RESUMO
OBJETIVO:
Este estudo teve como objetivo avaliar a correlação entre o escore PRWE com outras medidas já amplamente usadas.
MÉTODOS:
Estudo transversal prospectivo, de centro único; 68 pacientes consecutivos foram submetidos a tratamento cirúrgico para fratura da extremidade distal do rádio (fixação interna com placa volar bloqueada ou fixação externa transarticular). Foram avaliados, de forma independente, por meio da Patient-Rated Wrist Evaluation (PRWE), do Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand (DASH), da escala visual analógica (EVA), da amplitude de movimento, da força e dos critérios radiográficos, no seguimento de um ano. Usaram-se o teste de Mann-Whitney para comparação de variáveis contínuas e a correlação de Spearman para os desfechos de interesse.
RESULTADOS:
PRWE correlacionou-se significativamente com DASH (p < 0,001) e EVA (p < 0,001). Não houve correlação significativa com as demais medidas de desfecho.
CONCLUSÃO:
PRWE apresenta correlação significativa moderada apenas com DASH e EVA. As medidas de amplitude de movimento, força e os critérios radiográficos não se correlacionam com PRWE.
Palavras-chave:
Fraturas do rádio; Avaliação de resultados; Punho
ABSTRACT
OBJECTIVE:
The study aimed to evaluate the correlation between the PRWE score with other measurements that are already widely used.
METHODS:
This was a prospective, cross-sectional, single-center study. Sixty-eight consecutive patients underwent surgical treatment for distal radius fractures (internal fixation by locked volar plate or transarticular external fixation). They were evaluated independently by PRWE, DASH, VAS range of motion, strength, and radiographic criteria, in one year of follow up. The Mann-Whitney test was used to compare continuous variables and the Spearman correlation to correlate the outcomes of interest.
RESULTS:
PRWE correlated significantly with DASH (p < 0.001) and VAS (p < 0.001). There were no significant correlations with other outcome measures.
CONCLUSION:
PRWE presents significant moderate correlation only with DASH and VAS. Range of motion, strength, and radiographic criteria do not interfere in the PRWE outcome.
Keywords:
Radius fractures; Outcome assessment; Wrist
Introdução
As fraturas da extremidade distal do rádio estão entre as mais frequentes nos adultos11 Court- Brown CM, Caesar B. Epidemiology of adult fractures: a review. Injury. 2006;37(8):691-7. e há várias modalidades de tratamento.22 Belloti JC, Tamaoki MJ, Atallah AN, Albertoni WM, dos Santos JB, Faloppa F. Treatment of reducible unstable fractures of the distal radius in adults: a randomised controlled trial of De Palma percutaneous pinning versus bridging external fixation. BMC Musculoskelet Disord. 2010;11(1):1-10.,33 Payandeh JB, McKee MD. External fixation of distal radius fractures. Orthop Clin N Am. 2007;38(2):187-92.,44 Fernandez DL. Closed manipulation and casting of distal radius fractures. Hand Clin. 2005;21(3):307-16.,55 Kapoor H, Agarwal A, Dhaon BK. Displaced intra-articular fractures of distal radius: a comparative evaluation of results following closed reduction, external fixation and open reduction with internal fixation. Injury. 2000;31(2):75-9. No entanto, não há consenso sobre o tratamento e tampouco quais medidas de desfecho são as mais adequadas para pesquisa e prática clínica.66 Handoll HH, Elliott J. Rehabilitation for distal radial fractures in adults. Cochrane Database Syst Rev. 2015;9:CD003324. Para avaliar a eficácia de qualquer tratamento, é essencial que tenhamos ferramentas adequadas para medir os resultados, pois com isso garantem-se a reprodutibilidade dos resultados e sua validade externa (generalização dos resultados).77 Changulani M, Okonkwo U, Keswani T, Kalairajah Y. Outcome evaluation measures for wrist and hand: which one to choose? Int Orthop. 2008;32(1):1-6.
Inicialmente, os desfechos do tratamento dessas fraturas eram alicerçados em aspectos objetivos, tais como amplitude de movimento, força de preensão e medidas radiográficas,88 Schuind FA, Mouraux D, Robert C, Brassinne E, Rémy P, Salvia P, et al. Functional and outcome evaluation of the hand and wrist. Hand Clin. 2003;19(3):361-9. porém essas avaliações não levam em consideração o desempenho nas atividades do dia a dia e, de forma mais ampla, a avaliação subjetiva do paciente e suas expectativas após o tratamento.99 Goldhahn J, Angst F, Simmen BR. What counts: outcome assessment after distal radius fractures in aged patients. J Orthop Trauma. 2008;22 8 Suppl:S126-30. Nesse interim, há esforço na mensuração de desfechos centrados no sujeito da intervenção, uma mudança de paradigma: do Surgeon-centered care para o Patient-centered care. 1010 Moraes VY, Ferrari PM, Gracitelli GC, Faloppa F, Belloti JC. Outcomes in orthopedics and traumatology: translating research into practice. Acta Ortop Bras. 2014;22(6):330-3.
