Acessibilidade / Reportar erro

Abordagem das Infecções Sexualmente Transmissíveis em um Currículo de Graduação em Enfermagem* * Extraído da tese: “Ensino das Infecções Sexualmente Transmissíveis no Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina 1977-2019”, Universidade Federal de Santa Catarina, 2020.

RESUMO

Objetivo:

Identificar a abordagem da temática relativa às infecções sexualmente transmissíveis do curso de graduação em enfermagem em uma universidade federal do sul do Brasil.

Método:

Pesquisa sócio-histórica com abordagem qualitativa, e uso de fontes orais e documentais. Participaram 13 docentes. A coleta de dados ocorreu entre dezembro de 2018 e abril de 2019. A análise dos dados foi temática.

Resultados:

Emergiram três categorias de análise: o ensino das infecções sexualmente transmissíveis pautados nas políticas públicas brasileiras; as infecções sexualmente transmissíveis e sua estratégia de ensino em um curso de graduação em enfermagem; e a trajetória da abordagem das infecções sexualmente transmissíveis em um curso de graduação em enfermagem. O curso de graduação é pautado nas políticas públicas de saúde e educação, e a disciplina “Infecções Sexualmente Transmissíveis” foi criada no curso ao final da década de 1970. O conteúdo não é obrigatório, sendo associado à área da saúde pública e evidenciado nos campos de prática e atividades educativas.

Conclusão:

O ensino das infecções sexualmente transmissíveis vem acompanhando as políticas públicas de saúde e educação. Ganha maior foco de ensinamento com o surgimento da aids.

DESCRITORES
Currículo; Educação em Enfermagem; Doenças Sexualmente Transmissíveis; Síndrome de Imunodeficiência Adquirida; História da Enfermagem; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To identify the approach to sexually transmitted infections in the undergraduate nursing course at a federal university in southern Brazil.

Method:

Socio-historical research with a qualitative approach, and use of oral and documentary sources. Thirteen professors participated. Data collection took place between December 2018 and April 2019. Data analysis was thematic.

Results:

Three categories of analysis emerged: the teaching of sexually transmitted infections based on Brazilian public policies; sexually transmitted infections and their teaching strategy in an undergraduate nursing course; and the trajectory of approach to sexually transmitted infections in an undergraduate nursing course. The undergraduate course is based on public health and education policies, and the subject “Sexually Transmitted Infections” was created in the course at the end of the 1970s. The content is not mandatory, being associated with the area of public health and evidenced in the fields of practice and educational activities.

Conclusion:

The teaching of sexually transmitted infections has been in line with public health and education policies. It gains a greater teaching focus with the emergence of AIDS.

DESCRIPTORS
Curriculum; Education, Nursing; Sexually Transmitted Diseases; Acquired Immunodeficiency Syndrome; History of Nursing; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Identificar el abordaje del tema relativo a las infecciones de transmisión sexual del curso de grado de enfermería en una universidad federal del sur de Brasil.

Método:

Investigación socio histórica con abordaje cualitativo y uso de fuentes orales y documentales. Participaron 13 docentes. La colección de datos ocurrió entre diciembre de 2018 y abril de 2019. El análisis de los datos fue temático.

Resultados:

Surgieron tres categorías de análisis: la enseñanza de las infecciones de transmisión sexual fundamentada en las políticas públicas brasileñas; las infecciones de transmisión sexual y su estrategia de enseñanza en un curso de grado de enfermería y la trayectoria del abordaje de las infecciones de transmisión sexual en un curso de grado de enfermería. El curso está fundamentado en las políticas públicas de salud y educación, y la asignatura “Infecciones de Transmisión Sexual” fue creada en el curso al final de la década de 70. El contenido no es obligatorio, está relacionado a la salud pública y tiene más evidencia en los sectores de práctica y actividades educativas.

Consideraciones Finales:

La enseñanza de las infecciones de transmisión sexual ha acompañado las políticas públicas de salud y educación. Gana más destaque como asignatura con el surgimiento del VIH/SIDA.

DESCRIPTORES
Curriculum; Educación en Enfermería; Enfermedades de Transmisión Sexual; Síndrome de Inmunodeficiencia Adquirida; Historia de la Enfermería; Enfermería

INTRODUÇÃO

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são disseminadas por meio de relações sexuais sem o uso de preservativo, por uma pessoa infectada, assim como por instrumentos perfurocortantes não esterilizados contaminados e por meio da gestação, por contato transversal da mãe para o filho. Muitos indivíduos não sabem que são portadores de IST, o que eleva essa temática a um problema de saúde pública mundial devido à fácil contaminação e aumento gradativo. IST são evidenciadas principalmente na população jovem(11. Brasil. Ministério da Saúde. O que são IST [Internet]. Brasília; 2020 [cited 2021 Apr 24]. Available from: http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist.
http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-ger...
). Estão entre as condições agudas mais comuns do mundo dado que há mais de 30 infecções que podem ser transmitidas sexualmente. Dados de 2012 de incidência global indicavam uma estimativa de 357,4 milhões de novos casos de IST curáveis no mundo, na faixa etária de 14 a 49 anos, a maioria deles em países em desenvolvimento(22. Newman L, Rowley J, Hoorn SV, Wijesooriya NS, Unemo M, Low N, et al. Global Estimates of the Prevalence and Incidence of Four Curable Sexually Transmitted Infections in 2012 Based on Systematic Review and Global Reporting. Plos One. 2015;10(12):1-17. DOI: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0143304.
http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0...
).

O antigo Departamento Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis, AIDS e Hepatites Virais, atualmente denominado Departamento de Doenças de Condições Crônicas e IST, bem como programas estaduais e municipais de IST/aids, procuram ampliar o acesso universal e gratuito aos preservativos e assim aumentar a prática do sexo seguro, estratégia destinada a reduzir as taxas de IST(33. Pinto VM, Basso CR, Barros CRS, Gutierrez EB. Factors associated with sexually transmitted infections: a population based survey in the city of São Paulo, Brazil. Ciênc Saúde Coletiva. 2018;23(7):2423-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018237.20602016.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182...
).

Dentre as IST, é importante colocar que, desde o advento da aids nos anos 1980, esta doença tem políticas próprias, sendo que para controle e prevenção dessa epidemia, autoridades governamentais e a sociedade civil brasileira mobilizam-se para a ampliação do conhecimento e utilização de novas tecnologias que buscam melhorar a qualidade de vida dos indivíduos soropositivos, investindo em medidas de prevenção e de atenção (44. Pereira BS, Costa COM, Amaral MTR, Silva CAL, Sampaio VS. Factors associated with HIV/AIDS infection among adolescents and young adults enrolled in a Counseling and Testing Center in the State of Bahia, Brazil. Ciênc Saúde Coletiva. 2014;19(3):747-58. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014193.16042013.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141...
).

