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Consumo de drogas e violência no trabalho feminino Zapallal - Lima/Perú

Resumos

Este é um estudo descritivo, correlacional, transversal, e qualitativo. Seus objetivos foram identificar os fatores de risco sociodemográficos e de trabalho para o consumo de drogas e tipos de violência no ambiente de trabalho relacionados ao uso de drogas, e também compreender a percepção da mulher trabalhadora sobre o fenômeno. Foram entrevistadas 125 mulheres trabalhadoras da área de Zapallal, Lima, com entrevistas aprofundadas de 16 mulheres que haviam sofrido violência no seu ambiente de trabalho. Entre as participantes, 52,8% faziam consumo de álcool e 6,4% consumiam alguma droga ilícita. As católicas apresentaram risco maior para o consumo de álcool, assim como as com idade inferior a 20 anos apresentaram risco maior para o consumo de drogas ilícitas. Nesta amostra, 17,6% haviam sofrido violência verbal no trabalho, 9,6% algum tipo de violência física e 1,6% assédio sexual no trabalho. A mulher trabalhadora se percebe como grupo vulnerável para a ocorrência de violência no trabalho, sente-se fraca para defender-se, e, em alguns casos, apesar de sentir medo e vergonha, notifica a violência.

transtornos relacionados ao uso de substâncias; mulheres maltratadas


The study design was descriptive, correlational, cross-sectional, and qualitative. The objective was to identify sociodemographic and labor risk factors for drug consumption and types of violence in the workplace related to drug consumption, as well as to understand the perception of female workers regarding the relationship between drug consumption and workplace violence. We surveyed 125 women workers of four slums in the area of Zapallal, Lima, Peru, interviewing 16 women who experienced workplace violence. Among the participants, 52.8% consumed alcohol and 6.4% illegal drugs. Catholic women were at risk for consuming alcohol, while participants under 20 years of age were at risk for consuming illicit drugs. In this group, 17.6% of the women experienced verbal violence, 9.6% physical violence and 1.6% were sexually harassed in the workplace. Women victims of verbal violence have a risk for consuming illicit drugs. These women perceived themselves as a vulnerable group for violence in the workplace and weak for defending themselves. They expressed fear or shame in reporting cases of violence.

substance-related disorders; battered women


Este estudio descriptivo, correlacional, transversal y cualitativo tuvo como objetivos identificar factores de riesgo sociodemográficos y laborales del consumo de drogas y tipos de violencia en el trabajo relacionados al consumo de drogas, y también comprender la percepción de la mujer trabajadora sobre este fenómeno. Se encuestó a 125 mujeres trabajadoras de 4 AAHH de Zapallal-Lima, y se entrevistó a 16 que sufrieron violencia en ambientes laborales. El 52,8% de estas mujeres consumen alcohol y el 6,4% drogas ilegales. Las católicas están en riesgo de consumir alcohol y las menores de 20 años en riesgo de consumir drogas ilícitas. El 17,6% de mujeres sufrió violencia verbal, el 9,6% violencia física y el 1,6% hostigamiento sexual en el trabajo. Las victimas de violencia verbal tienen riesgo de consumir drogas ilícitas. La mujer se percibe como: grupo vulnerable para violencia en el ambiente laboral y débil para poder defenderse y, aunque siente temor o vergüenza, reporta su caso.

trastornos relacionados con sustancias; mujeres maltratadas


ARTIGO ORIGINAL

Consumo de drogas e violência no trabalho feminino Zapallal - Lima/Perú1 1 As opiniões expressadas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam a posição da organização onde trabalham ou de sua administração

Yesenia MusayónI; Catherine CaufieldII

IProfessor associado, Faculdade de Enfermagem, Universidade Peruana Cayetano Heredia, e-mail:fmusayon@upch.edu.pe

IIProfesssor da Faculdade de Enfermagem, Universidade de Alberta;, e-mail: c.caufield@ualberta

RESUMO

Este é um estudo descritivo, correlacional, transversal, e qualitativo. Seus objetivos foram identificar os fatores de risco socio-demográficos e de trabalho para o consumo de drogas, tipos de violência no ambiente de trabalho relacionados ao uso de drogas e compreender a percepção da mulher trabalhadora sobre o fenómeno. Foram entrevistadas 125 mulheres trabalhadoras da área de Zapallal, Lima; com entrevistas detalhadas junto a 16 mulheres que haviam sofrido violência no seu ambiente de trabalho. 52,8% das mulheres faziam consumo de álcool, e 6,4% consumiam alguma droga ilícita. As católicas apresentaram risco maior para o consumo de álcool, assim como as com idade inferior a 20 anos apresentaram risco maior para o consumo de drogas ilícitas. Nesta amostra, 17,6% havia sofrido violência verbal no trabalho, 9,6% algum tipo de violência física e 1,6 por cento, assédio sexual no trabalho. A mulher trabalhadora se percebe como grupo vulnerável para a ocorrência de violência no trabalho, sente-se fraca para defender-se, e, em alguns casos, apesar de sentir medo e vergonha, notifica a violência.