Nesse panorama, nos últimos anos tem-se dado maior ênfase às medidas autorreportadas de sintomas e função após a lesão, que avaliam a incapacidade percebida pelo próprio paciente e levam em conta aspectos da vida do paciente que podem ser afetados em consequência da doença e do seu tratamento.66 Handoll HH, Elliott J. Rehabilitation for distal radial fractures in adults. Cochrane Database Syst Rev. 2015;9:CD003324.,88 Schuind FA, Mouraux D, Robert C, Brassinne E, Rémy P, Salvia P, et al. Functional and outcome evaluation of the hand and wrist. Hand Clin. 2003;19(3):361-9. O Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand (DASH) 1111 Hudak PL, Amadio PC, Bombardier C. Development of an upper extremity outcome measure: the DASH (disabilities of the arm, shoulder and hand) [corrected]. The Upper Extremity Collaborative Group (UECG). Am J Ind Med. 1996;29(6): 602-8. e a Patient-Rated Wrist Evaluation (PRWE) 1212 MacDermid JC, Turgeon T, Richards RS, Beadle M, Roth JH. Patient rating of wrist pain and disability: a reliable and valid measurement tool. J Orthop Trauma. 1998;12(8):577-86. são questionários estruturados bastante usados em pacientes com doenças do punho. O DASH foi validado há mais tempo para a língua portuguesa (Brasil)1313 Orfale AG, Araujo PMP, Ferraz MB. Translation into Brazilian Portuguese, cultural adaptation, and evaluation of the reliability of the Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand Questionnaire. Braz J Med Biol Res. 2005;38(2):293-302. e é o mais usado nos estudos que abordam doenças do punho.1414 Dacombe PJ, Amirfeyz R, Davis T. Patient- reported outcome measures for hand and wrist trauma: is there sufficient evidence of reliability, validity, and responsiveness? Hand. 2016;11(1):11-21. O PRWE foi traduzido recentemente para a língua portuguesa1515 Rodrigues EKS, Fonseca MCR, MacDermid JC. Brazilian version of the Patient Rated Wrist Evaluation (PRWE-BR): cross- cultural adaptation, internal consistency, test-retest reliability, and construct validity. J Hand Ther. 2015;28(1):69-76. e tem-se mostrado ferramenta de crescente importância, principalmente nas fraturas da extremidade distal do rádio.77 Changulani M, Okonkwo U, Keswani T, Kalairajah Y. Outcome evaluation measures for wrist and hand: which one to choose? Int Orthop. 2008;32(1):1-6.
Há carência de estudos que avaliam as propriedades do PRWE em pesquisa clínica. Nesse cenário, parece razoável compará-lo com ferramentas comumente usadas em estudos que envolvam fraturas da extremidade distal do rádio, como forma de verificar suas capacidades psicométricas, o que ratificaria seu uso disseminado.
O objetivo deste estudo é avaliar a correlação entre o escore PRWE e outros instrumentos de medida de desfecho, objetivos e subjetivos, para o tratamento cirúrgico de fraturas da extremidade distal do rádio, após um ano de seguimento pós-operatório.
Material e métodos
Pesquisa aprovada pelo comitê de ética de nossa instituição, por inscrição através da Plataforma Brasil, pelo CAAE: 30904214.0.0000.5505. Os métodos de disseminação dos resultados deste estudo seguiram as diretrizes da iniciativa Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (Strobe). 1616 Malta M, Cardoso LO, Bastos FI, Magnanini MMF, Silva CMF. Iniciativa Strobe: subsídios para a comunicação de estudos observacionais. Rev Saúde Pública. 2010;44(3):559-65.
Estudo transversal com amostra proveniente de um estudo prospectivo (ensaio clínico randomizado),1717 Raduan Neto J. Tratamento das fraturas redutíveis e instáveis da extremidade distal do rádio - Ensaio clínico randomizado comparativo dos métodos de fixação com placa volar bloqueada e com fixador externo [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina; 2015. feito em centro único, em serviço especializado em cirurgia de mão e membro superior.