A enfermagem enquanto profissão de saúde tem papel fundamental no que se refere à identificação das necessidades de cuidados da população. Na atenção em saúde existem fragilidades em torno da temática da sexualidade que estão associadas a fatores pessoais e contextuais. Os profissionais de saúde percebem que ainda é um tópico sensível e delicado pertencente à esfera privada (55. Ferreira SMA, Gozzo TO, Panobianco MS, Santos MA, Almeida AM. Barriers for the inclusion of sexuality in nursing care for women with gynecological and breast cancer: perspective of professionals. Rev Latinoam Enferm. 2015;23(1):82-9. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-1169.3602.2528.
https://doi.org/10.1590/0104-1169.3602.2...
).

O processo de ensino e aprendizado é mediado pelos professores e alunos, seja na educação básica ou no ensino superior(66. Fonseca GF, Soares MA, Magalhães RCBP. Conceptions about teaching and learning of degree students from de Federal University of Rio Grande do Norte: an exploratory study. Research, Society and Development [Internet]. 2016 [cited 2021 Apr 24];1(2):168-81. Available from: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/13.
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/art...
). Com relação à enfermagem, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, em sua formação, e na sua prática. Enfatiza que os profissionais em saúde devem ter o compromisso com a educação e treinamento das futuras gerações de profissionais, além de estimular e desenvolver a mobilidade acadêmico/profissional(77. Brasil. Ministério da Educação. Resolução n. 3, de 07 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [cited 2021 Apr 24]. Available from: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf.
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pd...
).

O enfermeiro, enquanto educador da área da saúde, precisa atualizar-se rotineiramente no seu campo de atuação, em especial na abordagem das IST na atenção primária de saúde, levando em consideração que uma assistência falha junto à comunidade pode contribuir negativamente para a cadeia de transmissão das doenças. Aprender a utilizar a abordagem sindrômica das IST durante o curso de graduação em enfermagem é essencial para a formação desse profissional e sua atuação na rede(88. Holanda VR, Pinheiro AKB, Holanda ER, Santos MCL. Teaching and learning in a virtual environment: nursing students’ attitude. REME Rev Min Enferm. 2015;19(1):141-7. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20150012.
http://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.2015...
).

Considerando a importância desta temática na área da enfermagem, o objeto deste estudo foi buscar a participação e as contribuições de docentes acerca do ensino das IST de um curso de graduação em enfermagem de uma universidade federal do sul do Brasil. Os docentes, no processo de ensino-aprendizagem, são responsáveis pela criação de espaços e oportunidades que possibilitem a formação de profissionais em suas capacidades técnicas, sobretudo comprometidos socialmente, o que se enquadra com um dos objetivos das instituições de ensino superior. Dessa maneira, faz parte da responsabilidade docente auxiliar no aprimoramento social, cultural e científico dos estudantes, o que demanda oportunizar interações que os levem a refletir sobre os contextos sociais, bem como desenvolver o senso crítico na resolução dos problemas(99. Werneck AL, Chainça E, Cesarino CB, Alexandre KCRS. Teaching in higher nursing education courses: training and pedagogical practices. Rev Baiana Enferm. 2018;32:1-10. DOI: http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v32.24975.
http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v32.24975...
).

Os cursos de graduação em enfermagem na realidade brasileira, por meio do Parecer n°163/72, apresentavam como tronco profissional comum a abrangência de algumas disciplinas, dentre elas a chamada “Enfermagem e Doenças Transmissíveis”. Essa disciplina tornou-se obrigatória no currículo mínimo do curso de enfermagem conforme Resolução n° 04/72 do Conselho Federal de Educação(1010. Brasil. Resolução n. 4, de 25 de fevereiro de 1972 [Internet]. Brasília; 1972 Available from: https://doi.org/10.1590/0034-716719730005000017.
https://doi.org/10.1590/0034-71671973000...
1111. Araújo MRN, Chompré RR. Study of nursing teaching in common diseases in Brazil. Rev Esc Enferm USP. 1984;18(2):101-12. DOI: https://doi.org/10.1590/0080-6234198401800200101.
https://doi.org/10.1590/0080-62341984018...
). Atualmente, algumas instituições de ensino superior de enfermagem ainda mantêm em seu currículo essa disciplina de forma específica; em outras, a temática é incluída de modo transversal. O enfoque educativo em relação às IST e especialmente ao HIV/Aids, nas instituições de ensino superior em enfermagem, pode levar não somente à prevenção do contágio entre os próprios estudantes, mas também servir na construção de um conhecimento para que os futuros enfermeiros estejam aptos a orientar a população a ter uma vida saudável(1212. Camillo SO, Maiorino FT, Chaves LC. Nursing teaching on hiv/aids in the perspective of citizenship. Rev Gaúch Enferm. 2013;34(3):117-23. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s1983-14472013000300015.
http://dx.doi.org/10.1590/s1983-14472013...
).

Os estudantes de enfermagem durante a graduação terão contato com os mais diversos problemas de saúde-doença, e esse conhecimento adquirido durante o processo formativo irá guiar as condutas de intervenção nas problemáticas mais incidentes. Dessa maneira, estar preparado desde a graduação a reconhecer os fatores de risco, métodos de prevenção e possíveis intervenções de enfermagem auxiliará no desenvolvimento da área de conhecimento das IST. O estudo tem como objetivo identificar como foi abordada a temática relativa às infecções sexualmente transmissíveis do Curso de graduação em enfermagem de uma universidade federal do sul do Brasil.

MÉTODO

Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo sócio-histórico de abordagem qualitativa, com uso de fontes orais e documentais. Os estudos sócio-históricos compreendem os participantes como históricos, definidos, identificados por uma cultura como criadores de ideias e consciência que, ao produzirem e reproduzirem a realidade social, são ao mesmo tempo produzidos e reproduzidos por ela(1313. Lewenson S, Herrman EK. Capturing Nursing History: a guide to historical methods in research. New York: Springer Publishing Company; 2008.). Como recorte histórico da pesquisa optou-se por iniciar o estudo no ano d 1977 quando foi inserida no currículo do curso a disciplina “Enfermagem e Doenças Transmissíveis”. O recorte final de 2019 foi selecionado para possibilitar uma análise da abordagem deste conteúdo ao longo do tempo.

População

Participaram 13 docentes de um curso de graduação em enfermagem de uma universidade federal do sul do Brasil que fazem parte da trajetória referente ao ensino das IST na instituição. Dos 13 docentes, 11 fizeram (ou fazem) parte do departamento de enfermagem e 2 fizeram (ou fazem) parte do departamento de saúde pública.

O curso em tela foi criado como Faculdade de Enfermagem em 1969 e era anexo à Faculdade de Medicina, situação alterada em 1970 diante da implementação da reforma universitária. Titulam-se enfermeiros advindos em sua maioria do próprio estado em questão, porém muitos provêm de toda a região sul do país. A região de abrangência do curso apresenta um dos maiores índices epidemiológicos de HIV/Aids do Brasil, o que torna mais importante ainda o ensino da temática das IST pelos cursos de graduação em enfermagem da região.

