Relação proteinúria e idosos: mais uma importante agulha no palheiro

A partir da definição da doença renal crônica (DRC) proposta pelo Kidney Disease Outcomes Quality Initiative (KDOQI)¹, e posteriormente referenciada pelo Kidney Disease Improve Global Outcomes (KDIGO)², baseada em alteração funcional (taxa de filtração glomerular < 60 mL/min/1,73 m²), morfológica (p. ex., albuminúria) e cronicidade (alterações morfofuncionais presentes ≥ 3 meses), ficou evidente a importância da doença como um importante problema de saúde pública associado com altas taxas de morbimortalidade³. A DRC é uma doença de caráter progressivo com potencial de envolver todas as idades, mas é particularmente prevalente em indivíduos idosos. O envelhecimento constitui um fator de risco para várias comorbidades, e no rim se associa com diminuição da filtração glomerular e alteração parenquimatosa renal decorrente do processo de senescência celular e o efeito cumulativo de medicamentos nefrotóxicos eventualmente utilizados pelos pacientes⁴. Assim, rastrear e identificar a DRC em indivíduos idosos é particularmente importante para otimizar os cuidados de saúde nesta importante parcela da população.

No estudo “Campanha de prevenção de doença renal crônica: relação entre proteinúria e idosos”, Nunes et al.⁵ verificaram a relação entre a presença de proteinúria como marcador de lesão renal em idosos sem histórico de hipertensão arterial sistêmica e doenças cardiovasculares. Existem poucos estudos na literatura médica com esse objetivo específico⁶–⁸, porém, idosos já estão entre aqueles elencados como grupo de risco para DRC, sendo, portanto, indicado o rastreio da DRC nesse extrato da população1. Este fato não torna o estudo menos importante, mas diminui sua originalidade. Contudo, a relevância do estudo de Nunes et al.⁵ é reforçada por publicação recente que destaca que a não avaliação da albuminúria é uma oportunidade perdida de oferecer melhores cuidados para a saúde renal aos adultos americanos9.

Outro dado a ser observado é que, diferentemente ao recomendado pelo KDIGO 2012², no estudo de Nunes et al.⁵ o diagnóstico de DRC foi baseado em somente uma avaliação morfofuncional renal. Esse procedimento é um problema metodológico encontrado frequentemente em estudos de rastreio, com consequências pouco discutidas na literatura. Com relação aos resultados, a maioria está dentro do esperado, com a proteinúria associada ao maior nível de pressão arterial e glicemia. Chama a atenção a idade ter sido fator associado a proteinúria independente de comorbidades, porém os autores referem, na discussão, que, ao ajustar o modelo para diabetes mellitus, o fator idade desaparece como risco para proteinúria. A discussão sobre proteinúria e progressão da doença renal assim como marcador de lesão endotelial se faz presente no estudo e está em acordo com a literatura pertinente. Concluindo, o estudo de Nunes et al.⁵ confirma a necessidade de avaliar proteinúria em idosos como forma de identificação precoce da doença renal e, assim, é possível conseguir maior sobrevida, melhor qualidade de vida e custos econômicos mais baixos em uma parcela importante da nossa população.

REFERENCES

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  24 Mar 2023
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2023

Histórico

• Recebido
  12 Jan 2023
• Aceito
  16 Jan 2023