Foram incluídos pacientes submetidos a tratamento cirúrgico para fraturas da extremidade distal do rádio unilateral, com placa volar bloqueada ou fixador externo. A avaliação dos desfechos foi feita com um ano de seguimento, após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os pacientes foram avaliados através das seguintes medidas:
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PRWE;1515 Rodrigues EKS, Fonseca MCR, MacDermid JC. Brazilian version of the Patient Rated Wrist Evaluation (PRWE-BR): cross- cultural adaptation, internal consistency, test-retest reliability, and construct validity. J Hand Ther. 2015;28(1):69-76.
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DASH;1313 Orfale AG, Araujo PMP, Ferraz MB. Translation into Brazilian Portuguese, cultural adaptation, and evaluation of the reliability of the Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand Questionnaire. Braz J Med Biol Res. 2005;38(2):293-302.
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Escala visual analógica de dor (EVA);1818 Katz J, Melzack R. Measurement of pain. Surg Clin N Am. 1999;79(2):231-52.
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Amplitude de movimento do punho e antebraço (flexão, extensão, pronação, supinação, desvio radial e desvio ulnar). Compararação do lado operado com o lado contralateral;
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Força (preensão palmar, força de pinça digital: polpa-polpa, pinça lateral e pinça trípode), feitas três aferições e usado o valor médio. Comparação do lado operado com o lado contralateral;
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Medidas radiográficas (altura radial, variância ulnar, ângulos da inclinação radial e inclinação volar, degrau e lacuna entre os fragmentos articulares).1919 Kreder HJ, Hanel DP, McKee M, Jupiter J, McGillivary G, Swiontkowski MF. X- ray film measurements for healed distal radius fractures. J Hand Surg. 1996;21(1):31-9.,2020 Medoff RJ. Essential radiographic evaluation for distal radius fractures. Hand Clin. 2005;21(3):279-88. Compararação do lado operado com o lado contralateral.
Foram excluídos do estudo os pacientes que apresentavam história prévia de doença degenerativa ou traumática na articulação do punho acometido ou do contralateral, reconhecidos pela história clínica ou que apresentavam déficit cognitivo ou que recusaram o termo de consentimento.
Todas as informações coletadas nesta pesquisa foram inicialmente expostas de forma descritiva.2121 Bussab WO, Morettin PA. Estatística vásica. 5a ed. São Paulo: Saraiva; 2006. A análise inferencial empregada consistiu no teste de Mann-Whitney2222 Siegel S, Castellan Júnior NJ. Estatística não paramétrica para ciências do comportamento. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. na comparação escore PRWE, segundo gênero e lados dominante e operado. O coeficiente de correlação de Spearman2222 Siegel S, Castellan Júnior NJ. Estatística não paramétrica para ciências do comportamento. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. foi usado na quantificação da correlação entre o PRWE e DASH, EVA, força, amplitude de movimento e critérios radiográficos.
Para as conclusões obtidas através dos testes estatísticos foi usado o nível de significância alfa menor do que 5%.
Resultados
As características gerais dos pacientes avaliados, bem como a média e os valores mínimo e máximo dos escores PRWE e DASH, estão descritas na tabela 1.
A análise estatística descritiva entre PRWE, gênero, lado operado e lado dominante revelou que homens apresentaram escores PRWE estatisticamente menores quando comparados com as mulheres (p = 0,005). Já o lado dominante e o lado operado não obtiveram correlação estatística em relação ao escore PRWE (p > 0,05).
As medidas da amplitude de movimento do punho e as diferenças entre o lado contralateral e operado estão descritas na tabela 2.
Na avaliação das medidas de dor através da EVA, 49 (72%) pacientes não relataram dor (EVA = 0). Dos 19 (28%) que relataram dor, houve uma média de 2,4, variou de 0,3 a 7,1.
Na tabela 3 observam-se as medidas radiográficas feitas no lado acometido e contralateral, bem como a diferença entre eles.
A tabela 4 resume os resultados dos cálculos do coeficiente de correlação de Spearman, para correlação entre PRWE e as demais medidas de resultado avaliadas.
Esse coeficiente varia de -1,00 a +1,00. Quanto mais próximo de -1,00 ou +1,00, mais evidente é a correlação entre o par de variáveis envolvidas. Assim, coeficientes de módulo 0,00 a 0,19 apresentam correlação muito fraca; entre 0,20 e 0,39, correlação fraca; entre 0,40 e 0,69, correlação moderada; entre 0,70 e 0,89, correlação forte; e entre 0,90 e 1,00, correlação muito forte.2121 Bussab WO, Morettin PA. Estatística vásica. 5a ed. São Paulo: Saraiva; 2006.,2222 Siegel S, Castellan Júnior NJ. Estatística não paramétrica para ciências do comportamento. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2006.