Descritores: transtornos relacionados ao uso de substâncias, mulheres maltratadas.

INTRODUÇÃO

Por décadas o uso de drogas e, particularmente o álcool, foram associados a condutas violentas e alguns pesquisadores têm documentado a possibilidade de que estas causas tenham relação com variáveis múltiplas(1). A conexão entre a substância e a conduta violenta é complexa e sugestiva, mais do que conclusiva(2). Sendo assim, há pesquisadores suficientes sobre o papel específico que o abuso de cada substância tem na geração de violência. No entanto, há um aumento da prevalência da violência associada ao abuso de drogas na América Latina, e este fato se agrava no processo de globalização, ao qual facilita o marketing, a diversificação e produção das drogas e aumenta sua demanda ao longo dos diferentes grupos de população, incluindo mulheres. Em suma, alguns fatores podem ter agravado este problema, como algumas mudanças na estrutura familiar, no papel da mulher, valores e estilo de vida(3). No Peru, o problema das drogas está afetando as mulheres de maneira considerável.

A Organização Mundial da Saúde considerou a violência como um problema de saúde pública, sendo que as mortes devido à violência alcançam 1,6 milhões de pessoas, a cada ano(4). Muitos fatores desempenham um papel importante na violência, dentre eles incluem: conduta dos pais, idade, gênero, e abuso de substâncias como ocorre antes e durante alguns atos violentos, desencadeando uma associação temporária entre casos específicos de álcool e substâncias estimulantes como anfetaminas e cocaína(5).

A violência está se extendendo ao ambiente de trabalho: O Centro para a Prevenção e Controle de Doenças (CDC) declara a violência no ambiente de trabalho como uma epidemia nacional, a qual aumentou 300% na última década. A estimativa da incidência e avaliação de fatores de risco associados a lesões não fatais por agressões ocupacionais foram raramente documentadas no contexto populacional. No entanto, poucos estudos relataram evidências de como o abuso de álcool, ocupação e gênero estão provavelmente associados à agressão no ambiente de trabalho(6).

Estudos de pesquisa consistentes acreditam que o uso de álcool está associado à violência verbal e física no ambiente de trabalho(7). Parte destes estudos se encontram na América do Norte. Outros estudos declaram que o uso de drogas entre trabalhadores pode afetar a produtividade, o rendimento, e aumentar o número de dias perdidos no trabalho. Os pesquisadores mostram resultados através da relação entre o uso de drogas por empregadores, gênero e etnia, mas não mencionam a violência no trabalho.

Este estudo pretende responder as seguintes perguntas de investigação: "Que fatores de risco sócio-demográficos e de trabalho se relacionam com o consumo de drogas entre mulheres trabalhadoras de classes populares?", "Qual é a relação entre o consumo de drogas e a violência no ambiente de trabalho?" e "Qual é a percepção da mulher sobre o consumo de drogas e violência no ambiente de trabalho?". Isto permitirá contribuir para identificar a proporção de consumo de drogas em mulheres trabalhadoras, e os possíveis fatores de risco sócio-demográficos e de trabalho para o consumo de drogas; identificar tipos de violência no ambiente de trabalho relacionados ao consumo de drogas e compreender a percepção da mulher sobre o consumo de drogas e a violência no trabalho.

No futuro, espera-se contribuir com o desenvolvimento do rumo dos programas de prevenção para a redução da demanda de drogas na mulher.

METODOLOGIA

Tipo de estudo: O estudo foi quantitativo com uma breve abordagem qualitativa que exigiu uma análise de conteúdo. No estudo quantitativo, realizou-se um esboço do tipo descritivo correlacional, a fim de identificar os fatores de risco e a proporção do consumo de drogas. O componente qualitativo foi exploratório, utilizando entrevistas semi-estruturadas com detalhes.

População e Amostra: A população estava em conformidade com todas as mulheres trabalhadoras de quatro Assentamentos Humanos de Lima entre Janeiro e Fevereiro de 2004 que cumpriam com os seguintes critérios de inclusão: Ser maior de idade e não mais de 60 anos, ter vontade de participar do estudo e assinar o termo de consentimento informado e não ter nenhuma incapacidade física ou mental. Entrevistou-se 125 mulheres que representam aproximadamente 90% da população de mulheres trabalhadoras entre 18 e 60 anos, mediante visita casa por casa, para o qual se construiu previamente um mapa da região. Para o desenvolvimento da pesquisa qualitativa entrevistou-se um total de 16 mulheres que haviam manifestado ter sido vítimas de violência e que permitiam na entrevista uma oportunidade para se obter um segundo consentimento informado.

