos Dados

Os dados foram organizados em planilhas no Excel e exportados para o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS Statistics), onde foram analisados por meio de técnicas de estatística. Foi realizado o teste de normalidade de Shapiro Wilk e, posteriormente, o teste de Wilcoxon, devido à assimetria dos dados. Para realizar a comparação entre os resultados do pré e do pós-teste foram elaborados conceitos conforme o número de acertos de cada participante, sendo eles: excelente ≥ a 14 acertos; bom, de 11 a 13 acertos; regular, de 8 a 10 acertos; e ruim, ≤ a 7 acertos. Fixou-se como meta que os participantes atingissem um mínimo de 70% de acertos em cada questão no pós-teste, por ser um percentual comumente utilizado.

Aspectos Éticos

A pesquisa seguiu as recomendações éticas do Conselho Nacional de Saúde, conforme a Resolução 466/2012(²³), e foi aprovada em 11 de setembro de 2018 no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria, com o número de registro 2.887.684. Todos os participantes que aceitaram participar do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

RESULTADOS

Participaram da pesquisa 45 dos 52 professores de quatros escolas de educação infantil de um município localizado no centro do estado do Rio Grande do Sul (RS). Os participantes são, em sua totalidade, do sexo feminino, e as idades variaram de 26 a 65 anos, com mediana de 38 anos e intervalo interquartil de 32,5 a 51,0 anos.

Quanto à formação, 100% possuíam graduação em pedagogia; destes, 88,9% possuíam graduação somente em pedagogia e os demais possuíam outros cursos. Em relação a pós-graduação, 60% possuem especialização, 13,3% especialização e mestrado, 8,9% mestrado, 2,2% possuem especialização, mestrado e doutorado, e o restante (15,6%) não possui pós-graduação.

Em relação ao tempo de formação, houve variação entre três meses a 32 anos, apresentando mediana de 11 anos e intervalo interquartil de 7,5 a 20,0 anos. Já o tempo de atuação nas escolas onde ocorreu o estudo variou entre três meses e 32 anos, tendo mediana de 3,5 anos e intervalo interquartil de 1,35 a nove anos. No que diz respeito à atuação profissional prévia, 26,7% dos participantes atuaram no ensino fundamental, 22,2% não atuaram em outro nível de ensino, 15,6% na educação infantil e no ensino fundamental e os demais em outros níveis de ensino (ensino superior, ensino técnico, ensino de jovens e adultos, e educação especial).

Quanto à disponibilidade de disciplina de primeiros socorros durante a graduação em pedagogia, 77,8% relataram não terem cursado e 22,2% frequentaram uma disciplina sobre o tema. Em relação às capacitações extracurriculares referentes a primeiros socorros, 68,9% não realizaram e 31,1% realizaram curso sobre a temática.

Sobre as vivências dos participantes em presenciar situações de primeiros socorros na escola, 71,1% afirmaram terem presenciado e 28,9% afirmaram que não tiveram contato com situações que exigissem essas ações. As mais comumente vivenciadas foram: ferimento do tipo corte ou esfoladura (46,66%), sangramento nasal (44,44%), mordedura – provocada por outra criança (40%), engasgo ou asfixia (24,44%), fratura (20%) e convulsão (20%). A partir disso, 100% dos participantes reconheceram a importância da realização de capacitações aos professores sobre a atuação em primeiros socorros.

Ao analisar os resultados do pré-teste foi possível verificar que as questões com maior número de acertos foram sobre o choque elétrico (100%) e intoxicação por produto químico (93,3%). As questões sobre parada cardiorrespiratória (PCR) (13,3%), engasgo ou asfixia (26,7%) e picada de animal peçonhento (40%) apresentaram menor percentual. No pós-teste, as questões com maior número de acertos foram sobre crise convulsiva (100%), desmaio (100%) e choque elétrico (100%), e as questões com menor número de acertos foram sobre PCR (51,1%), engasgo ou asfixia (57,8%) e fratura ou torção de membro (64,4%), conforme Tabela 1.

