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“AOS PÍNCAROS DA SERRA, INVADINDO O SERTÃO”: THEODORO SAMPAIO E A INVENÇÃO DO LIMITE MERIDIONAL DO BRASIL NA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO POR UM INTELECTUAL NEGRO (1896-1912)

“To the pinnacles of the sierra, invading the hinterland”: Theodoro Sampaio and the invention of Brazil's merdional boundaries in the IHGSP Journal for a black intellectual (1896-1912)

“A los pícaros de la sierra, invadiendo el ‘sertão’: Theodoro Sampaio e la invención del límite meridional de Brasil en la Revista del IHGSP por un intelectual negro (1896-1912)

Resumo

O emergir do período republicano foi marcado por um intenso debate acerca da construção de narrativas que forjavam as identidades estaduais, por meio de peças históricas, que delineavam o passado e legitimavam os limites do espaço estadual. Um espaço privilegiado nesse debate foram os institutos históricos e geográficos, instituições nas quais os sócios garimpavam documentos e expunham suas narrativas. Neste artigo tenho como escopo a atuação do engenheiro Theodoro Sampaio, no âmbito da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, entre 1896 e 1912. Trata-se de um importante intelectual negro que pensou a história como recurso para construir o limite meridional do Brasil.

Palavras-chave:
Teodoro Sampaio; Intelectual negro; IHGSP; Limite meridional

Abstract

The rising of the republican period was marked by an intense debate over the making of narratives that could forge the identity of the states using historical pieces that outlined the past and would legitimize the borders of the state's space. A privileged space in this debate was the historical and geographical institutes, institutions whose members would search for documents and expose their narratives. In this article, my scope is the work of the engineer Theodoro Sampaio in the IHGSP journal between 1896 and 1912. He was an important black intellectual who thought history as a tool to build Brazil's meridional boundaries.

Keywords:
Teodoro Sampaio; Black intellectual; IHGSP ; Meridional boundary

Resumen

El emerger del periodo republicano fue marcado por un intenso debate cerca de la construcción de las narrativas que delineaban el pasado y legitimaban los límites del espacio estadual. Un espacio privilegiado en este debate fueron los institutos históricos y geográficos, instituciones en las cuales los socios buscaban documentos y exponían sus narrativas. En este artículo tengo como objetivo la actuación del ingeniero Theodoro Sampaio en el ámbito de la Revista del IHGSP en el periodo de 1896 a 1912. Él es un importante intelectual negro que pensó la historia como recurso para construir el límite meridional de Brasil.

Palabras-clave:
Teodoro Sampaio; Intelectual negro; IHGSP; Límite meridional

INTRODUÇÃO

Lançados, porém, os fundamentos da primeira colônia regular portuguesa da américa, à margem desta pitoresca bahia de São Vicente, em cujas águas ainda balouçavam os restos da pequena esquadra, o almirante cuja missão estava cumprida e que tinha ordem de regressar quando lhe aprouvesse, expede tão somente a maruja para a Europa e se deixa ficar nesta terra dos Guayanazes, aguardando novas da expedição de Lobo que não voltava.

Como a de Aleixo que a tradição faz trucidada nas margens do Paraguay, essa expedição, partiu para não mais voltar. Até hoje ninguém sabe que destino foi o seu. Mas se a perda de tantos companheiros, cuja morte escura ficou para sempre um segredo impenetrável das selvas americanas, trouxe desengano a todas as esperanças do almirante, que deixou logo o Brazil para sempre, na alma inculta do mameluco, do filho da raça cruzada que ia se formando, talhada para as conquistas do deserto, ficou a crença inabalável de um Brazil de ouro, acaso velado nas brumas do futuro (Sampaio, 1896SAMPAIO, T. Estudo crítico: a posse do Brasil meridional. Fundação da primeira colônia regular dos portugueses em São Vicente. Revista do Instituto Histórico e Geographico de São Paulo, v. 1, n. 2, p. 31-60, 1896.: 60).

Inicio este artigo com uma epígrafe de Theodoro Fernandes Sampaio, ao discorrer sobre as primeiras investidas lusitanas no Brasil meridional. No dia 5 de agosto de 1895, na tribuna do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), quando instalado no salão da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, emergiam as palavras proferidas pelo baiano, um dos mais importantes engenheiros do Brasil. As palavras que ecoaram pelo salão foram, no ano seguinte, replicadas no papel, por meio da publicação do segundo número da Revista do IHGSP. Elas resultaram, portanto, no texto de apresentação do sócio-fundador do sodalício, que se tornaria uma das vozes mais atuantes ao longo dos primeiros anos de funcionamento da instituição, com publicações que contribuiriam para promover a invenção de um passado paulista e dos limites do Brasil meridional.

Já nesse texto inaugural, Theodoro Sampaio expressava parte de seu repertório que seria acionado em outros momentos, como a preocupação em evidenciar o pioneirismo paulista no processo efetivo de colonização, a identificação dos marcos espaciais da colônia, o estudo acerca dos povos originários do litoral e a ênfase de que a escrita da história paulista elucidava um capítulo central para a história nacional. No entender do intelectual, ao olhar para o passado estadual, seria plausível contemplar uma dimensão do futuro, coadunada pela poética com a qual concluía seu argumento, pois aquelas plagas encetavam “a crença inabalável de um Brazil de ouro, acaso velado nas brumas do futuro”. Tratava-se, com efeito, de uma proposta de escrita da história que se encontrava compatível com o intuito central do instituto paulista, tal como Lilia Schwarcz (2010SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.: 133) elucida: “Esses profissionais se comprometeram com a construção de uma história nacional, que, tendo o presente em mira, forjava o passado em tradição”.

Nesse sentido, torna-se possível pensar a escrita da história por Theodoro Sampaio como um esforço de projetar uma cultura política republicana bandeirante, haja vista o intelectual criar, ao mesmo passo em que forjava uma leitura comum de passado e um projeto compartilhado de futuro, mecanismos para cartografar os limites meridionais da antiga colônia. Pautado nessa prerrogativa, tenho como escopo a atuação de Theodoro Sampaio como historiador no IHGSP. Trago como propósito analisar como o intelectual negro pensou a história no âmbito da revista institucional para inventar o limite do Brasil meridional. Para isso, mobilizo como fontes centrais os 19 textos publicados pelo autor no referido periódico entre 1896 e 1912. São textos nos quais o engenheiro acionou o seu conhecimento cartográfico para reinventar o passado da nação, protagonizado no território paulista, tido como limite do Brasil. Além disso, aciono como fontes de cotejo os livros de viagens e a autobiografia por ele produzidos. São registros que ajudam a entender os deslocamentos institucionais1 1 Neste caso, refiro-me à atuação em diferentes instituições acadêmicas, científicas e culturais. .