Desde a sua criação, o curso passou por 8 reformas curriculares propriamente registradas. Encontra-se ativo e credenciado no Ministério da Educação. É organizado desde a sua última reforma curricular (2011) em 10 semestres, ou fases. Para ser admitido, o estudante deve prestar o processo seletivo – vestibular. Quanto ao número de vagas, são oferecidas 75 vagas anuais, sendo 38 no primeiro semestre e 37 no segundo semestre, acrescidas a essas 6 vagas suplementares para afrodescendentes, quilombolas e índios. A carga horária é de 4.980 horas/aula, distribuídas em 35 disciplinas, sendo 1.264 horas/aula de estágio supervisionado, 120 horas/aula de atividades complementares, e 72 horas/aula em disciplinas optativas(1414. Alexandre KCRS, Werneck AL, Chainça E, Cesarino CB. Docência em cursos superiores de enfermagem: formação e práticas pedagógicas. Rev Baiana Enferm [Internet]. 2018 [cited 2021 Apr 24];32:e24975. Available from: https://enfermagem.ufsc.br/files/2018/11/Plano-Pedagógico-Enfermagem-2018.pdf.
https://enfermagem.ufsc.br/files/2018/11...
).

Critérios de Seleção

Fizeram parte do estudo docentes vinculados à instituição de ensino que de alguma maneira efetivaram a oferta do ensino da temática ou marcaram historicamente o curso por meio de sua expertise na temática do estudo. O número de participantes foi definido pela saturação de dados, ou seja, alcance do objetivo e compreensão do fenômeno estudado. Como critério de exclusão, palestrantes ou profissionais de saúde que não estiveram vinculados a instituição.

Coleta de Dados

As entrevistas ocorreram entre dezembro de 2018 e abril de 2019, com auxílio de um roteiro semiestruturado. Chegou-se aos participantes por meio da técnica de indicação de nomes denominada snowball. As entrevistas ocorreram conforme disponibilidade dos participantes, e em locais de sua escolha. Tiveram duração de aproximadamente 40 minutos, foram gravadas e transcritas na íntegra, e posteriormente validadas pelos participantes por meio de endereço eletrônico, a fim de que pudessem ser utilizadas na íntegra ou parcialmente.

As fontes documentais foram caracterizadas por “Catálogos Oficiais” produzidos pela instituição nos quais constavam os departamentos, quadro docente, quadro de disciplinas, ementas e carga horária - sendo o mais antigo encontrado no ano de 1971 e o mais recente no ano de 2002. Também fizeram parte o “Projeto Político Pedagógico” atual do curso e três planos de ensino de disciplinas obtidos por meio de arquivo pessoal de docentes. Esses foram utilizados neste estudo para propiciarem a crítica interna e externa aos depoimentos dos participantes(1515. Padilha MI, Bellaguarda MLR, Nelson S, Maia ARC, Costa R. The use of sources in historical research. Texto Contexto - Enferm. 2017;26(4):e2760017. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-07072017002760017.
https://doi.org/10.1590/0104-07072017002...
).

Análise e Tratamento dos Dados

A análise dos dados obtidos por meio das entrevistas fundamentou-se na proposta operativa de Minayo(1616. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14th ed. São Paulo: Hucitec; 2014.) que abrange dois momentos: o primeiro, relacionado às determinações fundamentais da pesquisa, mapeado na fase exploratória da investigação; o segundo, denominado interpretativo, é o ponto de partida e o ponto de chegada da investigação, representado pelo encontro com os fatos empíricos. O momento interpretativo é constituído pela ordenação e classificação dos dados, análise final e relatório. Para a elaboração das categorias, foram elaboradas unidades de registro que eram incorporadas conforme as respostas similares dos docentes. Posteriormente, criaram-se as categorias de análise. Este estudo contempla três categorias: o ensino das infecções sexualmente transmissíveis pautado nas políticas públicas brasileiras; as infecções sexualmente transmissíveis e sua estratégia de ensino em um curso de graduação em enfermagem; e a trajetória da abordagem das infecções sexualmente transmissíveis em um curso de graduação em enfermagem.

Aspectos Éticos

Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Eles foram identificados pela letra C, correspondente a “coordenadores” e P, para “Professores”, seguidas de número sequencial. Foram respeitados os aspectos éticos conforme recomendações da Resolução n. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, assim como a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética envolvendo Seres Humanos sob Parecer n° 3.027.667 de 2018.

RESULTADOS

As fontes orais encontram-se descritas no Quadro 1. Como fontes documentais foram utilizadas como apoio e comprovação das fontes orais, ou seja, para realizar a crítica interna das fontes (avaliar a autenticidade da informação). Os “Catálogos Oficiais” produzidos pela universidade permitiram verificar o quadro de docentes, disciplinas e ementas de cada época, e a aderência dos participantes à pesquisa. Utilizou-se o projeto político pedagógico atual do curso para visualização da temática no currículo atual e vigente. Planos de ensino de disciplinas disponibilizados pelos docentes entrevistados evidenciaram como o tema foi abordado, indo ao encontro de seus relatos.

Quadro 1.
Identificação das fontes orais – Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

O Ensino Das Infecções Sexualmente Transmissíveis Pautados Nas Políticas Públicas Brasileiras

Os docentes do curso apontaram que o ensino das IST para os estudantes de enfermagem sempre foi pautado pelas políticas públicas vigentes e que isso é uma potencialidade do curso. Também colocam o papel da enfermagem enquanto categoria da saúde como formuladora e influenciadora dessas políticas.

Eu via muito forte na atenção primária, porque já tínhamos políticas importantes no Brasil. Tinha um espaço então que era sexta fase que dava bastante destaque na saúde do adulto, mas ainda era focalizado em alguns professores. Havia preocupação que fosse trabalhado, por exemplo, na criança, com a transmissão vertical da aids e tudo mais no Brasil nos anos 2000. (C4)

As políticas públicas pautam o ensino, depois você tem a própria ciência, que aí vão ter modelos, então você pega o que é forte hoje em dia, é a sociedade de médicos de família, que possui protocolos, que muitos enfermeiros seguem. Depois você vai ter em livros, artigos da própria enfermagem, sobre IST e aids, então você tem um campo científico, político e ético que está articulado, mas tem que pensar, tem a OMS (Organização Mundial da Saúde), a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), o MS (Ministério da Saúde), ou a instituição formadora se apropria para induzir esse ensino. (C5)

Uma das grandes preocupações do curso, que é uma característica forte da graduação, essa ancoragem nas políticas públicas, como um elemento importante da formação do enfermeiro. Esse caráter político da formação do enfermeiro, que é trabalhar as políticas públicas. (C3)

O curso sempre teve essa preocupação, de não deixar de fora esses conteúdos, porque são superimportantes. O que se passa no desenvolvimento do plano de ensino é que se perde um pouco se você não está acompanhando o que está sendo feito. (C2)

Existe uma preocupação do curso em abordar o tema, e, de certa forma, uma aproximação com a atenção básica onde ocorre a associação e implementação das políticas públicas. Quando traduzidas para o ensino propriamente dito, as políticas da educação e as políticas de saúde vão fundamentar o ensino de enfermagem.

As Infecções Sexualmente Transmissíveis e Sua Estratégia de Ensino em um Curso de Graduação em Enfermagem

Quando indagados sobre a temática e sobre a sua posição dentro do currículo de enfermagem, apontam que o tema é algo periférico, que existem ainda entraves referentes ao ensino. Esses obstáculos estão associados aos comportamentos morais e que acabam influenciando no ensino e na aproximação do tema à relação aluno-professor.

