Acessibilidade / Reportar erro

Artroscopia de punho em atletas* Trabalho desenvolvido no Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (HCFMUSP), São Paulo, SP, Brasil. Originalmente Publicado por Elsevier Editora Ltda.

Resumo

A artroscopia é uma técnica cirúrgica que tem sido cada vez mais usada para a abordagem de lesões no punho. Atletas estão sujeitos a lesões traumáticas no punho devido à sobrecarga de treinamento ou à intensidade da atividade em competição.

A necessidade de retornar o mais breve possível à pratica esportiva faz da artroscopia uma técnica minimamente invasiva muito útil nessas situações. Os autores apresentam as principais indicações de tratamento de lesões esportivas por artroscopia. Foi feita uma revisão da literatura.

Palavras-chave
artroscopia/métodos; traumatismos da mão/diagnóstico; traumatismos do punho/diagnóstico; traumatismos em atletas

Abstract

Arthroscopy is a surgical technique whose indication for wrist injuries has grown in recent years. Athletes are subject to traumatic injury to the wrist due to training overload or the intensity of the activity during competition.

The need of a quick return to sports practice makes arthroscopy a very useful minimally invasive technique in these situations. The authors present indications of sports-related injuries to the wrist that can be treated by arthroscopy. A literature review is also presented.

Keywords
arthroscopy/methods; hand injuries/diagnosis; wrist injuries/diagnosis; athletic injuries

Introdução

Lesões traumáticas no punho e na mão são responsáveis por de 3 a 9% das lesões esportivas e podem chegar a 25%, dependendo do esporte praticado.11 Fufa DT, Goldfarb CA. Sports injuries of the wrist. Curr Rev Musculoskelet Med 2013;6(01):35–40,22 Avery DM 3rd, Rodner CM, Edgar CM. Sports-related wrist and hand injuries: a review. J Orthop Surg Res 2016;11(01):99 Esses números se referem não somente ao aumento da intensidade de treinos, mas também ao aumento de praticantes de atividades esportivas de maior impacto.22 Avery DM 3rd, Rodner CM, Edgar CM. Sports-related wrist and hand injuries: a review. J Orthop Surg Res 2016;11(01):99

Para os atletas, o tratamento da lesão é tão importante quanto o tempo para o retorno aos treinos, e o processo de decisão desse retorno depende da modalidade, da lesão e das condições de saúde do atleta.33 Coppage JM, Carlson MG. Expediting professional athletes’ return to competition. Hand Clin 2017;33(01):9–18 Nos casos em que as lesões acometem profissionais, considerações éticas, tempo de duração da carreira e segurança do atleta também são avaliados.33 Coppage JM, Carlson MG. Expediting professional athletes’ return to competition. Hand Clin 2017;33(01):9–18

Ao se considerarem síndromes dolorosas no punho de atletas, várias afecções podem ser citadas44 Tomaino MM. Ulnar impaction syndrome in the ulnar negative and neutral wrist. Diagnosis and pathoanatomy. J Hand Surg [Br] 1998;23(06):754–757

5 Baer DJ. Dynamic ulnar impaction syndrome in a collegiate baseball player. IJATT 2014;19(03):15–19

6 Cornwall R. The painful wrist in the pediatric athlete. J Pediatr Orthop 2010;30(2, Suppl):S13–S16
-77 del Piñal F, Klausmeyer M, Thams C, Moraleda E, Galindo C. Arthroscopic resection arthroplasty for malunited intra-articular distal radius fractures. J Hand Surg Am 2012;37(12):2447–2455:

  • fraturas da extremidade distal do rádio, do escafoide, do hamato, e do pisiforme;

  • epifisiodese traumática temporária ou permanente;

  • lesões condrais pós-traumáticas;

  • sinovite (síndrome do impacto dorsal do punho);

  • lesões ligamentares, ligamento escafo-semilunar, complexo da fibrocartilagem triangular;

  • pseudoartrose hâmulo-hamato;

  • tendionopatia ou luxações do tendão extensor ulnar do carpo;

  • degeneração, por impacto, do complexo da fibrocartilagem triangular.

A artroscopia do punho é um instrumento cada vez mais usado não só no diagnóstico como no tratamento de lesões traumáticas esportivas do punho, inclusive em crianças e adolescentes.88 Jang E, Danoff JR, Rajfer RA, Rosenwasser MP. Revision wrist arthroscopy after failed primary arthroscopic treatment. J Wrist Surg 2014;3(01):30–36

9 Obdeijn MC, Tuijthof GJ, van der Horst CM, Mathoulin C, Liverneaux P. Trends in wrist arthroscopy. J Wrist Surg 2013;2(03):239–246

10 Farr S, Grill F, Girsch W. Wrist arthroscopy in children and adolescents: a single surgeon experience of thirty-four cases. Int Orthop 2012;36(06):1215–1220

11 Slutsky DJ. Current innovations in wrist arthroscopy. J Hand Surg Am 2012;37(09):1932–1941
-1212 Tosti R, Shin E. Wrist arthroscopy for athletic injuries. Hand Clin 2017;33(01):107–117

A técnica artroscópica possibilita o diagnóstico de diversas alterações no punho não somente pela visualização, mas também pela palpação das estruturas.