Essa abordagem busca preencher uma lacuna nos estudos acerca do autor, consideravelmente analisado no âmbito de sua produção técnica como engenheiro e geógrafo, mas quase sempre tangenciado como historiador. Nesse sentido, torna-se salutar entender como um engenheiro negro pensou a história entre os séculos XIX e XX, em um contexto marcado pelo pós-abolição e pela então recente memória traumática da escravidão. Nesse caso, desperta a atenção que uma das principais vozes disseminadas no IHGSP, no intento de promover a feitura do passado paulista, tenha sido a de um intelectual baiano, oriundo da Escola Politécnica e integrante de uma família que tinha passado pela opressão do cativeiro. Apesar de reconhecer que no período em questão era corrente a presença de intelectuais enciclopédicos, ressalto a diminuta atuação de engenheiros como pensadores da história. Pensá-la, no âmbito da historiografia, oportuniza operacionalizar a provocação a seguir:

Homens e mulheres, em geral esquecidos até pouco tempo, demonstram, por suas trajetórias e ação intelectual, como o campo cultural está repleto de iniciativas de combate ao racismo e de contraposições às relações de dominação, reconstruídas no pós-Abolição (Abreu et al., 2018ABREU, M.; XAVIER, G.; MONTEIRO, L.; BRASIL, E. Apresentação. In: ABREU, M.; XAVIER, G.; MONTEIRO, L.; BRASIL, E. (org.). Cultura negra: trajetória e lutas de intelectuais negros. Niterói: EDUFF, 2018. p. 1-13.: 13).

Ao mobilizar a escrita da história de Theodoro Sampaio na Revista do IHGSP ao longo dos primeiros decênios republicanos, torna-se pertinente conjuminar duas dimensões conceituais que atravessam a questão: cultura política e intelectual. No tocante ao primeiro aspecto, parto da premissa defendida por René Rémond (2003RÉMOND, R. Por uma história política. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003.: 22), segundo a qual a “história do fato não vive fora do tempo em que é escrita, ainda mais quando se trata de história política, suas variações são resultado das mudanças que afetam o político, como das que dizem respeito ao olhar que o historiador dirige ao político”.

Ao agenciar essa perspectiva, torna-se possível pensar na articulação entre as desventuras na trajetória do intelectual, o seu processo de articulação política e os problemas históricos enfrentados no IHGSP. Para Serge Berstein (1998BERSTEIN, S. A cultura política. In: RIOUX, J.-P.; SIRINELLI, J.-F. Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998. p. 349-363.: 352), a cultura política “supre ao mesmo tempo uma leitura comum de passado e uma projeção no futuro vivida em conjunto”. A difusão dessas leituras pode ocorrer em diferentes espaços e por meio de suportes distintos, inclusive no âmbito historiográfico. Por esse motivo, ele defende que a cultura política “se inscreve no quadro de normas e valores que determinam a representação que uma sociedade faz de si mesma, do seu passado, do seu futuro” (Berstein, 1998BERSTEIN, S. A cultura política. In: RIOUX, J.-P.; SIRINELLI, J.-F. Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998. p. 349-363.: 353).

No emergir da Primeira República, os principais atores no processo de construção das representações sociais do passado brasileiro eram os historiadores, que em diferentes espaços institucionais, como escolas, academias, agremiações de letrados, museus, bibliotecas e faculdades, difundiam episódios e heróis de outrora. Foram esses homens e essas mulheres de letras que forjaram as leituras comuns de passado e anunciaram projetos de futuro. Tais leituras evidenciavam inquietações coletivas dos respectivos grupos políticos, bem como dilemas individuais. Como Sirinelli (2007SIRINELLI, J.-F. Os intelectuais. In: RÉMOND, R. Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2007. p. 231-270.: 238) alerta, “o historiador está obrigatoriamente inserido no seu país e na sua época por múltiplas aderências”. Talvez por esse motivo, Rémond (1959RÉMOND, R. Les intellectuels et la politique. Revue Française de Science Politique, ano 9, n. 4, p. 860-880, 1959.: 879) chama a atenção para o fato de “ao descrevermos seu comportamento em relação ao político, identificamos seus compromissos”2 2 “Nous avons décrit leur comportement à l’égard de la politique, recensé leurs engagements.” .

Assim, a compreensão dos fazeres historiográficos de Theodoro Sampaio no IHGSP parte da concepção de intelectual em sua acepção mais restrita, na qual ele atua com “engajamento na vida da cidade como ator” (Sirinelli, 2007SIRINELLI, J.-F. Os intelectuais. In: RÉMOND, R. Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2007. p. 231-270.: 243). O engenheiro baiano atuou em algumas das mais relevantes instituições científicas do país, como a Escola Politécnica de São Paulo, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e suas congêneres da Bahia e de São Paulo.

Com isso, estruturei o artigo em três momentos. No primeiro, aciono o texto autobiográfico, bem como biografias, necrológios e a historiografia atinentes a Theodoro Sampaio. Parto da preocupação de entender os deslocamentos do intelectual negro, a sua inserção na elite letrada brasileira do final dos oitocentos. Na segunda parte, penso o seu envolvimento político no tocante à escravidão, à monarquia e à república, além da concepção de história gestada por um engenheiro. No terceiro momento, trago o eixo central da análise, com o IHGSP, no âmbito de seu projeto de construção de uma historiografia regional que suprisse uma demanda pelo nacional. Nele, investigo a invenção do passado paulista por meio das publicações de Theodoro Sampaio na Revista do IHGSP, nas quais ele buscou elucidar a constituição dos limites do antigo Brasil meridional.