Table 1.
Percentual de acertos no pré e pós-teste dos professores de educação infantil – Santa Maria, RS, Brasil, 2018/2019.

Questão	Tema da questão	Pré-teste		Pós-teste
		Respostas corretas		Respostas corretas
		N	%	N	%
Q1	Queimadura	41	91,1	41	91,1
Q2	Ferimento tipo corte ou esfoladura	24	53,3	39	86,7
Q3	Fratura ou torção de membro	28	62,2	29	64,4
Q4	Engasgamento	12	26,7	26	57,8
Q5	Sangramento nasal	22	48,9	41	91,1
Q6	Crise convulsiva	37	82,2	45	100
Q7	Intoxicação por produto químico	42	93,3	44	97,8
Q8	Traumatismo dentário	37	82,2	41	91,1
Q9	Picada de animal peçonhento	18	40	40	88,9
Q10	Desmaio	35	77,8	45	100
Q11	Contato do socorro especializado	29	64,4	36	80
Q12	Lesão por objeto perfurocortante	39	86,7	43	95,6
Q13	Choque elétrico	45	100	45	100
Q14	Hemorragia	23	51,1	40	88,9
Q15	Parada cardiorrespiratória	6	13,3	23	51,1
Q16	Mordedura	38	84,4	42	93,3

• Fonte: dados da pesquisadora.

No que se refere aos conceitos, nota-se que no pré-teste cinco participantes apresentaram conceito excelente e 17 participantes conceito bom; no pós-teste, 29 participantes apresentaram conceito excelente e 16 conceito bom, conforme exposto na Tabela 2.

Tabela 2.
Distribuição dos professores de educação infantil, pré e pós-teste (Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil, 2018/2019).

Conceito	Pré-teste		Pós-teste
	N	%	N	%
Excelente	5	11,1	29	35,6
Bom	17	37,8	16	64,4
Regular	20	44,4	0	0
Ruim	3	6,7	0	0
Total	45	100,0	45	100,0

• Fonte: dados da pesquisadora.

A partir dos dados apresentados, percebe-se que houve aumento no número de acertos das questões, com destaque para as questões referentes a sangramento nasal (de 48,9 no pré-teste para 91,1% no pós-teste), hemorragias (de 51,1 no pré-teste para 88,9% no pós-teste), parada cardiorrespiratória (de 13,3 no pré-teste para 51,1% no pós-teste) e ferimento do tipo corte ou esfoladura (de 53,3% a 86,7%). Nota-se que houve melhora em relação aos conceitos, já que no pós-teste os conceitos bom e excelente apresentaram aumento percentual e os conceitos regular e ruim tiveram percentual zerado (Tabela 2).

Percebe-se também que a experiência prévia dos participantes que presenciaram situações de primeiros socorros na escola induziu-os a cometer erros no pré-teste, nas condutas a serem realizadas frente às situações de ferimento do tipo corte ou esfoladura, sangramento nasal, engasgo ou asfixia e fratura, já que não atingiram 70% de acerto, e a acertar nas condutas a serem realizadas frente a mordedura e convulsão, ultrapassando 70% de acerto. Destaca-se também o tema referente a choque elétrico, que não trouxe diferença nos resultados, pois tanto no pré como no pós-teste houve 100% de acertos, sendo que todos os participantes escolheram a alternativa que sugeria desligar a energia da casa quando uma criança está sendo eletrocutada devido a inserção de um grampo em uma tomada.

Em relação ao teste de Wilcoxon, realizado no software SPSS, houve aumento na pontuação do pré para o pós-teste em 5,17 pontos e a comparação das somas foi significativa com p = 0,045, Tabela 3.

Table 3.
Resultados do teste de Wilcoxon – Santa Maria, RS, Brasil, 2018/2019.

Teste estatístico	N	Z	p
Pós-teste – Pré-teste	45	5,17	0,045

• Fonte: dados da pesquisadora.