O tratamento artroscópico dessas lesões é considerado uma técnica minimamente invasiva com menor dano às partes moles adjacentes.1212 Tosti R, Shin E. Wrist arthroscopy for athletic injuries. Hand Clin 2017;33(01):107–117

No presente trabalho, o autor revisa algumas dessas lesões traumáticas do punho tratadas por via artroscópica.

Lesões Ligamentares

As lesões do ligamento intrínseco escafo-semilunar (LIES) ocorrem dentro de uma variação de gravidade após traumas em hiperextensão do punho associadas ao desvio ulnar e supinação do punho.22 Avery DM 3rd, Rodner CM, Edgar CM. Sports-related wrist and hand injuries: a review. J Orthop Surg Res 2016;11(01):99 Sobretudo as lesões incompletas são difíceis de diagnosticar por exames de imagem. Dor à palpação dorsal entre o terceiro e quarto compartimento extensor, na projeção do LIES, é um sinal sugestivo de lesão.22 Avery DM 3rd, Rodner CM, Edgar CM. Sports-related wrist and hand injuries: a review. J Orthop Surg Res 2016;11(01):99 A estabilidade entre escafoide e semilunar não é somente conferida pelo LIES, mas sim por um complexo de estruturas, como os ligamentos extrínsecos volares, dorsais, e a cápsula articular, que podem ser denominados complexo ligamentar escafo-semilunar.1313 Slutsky DJ. The scapholunate ligament complex (SLLC). J Wrist Surg 2013;2(02):97

As lesões ligamentares incompletas não ocasionam alterações na cinemática do carpo, o que dificulta avaliações por imagem. A ressonância magnética pode demonstrar a lesão, mas sua sensibilidade varia entre 86-91%, e sua especificidade entre 88 e 100%.99 Obdeijn MC, Tuijthof GJ, van der Horst CM, Mathoulin C, Liverneaux P. Trends in wrist arthroscopy. J Wrist Surg 2013;2(03):239–246 A sociedade europeia de artroscopia do punho (EWAS, na sigla em inglês) propõe uma classificação artroscópica das lesões ligamentares baseada na classificação de Geissler.1414 Messina JC, Van Overstraeten L, Luchetti R, Fairplay T, Mathoulin CL. The EWAS classification of scapholunate tears: an anatomical arthroscopic study. J Wrist Surg 2013;2(02):105–109

15 Bednar JM. Acute scapholunate ligament injuries arthroscopic treatment. Hand Clin 2015;31(03):417–423
-1616 Pappou IP, Basel J, Deal DN. Scapholunate ligament injuries: a review of current concepts. Hand (N Y) 2013;8(02):146–156 Ambas as classificações usam parâmetros a partir dos portais mediocarpais, para avaliar as lesões do ligamento interósseo escafo-semilunar (Tabela 1).

Tabela 1
Classificação artroscópica das lesões ligamentares1616 Pappou IP, Basel J, Deal DN. Scapholunate ligament injuries: a review of current concepts. Hand (N Y) 2013;8(02):146–156

O uso da classificação de Geissler ainda é mais difundido, entretanto a classificação da sociedade europeia subdivide as lesões tipo III e propõe tratamentos diferenciados para os subtipos; o tipo IIIA é a lesão da porção volar do ligamento escafo-semilunar; IIIB da porção dorsal; e IIIC de ambas as porções.1414 Messina JC, Van Overstraeten L, Luchetti R, Fairplay T, Mathoulin CL. The EWAS classification of scapholunate tears: an anatomical arthroscopic study. J Wrist Surg 2013;2(02):105–109 Os tipos I, II e IV correspondem igualmente à classificação de Geissler, e o tipo V a uma lesão ligamentar complexa estática com deformidade em DISI.1414 Messina JC, Van Overstraeten L, Luchetti R, Fairplay T, Mathoulin CL. The EWAS classification of scapholunate tears: an anatomical arthroscopic study. J Wrist Surg 2013;2(02):105–109

Esse autor observa em seus pacientes que a dor surge somente em atividades de carga ou força, que para atletas correspondem aos seus treinamentos ou competições. Há pouca ou nenhuma dor em atividades da vida diária.