Discussão
O resultado final de um tratamento não depende apenas do tipo de intervenção, mas também da maneira como ele é medido.99 Goldhahn J, Angst F, Simmen BR. What counts: outcome assessment after distal radius fractures in aged patients. J Orthop Trauma. 2008;22 8 Suppl:S126-30.,2323 Bradway JK, Amadio PC, Cooney WP. Open reduction and internal fixation of displaced, comminuted intra-articular fractures of the distal end of the radius. J Bone Joint Surg Am. 1989;71(6):839-47. Com o desenvolvimento das medidas autorreportadas de desfecho, o foco passou a ser o resultado centrado no ponto de vista do paciente, gerou instrumentos válidos para a obtenção de informação quantitativa sobre a experiência cotidiana de um paciente com uma determinada doença.2424 Wells GA, Russell AS, Haraoui B, Bissonnette R, Ware CF. Validity of quality of life measurement tools - from generic to disease-specific. J Rheumatol Suppl. 2011;88:2-6. Estudos direcionados às propriedades de medidas desses instrumentos são um fenômeno relativamente recente e muitos dos sistemas de pontuação de relevância histórica ainda não passaram pelo escrutínio de avaliações rigorosas.1414 Dacombe PJ, Amirfeyz R, Davis T. Patient- reported outcome measures for hand and wrist trauma: is there sufficient evidence of reliability, validity, and responsiveness? Hand. 2016;11(1):11-21.
Estudos ponderam que o DASH é instrumento adequado para avaliar pacientes com doenças do membro superior, porém não é específico para o punho.77 Changulani M, Okonkwo U, Keswani T, Kalairajah Y. Outcome evaluation measures for wrist and hand: which one to choose? Int Orthop. 2008;32(1):1-6.,1414 Dacombe PJ, Amirfeyz R, Davis T. Patient- reported outcome measures for hand and wrist trauma: is there sufficient evidence of reliability, validity, and responsiveness? Hand. 2016;11(1):11-21.,2525 Goldhahn J, Beaton D, Ladd A, Macdermid J, Hoang-Kim A, Distal Radius Working Group of the International Society for Fracture Repair (ISFR). International Osteoporosis Foundation (IOF). Recommendation for measuring clinical outcome in distal radius fractures: a core set of domains for standardized reporting in clinical practice and research. Arch Orthop Trauma Surg. 2014;134(2):197-205. Por outro lado, segundo Changulani et al., 77 Changulani M, Okonkwo U, Keswani T, Kalairajah Y. Outcome evaluation measures for wrist and hand: which one to choose? Int Orthop. 2008;32(1):1-6. o DASH tem uma fraca correlação com a intensidade da dor no punho, tem uma validade menor para a avaliação específica do punho. Constatamos que PRWE e DASH têm correlação estatisticamente significativa e diretamente proporcional.
A maioria dos pacientes não apresentou queixa de dor na avaliação feita pela EVA e, ao mesmo tempo, obtivemos um escore médio do PRWE de 8,2. Considerando que metade do escore PRWE corresponde à dor, como esperado, o instrumento usado com a finalidade de dar um valor objetivo à dor sentida pelo paciente apresentou correlação estatística significativa, evidenciou que o PRWE é uma ferramenta eficaz para avaliação da dor.
A média das medidas de amplitude do lado contralateral foi maior quando comparada com o lado operado e as diferenças entre o lado fraturado e o lado contralateral, para qualquer movimento avaliado, não apresentaram correlação significativa com o escore PRWE. Kasapinova et al. 2626 Kasapinova K, Kamiloski V. Outcome evaluation in patients with distal radius fracture. Prilozi. 2011;32(2):231-46. também não encontraram correlação significativa entre essas medidas, porém em seu estudo houve correlação significativa entre amplitude de movimento e força de preensão do punho.
Levando em consideração as medidas de força, o lado contralateral foi maior quando comparado com o lado operado. A única exceção encontrada foi para a medida de força de pinça lateral, em que a média do lado operado foi um pouco maior quando comparada com o lado contralateral. As diferenças de força entre o lado fraturado e o lado contralateral não apresentaram correlação significativa com o escore PRWE em nosso estudo, diferentemente de Karnezis et al., 2727 Karnezis IA, Fragkiadakis EG. Association between objective clinical variables and patient-rated disability of the wrist. J Bone Joint Surg Br. 2002;84(7):967-70. que referem que a força de preensão parece ser um indicador sensível para o retorno da função do punho. Em seu estudo a diferença entre o lado contralateral e o fraturado, com correção de valores para a lado não dominante, foi um preditor significante para o PRWE.