“O PRIMEIRO ESPINHO DO PRECONCEITO”: THEODORO SAMPAIO, UM ENGENHEIRO NEGRO

Como entender a atuação de um intelectual negro no Brasil que vivenciava os últimos momentos da escravidão e os seus primeiros anos do pós-abolição? Essa, certamente, é uma inquietação que atravessa grande parte das pesquisas, em decorrência de problemas como a identificação dos atores, a ausência de fontes acerca do possível enfrentamento da questão racial e a dificuldade de entender o sujeito a partir de suas palavras e de seus posicionamentos. Como bell hooks (1995HOOKS, b. Intelectuais negras. Estudos Feministas, v. 3, n. 2, p. 464-478, 1995. https://doi.org/10.1590/%25x
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: 465) defende, “a decisão de trilhar conscientemente um caminho intelectual foi sempre uma opção excepcional e difícil”. Além disso, no Brasil republicano, prevaleceu uma política de branqueamento dos intelectuais negros, notadamente por meio das narrativas biográficas. Para Antônio Sérgio Guimarães (2004GUIMARÃES, A. S. A. Preconceito de cor e racismo no Brasil. Revista de Antropologia, v. 47, n. 1, p. 9-43, 2004. https://doi.org/10.1590/S0034-77012004000100001
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: 271), o “‘embranquecimento’ pode ser entendido como o processo pelo qual indivíduos negros, principalmente intelectuais, eram sistematicamente assimilados e absorvidos às elites nacionais brasileiras”. Contudo essa assimilação dos letrados negros precisa ser ponderada, pois muitas vezes implica na desconsideração dos enfrentamentos em que esses sujeitos estiveram imersos no processo de formação e reconhecimento entre os pares.

Nesse enfrentamento, para fugir das armadilhas que atenuam o entendimento desses sujeitos tidos como “escorregadios”, “polissêmicos e polimorfos” (Sirinelli, 2007SIRINELLI, J.-F. Os intelectuais. In: RÉMOND, R. Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2007. p. 231-270.: 242), penso que é oportuno elucidar as palavras do próprio Theodoro Sampaio, em seu texto autobiográfico, no qual ele discorre sobre a sua família e a questão do cativeiro:

Nasci de pais modestos. O meu progenitor era branco, homem culto de uma família de lavradores, senhores de engenho no Recôncavo de S. Amaro. A minha mãe era preta, mulher de notável beleza na sua raça. Domingas era o seu nome. Até os dez anos de idade vivi em S. Amaro e no seu recôncavo, então o centro mais rico da lavoura de cana na Bahia. Em 1865, com dez anos de idade, pois nasci a 7 de janeiro de 1855, levou-me o meu progenitor para o Rio de Janeiro, onde conclui o curso das primeiras letras e estudei os preparatórios do curso secundário no Colégio de S. Salvador (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 425).

A narrativa autobiográfica de Sampaio elucida a ambivalência da origem, com uma mãe preta, “mulher de notável beleza de sua raça”, e um progenitor “branco, homem culto”. O texto autobiográfico implica em um projeto de feitura de si, no qual o sujeito expressa os elementos considerados basilares para a sua formação. No caso de Theodoro Sampaio, a estratégia inicial de apresentação foi tecida na ambiguidade entre a ancestralidade materna e a paterna. Os léxicos “mãe” e “progenitor” poderiam até ser vistos como escolhas aleatórias ou centradas no estilo de escrita. Contudo, ao se tratar de um letrado que se notabilizou nos estudos etimológicos, essa distinção não deve ser desconsiderada. Trata-se de uma forma contundente de expressar as suas devidas heranças, da raça e do intelecto. Ele se firmava como um homem negro, por herança materna, e culto, por legado paterno. O progenitor, possivelmente um padre, teria financiado a sua formação intelectual.

Entretanto essa assertiva revela outras frestas da construção de si, elucidativas da composição das famílias de escravizados no final dos oitocentos. Refiro-me aos léxicos “mãe” e “progenitor”, que precisam ser pensados a partir da definição de seu tempo. Por essa razão, acionei o dicionário de José Timóteo da Silva Bastos (1912BASTOS, J. T. da S. Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa: Parceria Antônio Maria Pereira, 1912.: 768), no qual o autor apresenta a seguinte definição para aquele: “Mãi mulher que deu á luz um ou mais filhos; relação de parentesco de uma mulher para com seus filhos; fêmea que teve filhos ou filhas; madre; fruto; origem; mulher carinhosa; (Do lat. mater)”.

Ao designar a sua ascendência materna, Theodoro Sampaio elegeu um termo que expressava, entre outras coisas, a dimensão afetiva da relação familiar, de “mulher carinhosa”. Revela, de forma explícita, que a sua mãe tinha sido a responsável pela criação, apesar dos contatos esparsos (Santana, 2002SANTANA, J. C. B. de. Introdução. In: SAMPAIO, T. (org.). O rio São Francisco e a chapada Diamantina. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 9-41.). Trata-se de uma designação que seria complementada pelo termo “pai”, definido, no mesmo dicionário, como “Homem que procriou um ou mais indivíduos; progenitor; antepassado; ascendente; protector (Do lat. pater)” (Bastos, 1912BASTOS, J. T. da S. Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa: Parceria Antônio Maria Pereira, 1912.: 878). Em uma constituição familiar, carinho e proteção se coadunavam no trato dos filhos. Contudo o pensador da história, experimentado nos estudos etimológicos, designou a sua ascendência paterna pelo vocábulo “progenitor”. Quanto a esse, José Timóteo da Silva Bastos (1912BASTOS, J. T. da S. Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa: Parceria Antônio Maria Pereira, 1912.: 972) o define de forma suscinta como “o que procria antes do pai; pai; os avós; os antepassados. (Do lat. progenitor)”. Por se tratar de uma definição ambígua, busquei dicionários publicados anteriormente, como o de Luiz Maria da Silva Pinto (1832PINTO, L. M. da S. Diccionário da Língua brasileira. Ouro Preto: Typographia de Silva, 1832.: 706), que, por seu turno, concebe o referido termo simplesmente como “ascendente”. Em 1889, Henrique Brunswick (1899BRUNSWICK, H. Diccionário de synonymos da língua portugueza. Lisboa: Francisco Pastor, 1899.: 566) explicitou que “os escritores, porém, e entre elles Garrett, ora empregam-nos ora para designar a descendência, ora a ascendência”.

Trata-se, certamente, de uma forma de designar um vínculo biológico, mas, de algum modo, desprovido de relações afetivas: um indício a ser considerado no processo de constituição das redes familiares envolvendo mulheres negras escravizadas, homens brancos e a prole. Além disso, a narrativa autobiográfica apresentava outras conotações atinentes à trama familiar, como a nomeação da mãe, ao dizer que “Domingas era o seu nome”, enquanto não mencionou diretamente o nome do progenitor. Nomear a mãe negra, em uma escrita efetivada nos idos de 1936, quando o intelectual já contava com 81 anos, revela um ato político de construir uma visibilidade aos sujeitos negros que passaram pela opressão do cativeiro.