O tratamento artroscópico, baseado na classificação de Geissler, está indicado nos tipos II e III, por meio de debridamento volar e dorsal do LIES e posterior fixação com fios de Kirschner.1515 Bednar JM. Acute scapholunate ligament injuries arthroscopic treatment. Hand Clin 2015;31(03):417–423,1616 Pappou IP, Basel J, Deal DN. Scapholunate ligament injuries: a review of current concepts. Hand (N Y) 2013;8(02):146–156 Para o tipo I, recomenda-se o tratamento conservador, e para o tipo IV, lesão completa do ligamento; embora exista descrição do tratamento artroscópico,1717 Corella F, Del Cerro M, Ocampos M, Larrainzar-Garijo R. Arthroscopic ligamentoplasty of the dorsal and volar portions of the scapholunate ligament. J Hand Surg Am 2013;38(12):2466–2477,1818 Yao J, Zlotolow DA, Lee SK. ScaphoLunate axis method. J Wrist Surg 2016;5(01):59–66 muitos autores ainda preconizam a reconstrução aberta (Fig. 1).1616 Pappou IP, Basel J, Deal DN. Scapholunate ligament injuries: a review of current concepts. Hand (N Y) 2013;8(02):146–156,1818 Yao J, Zlotolow DA, Lee SK. ScaphoLunate axis method. J Wrist Surg 2016;5(01):59–66,1919 Morrell NT, Moyer A, Quinlan N, Shafritz AB. Scapholunate and perilunate injuries in the athlete. Curr Rev Musculoskelet Med 2017;10(01):45–52

Fig. 1
Lesão do ligamento escafo-semilunar incompleta. (A) Ressonância magnética nuclear demonstra a lesão na região dorsal do LIES; (B) classificação da lesão tipo III de Geissler pela rotação do probe-scope no portal MCR; (C) fixação do carpo por 6 semanas; (D) resultado funcional.

Se for considerada a classificação da sociedade europeia, nos tipos IIIA e IIIB podem ser feitos reforços ligamentares volares ou capsulodeses artroscópicas dorsais, respectivamente.1111 Slutsky DJ. Current innovations in wrist arthroscopy. J Hand Surg Am 2012;37(09):1932–1941

Em relação às lesões parciais dos ligamentos extrínsecos, não há dados na literatura a respeito de sua relevância clínica. A Fig. 2 mostra uma lesão parcial aguda do ligamento radio-semilunar curto tratada com debridamento e imobilização por 6 semanas ocorrida em um paciente masculino, portador de uma lesão concomitante do LIES, motivo pelo qual foi submetido a artroscopia.

Fig. 2
Lesão parcial do ligamento radiossemilunar curto.

Visão da articulação radiocarpal pelo portal.33 Coppage JM, Carlson MG. Expediting professional athletes’ return to competition. Hand Clin 2017;33(01):9–18,44 Tomaino MM. Ulnar impaction syndrome in the ulnar negative and neutral wrist. Diagnosis and pathoanatomy. J Hand Surg [Br] 1998;23(06):754–757 A) ligamento radioescafocapitato (RSC) e radiosemilunar longo (LRL) íntegros; B) lesão parcial do ligamento radiossemilunar curto; C) ligamento após debridamento.

As lesões parciais do ligamento interósseo semilunar piramidal seguem os mesmos princípios de tratamento do LIES.1212 Tosti R, Shin E. Wrist arthroscopy for athletic injuries. Hand Clin 2017;33(01):107–117

Fratura e Pseudoartrose do Escafoide

As fraturas do escafoide são as fraturas mais comuns do carpo,22 Avery DM 3rd, Rodner CM, Edgar CM. Sports-related wrist and hand injuries: a review. J Orthop Surg Res 2016;11(01):99 geralmente associadas a queda sobre mão estendida. Fraturas do escafoide por estresse também podem surgir por carga repetitiva sobre o punho.2020 Kohring JM, Curtiss HM, Tyser AR. A scaphoid stress fracture in a female collegiate-level shot-putter and review of the literature. Case Rep Orthop 2016;2016:8098657

21 Chen NC, Jupiter JB, Jebson PJL. Sports-related wrist injuries in adults. Sports Health 2009;1(06):469–477

22 Kohyama S, Kanamori A, Tanaka T, Hara Y, Yamazaki M. Stress fracture of the scaphoid in an elite junior tennis player: a case report and review of the literature. J Med Case Reports 2016;10:8
-2323 Johnson MR, Fogarty BT, Alitz C, Gerber JP. Non-FOOSH scaphoid fractures in young athletes: a case series and short clinical review. Sports Health 2013;5(02):183–185