DISCUSSÃO

As ações educativas sobre primeiros socorros para professores da educação infantil convergem com o disposto no PSE, que visa à integração e articulação permanente da educação e da saúde por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde(⁷), e com o disposto na Lei nº 13.722, de quatro de outubro de 2018, uma vez que torna obrigatório o fornecimento de treinamentos anuais e/ou capacitações sobre noções básicas de primeiros socorros aos professores de educação infantil de estabelecimentos públicos e privados, de educação básica e de recreação infantil(¹⁵). No mesmo sentido, corrobora a Política Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violências que visa à ampliação de informações aos professores de educação infantil sobre as condutas adequadas em casos de primeiros socorros(⁶).

A partir dos resultados, em que houve a prevalência da participação de mulheres, salienta-se que a atuação profissional na pedagogia é majoritariamente feminina. Isso ocorre até os dias atuais, devido ao processo cultural da sociedade que reconhece as mulheres como educadoras natas pela associação ao seu papel de mãe(²⁴). O mesmo resultado é visualizado em outros estudos(¹³,¹⁷). Em relação à formação, somente 15,6% não possuem pós-graduação; essa característica faz parte do perfil de egressos do curso de pedagogia, pois a maioria dos profissionais dessa área possuem pós-graduação(²⁵).

No que se refere à atuação profissional prévia, 22,2% dos professores não atuaram em outros níveis de ensino. De acordo com a Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, os professores podem atuar em diferentes áreas do conhecimento, podendo abranger um campo específico e/ou interdisciplinar(²⁶). Essa resolução define as diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e não refere obrigatoriedade quanto a disciplinas de primeiros socorros na ementa do curso.

Em decorrência disso, evidencia-se que 77,8% dos professores não cursaram disciplinas sobre primeiros socorros na graduação. O mesmo é apresentado em outros estudos, nos quais 10 dos 31 professores afirmaram ter participado de disciplina sobre primeiros socorros na graduação, e seis de 10 professores declararam ter em sua formação instruções de atuação em primeiros socorros(¹⁰,¹⁷).

Da mesma maneira, a formação continuada é estimulada na Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, que define as diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial e continuada em nível superior, para cursos de licenciatura e pedagogia. Porém ela não refere obrigatoriedade em relação à realização de cursos extracurriculares sobre primeiros socorros(²⁶). Fato esse evidente nos resultados obtidos nesse estudo, já que somente 31,1% dos professores da educação infantil realizaram curso sobre a temática. O estudo também apresenta que há pouca procura por cursos complementares sobre primeiros socorros, já que sete dos 31 professores do estudo realizaram esse tipo de curso(¹⁰).

Em contrapartida, 71,1% dos professores afirmaram ter presenciado alguma situação que necessitasse de primeiros socorros e 100% reconheceram a importância da realização de capacitações com os professores sobre a atuação em primeiros socorros, ressaltando a relevância de esse público conhecer a maneira correta de prestar esse atendimento. Resultados semelhantes foram apresentados em outros estudos(¹⁰,¹⁷). É necessário que os professores compreendam que podem instituir condutas decisivas para salvar vidas até a chegada de socorro especializado, e que para tanto necessitam de preparo acerca do tema(¹³). Reconhecer situações de risco ou intervir corretamente na primeira assistência faz diferença na qualidade do socorro prestado e no trabalho da equipe de saúde(²⁷).

No que se refere à experiência prévia dos participantes que presenciaram situações de primeiros socorros na escola, nota-se que no pré-teste, em algumas situações, houve erro na conduta a ser adotada, como em ferimento do tipo corte ou esfoladura, sangramento nasal, engasgo ou asfixia e fratura, e em outras situações, como mordedura e convulsão, houve mais acertos na escolha da conduta adequada. Esse resultado difere do apresentado em estudo realizado com 110 professores de pré-escola, no qual se verificou que não há diferença significativa no escore relacionado a experiência prévia dos participantes em relação aos primeiros socorros(¹⁴). Difere também do resultado apresentado em estudo realizado com 194 professores de educação infantil da Etiópia, no qual foi constatado que a experiência com crianças que precisam de primeiros socorros apresentou associação positiva com a atitude em relação aos primeiros socorros(²⁸).