Efetivamente, constituiu uma ação que contribuía para retirar os seus familiares negros do campo da invisibilidade. Isso perpassava pela questão da construção da memória, da seleção do que deveria ser dito e dos episódios que deveriam corroborar a invenção de si. Theodoro Sampaio elencou essas inquietações na conclusão de sua autobiografia. Nela, o autor diz:

Aqui termino essas notas auto-biográficas, decerto deficientes, porque na minha idade [oitentaa e um anos] a memória já não nos pode ser tão fiel e eu sinto que ela me está faltando muitas vezes. As faltas acaso aqui existentes são antes de deficiência do que de exagero de feitos e qualidades que me digam respeito (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 432).

Na construção da autobiografia, Theodoro Sampaio silenciou as dificuldades no processo de compra da liberdade de seus irmãos. Os registros dessa experiência encontram-se na documentação epistolar do intelectual negro, sob a tutela do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Essa questão foi acionada por grande parte da historiografia sobre Theodoro Sampaio. Arnaldo do Rosário Lima (1981LIMA, A. do R. Teodoro Sampaio: sua vida e sua obra. 158f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1981.: 50), em um dos pioneiros estudos biográficos, enfatiza que, no momento de seu retorno à Bahia, “alguns dos irmãos ainda viviam na condição de escravos. No ano de 1878, Teodoro Sampaio comprara a carta de alforria de Martinho. Em 1882, endereçava uma carta ao Visconde de Aramaré negociando a liberdade, de Ezequiel”. Essa situação também foi confirmada por Wlamyra Albuquerque (2015ALBUQUERQUE, W. Teodoro Sampaio e Rui Barbosa no tabuleiro da política: estratégias e alianças de homens de cor (1880-1919). Revista Brasileira de História, v. 35, n. 69, p. 83-99, 2015. https://doi.org/10.1590/1806-93472015v35n69005
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: 83), ao enunciar o seguinte: “Teodoro Sampaio atravessou a década de 1880 buscando arregimentar recursos financeiros e políticos que garantissem a compra da alforria dos seus três irmãos e a consolidação da sua carreira de engenheiro”. Sobre a mesma questão, Alcindo José de Sá (2018SÁ, A. J. de. Teodoro Sampaio: um precursor da criação simbólica do Nordeste? Revista de Geografia, v. 35, n. 5, p. 1-15, 2018. https://doi.org/10.51359/2238-6211.2018.239255
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: 4), por sua vez, reforça: “volta a Santo Amaro, onde revê a família (mãe, irmãos), comprando em 1878, a carta de alforria do seu irmão Martinho, gesto repetido com os irmãos Ezequiel (1882) e Matias (em 1884)”.

Entretanto a narrativa autobiográfica revela outras frestas que evidenciam a sua sensibilidade no tocante à questão do negro e do racismo no Brasil. Um dos momentos em que isso ocorreu foi ao tratar do seu processo de formação:

Devo o que sei dos estudos de humanidades aos meus caros mestres do Colégio de S. Salvador, aos quais me ajuntei como professor, quando aos dezessete anos, em 1871, entrei para a Escola Politécnica (então Escola Central) a fazer o curso de engenharia civil. Tive aí, entre os meus mestres, homens de ciência e intelectuais dos mais eminentes dessa época no Brasil. Eram eles Manoel da Cunha Galvão, Americo Monteiro de Barros, João Eugenio de Lossie e Seylbits, Carneiro, Saldanha da Gama, Vila Nova Machado, André Rebouças, Joaquim Murtinho, Visconde do Rio Branco, Borgia Castro, Souza Pitanga e Holanda Cavalcanti, todos de grande relevo na ciência e alguns de larga projeção na política nacional (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 426).

Ao elencar os seus mestres que contribuíram para a sua formação, ele cita nomes de intelectuais destacados no cenário científico do Império do Brasil, como Manoel da Cunha Galvão e o Visconde do Rio Branco. Além disso, entre os proeminentes nomes de destaque na ciência e na política, também estava André Rebouças, professor da antiga Escola Central e um dos intelectuais negros brasileiros de maior visibilidade no final do século XIX. Certamente, por meio dessa assertiva, é possível mensurar que sua trajetória era algo raro mas não único, pois, na própria instituição na qual se tornou engenheiro, havia outros intelectuais negros.

Contudo isso não significou a ausência de problemas no processo de inserção entre os homens de ciência. As suas memórias elucidam a questão de racismo enfrentada na sua primeira atuação profissional como engenheiro, ao ser convidado para integrar a Comissão Hidráulica do Império nos idos de 1878 (Costa, 2013COSTA, I. de F. Comissão Hidráulica do Império (1879-1880): profissionalização e técnica de serviço dos melhoramentos no século XIX. 290f. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2013.; Jesus, 2019JESUS, M. H. de O. de. Theodoro Sampaio e a geografia: esboço de uma história contextual de sua trajetória e produção técnico-científica. Geo-UERJ, n. 35, p. 1-29, 2019. https://doi.org/10.12957/geouerj.2019.31399
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).

Toco aqui, entretanto, num incidente então ocorrido, porque ele serve para explicar um dos poucos casos de preconceito social, hoje bem raros no país. A Comissão, em dia certo, apresentou-se ao Ministro que então lhe dirigiu a palavra e lhe explicou o ponto de vista do govêrno ao promover a sua criação. Estive presente ao ato assim como todos os meus colegas e, no dia seguinte, publicava o Diário Oficial a relação dos engenheiros para ela nomeados. O meu nome, porém, por motivo que então ignorei, não apareceu na relação. Estava, pois, excluído da Comissão para a qual, aliás, tinha eu recebido convite. É que eu era o único homem de côr na luzida comitiva e ao espírito do Oficial de Gabinete do Ministro o fato parecera-lhe muito chocante, tanto mais quanto se tratava de pessoal a servir com técnicos americanos, os quais, ao que se dizia, não apreciavam a companhia dos homens de côr. Fui assim eliminado e experimentei então o primeiro espinho do preconceito entre nós […]. Entretanto, a nuvem do preconceito, que se procurou insinuar à conta dos americanos, dissipou-se por completo e eu tive a honra de lhes conquistar a estima e amizade que foram tão benéficas no correr dos anos e tanto me serviram na profissão que adotei (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 426-427, grifos meus).

O processo de incorporação de Theodoro Sampaio entre os integrantes da Comissão Hidráulica foi permeado por ações excludentes, tingidas pelo racismo. Em suas memórias, o intelectual negro revela que a ausência de seu nome na lista dos engenheiros que iriam atuar na comissão teria sido decorrente do receio do possível incômodo dos técnicos norte-americanos por terem de trabalhar com um negro. Segundo Sampaio, esse teria sido o seu primeiro espinho do preconceito, ou pelo menos o primeiro digno de registro em suas memórias.