O tratamento das fraturas do escafoide ainda é controverso.11 Fufa DT, Goldfarb CA. Sports injuries of the wrist. Curr Rev Musculoskelet Med 2013;6(01):35–40,2424 Jakabfy BI, Jaén TF. Acute fractures of the carpal scaphoid - Literature review. MOJ Orthop Rheumatol 2016;5(05):1–9 A literatura não mostra diferença nos resultados entre tratamento cirúrgico e conservador para fraturas sem desvio ou minimamente desviadas.2424 Jakabfy BI, Jaén TF. Acute fractures of the carpal scaphoid - Literature review. MOJ Orthop Rheumatol 2016;5(05):1–9,2525 Clementson M, Jørgsholm P, Besjakov J, Thomsen N, Björkman A. Conservative treatment versus arthroscopic - Assisted screw Fixation of scaphoid waist fractures - A randomized trial with minimum 4-year follow-up. J Hand Surg Am 2015;40(07): 1341–1348 Ao se considerar o tratamento cirúrgico, é importante levar em consideração o fato de que há evidência a respeito de artrose entre o escafoide e o trapézio, ou radiocarpal, em casos cirúrgicos submetidos a fixação retrógrada ou anterógrada com parafusos, respectivamente.2424 Jakabfy BI, Jaén TF. Acute fractures of the carpal scaphoid - Literature review. MOJ Orthop Rheumatol 2016;5(05):1–9,2525 Clementson M, Jørgsholm P, Besjakov J, Thomsen N, Björkman A. Conservative treatment versus arthroscopic - Assisted screw Fixation of scaphoid waist fractures - A randomized trial with minimum 4-year follow-up. J Hand Surg Am 2015;40(07): 1341–1348

Em relação aos atletas, o tempo de recuperação é um ponto importante, o tratamento cirúrgico é recomendado por alguns autores para diminuir o tempo de imobilização e retorno mais rápido da amplitude do movimento do punho, mesmo em fraturas sem desvio.1212 Tosti R, Shin E. Wrist arthroscopy for athletic injuries. Hand Clin 2017;33(01):107–117,2626 Arsalan-Werner A, Sauerbier M, Mehling IM. Current concepts for the treatment of acute scaphoid fractures. Eur J Trauma Emerg Surg 2016;42(01):3–10,2727 Geissler WB. Arthroscopic management of scaphoid fractures in athletes. Hand Clin 2009;25(03):359–369 Outros autores condicionam o tipo de tratamento e o retorno aos treinos à modalidade do atleta.2828 Winston MJ, Weiland AJ. Scaphoid fractures in the athlete. Curr Rev Musculoskelet Med 2017;10(01):38–44

O uso da artroscopia, tanto no tratamento das fraturas agudas como nas pseudoartroses, tem a vantagem de diminuir a agressão às partes moles e avaliar a possibilidade de lesões concomitantes do punho (Fig. 3).2727 Geissler WB. Arthroscopic management of scaphoid fractures in athletes. Hand Clin 2009;25(03):359–369,2929 Fallah Y, Kamrani RS, Zanjani LO. Arthroscopic treatment of stable scaphoid nonunion. J Orthop Spine Trauma. 2015;1(01):e1774

30 Cognet JM, Louis P, Martinache X, Schernberg F. Arthroscopic grafting of scaphoid nonunion - surgical technique and preliminary findings from 23 cases. Hand Surg Rehabil 2017;36(01):17–23
-3131 Kim JP, Seo JB, Yoo JY, Lee JY. Arthroscopic management of chronic unstable scaphoid nonunions: effects on restoration of carpal alignment and recovery of wrist function. Arthroscopy 2015;31 (03):460–469

Fig. 3
Pseudoartrose escafoide. (A) radiografia demonstra pseudoartrose escafoide; (B), visão pelo portal mediocarpal radial do foco de pseudoartrose; (C) retirada do enxerto ilíaco com agulha de biópsia; (D) colocação do enxerto pelo portal mediocarpal radial, scope no portal mediocarpal ulnar; (E) foco de pseudoartrose enxertado; (F) visão do foco de pseudoartrose, impacto após colocação de parafuso canulado pelo portal mediocarpal radial; (G) radiografia 2 meses de pós-operatório; (H) Tomografia computadorizada 4 meses de pós-operatório com consolidação. Abbreviations: Sc-d, escafoide distal; Sc-p, escafoide proximal.

