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Tratamentos terapêuticos convencionais no controle do ectoparasita Ichthyophtirius multifiliis em jundiá (Rhamdia quelen)

Conventional therapeutic treatments on the control of the parasite Ichthyophtirius multifiliis in Rhamdia quelen

Resumos

O objetivo deste trabalho foi testar a eficiência de tratamentos convencionais no controle da infestação do ictio no jundiá (Rhamdia quelen). Vinte alevinos (3-6 cm) foram estocados em 28 aquários (10 L) durante 192 horas e submetidos aos seguintes tratamentos: controle, formalina comercial (0,2 mL L-1), permanganato de potássio (1,3 mg L-1), sulfato de cobre (0,63 mg L-1), sal comum (10 g L-1), verde de malaquita (0,05 mg L-1) e elevação da temperatura para 32°C. O sulfato de cobre, o sal e a elevação da temperatura reduziram o número de parasitas ao final do experimento, podendo ser utilizados como substitutos do verde de malaquita no controle do ictio no jundiá.

ictio; banho terapêutico; temperatura


The objective of this work was to test the efficiency of conventional treatments to control ich infection in "jundiá" (Rhamdia quelen) fingerlings. Twenty fish (3-6 cm) were placed in 28 aquaria (10 L) for 192 hours, and submitted to the following treatments: control, formalin (0.2 mL L-1), potassium permanganate (1.3 mg L-1), copper sulfate (0.63 mg L-1), common salt (10 g L-1), malachite green (0.05 mg L-1) and temperature elevation (32°C). Copper sulfate, common salt and the elevation of temperature reduced the number of parasites in "jundiá". These treatments can substitute malachite green to control ich in this species.

ich; therapeutic bath; temperature


NOTAS CIENTÍFICAS

Tratamentos terapêuticos convencionais no controle do ectoparasita Ichthyophtirius multifiliis em jundiá (Rhamdia quelen)

Conventional therapeutic treatments on the control of the parasite Ichthyophtirius multifiliis in Rhamdia quelen

Paulo César Falanghe Carneiro; Marianne Schorer; Jorge Daniel Mikos

Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), BR 376, Km 14, Caixa Postal 129, CEP 83010-950 São José dos Pinhais, PR. E-mail: paulo.carneiro@pucpr.br, marianne_schorer@uol.com.br, jdmo2@pop.com.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi testar a eficiência de tratamentos convencionais no controle da infestação do ictio no jundiá (Rhamdia quelen). Vinte alevinos (3-6 cm) foram estocados em 28 aquários (10 L) durante 192 horas e submetidos aos seguintes tratamentos: controle, formalina comercial (0,2 mL L-1), permanganato de potássio (1,3 mg L-1), sulfato de cobre (0,63 mg L-1), sal comum (10 g L-1), verde de malaquita (0,05 mg L-1) e elevação da temperatura para 32°C. O sulfato de cobre, o sal e a elevação da temperatura reduziram o número de parasitas ao final do experimento, podendo ser utilizados como substitutos do verde de malaquita no controle do ictio no jundiá.

Termos para indexação: ictio, banho terapêutico, temperatura.

ABSTRACT

The objective of this work was to test the efficiency of conventional treatments to control ich infection in "jundiá" (Rhamdia quelen) fingerlings. Twenty fish (3-6 cm) were placed in 28 aquaria (10 L) for 192 hours, and submitted to the following treatments: control, formalin (0.2 mL L-1), potassium permanganate (1.3 mg L-1), copper sulfate (0.63 mg L-1), common salt (10 g L-1), malachite green (0.05 mg L-1) and temperature elevation (32°C). Copper sulfate, common salt and the elevation of temperature reduced the number of parasites in "jundiá". These treatments can substitute malachite green to control ich in this species.

Index terms: ich, therapeutic bath, temperature.

O Ichthyophtirius multifiliis, ou ictio, como é conhecido popularmente, é um protozoário do filo dos Ciliophora que se instala principalmente nas brânquias e corpo do peixe, provocando lesões e alimentando-se de suco tissular, secreções, fragmentos de células epidérmicas e sangue (Eiras, 1994; Pavanelli et al., 1998). Ao ser atacado, o peixe tem a tendência de esfregar-se nas laterais do viveiro, provocando ferimentos que, por sua vez, contribuem para o aparecimento de infecções secundárias (Pavanelli et al., 1998), elevando as chances de ocorrência de altas taxas de mortalidade.

O jundiá, Rhamdia quelen, é um peixe de rápido crescimento e que pode facilmente se desenvolver em cativeiro. No Sul do Brasil, sua criação vem aumentando devido à sua adaptação às condições climáticas, apresentando boa aceitação pelo mercado consumidor, tanto no segmento da pesca esportiva quanto para a alimentação (Carneiro et al., 2002). Entre os desafios do estabelecimento de um pacote tecnológico para a criação desta espécie em cativeiro, está o desenvolvimento de técnicas de controle do ictio, principalmente durante as primeiras semanas de vida do jundiá.