Os resultados desse estudo evidenciaram que as situações comumente vivenciadas foram semelhantes ao apresentado em outro estudo, no qual os casos mais relatados referiram-se ao sangramento nasal, ferimentos, fraturas e mordeduras(¹⁰). Quanto ao tema de choque elétrico, o resultado desse estudo difere do apresentado por outro autor que refere que de 200 professores, a maioria (85,2%) respondeu erroneamente à questão relativa aos primeiros socorros em uma criança atingida por eletricidade(²⁹).

Em relação aos resultados do pré-teste, há discordância com o exposto em estudo que apresenta maior percentagem de acertos nas questões sobre PCR, traumatismos, convulsão, afogamento e queimaduras, e menor taxa de acertos naquelas sobre hemorragia, desmaio, transporte de acidentados e imobilização. Embora os estudos apresentem alguns temas diferentes, nota-se que há discordância em relação ao número de acertos nas questões com temáticas semelhantes. Porém, em ambos houve aumento da percentagem de acertos do pré para o pós-teste, evidenciando que as atividades de educação em saúde proporcionaram aos participantes o pensar crítico reflexivo, considerando a realidade local, para construção de novos conhecimentos(⁹).

Nessa perspectiva, ao considerar o ambiente escolar, a necessidade de os professores de educação infantil realizarem treinamentos sobre primeiros socorros e a efetividade de ações de educação em saúde sobre o tema, ressalta-se a importância da realização do PSE acerca desse tema. Autores referem que o PSE é relevante, porém há a necessidade de contemplar a temática dos primeiros socorros na escola, com a capacitação dos professores(¹³).

O enfermeiro é responsável por realizar o diagnóstico situacional dos sujeitos e determinantes envolvidos, planejar a ação de educação em saúde, implementá-la e avaliá-la, já que possui visão holística e raciocínio crítico-reflexivo(¹³). Ele também tem o ensino como uma de suas competências e o utiliza como instrumento para gerar mudanças no perfil de saúde da população, por meio da promoção e prevenção de doenças e agravos, podendo assim contribuir no ensino de primeiros socorros em ambientes escolares(¹⁰). Considerando esses aspectos, a enfermagem pode contribuir significativamente na educação em saúde sobre primeiros socorros para professores de educação infantil. A realização desse estudo somente com professores que lecionam em EMEIs de um município específico apresenta-se como uma limitação. Outra limitação está relacionada com o fato de não terem sido incluídos nesse estudo professores de educação infantil de instituições privadas de ensino.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a realização de ações educativas sobre primeiros socorros aumenta o conhecimento de professores da educação infantil sobre o tema e que os enfermeiros possuem destaque na atuação como educadores em saúde, especialmente em programas como PSE, confirmando a hipótese um, que a ação educativa alterou o conhecimento de professores de educação infantil sobre primeiros socorros em ambiente escolar, e refutando a hipótese zero, na qual a ação educativa inalterava o conhecimento de professores de educação infantil sobre primeiros socorros em ambiente escolar. Destaca-se que ações educativas em primeiros socorros são uma forma de treinamento e/ou capacitação no tema, devendo ser realizadas anualmente conforme o disposto na Lei nº 13.722 de 2018.

No contexto de educação em saúde, a enfermagem se sobressai, já que possui visão holística e raciocínio crítico-reflexivo, sendo responsável pelo planejamento, implantação e avaliação das ações de educação em saúde a partir da realização de um diagnóstico situacional e dos sujeitos envolvidos no processo. Dessa forma, pode contribuir significativamente no ensino de primeiros socorros para professores da educação infantil, tornando esse processo singular, visto que são consideradas as peculiaridades advindas do diagnóstico realizado.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  30 Ago 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  02 Fev 2021
• Aceito
  06 Jul 2021