Lesões do Complexo da Fibrocartilagem Triangular

As lesões do complexo da fibrocartilagem triangular (CFTC) são comuns em atletas e ocorrem tanto por trauma agudo como por sobrecarga.11 Fufa DT, Goldfarb CA. Sports injuries of the wrist. Curr Rev Musculoskelet Med 2013;6(01):35–40,22 Avery DM 3rd, Rodner CM, Edgar CM. Sports-related wrist and hand injuries: a review. J Orthop Surg Res 2016;11(01):99,2121 Chen NC, Jupiter JB, Jebson PJL. Sports-related wrist injuries in adults. Sports Health 2009;1(06):469–477,3232 Henderson CJ, Kobayashi KM. Ulnar-sided wrist pain in the athlete. Orthop Clin North Am 2016;47(04):789–798 As lesões do CFCT podem ou não estar associadas a instabilidades da articulação radioulnar distal.3232 Henderson CJ, Kobayashi KM. Ulnar-sided wrist pain in the athlete. Orthop Clin North Am 2016;47(04):789–798 A instabilidade da ARUD está relacionada a avulsões do CFCT do rádio ou da fóvea, tipos ID ou IB de Palmer, respectivamente.1212 Tosti R, Shin E. Wrist arthroscopy for athletic injuries. Hand Clin 2017;33(01):107–117 O tipo IB foi subdividido em região superficial e profunda, as instabilidades da ARUD estão associadas à desinserção da porção profunda da fóvea.3333 Atzei A, Luchetti R, Braidotti F. Arthroscopic foveal repair of the triangular fibrocartilage complex. J Wrist Surg 2015;4(01):22–30,3434 Nakamura T, Sato K, Okazaki M, Toyama Y, Ikegami H. Repair of foveal detachment of the triangular fibrocartilage complex: open and arthroscopic transosseous techniques. Hand Clin 2011;27 (03):281–290

As lesões do CFCT associadas à instabilidade da ARUD são de tratamento cirúrgico, já as lesões da porção distal/ superficial, classe 1 de Atzei, podem ser inicialmente tratadas conservadora ou cirurgicamente de acordo com a sintomatologia do paciente (Fig. 4).11 Fufa DT, Goldfarb CA. Sports injuries of the wrist. Curr Rev Musculoskelet Med 2013;6(01):35–40,22 Avery DM 3rd, Rodner CM, Edgar CM. Sports-related wrist and hand injuries: a review. J Orthop Surg Res 2016;11(01):99,2121 Chen NC, Jupiter JB, Jebson PJL. Sports-related wrist injuries in adults. Sports Health 2009;1(06):469–477

Fig. 4
Classificação de Atzei para as lesões do complexo da fibrocartilagem triangular tipo 1 B de Palmer.3535 Kirchberger MC, Unglaub F, Mühldorfer-Fodor M, et al. Update TFCC: histology and pathology, classification, examination and diagnostics. Arch Orthop Trauma Surg 2015;135(03):427–437

São descritas diversas técnicas para o tratamento artroscópico das lesões do CFCT, como fixação por túnel ósseo foveal,3434 Nakamura T, Sato K, Okazaki M, Toyama Y, Ikegami H. Repair of foveal detachment of the triangular fibrocartilage complex: open and arthroscopic transosseous techniques. Hand Clin 2011;27 (03):281–290,3636 Tse WL, Lau SW, Wong WY, et al. Arthroscopic reconstruction of triangular fibrocartilage complex (TFCC) with tendon graft for chronic DRUJ instability. Injury 2013;44(03):386–390 inserção com âncora3333 Atzei A, Luchetti R, Braidotti F. Arthroscopic foveal repair of the triangular fibrocartilage complex. J Wrist Surg 2015;4(01):22–30 ou suturas nas lesões periféricas/superficiais.3737 Wysocki RW, Richard MJ, Crowe MM, Leversedge FJ, Ruch DS. Arthroscopic treatment of peripheral triangular fibrocartilage complex tears with the deep fibers intact. J Hand Surg Am 2012; 37(03):509–516

A Figura 5 demonstra um caso de instabilidade da articulação radioulnar distal tratada por artroscopia com o uso dos portais dessa articulação.

Fig. 5
Paciente com lesão classe 3 de Atzei. (A) RNM com lesão porção profunda do complexo da fibrocartilagem triangular (CFCT); (B) radiografia; (C) avaliação clinica da instabilidade da ARUD; (D) porção superficial do CFCT íntegra avaliada pelo portal 4-5; (E) instabilidade da ARUD avaliada pelo portal radioulnar dorsal distal; (F) colocação de âncora na cabeça da ulna pelo portal foveal direto; G, sutura na fibrocartilagem visualizada pelo portal 4-5; (H), radiografia pós-operatória

Impacto Ulnocarpal Dinâmico

A síndrome do impacto ulnocarpal (SIUC) é uma lesão degenerativa caracterizada pela compressão, ou impacto, da cabeça da ulna contra o semilunar e/ou o piramidal, com ou sem lesão do complexo da fibrocartilagem triangular.3838 Iwasaki N, Ishikawa J, Kato H, Minami M, Minami A. Factors affecting results of ulnar shortening for ulnar impaction syndrome. Clin Orthop Relat Res 2007;465(465):215–219