Tentativas de controle do ictio no jundiá são baseadas em trabalhos realizados com o bagre americano, Ictalurus punctatus. Dentre os tratamentos mais comuns utilizados para o controle da maioria dos parasitas externos em várias espécies de peixes estão o sal comum, o sulfato de cobre, o permanganato de potássio, o verde de malaquita e a formalina, além da elevação da temperatura da água para 32°C (Singhal et al., 1986; Pavanelli et al., 1998; Schlenk et al., 1998; Kubitza, 1999).

O objetivo desse trabalho foi avaliar a eficiência dos tratamentos convencionais no controle da infestação do ictio em jundiá.

Foram utilizados 28 aquários com capacidade para 10 L e suprimento individual de oxigênio feito por pedras porosas ligadas a um compressor. Foram realizadas quatro repetições de cada tratamento, sendo que cada aquário recebeu 20 alevinos de jundiá com comprimento entre 2 e 6 cm. A contaminação dos alevinos foi feita quando eles ainda estavam alojados em um tanque de 2 m3 pela introdução de alguns peixes portadores do ictio. A distribuição dos alevinos nos aquários e o início do experimento ocorreram ao se observar a maior parte dos peixes com 3–5 parasitas.

Os tratamentos empregados foram: controle – T1; formalina comercial (0,2 mL L-1) – T2; permanganato de potássio (1,3 mg L-1) – T3; sulfato de cobre (0,63 mg L-1) – T4; sal comum (10 g L-1) – T5; verde de malaquita (0,05 mg L-1) – T6; e elevação da temperatura para 32°C – T7. A concentração do sulfato de cobre foi proporcional ao valor da alcalinidade total da água no início do ensaio, respeitando a equação AT/100 (AT = alcalinidade total; mg L-1). Os aquários do tratamento com elevação de temperatura foram equipados com aquecedores individuais de 30 watts e termostato, possibilitando o aumento gradual da temperatura de 24ºC para 32ºC no período de uma hora, e mantendo nessa temperatura por 72 horas. Os demais tratamentos consistiram de três banhos terapêuticos com duração de uma hora e intervalos de 48 horas.

Anteriormente ao segundo e terceiro banho terapêutico, foram realizadas coletas de dois peixes de cada aquário para nova contagem do número de parasitas por meio de observação em estereomicroscópio ótico. A última contagem, utilizando-se todos os peixes remanescentes em cada aquário, foi realizada ao final do período experimental (192 horas). A taxa de mortalidade cumulativa foi calculada por meio da retirada e contagem diária dos peixes mortos de cada aquário. Durante o período experimental, o oxigênio dissolvido, a temperatura e o pH foram monitorados diariamente, mantendo-se dentro da faixa adequada para a maioria das espécies de peixes tropicais, 6,0±0,63 mg L-1, 23,7±3,9ºC e 8,0±0,26, respectivamente.

Os experimentos foram realizados segundo um delineamento inteiramente casualisado e os resultados avaliados mediante análise de variância pelo programa Sigmastat. Quando detectada diferença estatística (P<0,05), as médias foram comparadas pelo teste de Tukey.

Foram registradas altas taxas de mortalidade entre os peixes submetidos à formalina comercial (Figura 1). A concentração utilizada foi de 0,2 mL L-1, conforme recomenda por Kubitza (1999) para a maioria das espécies, porém, as altas taxas de mortalidade logo após o primeiro banho indicaram elevada sensibilidade do jundiá a esta substância. Os peixes do controle, bem como os tratados com permanganato de potássio na concentração 1,3 mL L-1, apresentaram altas taxas de mortalidade 144 horas após o início do experimento; a mortalidade aumentou gradativamente e foi acompanhada do aumento do número de parasitas, indicando pouca eficiência deste produto na concentração utilizada.


Os demais tratamentos apresentaram menores taxas de mortalidade, sendo que o verde de malaquita e a elevação da temperatura conseguiram manter mais baixos os números de parasitas nos peixes, durante todo o período experimental (Figura 1 e Tabelas 1 e 2). O efeito do sulfato de cobre e do sal comum foi um pouco mais lento, porém estas substâncias também evitaram a ocorrência de altas taxas de mortalidade e conseguiram diminuir o número de parasitas após os três banhos terapêuticos.