Nas propostas curriculares; ele nunca aparece como tema transversal. É um tema pontual vinculado a algumas disciplinas, sempre foi assim. Ele sempre tem sido tratado em determinadas disciplinas, num contexto bem específico que é o de atenção à saúde pública, na perspectiva de prevenção. (C3)

Era incluído na quarta fase na atenção primária da saúde que tratava da saúde da mulher. As doenças sexualmente transmissíveis nunca foram o foco prioritário, mas estava nas disciplinas até algum momento. Quando eu estava atuando ela teve um foco de importância como os outros temas, e com o advento da aids, ela ainda teve uma importância maior. (C2)

Os docentes demonstraram em suas falas que na década de 1980 existia uma disciplina específica para tratar do tema e que, posteriormente, esta ganha força e é disseminada entre as diversas fases do curso. Nesta década, mais especificamente a partir da epidemia da aids, é evidenciada a importância de abordagem no currículo de enfermagem. Nota-se que o tema é considerado como assunto específico da saúde pública, sendo responsabilidade do departamento de saúde pública.

Nos anos 1980 a gente tinha disciplinas separadas e até hoje tem a famosa “doenças transmissíveis” separada. Eu acho que a tendência eram conteúdos transversais que deviam ser retomados em cada fase. (C4)

Eu tenho muita clareza que este é um assunto da saúde pública, que a enfermagem incorporava, mas não era responsabilidade do departamento da enfermagem. Posso estar enganada que a questão das IST era vista como um assunto da saúde pública (…) a questão das então chamadas DST (…) lá tinha vacinação, imunização, pré-natal, ginecologia, uma placa enorme escrita DST. (P1)

A gente discutia quando fazia as reformas, da importância de ter esse conteúdo no curso (…) levava os alunos para o Departamento de Saúde Pública, para ver como era o programa de tuberculose, já tinha um programa específico para essa área, então a gente ficava lá, fazia um mini estágio, porque a carga horária era pequenininha, mas ao menos elas sabiam o que estava sendo feito (…). Na disciplina de doenças transmissíveis, aí depois ela foi absorvida pela enfermagem de clínica médica. (C1)

Nas décadas de 1970 e 1980, a temática era especificamente associada ao departamento de saúde pública. Esses docentes possuíam participação ativa no ensino da graduação em enfermagem acerca das IST. Muitas atividades propostas pelo Departamento de Saúde Pública foram as precursoras da disseminação da temática entre os estudantes de enfermagem daquela época.

No currículo atual do curso desta instituição, que corresponde ao ano de 2011, o ensino é apresentado em uma disciplina que nasceu da necessidade de abordar a sexualidade humana, estando vinculada à saúde da mulher. Coloca-se a preocupação em se tratar o tema como algo transversal, que pode ser compreendido como responsabilidade do outro e, por fim, ninguém executa essa aproximação com o tema de maneira efetiva no ensino.

A disciplina de sexualidade nasceu com dois créditos sobre a resposta de saúde sexual humana na área de saúde da mulher. Depois foi crescendo e ficou como um tema transversal. Não tenho lembrança cronológica de quando deixou de ser um assunto isolado. (P1)

A gente só trabalha quando vamos fazer atividade educativa que tem a ver com doenças sexualmente transmissíveis. Uma ou outra disciplina tem o conteúdo de doenças sexualmente transmissíveis, o que é gonorreia, sífilis, HIV. Temos que avançar muito ainda. (P5)

O tema não possui, atualmente, espaço único para discussão. Epidemiologicamente, é apontado que, na região onde a universidade está inserida, há aumento dos índices de sífilis e que parece haver certa banalização acerca do tema. Os docentes colocam que os estudantes participam da reflexão sobre os temas, por meio das atividades teórico-práticas realizadas nos diversos locais e instituições de saúde nos quais o curso atua. Isto é uma constante no curso de graduação, visto que também é papel do futuro profissional de enfermagem atuar na prevenção das IST.

Parece que está regredindo em muitos aspectos, mesmo a gente sabe que a aids tem crescido entre jovens (…) há uma certa banalização, porque a aids tem tratamento. Florianópolis é um município que já tem descentralização do cuidado das pessoas com HIV na atenção básica, isso é muito recente, é uma proposta do ministério de 2015. A gente faz estágio nesses locais, teoricamente a gente deveria estar abordando essas questões porque o enfermeiro que faz todo o aconselhamento, orientação com relação ao uso do antirretroviral, todas essas ações são do enfermeiro (…). No momento tem aumento de sífilis no nosso estado. É um dos estados que estava com elevado índice de sífilis neonatal. (P3)

Atualmente, a atenção às IST e aids está inserida nos diversos locais de saúde, onde os estudantes atuam durante todo o processo de ensino na graduação. Sendo assim, os professores colocam a necessidade de abordar, no currículo, os conteúdos considerados prioritários para a formação do enfermeiro.

Trajetória da Abordagem Das Infecções Sexualmente Transmissíveis em um Curso de Graduação em Enfermagem

A temática no curso de graduação, na visão dos docentes, vem sendo tratada de forma prescritiva, atuando muito nos métodos prescritivos e pouco pensando nas ações educativas que poderiam auxiliar no rebaixamento dos índices. Percebe-se que o tema na década de 1970 era pouco valorizado no departamento de enfermagem, sendo vinculado apenas ao departamento de saúde pública, voltado para as imunizações e orientações de forma geral, percorrendo tópicos como a hepatite e sífilis. No currículo correspondente ao ano de 2004, é apontado que o tema das IST e aids acabou sendo integrado à área da saúde da mulher e saiu do foco hospitalar, sendo disseminado para a atenção primária.

O ensino da sífilis e das doenças venéreas em geral, era na área de saúde pública totalmente separada da área hospitalar. A gente ia fazer atividade prática no Nereu Ramos. A gente estudava hepatite, tuberculose, mas as IST era muito pouco, era mais quando a gente ia para o departamento de saúde pública. Era mais as questões das vacinas, de tratamento, de orientação, mas nada assim que a gente entrasse em contato. (C2)

Ao discutir o que é atenção primária, a IST pode ser abordada na criança e no adolescente, na mulher, no adulto, na atenção primária (…). Por exemplo, HIV/Aids já era um tema que vinha sendo discutido, mas naquele enfoque do paciente internado com HIV/Aids, depois se ampliou. A proposta de 2004 teve a tônica de dar visibilidade à transversalidade e mudar totalmente o papel e a importância da atenção primária no currículo. (C4)

Ocorre uma trajetória curricular onde o tema das IST era abordado na lógica de sífilis e gonorreia, passando a ser introduzido o ensino do HIV na instituição no final da década de 1980, muito associado ao departamento de saúde pública e seus professores. Com relação ao ensino nas disciplinas do curso de graduação em enfermagem, colocou-se que depende da sensibilização e aproximação de algum docente acerca do tema.