“EU NÃO FARIA DECERTO COMO ELA SE FEZ”: SAMPAIO ENTRE A POLÍTICA E A HISTÓRIA

Ressalta-se também como o intelectual preocupou-se em elucidar que o preconceito racial não se encontrava presente em toda a sociedade, havendo importantes exceções. Para isso, ele mobilizou o registro de suas experiências de contato com o imperador Pedro II. Inicialmente, informou sobre a sua atuação no Museu Nacional: “Aos 21 anos terminei os meus estudos na Politécnica, em 1876, e, enquanto estudante, colaborei no Museu Nacional” (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 425). Possivelmente, nessa instituição científica ele teria conhecido o chefe de Estado, dada a afirmação a seguir: “ao tempo em que aí se faziam as conferências científicas a que assistia o Imperador D. Pedro II com uma assiduidade exemplar” (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 426).

Um decênio após, nos idos de 1886, o engenheiro negro integrava a Comissão Geográfica e Geológica no rio Paranapanema, com o objetivo de pensar a viabilidade de união entre os rios Paraná e Paraguai e o Atlântico Sul do Brasil, uma pesquisa de campo que possibilitou cartografar os limites do sul do Império. Foi um trabalho que resultou na primeira base geodésia do império (Santos e Carlos, 2017SANTOS, A. P. dos; CARLOS, R. M. P. Theodoro Sampaio e a primeira base geodésica do Brasil. Terra Brasilis, n. 8, p. 1-12, 2017. https://doi.org/10.4000/terrabrasilis.2230
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) e no estudo etnográfico e etnológico dos “índios ainda dominadores nas matas”. Naquela ocasião receberam a convocação imperial:

Sua Magestade o Imperador, dizia-nos o Coronel, aqui chegado ontem, ordena que os senhores engenheiros da Comissão Geográfica e Geológica, ora em Campo Largo, se lhe apresentem sem maior perda de tempo, trazendo consigo as notas de campo, os dados e elementos colhidos na exploração do rio Paranapanema, pois Sua Magestade os deseja ver ainda informes antes dos trabalhos de escritório […]. Toda a manhã em Ipanema foi para D. Pedro II examinar plantas, croquis, processos de medição, notas, cálculos, desenhos da exploração do rio, indagando quanto aos resultados práticos do trabalho, inquirindo, objetando sobre assuntos teóricos como se fôra ele mesmo um profissional nesse ramo de serviço. Ao almôço, convidou-nos a todos para a sua mesa, e me fez a mim a honra de ocupar a cadeira à sua direita, pois durante o serviço não se conversou de outra cousa que não dos estudos de exploração, dos acidentes, da viagem, dos índios, os seus costumes e a sua língua. Desço a essas minucias todas para que se veja quanto era o interesse do monarca brasileiro pelos estudos científicos, o seu amor à ciência, a sua vasta erudição, a sua ambição de saber, o seu desejo manifesto de distinguir, e de fazer a justiça, sem preconceito de classe, sem preconceito de côr, pois D. Pedro _II foi o brasileiro mais isento de preconceitos que se conheceu no seu tempo (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 428-429, grifos meus).

A longa descrição do erudito encontro com o imperador do Brasil revela uma importante fresta atinente às feridas do preconceito ainda não cicatrizadas no intelectual negro. Theodoro Sampaio, que na mesma nota autobiográfica tinha dito que somente nos idos de 1878 tinha sentido o peso do racismo, nas páginas seguintes elucidou que Pedro II era diferenciado da sociedade de seu tempo, retratando-o como o brasileiro mais isento de preconceitos. Esse tom elogioso também provoca inquietações acerca do posicionamento político de Sampaio. Trata-se de outra questão escorregadia, pois, como foi elucidado em seu necrológio escrito por Plínio Ayrosa (1937AYROSA, P. Teodoro Sampaio. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. 33, p. 273-277, 1937.: 275), ele possuía um “feitio avesso às polêmicas”. Desse modo, torna-se pouco assertivo pensá-lo como monarquista ou republicano. Em suas memórias, ele aborda questões que ponderam os dois regimes políticos, mas sempre entrecortando-as com o dilema da escravidão e da ineficácia da abolição:

Estávamos na época das grandes transformações sociais e políticas, as maiores por que passara o país depois da independência do Brasil […] entrou numa fase de renovação e de progresso com que se assinalou o Ministério de Sete de Março, do Visconde do Rio Branco, que nos trouxe a lei do Casamento Civil, a lei dos Nascituros que libertou o ventre da mulher escrava, a eleição direta, o desenvolvimento e reforma do ensino, o aumento da viação férrea no país. Desenvolve-se a propaganda em prol da emancipação dos escravos. Libertam-se por lei os escravos sexagenários, e, com poucos anos de ativíssima propaganda, alcança-se a vitória mais assinalada da opinião pública nacional – a abolição dos escravos sem indenisação alguma aos senhores, pela de 13 de Maio de 1888. Vultos eminentes como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, André Rebouças, dominam o movimento emancipador, abolicionista. O Imperador, a Princeza Regente, que assinou o decreto da abolição, os seus ministros João Alfredo Corrêa de Oliveira, Antonio Ferreira Viana, são os maiores vultos da gloriosa jornada, que empolgou o Brasil inteiro (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 430).

As mudanças apresentadas denotam um espaço privilegiado para o processo emancipatório da população negra escravizada. O estudioso elencou o conjunto de leis que garantiram novos direitos, bem como listou os sujeitos que estiveram diretamente envoltos na construção da liberdade negra, como os emancipadores, incluindo o seu antigo professor, André Rebouças, e os artífices do decreto imperial. Além disso, revelou que a abolição ocorreu desprovida de indenização. No entanto o exame não sinaliza para uma reivindicação no tocante aos escravizados, mas, sim, aos senhores, que por tal motivo deixariam de apoiar a monarquia. Em outro momento, ele ressaltou a ruptura política e apontou as suas possíveis causas:

A Proclamação da República poucos meses após a abolição dos escravos, a 15 de Novembro de 1889, teve a seu favor a moléstia do Imperador e a abolição dos escravos sem indenisação. A propaganda republicana, ativada desde a Convenção de Itú, logrou sem grande esforço a sua vitória para o que, é de justiça reconhecer-se, muito contribuíram para o desenvolvimento das ideias democráticas o espírito tolerante do Imperador e a simplicidade de seu viver (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 430).