O uso do verde de malaquita corroborou resultados apresentados por autores que atestam sua eficiência no controle do ictio em diversas espécies de peixes. Luchini (1988) também relatou a eficiência do verde de malaquita, na concentração 0,1 mg L-1, no controle do ictio em jundiá, porém o uso deste produto em peixes destinados ao consumo humano é proibido (Poe & Wilson, 1983). Apesar de Bergwerff et al. (2004) não terem detectado resíduos de verde de malaquita em enguias Anguilla anguilla dez meses após expostas a 0,1 mg L-1 do produto por 24 horas, há outras implicações que reforçam a não-utilização do verde de malaquita, como a segurança do manipulador do produto e os possíveis problemas ambientais. Como substituto para o verde de malaquita, os resultados deste trabalho apresentam tratamentos alternativos como a elevação da temperatura para 32ºC, o sulfato de cobre e o sal comum.

A elevação da temperatura para 32ºC afeta diretamente a reprodução do ictio, dificultando sua proliferação (Kubitza, 1999). A tolerância do alevino do jundiá a esta temperatura possibilita o uso deste tratamento no controle do ictio em condições laboratoriais, porém implica alguns inconvenientes, devido à impossibilidade de seu uso em situações de rotina pela maioria dos produtores, decorrente da necessidade de aquisição de aquecedores e termostatos, além dos gastos com energia elétrica.

O uso do sulfato de cobre mostrou-se eficiente no controle do ictio sob as condições analisadas, com a vantagem de ser um produto permitido pelo FDA (Food and Drug Administration - USA) para o tratamento de peixes destinados à mesa nos Estados Unidos (Kubitza, 1999). Por sua vez, o sulfato de cobre deve ser utilizado com cautela, em razão de seu efeito nocivo aos peixes em águas com valores muito baixos de alcalinidade total (Pavanelli et al., 1998; Schlenk et al., 1998).

O uso do sal comum, apesar de não atingir a mesma eficiência do verde de malaquita ao final do período experimental, apresentou-se como boa alternativa para o controle do ictio. Selosse & Rowland (1990) também observaram o efeito positivo do sal comum (5 g L-1) no controle do ictio em várias espécies de peixes tropicais. Marchioro (1997) afirmou que o jundiá pode suportar altas concentrações de sal comum por longo período (9,0 g L-1 por 96 horas), permitindo seu uso em banhos terapêuticos sem maiores problemas. Como vantagens para este tratamento encontram-se a facilidade de aquisição do produto e a ausência de restrições de uso em peixes destinados ao consumo humano (Pavanelli et al., 1998).

Apesar das alternativas apresentadas neste trabalho mostrarem vantagens do ponto de vista técnico, persiste o aspecto econômico que inviabiliza o uso do sal comum em viveiros de criação (Tabela 2), ou mesmo a questão de aplicabilidade, que impossibilita o aquecimento da água em condições de campo. Por outro lado, estas duas alternativas devem ser sempre consideradas quando forem utilizados ambientes menores e mais controlados como tanques e caixas d'água. O emprego do sulfato de cobre também oferece contribuições importantes para os piscicultores. No entanto, mesmo apresentando custos reduzidos, estará sempre associado ao potencial tóxico que representa quando aplicado sem critérios.

O verde de malaquita é um produto relativamente barato e comprovadamente eficiente no controle do ictio em várias espécies de peixe. A falta de informação científica sobre tratamentos alternativos no controle deste parasita tem conduzido muitos piscicultores ao uso indiscriminado do verde de malaquita, mesmo cientes da sua periculosidade e sua restrição para peixes destinados ao consumo humano.

A comparação do efeito desta substância com outros tratamentos mostra que existem substitutos para o verde de malaquita no controle do ictio em alevinos de jundiá, como a elevação da temperatura a 32ºC e os banhos com sal comum ou sulfato de cobre. Porém, ainda existem algumas ressalvas que dificultam a aplicação destes tratamentos alternativos em condições de campo e explicam a resistência dos produtores em deixar de utilizar o verde de malaquita.

Agradecimentos

Ao CNPQ, por apoiar financeiramente este estudo pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica - PIBIC.

Recebido em 19 de março de 2004 e aprovado em 27 de setembro de 2004

  • BERGWERFF, A.A.; KUIPER, R.V.; SCHERPENISSE, P. Persistence of residues of malachite green in juvenile eels (Anguilla anguilla). Aquaculture, v.233, p.55-63, 2004.
  • CARNEIRO, P.C.F.; BENDHACK, F.; MIKOS, J.D.; SCHORER, M.; OLIVEIRA FILHO, P.R.C. Jundiá, um grande peixe para a Região Sul. Panorama da Aqüicultura, v.12, p.41-46, 2002.
  • EIRAS, J.C. Elementos de ictioparasitologia 1.ed. Porto: Fundação António de Almeida, 1994. 339p.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Mar 2005
  • Data do Fascículo
    Jan 2005

Histórico

  • Aceito
    27 Set 2004
  • Recebido
    19 Mar 2004
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