No campo da saúde mental o usuário de drogas, que vem com mais força, que tem os CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas), vai ser discutido, em redução de danos, é implicitamente às IST, e pessoas transexuais vai estar em algumas disciplinas. O ensino teórico é dado, com certeza já nas disciplinas do básico, a própria farmacologia vai pensar medicamentos, ou mecanismos de ação, farmacocinética. (C5)

Ele surge na questão da amamentação porque os alunos lidam com o aleitamento, então ele surge mais como informação. Leite transmite HIV, previnam-se, façam manejo de mama com luva para a proteção de vocês, não permitam e orientem amamentação cruzada. (P1)

Eles instituíram o dia internacional da aids, então a gente sempre utilizava… porque a disciplina tinha 3 partes, da mulher, da criança e da comunidade (…) A gente fez a atividade educativa com os alunos da segunda fase, em concordância com o posto, fui até o setor de educação da secretaria de Saúde do Estado, em janeiro, captar material, folders, camisinha (…). Nós montamos uma tenda branca na frente, e lá estavam distribuindo camisinha entre outras coisas. (P6)

A inserção do tema no curso de graduação possui uma trajetória muito associada ao departamento de saúde pública e suas ações educativas, como também atividades educativas voltadas para a atenção básica do município onde a universidade está inserida. Cada docente engajado em propagar informações sobre o tema possui um método, como ações fixas em dias já estabelecidos com a unidade básica, e processos de enfermagem com pessoas que tenham diagnóstico de HIV. O tema também aparece muito associado ao contexto da sexualidade, sendo em ações voltadas aos adolescentes em escolas, ou na disciplina curricular do curso chamada “Corpo, Gênero e Sexualidade”.

DISCUSSÃO

Historicamente, os cursos de graduação em enfermagem foram construídos entrelaçados às políticas públicas de educação e da saúde. É evidenciada, por meio desse estudo, a temática IST entrelaçada nos seus primórdios à saúde pública em seus ensinamentos, e em suas ações de promoção à saúde. Nas décadas de 1970 e 1980 o tema está envolto na obrigatoriedade da disciplina “Enfermagem e Doenças Transmissíveis”. Sob a visão da disciplina daquela época, autoras colocam que a importância e a necessidade da ação educativa da enfermeira no atendimento do paciente com doenças contagiosas levam a disciplina “Enfermagem em Doenças Transmissíveis” a incluir como um dos objetivos centrais do programa capacitar o aluno a orientar pacientes, familiares e grupos da comunidade sobre doenças transmissíveis e seus meios de profilaxia(1717. Rocha MT, Secaf V, Kamiyana Y. Ensino de enfermagem em doenças transmissíveis - experiência de integração. Rev Bras Enferm. 1978;31(1):55-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-716719780001000008.
http://dx.doi.org/10.1590/0034-716719780...
).

A disciplina denominada de “Enfermagem e Doenças Transmissíveis” foi inserida no currículo da instituição a partir de 1977, indo até 1981, com dois créditos, sendo a ementa composta por (a) características de um hospital para atendimento de pacientes portadores de doenças transmissíveis; (b) integração hospital-unidade sanitária para profilaxia e tratamento das doenças transmissíveis; (c) identificação dos problemas de enfermagem dos pacientes portadores de doenças transmissíveis; (d) assistência de enfermagem hospitalar, ambulatorial e em domicilio”(1818. Universidade Federal de Santa Catarina. Catálogo Geral. Florianópolis: UFSC; 1977.).

Nesse processo de ensino-aprendizagem na enfermagem, como também em outros cursos da área da saúde, vem sendo percebido que a educação com enfoque biomédico não está sendo suficiente. Neste estudo, evidencia-se que o tópico das IST era pouco abordado na graduação em enfermagem, estando associado a ações específicas do departamento de saúde pública mais relacionadas às imunizações e informações gerais sobre sífilis, gonorreia e hepatite.

Estudo sobre a abordagem do ensino da disciplina “Enfermagem e Doenças Transmissíveis” coloca como estrutura básica da disciplina temáticas como calendários de vacinação, vigilância em saúde aplicada ao controle das IST, hepatites virais, HIV/AIDS, sífilis, entre outros. Também apresenta como objetivo da disciplina interpretar a ocorrência e o enfrentamento das doenças transmissíveis, e desenvolver práticas de enfermagem voltadas à vigilância em saúde(1919. Pereira EG, Ciaccio SA, Nichiata LYI, Sakata-So KN, Ribeiro JHM, Silva CLC, et al. Estratégia Teórico-Prática no Ensino de Enfermagem em Doenças Transmissíveis com o Foco na Vigilância em Saúde. Rev Grad USP. 2018;3(1):119-22. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2525-376X.v3i1p119-122.
https://doi.org/10.11606/issn.2525-376X....
).

Durante as décadas de 1970 e 1980, as ações dessa disciplina estavam muito associadas ao departamento de saúde pública e suas ações no ensino do curso de graduação em enfermagem. Os docentes da época contribuíam com o tema de maneira a apresentar ao aluno as mais recorrentes doenças transmissíveis, e a promover atividades na sede do departamento de saúde pública.

Com a epidemia da aids, a partir dos anos 1980, nota-se que ocorreu uma transição de saberes, onde o foco passa a ser a epidemia e seu desenvolvimento, visto que na época era pouco conhecida, e coberta de estigmas e preconceitos. A epidemia do HIV/Aids teve em sua caracterização três fases distintas. Na área da saúde, ao lidar com as questões relativas ao HIV/Aids, a evolução da epidemia, mudança do perfil das pessoas atingidas e variáveis econômicas trouxeram inquietações e exigiram redefinições (a primeira fase conhecida como “grupo de risco” associada especificamente a homens homossexuais com alto nível de escolaridade infectados pelo HIV). Posteriormente, conhecida com o conceito de “comportamentos de risco” devido aos altos índices de contaminação entre os usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo. Finalmente, a terceira e atual é compreendida como vulnerabilidade, indicando a complexidade envolta no acometimento da doença para a totalidade da população, sendo associada à concepção de bem-estar social adotada pelo Estado(2020. Carmo ME, Guizardi FL. The concept of vulnerability and its meanings for public policies in health and social welfare. Cad Saúde Pública. 2018;34(3):e00101417. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00101417.
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00101...
2222. Silva AFC, Cueto M. HIV/AIDS, its stigma and history. Hist Cienc Saude-Manguinhos. 2018;25(2):311-4. DOI: https://doi.org/10.1590/s0104-59702018000200001.
https://doi.org/10.1590/s0104-5970201800...
).

A resposta do Brasil à epidemia da aids está associada ao contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo havido, desde seu início, um grande movimento pela humanização na prestação da assistência e prevenção, diante da apropriação dos avanços tecnológicos e da extensão do tratamento a todas as pessoas com HIV(2323. Agostini R, Rocha F, Melo E, Maksud I. The Brazilian response to the HIV/AIDS epidemic amidst the crisis. Ciênc Saúde Coletiva. 2019;24(12):4599-604. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182412.25542019.
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182...
). É percebida, durante a implementação do SUS ao longo dos anos, maior vinculação de práticas em saúde voltadas para a promoção e não apenas a prevenção das doenças. A educação em saúde e a formação em saúde e enfermagem trazem a necessidade da produção do conhecimento objetivo e claro acerca das IST, de riscos e probabilidades, assim como estratégias para o desenvolvimento de habilidades no futuro profissional para compreender riscos e vulnerabilidades(2121. Castellanos MEP, Baptista TWF, Ayres JR. Interview with José Ricardo Ayres. Saude Soc 2018;27(1):51-60. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018000002.
http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018...
).