O texto de Sampaio, escrito nos idos de 1936, explicita uma ação conciliatória da memória política entre os republicanos e os monarquistas. Contudo, apesar de elucidar a relevância da Convenção de Itu e da abolição sem indenização, ele revela que o êxito republicano brasileiro era devedor ao espírito tolerante de Pedro II. De alguma forma, o intelectual negro se mostrava admirador da postura do imperador e desconfiado dos encaminhamentos republicanos: “Eu não faria decerto a República como ela se fez; aceitei-a, sim, como um resultado lógico dos antecedentes históricos e do ambiente democrático dominante na América” (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 431). O novo regime teria sido aceito pelo intelectual como uma resultante inevitável do processo histórico. Mas, afinal, qual era a concepção de história defendida pelo engenheiro? Essa é uma questão relevante, pois seus confrades de IHGSP o viam como um historiador competente e criterioso. Para Ayrosa (1937AYROSA, P. Teodoro Sampaio. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. 33, p. 273-277, 1937.: 274): “Ao contrário de muitos historiadores contemporâneos, nunca se aventurou a conclusões históricas sugeridas por documentos e estudos fragmentados, como nunca julgou os vultos históricos à luz exclusiva de seu critério pessoal”.

O elogio fúnebre publicado na instituição da qual ele havia sido um dos fundadores o tratava como um historiador prudente na interpretação e rigoroso na heurística documental. Para os seus biógrafos, era um historiador resignado, que iniciou suas atividades no ofício de Clio, no âmbito “das comemorações do terceiro centenário da morte de José de Anchieta, organizadas em São Paulo pelo seu amigo Eduardo Prado” (Santana, 2002SANTANA, J. C. B. de. Introdução. In: SAMPAIO, T. (org.). O rio São Francisco e a chapada Diamantina. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 9-41.: 22). Theodoro Sampaio (1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 431) fala desse despertar historiográfico: “O gosto pelos estudos históricos assinalou-se então pelas pesquisas e exames de documentos dos primeiros anos desde o descobrimento, por publicações, monografias, revistas de caráter científico em que não faltei também com o meu modesto concurso”. Em seus discursos pronunciados no IHGSP, em diferentes momentos, ele intentou definir a história. Esta, por vezes, calcada na fórmula clássica de mestra da vida: “apanágio da História de que nos constituímos os guardas e zeladores: funcção que nos habilita, nos exalta e nos enche de uma consoladora confiança ao encararmos o futuro: guiados pelas lições que nos vem do passado” (Sampaio, 1903SAMPAIO, T. Discurso. Revista do Instituto Histórico e Geographico de São Paulo, v. 7, p. 580-590, 1903.: 581).

Essa definição utilitarista também se enquadrava para pensar os exemplos biográficos dos grandes homens, pois “sim, precisamos dos bons exemplos, meus senhores: precisamos da lição dos mortos na vereda do bem; precisamos de estímulos para perseverar-nos na virtude e não descrermos do porvir; precisamos de alentos porque já temos sêde de justiça” (Sampaio, 1904SAMPAIO, T. Discurso. Revista do Instituto Histórico e Geographico de São Paulo, v. 8, p. 502-518, 1904.: 502). A história emergia como uma “instrucção social, preparando a grandeza da pátria, levantando-lhe os brios, estimulando-nos reciprocamente por amor della” (Sampaio, 1903SAMPAIO, T. Discurso. Revista do Instituto Histórico e Geographico de São Paulo, v. 7, p. 580-590, 1903.: 581). Nesse sentido, a história seria a fonte de conhecimento sobre o passado para guiar no caminho em busca do futuro. Um saber provido de sentido, pois “a guiamo-nos pelos ensinamentos da História, o progresso da humanidade é uma função da raça” (Sampaio, 1902SAMPAIO, T. IV Centenário do Descobrimento do Brazil. Revista do Instituto Histórico e Geographico de São Paulo, v. 6, p. 98-109, 1902.: 99). A raça seria o motor da história, e esse foi um dos seus temas centrais para pensar a construção do espaço do Brasil meridional na Revista do IHGSP.

“VIR A CONHECER A ORIGEM DOS MAIS IMPORTANTES FEITOS DOS NOSSOS ANTEPASSADOS”: “O PROBLEMA HISTÓRICO-GEOGRAPHICO” NA INVENÇÃO DO ESPAÇO PAULISTA

Theodoro Sampaio foi um intelectual vinculado a algumas das mais importantes instituições científicas de seu tempo. Pode-se dizer que foi um homem de instituto. Em seu relato autobiográfico, preocupou-se em listar as agremiações das quais era sócio:

Das instituições cientificas e literárias do país tenho recebido as seguintes e espontâneas provas do seu apreço para comigo: Sou socio efetivo de honra do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Socio efetivo do Instituto Histórico de São Paulo, Presidente do Instituto Histórico da Bahia; socio correspondente do Instituto Histórico de Minas Gerais; socio correspondente do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano; sócio correspondente do Instituto Histórico do Rio Grande do Norte; sócio correspondente do Instituto do Ceará; sócio do Instituto Histórico de Sergipe; sócio do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro; sócio fundador da Sociedade Capistrano de Abreu3 3 Theodoro Sampaio tornou-se um importante interlocutor e fonte para as pesquisas de intelectuais como Euclides de Cunha (em Os Sertões) e Capistrano de Abreu (Santana, 2009; Oliveira, 2014). ; membro efetivo da Academia de Letras da Bahia; sócio efetivo do Instituto Politécnico da Bahia (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 432).