Em relação aos parâmetros radiográficos, os valores médios do lado contralateral também foram maiores quando comparados com o lado operado, porém as diferenças dessas medidas não apresentaram correlação significativa com o escore PRWE. Kasapinova et al. 2626 Kasapinova K, Kamiloski V. Outcome evaluation in patients with distal radius fracture. Prilozi. 2011;32(2):231-46. também não encontraram correlação significativa entre os parâmetros radiográficos e o PRWE e concluíram que o tratamento e a reabilitação da fratura da extremidade distal do rádio não devem ser avaliados apenas com o seguimento radiográfico.
Constatamos ainda, através da análise inferencial, que mulheres apresentaram um escore PRWE significativamente maior do que os homens. A lateralidade do membro, bem como a sua dominância, não interferiu no resultado do escore PRWE. Nenhum outro estudo na literatura fez tal análise.
A aplicação das medidas autorreportadas de desfecho, quando feita de forma longitudinal, permite que o profissional de saúde avalie a evolução do tratamento, bem como facilita a comparação entre grupos em ensaios clínicos.2828 McPhail SM, Bagraith KS, Schippers M, Wells PJ, Hatton A. Use of condition-specific patient-reported outcome measures in clinical trials among patients with wrist osteoarthritis: a systematic review. Adv Orthop. 2012;2012:273421. Goldhahn et al. 2525 Goldhahn J, Beaton D, Ladd A, Macdermid J, Hoang-Kim A, Distal Radius Working Group of the International Society for Fracture Repair (ISFR). International Osteoporosis Foundation (IOF). Recommendation for measuring clinical outcome in distal radius fractures: a core set of domains for standardized reporting in clinical practice and research. Arch Orthop Trauma Surg. 2014;134(2):197-205. recomendam o uso de múltiplos instrumentos, que tenham os sintomas e a função como domínios separados para a classificação final do paciente com fratura do rádio distal, já que ainda não existe instrumento completo para esse fim. Para as pesquisas clínicas devem ser usados instrumentos com a aplicação mais extensa e com maior número de detalhes e para a prática médica do dia a dia, os instrumentos rápidos, como o PRWE, facilitam a coleta dos dados.2525 Goldhahn J, Beaton D, Ladd A, Macdermid J, Hoang-Kim A, Distal Radius Working Group of the International Society for Fracture Repair (ISFR). International Osteoporosis Foundation (IOF). Recommendation for measuring clinical outcome in distal radius fractures: a core set of domains for standardized reporting in clinical practice and research. Arch Orthop Trauma Surg. 2014;134(2):197-205. Revisões sistemáticas sobre o assunto sempre discutem a heterogeneidade das medidas dos resultados como uma barreira para melhor conclusão da revisão ou de qualquer metanálise.2929 Hoang-Kim A, Scott J, Micera G, Orsini R, Moroni A. Functional assessment in patients with osteoporotic wrist fractures treated with external fixation: a review of randomized trials. Arch Orthop Trauma Surg. 2009;129(1):105-11.
É importante inferir que a grande maioria dos pacientes atendidos em nosso serviço e avaliados neste estudo é usuária do sistema público de saúde brasileiro e apresentara dificuldades ao responder os questionários autorreportados. Outro ponto importante a ser considerado é a possível “vontade de não melhorar” observada em alguns pacientes que desejam ganhos secundários (aposentadoria, indenizações, seguros, direitos previdenciários etc.), o que pode influenciar nas informações coletadas.3030 de Moraes VY, Godin K, Tamaoki MJ, Faloppa F, Bhandari M, Belloti JC. Workers' compensation status: does it affect orthopaedic surgery outcomes? A meta- analysis. PLOS ONE. 2012;7(12):e50251. Acreditamos que para aumentar a força estatística do estudo seja necessário fazer um estudo prospectivo longitudinal, com um maior número de pacientes avaliados, inclusive tratamentos por técnicas não cirúrgicas e também através de outros métodos cirúrgicos.
Conclusão
O PRWE apresenta correlação estatística moderada com DASH e com EVA. Em relação ao gênero, o sexo feminino apresenta valores de PRWE maiores do que o masculino. As medidas de amplitude de movimento, força e os critérios radiográficos não interferem no resultado do PRWE, bem como o lado operado ou a dominância do membro.
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Trabalho desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior, São Paulo, SP, Brasil.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
May-Jun 2017
Histórico
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Recebido
03 Jun 2016 -
Aceito
26 Jul 2016