39 Loh YC, Van Den Abbeele K, Stanley JK, Trail IA. The results of ulnar shortening for ulnar impaction syndrome. J Hand Surg [Br] 1999; 24(03):316–320
-4040 Coggins CA. Imaging of ulnar-sided wrist pain. Clin Sports Med 2006;25(03):505–526

Geralmente associada à presença de ulna plus, a SIUC também pode ocorrer na presença de ulna neutra ou minus.44 Tomaino MM. Ulnar impaction syndrome in the ulnar negative and neutral wrist. Diagnosis and pathoanatomy. J Hand Surg [Br] 1998;23(06):754–757 Durante a pronação, há um encurtamento relativo entre o rádio e a ulna, e em situações de ulna neutra ou minus < 2 mm pode ocorrer impacto entre o carpo e a cabeça da ulna; essa condição é denominada síndrome do impacto ulnocarpal dinâmico (SIUCD).44 Tomaino MM. Ulnar impaction syndrome in the ulnar negative and neutral wrist. Diagnosis and pathoanatomy. J Hand Surg [Br] 1998;23(06):754–757

A SIUCD na presença de ulna neutra ou minus é descrita em situações de pronação associadas a força de preensão, comuns em atividades esportivas como tênis ou baseball.55 Baer DJ. Dynamic ulnar impaction syndrome in a collegiate baseball player. IJATT 2014;19(03):15–19

As Figuras 6 e 7 demonstram um caso de SIUCD tratada por artroscopia.

Fig. 6
Ressonância e tomografia da paciente submetida previamente a cirurgia no complexo da fibrocartilagem triangular. Mantém dor no bordo ulnar do carpo.4141 França Bisneto EN. Dynamic ulnar impaction syndrome in tennis players: report of two cases. Rev Bras Ortop 2017;52(05): 621–624 (A) ressonância evidencia sinovite e edema semilunar e piramidal; (B) lesão da fibrocartilagem triangular na porção distal apenas; (C) tomografia demonstra ulna neutra.
Fig. 7
Tratamento artroscópico da síndrome do impacto ulnocarpal dinâmico.4141 França Bisneto EN. Dynamic ulnar impaction syndrome in tennis players: report of two cases. Rev Bras Ortop 2017;52(05): 621–624 (A) lesão da fibrocartilagem com exposição da cabeça da ulna; (B) lesão condral do semilunar; (C) insinuação da cabeça da ulna durante pronação acima da linha articular do rádio; (D) wafer artroscópico.

Síndrome do Impacto Semilunar-Humato

A associação entre a presença dessa articulação e o surgimento de artrose mediocárpica em alguns pacientes foi denominada síndrome do impacto semilunar-hamato (SISH),4242 Thurston AJ, Stanley JK. Hamato-lunate impingement: an uncommon cause of ulnar-sided wrist pain. Arthroscopy 2000;16(05): 540–544 que se caracteriza por:

  • Presença de uma articulação entre o semilunar e o hamato, faceta medial ou faceta semilunar hamato (FSH); (Fig. 8)

    Fig. 8
    Peças anatômicas demonstram a diferença entre semilunar tipo I e tipo II.4343 França Bisneto EN, Sousa BB, de Paula EJ, Mattar Júnior R, Zumiotti AV. Arthroscopic andmacroscopic evaluation of the lunate medial facet. Acta Ortop Bras 2011;19(06):353–355 Rev (A) semilunar tipo I; (B) Semilunar tipo II, na qual se observam as duas facetas articulares, uma para o capitato (D) e outra para o hamato (E). C, semilunar tipo II articula-se com o capitato (D) e o hamato (E).

  • Erosão da cartilagem com exposição do osso subcondral do polo proximal do hamato

A artrose isolada do polo proximal do hamato está relacionada à presença da faceta medial do semilunar.4343 França Bisneto EN, Sousa BB, de Paula EJ, Mattar Júnior R, Zumiotti AV. Arthroscopic andmacroscopic evaluation of the lunate medial facet. Acta Ortop Bras 2011;19(06):353–355 Rev

A Figura 9 exemplifica um caso de SISH.

Fig. 9
Paciente portadora de síndrome do impacto semilunar-hamato submetida a debridamento artroscópico. (A) círculo evidencia síndrome do impacto semilunar-hamato; (B) visão pelo portal MCR da lesão no polo proximal do hamato; (C) visão pelo portal MCR da faceta medial do semilunar com perda de cartilagem; (D) debridamento do polo proximal do hamato; (E) visão após debridamento; (F) pós-operatório imediato. Seta evidencia local do debridamento (obs: paciente também submetida a tratamento do do ligamento intrínseco escafo-semilunar e, devido a isso, aos fios de Kirschner). H, hamato; Tr, triquetro; C, capitato; MF, faceta medial.