Entretanto, ao longo de sua trajetória, o intelectual negro contribuiu de forma mais significativa para o sodalício baiano, em que chegou à presidência, e para o congênere paulista, do qual foi um dos fundadores e exerceu o cargo de orador. Fundado nos idos de 1894, o IHGSP resultou de uma inciativa “que partiu dos círculos intelectuais que já atuavam na cidade” (Mahl, 2017MAHL, M. L. Raça e civilização bandeirante no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1894-1934). In: FERREIRA, A. C.; MAHL, M. L. (org.). Os institutos históricos e geográficos: nação e região na historiografia brasileira. Campinas: Pontes, 2017. p. 121-142.: 127). O projeto historiográfico da instituição era ambicioso, pautado na premissa da cultura política bandeirante (Santos, 2017SANTOS, M. F. J. Ensino de História, espaços e cultura política bandeirante: José Scaramelli e a escrita de livros escolares para crianças. História, Histórias, v. 5, n. 9, p. 104-125, 2017.; 2021SANTOS, M. F. J. “Maior somma de factos históricos, elucidados com mais methodo”: Américo Braziliense e a invenção do espaço paulista na escrita da história escolar (1873-1879). Almanack, n. 29, p. 1-51, 2021. https://doi.org/10.1590/2236-463329ea00420
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). O IHGSP foi fundado nos primeiros anos republicanos, em um contexto marcado pela proliferação de sodalícios estaduais, dotados de ambiciosos projetos de feitura de histórias regionais e de repensar o nacional. Assim,

a história de S. Paulo é a própria história do Brasil. A necessidade de uma associação que promovesse os meios de estudar tantos documentos com os quaes se póde vir a conhecer a origem dos mais importantes feitos dos nossos antepassados, ou esclarecer noções errôneas sobre factos que merecem ser devidamente conhecidos, era uma destas lacunas que se afigurava difficil de ser preenchida. Felizmente a nossa iniciativa foi coroada do melhor êxito e estamos actualmente gozando do mais útil convívio dos nossos homens de lettras, que concorrem com suas luzes para assegurar ao Instituto Histórico a mais brilhante carreira (Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, 1896INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO (IGHSP). Ao Leitor. Revista do Instituto Histórico e Geographico de São Paulo, v. 1, p. 1-2, 1896.: 1).

O IHGSP nasceu com a incumbência de pensar a história paulista como a própria história nacional, ou seja, de sedimentar a institucionalização de uma nova centralidade para o país (Mahl, 2001MAHL, M. L. Teorias raciais e interpretação histórica: o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1894-1940). 181f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis, 2001.). O mesmo se deu na revista institucional, criada em 1896, com a prevalência de publicações que discorriam sobre o passado nacional protagonizado em solo paulista. Tratava-se da prerrogativa observada por Noé Freire Sandes (2000SANDES, N. F. A invenção da nação: entre a monarquia e a república. Goiânia: Instituto Goiano do Livro, 2000.: 90), ao afirmar que “os paulistas reverenciavam a pátria como sua própria criação”. Theodoro Sampaio discorreu sobre esse momento de efervescência paulista para o qual ele contribuiu como homem de letras e engenheiro:

S. Paulo tomou a dianteira do progresso do país. Colaborei como cidadão e como funcionário em tudo isso na medida das minhas fôrças. Em 1896 estava eu Engenheiro Chefe dos trabalhos de saneamento do Estado, trabalhos que dirigi por alguns anos. Fui membro da comissão com o General Jardim e Sales de Oliveira para organizar a Escola Politécnica de S. Paulo no govêrno de Bernardino de Campos. Com Antonio Piza, Cesário Mota, Horácio de Carvalho, Conselheiro Manoel Antonio Duarte de Azevedo e outros fundamos o Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo e de cujo edifício dirigi a construção (Sampaio, 1999SAMPAIO, T. Esboço autobiográfico de um cidadão de cor. In: PIERSON, D. (org.). Brancos e pretos na Bahia: estudo de contacto racial. São Paulo: Brasiliana, 1999. p. 425-432.: 431).

Literalmente, Theodoro Sampaio atuou como um construtor do IHGSP. Dirigiu a construção da sede do sodalício e empreendeu um operoso exercício de escrita da história paulista atenuada ao projeto de reinventar um Brasil republicano, centrado em um novo eixo. Imbuído dessa preocupação, parte da produção historiográfica do intelectual negro esteve atrelada à questão do processo de fundação da Capitania de São Vicente como resultante do processo de conquista territorial pelos portugueses e da construção dos limites da colônia. Isso se fez presente no texto inaugural:

No horizonte ignoto de todas as solidões sentia-se como que pairar uma lenda do riquezas fabulosas; e no coração de cada aventureiro aninhava-se o vago pressentimento dessa fortuna, sempre a mesma, sempre captiva da audácia, aguçando todas as ambições.

Foi então que a política portugueza, como que levada pelo estímulo que o successo alheio aguçou até o ciúme, resolveu occupar e povoar o Brazil. Esta terra por tão longos annos abandonada, bem podia encerrar o seu Imperio como o de Montesuma, e talvez, quem sabe, se não seria mais facil accommetter o Inca do Perú, investindo-o pelas costas brasileiras? (Sampaio, 1896SAMPAIO, T. Estudo crítico: a posse do Brasil meridional. Fundação da primeira colônia regular dos portugueses em São Vicente. Revista do Instituto Histórico e Geographico de São Paulo, v. 1, n. 2, p. 31-60, 1896.: 31).

Para Theodoro Sampaio, após três decênios de abandono, os portugueses passavam a se aventurar pelas terras brasileiras com o empreendimento colonizador em busca de metais preciosos. Desse modo, por ciúmes da Espanha, os portugueses passavam a “ocupar e povoar” o Brasil. Esse teria sido o ato inaugural da experiência de povoamento da América portuguesa e de definição dos limites meridionais do país, por meio da criação do primeiro núcleo efetivo de povoamento: Cananéia.

A definição desses limites meridionais foi pensada pelo engenheiro-historiador a partir do método histórico, com a heurística de manuscritos, consultando os “historiadores coevos”4 4 Ao longo dos textos, ele aciona inúmeros cronistas, por ele chamados de historiadores, como Frei Vicente do Salvador, Gandavo, Simão de Vasconcellos e Hans Staden. Inclusive deve ser ressaltado que, pautado na primeira edição, Sampaio editou uma nova obra de Viagem ao Brasil, nos idos de 1930 (Staden, 1930). , e a partir dessa inventariação documental, com a produção de mapas históricos. Consistia, portanto, em uma cartografia que articulava a narrativa histórica com o conhecimento do espaço e dos sujeitos que nele viviam, inclusive denotando grande destaque aos povos originários. Nesse sentido, torna-se salutar vislumbrar a produção do pensador da história na Revista do IHGSP.

Os dados do Quadro 1 explicitam os elementos que nortearam a produção historiográfica de Theodoro Sampaio no IHGSP. As publicações encontram-se diluídas ao longo de um decênio, entre 1896 e 1906, além de uma nova contribuição em 1912, com a retomada de uma questão anterior. Apesar de haver uma distribuição de textos por praticamente todas as edições da primeira década do periódico, ressalta-se que entre 1902 e 1904 ocorreu maior concentração, com uma média de quatro contribuições por volume. O aumento foi resultante do cargo de orador ocupado por Sampaio no instituto.

Quadro 1
Publicações de Theodoro Sampaio na Revista do IHGSP.