Faz-se importante colocar a preocupação com a formação do enfermeiro no contexto do SUS, exigindo dos Ministérios da Saúde e da Educação estratégias que articulem e aprimorem o processo de formação de modo que os estudantes possam atuar nas diversas realidades sociais e sanitárias do Brasil. Dessa maneira, é essencial que as instituições de ensino aprimorem a formação para o manejo adequado das IST, além de atentarem às particularidades dos grupos sociais vulneráveis sob os quais pesquisas evidenciam o crescimento e impacto dessa problemática. É a responsabilização social no âmbito da saúde e da organização de políticas públicas de saúde e educacionais que viabiliza o ensino e o direito à saúde de forma equânime. É importante apontar que embora os participantes deste estudo apresentem os possíveis campos de contato com a temática, pouco associam ou representam em suas falas o SUS no manejo das IST.

Associar as políticas públicas de educação e de saúde reflete em metodologias de ensino no fazer direto do cuidado e na observação direta nos campos de prática, onde as políticas públicas são instituídas e desenvolvidas. Ao pensarmos em educação e saúde, é necessário compreender a importância da universidade em suas atividades de extensão junto à comunidade e à sociedade, proporcionando a construção de práticas e ações interdisciplinares a fim de responder às situações de vulnerabilidade(2424. Junges KS, Behrens MA. Prática docente no Ensino Superior: a formação pedagógica como mobilizadora de mudança. Perspectiva. 2016;33(1):285-317. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-795x.2014v33n1p285.
http://dx.doi.org/10.5007/2175-795x.2014...
). O papel dos docentes dos cursos de graduação em enfermagem no processo de ensino-aprendizagem precisa apresentar algumas características importantes, tais como o posicionamento ético em defesa da vida, promoção da cidadania, respeito dos saberes, emancipação da pessoa humana, busca de ações dignas e igualitárias, entre outros aspectos(1212. Camillo SO, Maiorino FT, Chaves LC. Nursing teaching on hiv/aids in the perspective of citizenship. Rev Gaúch Enferm. 2013;34(3):117-23. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s1983-14472013000300015.
http://dx.doi.org/10.1590/s1983-14472013...
).

Após a década de 1980, o tema das IST é implementado de acordo com a escolha de um professor e seu interesse em teorizar o tema nas aulas ou nos diversos cenários de atividades teórico-práticas, não estando necessariamente incluído no plano de ensino como algo programático em uma disciplina específica, aparecendo durante o curso de maneira situacional, supondo que nem todos os estudantes terão as mesmas experiências.

Os docentes “são importantes para a formação dos sujeitos, principalmente se estão sensibilizados e motivados a contribuírem para a educação em IST de maneira crítica e reflexiva, o que implica também em sensibilizar e educar os graduandos em enfermagem sobre valores no cuidado humanizado aos indivíduos”(1212. Camillo SO, Maiorino FT, Chaves LC. Nursing teaching on hiv/aids in the perspective of citizenship. Rev Gaúch Enferm. 2013;34(3):117-23. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s1983-14472013000300015.
http://dx.doi.org/10.1590/s1983-14472013...
).

O estudo coloca que é um desafio das instituições de ensino superior formar profissionais de saúde com perfil humanista e qualificados para atuar na integralidade da atenção à saúde, características que são imprescindíveis aos serviços do SUS, ponderando igualmente as Diretrizes Curriculares Nacionais(2525. Pimentel EC, Vasconcelos MVL, Rodarte RS, Pedrosa CMS, Pimentel FSC. Teaching and Learning in Supervised Internship: Integrated Internship in Health. Rev Bras Educ Med. 2015;39(3):352-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v39n3e01262014.
http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v...
). A docência universitária exige do professor conhecimentos específicos de sua área de formação, e que ele atue com base em fundamentos pedagógicos do processo de ensino-aprendizagem. A docência é considerada uma atividade que demanda preparo e dedicação, e precisa disponibilizar ferramentas capazes de motivar o aprendizado do aluno(2424. Junges KS, Behrens MA. Prática docente no Ensino Superior: a formação pedagógica como mobilizadora de mudança. Perspectiva. 2016;33(1):285-317. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-795x.2014v33n1p285.
http://dx.doi.org/10.5007/2175-795x.2014...
).

Os estudantes aparecem como representantes importantes de ações educativas que estão vinculadas ao processo de formação e a realidade local das unidades básicas de saúde. Essas atividades mostram-se como ferramentas importantes para aproximação ao tema IST e para o manejo delas. Sendo assim, professores medeiam a relação entre o estudante e os profissionais das unidades de saúde a fim de levantar problemas epidemiológicos importantes que precisam de intervenção. Entre os tópicos de importância aparecem temas associados com as IST, com conteúdo específico sobre HIV e sexualidade.

Estudo acerca dos conhecimentos disseminados pelos estudantes de graduação em enfermagem sobre as IST aponta como principal cenário a atenção básica em saúde. Também coloca que as ações de promoção em saúde vão se intensificando e sendo mais abrangentes conforme o estudante avança nas fases do curso de graduação(2626. Petry S, Padilha MI, Maia AR, Gapski G. Nursing academic production on the topics of HIV and aids: a historical-social study. Rev Enferm UFSM. 2019;9:1-17. DOI: http://dx.doi.org/10.5902/2179769235114.
http://dx.doi.org/10.5902/2179769235114...
).

Numa perspectiva internacional, estudo realizado no Canadá relata que a prática de enfermagem com foco nas IST vem evoluindo através dos anos, abrangendo diferentes perspectivas de cuidados, especialmente por estar relacionada com um problema que envolve vários fatores - representações, práticas e comportamentos relativos à sexualidade. Na área de assistência à saúde, os cuidados de enfermagem podem envolver educação em saúde, avaliação abrangente e completa, aconselhamento, imunizações, testes, tratamento, busca ativa de parceiros e apoio ao usuário para tomada de decisões(2727. Bungay V, Masaro CL, Gilbert M. Examining the scope of public health nursing practice in sexually transmitted infection prevention and management: what do nurses do? J Clin Nurs. 2014;23(21-22):3274-85. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/jocn.12578.
http://dx.doi.org/10.1111/jocn.12578...
). Existe uma escassez da literatura acerca das experiências e atitudes de estudantes e docentes de enfermagem ao cuidar da pessoa com HIV, bem como atividades alternativas de ensino para que seja abordado, por exemplo, o estigma do HIV. Muito embora tenham se passado mais de 30 anos do primeiro diagnóstico do HIV/aids, ainda há atitudes negativas no mundo associadas às pessoas com HIV. Sabe-se que elas estão expostas a discriminação, estigma, atitudes e comportamentos negativos por parte dos profissionais de saúde, nos ambientes de saúde(2828. Atav AS, Sendir M, Darling R, Acaroglu R. Turkish and American undergraduate students’ attitudes toward HIV/AIDS patients: a comparative study. Nurs Forum. 2015;50(2):116-24. DOI: https://doi.org/10.1111/nuf.12059.
https://doi.org/10.1111/nuf.12059...
2929. Nair M, Kumar P, Pandey S, Harshana A, Kazmi S, Moreto-Planas L, et al. Refused and referred-persistent stigma and discrimination against people living with HIV/AIDS in Bihar: a qualitative study from India. BMJ Open. 2019;9:e033790. DOI: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2019-033790.
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2019-033...
).