Considerações Finais

As lesões em atletas, sejam eles profissionais ou amadores, são muito comuns em nosso meio, tanto a lesão eventual traumática como a lesão por excesso de treinamento. É fato que essas lesões impedem a prática da atividade esportiva e devem ser avaliadas de maneira individualizada na indicação do melhor tratamento, considerando-se a idade do paciente, a modalidade praticada e a intensidade com que se pratica o esporte.

O tratamento conservador está indicado em várias situações, mas no caso de lesões mais graves e ou falha desse a cirurgia deve ser indicada e a artroscopia do punho propicia uma abordagem menos agressiva dessas afecções e pode diminuir o tempo de recuperação desses pacientes atletas.

  • Trabalho desenvolvido no Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (HCFMUSP), São Paulo, SP, Brasil. Originalmente Publicado por Elsevier Editora Ltda.

References

  • 1
    Fufa DT, Goldfarb CA. Sports injuries of the wrist. Curr Rev Musculoskelet Med 2013;6(01):35–40
  • 2
    Avery DM 3rd, Rodner CM, Edgar CM. Sports-related wrist and hand injuries: a review. J Orthop Surg Res 2016;11(01):99
  • 3
    Coppage JM, Carlson MG. Expediting professional athletes’ return to competition. Hand Clin 2017;33(01):9–18
  • 4
    Tomaino MM. Ulnar impaction syndrome in the ulnar negative and neutral wrist. Diagnosis and pathoanatomy. J Hand Surg [Br] 1998;23(06):754–757
  • 5
    Baer DJ. Dynamic ulnar impaction syndrome in a collegiate baseball player. IJATT 2014;19(03):15–19
  • 6
    Cornwall R. The painful wrist in the pediatric athlete. J Pediatr Orthop 2010;30(2, Suppl):S13–S16
  • 7
    del Piñal F, Klausmeyer M, Thams C, Moraleda E, Galindo C. Arthroscopic resection arthroplasty for malunited intra-articular distal radius fractures. J Hand Surg Am 2012;37(12):2447–2455
  • 8
    Jang E, Danoff JR, Rajfer RA, Rosenwasser MP. Revision wrist arthroscopy after failed primary arthroscopic treatment. J Wrist Surg 2014;3(01):30–36
  • 9
    Obdeijn MC, Tuijthof GJ, van der Horst CM, Mathoulin C, Liverneaux P. Trends in wrist arthroscopy. J Wrist Surg 2013;2(03):239–246
  • 10
    Farr S, Grill F, Girsch W. Wrist arthroscopy in children and adolescents: a single surgeon experience of thirty-four cases. Int Orthop 2012;36(06):1215–1220
  • 11
    Slutsky DJ. Current innovations in wrist arthroscopy. J Hand Surg Am 2012;37(09):1932–1941
  • 12
    Tosti R, Shin E. Wrist arthroscopy for athletic injuries. Hand Clin 2017;33(01):107–117
  • 13
    Slutsky DJ. The scapholunate ligament complex (SLLC). J Wrist Surg 2013;2(02):97
  • 14
    Messina JC, Van Overstraeten L, Luchetti R, Fairplay T, Mathoulin CL. The EWAS classification of scapholunate tears: an anatomical arthroscopic study. J Wrist Surg 2013;2(02):105–109
  • 15
    Bednar JM. Acute scapholunate ligament injuries arthroscopic treatment. Hand Clin 2015;31(03):417–423
  • 16
    Pappou IP, Basel J, Deal DN. Scapholunate ligament injuries: a review of current concepts. Hand (N Y) 2013;8(02):146–156
  • 17
    Corella F, Del Cerro M, Ocampos M, Larrainzar-Garijo R. Arthroscopic ligamentoplasty of the dorsal and volar portions of the scapholunate ligament. J Hand Surg Am 2013;38(12):2466–2477
  • 18
    Yao J, Zlotolow DA, Lee SK. ScaphoLunate axis method. J Wrist Surg 2016;5(01):59–66
  • 19
    Morrell NT, Moyer A, Quinlan N, Shafritz AB. Scapholunate and perilunate injuries in the athlete. Curr Rev Musculoskelet Med 2017;10(01):45–52
  • 20
    Kohring JM, Curtiss HM, Tyser AR. A scaphoid stress fracture in a female collegiate-level shot-putter and review of the literature. Case Rep Orthop 2016;2016:8098657
  • 21
    Chen NC, Jupiter JB, Jebson PJL. Sports-related wrist injuries in adults. Sports Health 2009;1(06):469–477
  • 22
    Kohyama S, Kanamori A, Tanaka T, Hara Y, Yamazaki M. Stress fracture of the scaphoid in an elite junior tennis player: a case report and review of the literature. J Med Case Reports 2016;10:8