Dentre os textos destacam-se quatro discursos, proferidos nas solenidades realizadas nas efemérides, como datas cívicas nacionais e do próprio sodalício. Além disso, observa-se a proeminência de trabalhos sobre os povos e as línguas indígenas, uma temática cara para Theodoro Sampaio, na qual ele se tornou uma das maiores autoridades. Em relevo estão os desdobramentos da pesquisa sobre o tupi na geografia e as investigações referentes aos guaianás, pensados como símbolos do espaço paulista. Numericamente predominantes, encontram-se seis artigos que tencionam os espaços coloniais da capitania paulista, como as vilas de Cananéia, Santo André da Borda do Campo e São Paulo. Entre esses artigos, São Paulo, cabeça da comarca, foi pensada em três dimensões, com a análise acerca do colégio jesuítico, do ato de fundação e de uma leitura sobre a localidade no século XIX (Costa, 2003COSTA, L. A. M. O ideário urbano paulista na virada do século, o engenheiro Theodoro Sampaio e as questões territoriais e urbanas modernas (1886-1903). São Carlos: RiMa, 2003.).

Também é possível vislumbrar a escrita historiográfica de Sampaio por meio do entrecruzamento entre os estudos de cunho biográficos, com três contribuições, e as análises relativas à dimensão histórico-geográfica, problema que foi enfrentado em nove textos. Uma preocupação recorrente do intelectual negro era averiguar a localização de antigas instituições e assentos das localidades, como testemunhos dos tempos idos, do eclodir colonizador. Isso justifica a ampla predominância de artigos que pensaram questões do período colonial, com 15 contribuições, em oposição ao estudo de São Paulo Oitocentista e dos discursos, que, conjuntamente, reverberavam reflexões acerca da modernidade vivenciada nas plagas paulistas.

Nesse trâmite de pensar a história como elemento que forjava o passado paulista e revelava as dimensões dos limites meridionais, Theodoro Sampaio considerou a constituição das diferenças geográficas entre o Norte e o Sul do Brasil. Consoante o autor:

Perante a funcção histórica dos conquistadores do Novo Mundo, a região do Norte do Brasil é um theatro dos mais ingratos que se não fora o Amazonas, a expansão brasileira por esse lado teria parado no valle de São Francisco. A região do Sul, ao contrário, reunia as condições geographicas capazes de um dia assegurar na partilha da América para o domínio lusitano quasi metade do continente austral (Sampaio, 1901SAMPAIO, T. O sertão antes da conquista (século XVII). Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. 5, p. 79-94, 1901.: 86).

Os fazeres historiográficos de Theodoro Sampaio sinalizavam a conjunção ideal entre o espaço e a raça como elementos que possibilitavam a marcha histórica. O Brasil meridional era resultante disto: do encontro entre a geografia ideal, que possibilita os deslocamentos dos sujeitos no processo de conquista e que levaria os portugueses a dominarem grande porção da América do Sul, e a raça mestiça, oriunda da junção entre portugueses, negros e indígenas, que formaria o bandeirante paulista, agente responsável pela efetivação da conquista do território. A junção das raças resultaria no paulista. Assim, Sampaio empreendeu a invenção do espaço paulista como limite do meridional da colônia. Com efeito, ele concretizou a sua feitura do Brasil como resultante de uma ação germinada pelo “homem do littoral como que domina do alto das suas montanhas o íntimo dos sertões” (Sampaio, 1901SAMPAIO, T. O sertão antes da conquista (século XVII). Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. 5, p. 79-94, 1901.: 87).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Theodoro Sampaio foi um homem de ciências “ambivalente e complexo”, com uma trajetória marcada pelos deslocamentos espaciais, institucionais e científicos — uma pluralidade de escolhas que revelam a necessidade de novas pesquisas para vasculhar o seu pensamento historiográfico em espaços, como o Instituto da Bahia. No âmbito do IHGSP, é possível entender os primeiros passos do intelectual negro direcionados à construção de interpretações históricas que contribuíam para forjar um sentido na demarcação do limite meridional do Brasil.

Os caminhos percorridos por Sampaio em terras paulistas contribuíram para edificar um conhecimento acerca do espaço outrora desconhecido, como uma cartografia que possibilitava integrar o território por meio dos rios, bem como conhecer os povos originários como um elemento da identidade nacional. Além disso, ele também cartografou o passado, com a edição de crônicas históricas e a escrita da história paulista, na qual repensava a colonização em terras paulistas como uma atividade constitutiva de um limite da colônia no Brasil meridional.

Ao considerar que ao longo do século XX a historiografia paulista forjou para si uma centralidade do nacional, é plausível entender que o IHGSP acabou por se consolidar como o ateliê de forja desse monumento narrativo que transmutava a história estadual paulista em história do Brasil. No ateliê da história paulista, ao longo de seu primeiro decênio, o principal artífice dessa invenção foi Theodoro Sampaio, o intelectual negro que acionou diferentes aparatos científicos para edificar a visibilidade do Brasil meridional.

NOTAS

  • 1
    Neste caso, refiro-me à atuação em diferentes instituições acadêmicas, científicas e culturais.
  • 2
    “Nous avons décrit leur comportement à l’égard de la politique, recensé leurs engagements.”
  • 3
    Theodoro Sampaio tornou-se um importante interlocutor e fonte para as pesquisas de intelectuais como Euclides de Cunha (em Os Sertões) e Capistrano de Abreu (Santana, 2009SANTANA, J. C. B. de. Os engenheiros Euclides da Cunha e Teodoro Sampaio. Jornal UNESP, 2009.; Oliveira, 2014OLIVEIRA, K. M. de. Juazeiro, o empório do sertão na visão de Teodoro Sampaio. In: FREIRE, A. (org.). Culturas dos sertões. Salvador: Edufba, 2014. p. 179-187.).
  • 4
    Ao longo dos textos, ele aciona inúmeros cronistas, por ele chamados de historiadores, como Frei Vicente do Salvador, Gandavo, Simão de Vasconcellos e Hans Staden. Inclusive deve ser ressaltado que, pautado na primeira edição, Sampaio editou uma nova obra de Viagem ao Brasil, nos idos de 1930 (Staden, 1930STADEN, H. Viagem ao Brasil: versão do texto de Marpurgo, de 1557, revisada e anotada por Theodoro Sampaio. Rio de Janeiro: Industrial, 1930.).
  • Fonte de financiamento: nenhum.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    29 Abr 2022
  • Aceito
    16 Ago 2022
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