Estudo realizado na Turquia aponta que é necessário que sejam iniciadas intervenções voltadas para a melhoria do conhecimento e atitude dos estudantes de enfermagem em relação ao HIV/aids desde a graduação, a fim de prevenir atitudes negativas, estigma e comportamentos discriminatórios nos ambientes de saúde. Essa conduta irá trazer resultados significativos tanto para os estudantes quanto para as pessoas com HIV(3030. Babaoğlu ÜT, Demir G, Biçer S. Assessment of the knowledge level of students of department of nursing about HIV/AIDS and attitudes toward it. Bozok Med J [Internet]. 2018 [cited 2021 Apr 24];8(1):18-24. Available from: https://dergipark.org.tr/en/download/article-file/444885.
https://dergipark.org.tr/en/download/art...
). Outro estudo realizado em Israel demonstra que currículos das escolas médicas se concentram nas questões patológicas da infecção pelo HIV e seus efeitos no hospedeiro. Os autores colocam ainda que não há programas específicos dedicados a abordar as questões de estigma em relação a essas populações específicas de pacientes(3131. Baytner-Zamir R, Lorber M, Hermoni D. Assessment of the knowledge and attitudes regarding HIV/AIDS among pre-clinical medical students in Israel. BMC Research Notes [Internet]. 2014 [cited 2021 Apr 24];7:168. Available from: https://link.springer.com/content/pdf/10.1186/1756-0500-7-168.pdf.
https://link.springer.com/content/pdf/10...
).

O ensino das IST, em geral, no curso de graduação pesquisado, é apresentado como algo relacionado às situações encontradas nos cenários de saúde onde os estudantes estão inseridos, em algumas aulas pontuais que estão relacionadas a professores de referência no tema e sua sensibilização em propagar informações acerca da temática, como também em aulas das disciplinas do ensino básico da enfermagem, desvinculadas das disciplinas ofertadas pelo departamento de enfermagem da instituição. O compromisso com esse conteúdo aparece associado com experiências profissionais práticas de alguns professores, assim como o tema parece muito próximo de algumas clientelas e locais, como a atenção primária nas unidades básicas de saúde, escolas, ou até mesmo assistência direta ao paciente com HIV.

CONCLUSÃO

As abordagens do curso com relação à temática foram desenvolvidas historicamente de acordo com o quadro epidemiológico mundial e a realidade sanitária da região sul do Brasil, estando vinculadas diretamente aos docentes do departamento de saúde pública nas décadas de 1970 e 1980. O foco da abordagem tinha o enfoque preventivo, por meio de visitas e ações educativas voltadas para a promoção, prevenção e orientações de algumas IST específicas como sífilis e hepatite, muito associadas ao movimento de Reforma Sanitária e fortalecimento da saúde pública brasileira. Gradativamente, fica evidente a potencialidade do ensino das IST pelos docentes enfermeiros, especialmente a partir do advento da aids, a própria implementação do SUS e a evolução das políticas públicas voltadas para essa problemática de saúde, demonstrando a necessidade de apropriação dos profissionais da saúde. Com o passar dos anos, esse conteúdo foi aos poucos sendo assumido pelos docentes do departamento de enfermagem, oferecendo ao estudante oportunidades de ensino situacionais e específicas nos campos de atividade teórico-prática voltadas para a educação e promoção da saúde na comunidade em geral.

Uma questão crítica identificada e que deve ser um alerta aos educadores é que o tema ainda é associado a professores referência ou professores que se sensibilizam com o tema a ponto de colocá-lo em seus programas de aula ou atividade teórico-prático. O conteúdo é oferecido nas disciplinas do ensino básico ou de forma transversal em disciplinas do curso de graduação em enfermagem. Esta situação se configura como uma grande fragilidade nos cursos de graduação e que ela pode ser minimizada a partir de avaliações curriculares regulares programadas, de modo a avaliar os conteúdos obrigatórios e necessários para a formação dos estudantes de graduação.

A realização desta pesquisa em uma região do Brasil com grandes índices epidemiológicos de IST, aliada à necessidade de o profissional saber intervir sobre a realidade sanitária de onde atua, evidencia que o conhecimento sobre o tema se apresenta como importante ferramenta na prevenção das IST.