  • 23
    Johnson MR, Fogarty BT, Alitz C, Gerber JP. Non-FOOSH scaphoid fractures in young athletes: a case series and short clinical review. Sports Health 2013;5(02):183–185
  • 24
    Jakabfy BI, Jaén TF. Acute fractures of the carpal scaphoid - Literature review. MOJ Orthop Rheumatol 2016;5(05):1–9
  • 25
    Clementson M, Jørgsholm P, Besjakov J, Thomsen N, Björkman A. Conservative treatment versus arthroscopic - Assisted screw Fixation of scaphoid waist fractures - A randomized trial with minimum 4-year follow-up. J Hand Surg Am 2015;40(07): 1341–1348
  • 26
    Arsalan-Werner A, Sauerbier M, Mehling IM. Current concepts for the treatment of acute scaphoid fractures. Eur J Trauma Emerg Surg 2016;42(01):3–10
  • 27
    Geissler WB. Arthroscopic management of scaphoid fractures in athletes. Hand Clin 2009;25(03):359–369
  • 28
    Winston MJ, Weiland AJ. Scaphoid fractures in the athlete. Curr Rev Musculoskelet Med 2017;10(01):38–44
  • 29
    Fallah Y, Kamrani RS, Zanjani LO. Arthroscopic treatment of stable scaphoid nonunion. J Orthop Spine Trauma. 2015;1(01):e1774
  • 30
    Cognet JM, Louis P, Martinache X, Schernberg F. Arthroscopic grafting of scaphoid nonunion - surgical technique and preliminary findings from 23 cases. Hand Surg Rehabil 2017;36(01):17–23
  • 31
    Kim JP, Seo JB, Yoo JY, Lee JY. Arthroscopic management of chronic unstable scaphoid nonunions: effects on restoration of carpal alignment and recovery of wrist function. Arthroscopy 2015;31 (03):460–469
  • 32
    Henderson CJ, Kobayashi KM. Ulnar-sided wrist pain in the athlete. Orthop Clin North Am 2016;47(04):789–798
  • 33
    Atzei A, Luchetti R, Braidotti F. Arthroscopic foveal repair of the triangular fibrocartilage complex. J Wrist Surg 2015;4(01):22–30
  • 34
    Nakamura T, Sato K, Okazaki M, Toyama Y, Ikegami H. Repair of foveal detachment of the triangular fibrocartilage complex: open and arthroscopic transosseous techniques. Hand Clin 2011;27 (03):281–290
  • 35
    Kirchberger MC, Unglaub F, Mühldorfer-Fodor M, et al. Update TFCC: histology and pathology, classification, examination and diagnostics. Arch Orthop Trauma Surg 2015;135(03):427–437
  • 36
    Tse WL, Lau SW, Wong WY, et al. Arthroscopic reconstruction of triangular fibrocartilage complex (TFCC) with tendon graft for chronic DRUJ instability. Injury 2013;44(03):386–390
  • 37
    Wysocki RW, Richard MJ, Crowe MM, Leversedge FJ, Ruch DS. Arthroscopic treatment of peripheral triangular fibrocartilage complex tears with the deep fibers intact. J Hand Surg Am 2012; 37(03):509–516
  • 38
    Iwasaki N, Ishikawa J, Kato H, Minami M, Minami A. Factors affecting results of ulnar shortening for ulnar impaction syndrome. Clin Orthop Relat Res 2007;465(465):215–219
  • 39
    Loh YC, Van Den Abbeele K, Stanley JK, Trail IA. The results of ulnar shortening for ulnar impaction syndrome. J Hand Surg [Br] 1999; 24(03):316–320
  • 40
    Coggins CA. Imaging of ulnar-sided wrist pain. Clin Sports Med 2006;25(03):505–526
  • 41
    França Bisneto EN. Dynamic ulnar impaction syndrome in tennis players: report of two cases. Rev Bras Ortop 2017;52(05): 621–624
  • 42
    Thurston AJ, Stanley JK. Hamato-lunate impingement: an uncommon cause of ulnar-sided wrist pain. Arthroscopy 2000;16(05): 540–544
  • 43
    França Bisneto EN, Sousa BB, de Paula EJ, Mattar Júnior R, Zumiotti AV. Arthroscopic andmacroscopic evaluation of the lunate medial facet. Acta Ortop Bras 2011;19(06):353–355 Rev

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2020

Histórico

  • Recebido
    10 Nov 2017
  • Aceito
    07 Dez 2017
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Al. Lorena, 427 14º andar, 01424-000 São Paulo - SP - Brasil, Tel.: 55 11 2137-5400 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbo@sbot.org.br