REFERENCES

  • 1.
    Brasil. Ministério da Saúde. O que são IST [Internet]. Brasília; 2020 [cited 2021 Apr 24]. Available from: http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist
    » http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-sao-ist
  • 2.
    Newman L, Rowley J, Hoorn SV, Wijesooriya NS, Unemo M, Low N, et al. Global Estimates of the Prevalence and Incidence of Four Curable Sexually Transmitted Infections in 2012 Based on Systematic Review and Global Reporting. Plos One. 2015;10(12):1-17. DOI: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0143304
    » http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0143304
  • 3.
    Pinto VM, Basso CR, Barros CRS, Gutierrez EB. Factors associated with sexually transmitted infections: a population based survey in the city of São Paulo, Brazil. Ciênc Saúde Coletiva. 2018;23(7):2423-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018237.20602016
    » http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018237.20602016
  • 4.
    Pereira BS, Costa COM, Amaral MTR, Silva CAL, Sampaio VS. Factors associated with HIV/AIDS infection among adolescents and young adults enrolled in a Counseling and Testing Center in the State of Bahia, Brazil. Ciênc Saúde Coletiva. 2014;19(3):747-58. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014193.16042013
    » http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014193.16042013
  • 5.
    Ferreira SMA, Gozzo TO, Panobianco MS, Santos MA, Almeida AM. Barriers for the inclusion of sexuality in nursing care for women with gynecological and breast cancer: perspective of professionals. Rev Latinoam Enferm. 2015;23(1):82-9. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-1169.3602.2528
    » https://doi.org/10.1590/0104-1169.3602.2528
  • 6.
    Fonseca GF, Soares MA, Magalhães RCBP. Conceptions about teaching and learning of degree students from de Federal University of Rio Grande do Norte: an exploratory study. Research, Society and Development [Internet]. 2016 [cited 2021 Apr 24];1(2):168-81. Available from: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/13
    » https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/13
  • 7.
    Brasil. Ministério da Educação. Resolução n. 3, de 07 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [cited 2021 Apr 24]. Available from: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
    » http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
  • 8.
    Holanda VR, Pinheiro AKB, Holanda ER, Santos MCL. Teaching and learning in a virtual environment: nursing students’ attitude. REME Rev Min Enferm. 2015;19(1):141-7. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20150012
    » http://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20150012
  • 9.
    Werneck AL, Chainça E, Cesarino CB, Alexandre KCRS. Teaching in higher nursing education courses: training and pedagogical practices. Rev Baiana Enferm. 2018;32:1-10. DOI: http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v32.24975
    » http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v32.24975
  • 10.
    Brasil. Resolução n. 4, de 25 de fevereiro de 1972 [Internet]. Brasília; 1972 Available from: https://doi.org/10.1590/0034-716719730005000017
    » https://doi.org/10.1590/0034-716719730005000017
  • 11.
    Araújo MRN, Chompré RR. Study of nursing teaching in common diseases in Brazil. Rev Esc Enferm USP. 1984;18(2):101-12. DOI: https://doi.org/10.1590/0080-6234198401800200101
    » https://doi.org/10.1590/0080-6234198401800200101
  • 12.
    Camillo SO, Maiorino FT, Chaves LC. Nursing teaching on hiv/aids in the perspective of citizenship. Rev Gaúch Enferm. 2013;34(3):117-23. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s1983-14472013000300015
    » http://dx.doi.org/10.1590/s1983-14472013000300015
  • 13.
    Lewenson S, Herrman EK. Capturing Nursing History: a guide to historical methods in research. New York: Springer Publishing Company; 2008.
  • 14.
    Alexandre KCRS, Werneck AL, Chainça E, Cesarino CB. Docência em cursos superiores de enfermagem: formação e práticas pedagógicas. Rev Baiana Enferm [Internet]. 2018 [cited 2021 Apr 24];32:e24975. Available from: https://enfermagem.ufsc.br/files/2018/11/Plano-Pedagógico-Enfermagem-2018.pdf
    » https://enfermagem.ufsc.br/files/2018/11/Plano-Pedagógico-Enfermagem-2018.pdf
  • 15.
    Padilha MI, Bellaguarda MLR, Nelson S, Maia ARC, Costa R. The use of sources in historical research. Texto Contexto - Enferm. 2017;26(4):e2760017. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-07072017002760017
    » https://doi.org/10.1590/0104-07072017002760017
  • 16.
    Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14th ed. São Paulo: Hucitec; 2014.
  • 17.
    Rocha MT, Secaf V, Kamiyana Y. Ensino de enfermagem em doenças transmissíveis - experiência de integração. Rev Bras Enferm. 1978;31(1):55-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-716719780001000008
    » http://dx.doi.org/10.1590/0034-716719780001000008
  • 18.
    Universidade Federal de Santa Catarina. Catálogo Geral. Florianópolis: UFSC; 1977.
  • 19.
    Pereira EG, Ciaccio SA, Nichiata LYI, Sakata-So KN, Ribeiro JHM, Silva CLC, et al. Estratégia Teórico-Prática no Ensino de Enfermagem em Doenças Transmissíveis com o Foco na Vigilância em Saúde. Rev Grad USP. 2018;3(1):119-22. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2525-376X.v3i1p119-122
    » https://doi.org/10.11606/issn.2525-376X.v3i1p119-122
  • 20.
    Carmo ME, Guizardi FL. The concept of vulnerability and its meanings for public policies in health and social welfare. Cad Saúde Pública. 2018;34(3):e00101417. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00101417
    » http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00101417
  • 21.
    Castellanos MEP, Baptista TWF, Ayres JR. Interview with José Ricardo Ayres. Saude Soc 2018;27(1):51-60. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018000002
    » http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018000002
  • 22.
    Silva AFC, Cueto M. HIV/AIDS, its stigma and history. Hist Cienc Saude-Manguinhos. 2018;25(2):311-4. DOI: https://doi.org/10.1590/s0104-59702018000200001
    » https://doi.org/10.1590/s0104-59702018000200001
  • 23.
    Agostini R, Rocha F, Melo E, Maksud I. The Brazilian response to the HIV/AIDS epidemic amidst the crisis. Ciênc Saúde Coletiva. 2019;24(12):4599-604. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182412.25542019
    » http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182412.25542019
  • 24.
    Junges KS, Behrens MA. Prática docente no Ensino Superior: a formação pedagógica como mobilizadora de mudança. Perspectiva. 2016;33(1):285-317. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-795x.2014v33n1p285
    » http://dx.doi.org/10.5007/2175-795x.2014v33n1p285
  • 25.
    Pimentel EC, Vasconcelos MVL, Rodarte RS, Pedrosa CMS, Pimentel FSC. Teaching and Learning in Supervised Internship: Integrated Internship in Health. Rev Bras Educ Med. 2015;39(3):352-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v39n3e01262014
    » http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v39n3e01262014
  • 26.
    Petry S, Padilha MI, Maia AR, Gapski G. Nursing academic production on the topics of HIV and aids: a historical-social study. Rev Enferm UFSM. 2019;9:1-17. DOI: http://dx.doi.org/10.5902/2179769235114
    » http://dx.doi.org/10.5902/2179769235114
  • 27.
    Bungay V, Masaro CL, Gilbert M. Examining the scope of public health nursing practice in sexually transmitted infection prevention and management: what do nurses do? J Clin Nurs. 2014;23(21-22):3274-85. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/jocn.12578
    » http://dx.doi.org/10.1111/jocn.12578
  • 28.
    Atav AS, Sendir M, Darling R, Acaroglu R. Turkish and American undergraduate students’ attitudes toward HIV/AIDS patients: a comparative study. Nurs Forum. 2015;50(2):116-24. DOI: https://doi.org/10.1111/nuf.12059
    » https://doi.org/10.1111/nuf.12059
  • 29.
    Nair M, Kumar P, Pandey S, Harshana A, Kazmi S, Moreto-Planas L, et al. Refused and referred-persistent stigma and discrimination against people living with HIV/AIDS in Bihar: a qualitative study from India. BMJ Open. 2019;9:e033790. DOI: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2019-033790
    » https://doi.org/10.1136/bmjopen-2019-033790
  • 30.
    Babaoğlu ÜT, Demir G, Biçer S. Assessment of the knowledge level of students of department of nursing about HIV/AIDS and attitudes toward it. Bozok Med J [Internet]. 2018 [cited 2021 Apr 24];8(1):18-24. Available from: https://dergipark.org.tr/en/download/article-file/444885
    » https://dergipark.org.tr/en/download/article-file/444885
  • 31.
    Baytner-Zamir R, Lorber M, Hermoni D. Assessment of the knowledge and attitudes regarding HIV/AIDS among pre-clinical medical students in Israel. BMC Research Notes [Internet]. 2014 [cited 2021 Apr 24];7:168. Available from: https://link.springer.com/content/pdf/10.1186/1756-0500-7-168.pdf
    » https://link.springer.com/content/pdf/10.1186/1756-0500-7-168.pdf
  • Apoio financeiro Ao apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para o desenvolvimento deste estudo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    21 Jan 2021
  • Aceito
    17 Maio 2021
Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: reeusp@usp.br