Técnicas e Instrumentos de Coleta de dados: Para a coleta de dados utilizou-se o instrumento TWEAK com o objetivo de identificar as mulheres consumidoras de álcool, a este instrumento adaptou-se uma tabela para obter informação sobre o consumo de diversos tipos de drogas ilegais. Utilizou-se, além do mais, um instrumento para identificar os fatores sócio-demográficos e de trabalho que poderiam estar associados ao consumo de drogas, e finalmente um teste de violência no ambiente de trabalho.

Análise de Dados: Realizou-se inferências estatísticas sobre a associação dos fatores de risco sócio-demográficos e de trabalho com o consumo de drogas. Inicialmente realizou-se análise bivariada para identificar a existência de associação mediante a utilização do Xis quadrado (x²), em cada um dos fatores de risco identificado, posteriormente se detectou a força de associação mediante o cálculo da Relação Proporcional com seus respectivos intervalos de confiança. Finalmente, realizou-se a análise multivariada aplicando-se um modelo de Regressão Logística.

Os dados qualitativos foram analizados, codificados e categorizados identificando-se as semelhanças e diferenças de conceitos.

RESULTADOS

Os resultados mostram que 52,8% (66/125) das mulheres trabalhadoras consomem alguma bebida alcoólica, por outro lado 6,4% (8/125) consome drogas ilícitas.

Entre os fatores associados, descobriu-se que a ocupação se encontra associada ao consumo de drogas ilícitas nas mulheres (p=0,000) mostrando que as mulheres que desempenham uma ocupação profissional ou técnica têm 34,50 vezes mais a probabilidade de consumir drogas ilícitas em comparação àquelas que desempenham uma ocupação de comerciante ou serviço. A profissão também é um fator associado ao consumo de drogas ilícitas, sendo que aquelas mulheres com uma profissão têm 9 vezes mais o risco de consumir substâncias em comparação àquelas que não têm profissão. O tipo de vínculo de trabalho da mulher trabalhadora também está associado ao consumo de drogas ilícitas (p=0,03). De modo semelhante, receber apoio complementar e prestações sociais, o número de companheiros de trabalho e a forma de trabalho são fatores associados ao consumo de drogas ilícitas (p<0,05) segundo pode-se ver na Tabela 1. Com maior precisão pode-se dizer que aquela mulher que tem companheiros de trabalho tem 8,32 vezes mais a probabilidade de consumir drogas do que aquela que não tem companheiros de trabalho.

Segundo a análise estatística multivariada não se encontrou nenhuma variável com uma associação significativa ao consumo de drogas ilícitas.

Em relação à violência, encontrou-se uma proporção de mulheres que foram vítimas de violência física no trabalho de 9,6%, violência verbal 17,6% e 1,6%; encontrando-se um nível de precisão alto; portanto, para a violência física o intervalo de confiança oscila entre 9,1% e 10,1%, o violência verbal entre 17% até 18,2%, e o assédio sexual oscila entre 1,4 e 1,8.

Na tabela seguinte pode-se reconhecer que existe associação entre violência verbal e consumo de drogas ilícitas, ou seja, as mulheres que foram vítimas de violência verbal têm 7,80 vezes mais a probabilidade de consumir drogas ilícitas que aquela mulher que não foi vítima de tal violência.

Tabela 2

Figura 1


Figura 2


DISCUSSÃO

As mulheres constituem um dos grupos mais vulneráveis ao consumo de substâncias, pois sofrem na maior parte as conseqüências adversas de seu consumo(8) .

A hipótese deste estudo estabelece que há alguns fatores sócio-demográficos e de trabalho associados ao consumo de drogas por mulheres e além disso, que este consumo poderia estar associado à violência no ambiente de trabalho. Esta dualidade: violência e drogas, é um fenômeno que cada vez mais causa maior preocupação nos cenários sociais e políticos do mundo.

No entanto, são os países em desenvolvimento que experimentam na maioria das vezes este problema. No Peru, Zapallal é uma zona geográfica localizada no Distrito de Puente Piedra ao Norte de Lima, e representa um dos maiores cinturões de pobreza.

O abuso de álcool e outras substâncias parece ser um problema em crescimento entre mulheres de países em desenvolvimento(9). No Peru, mais de 70% das mulheres entre 17 e 59 anos consomem álcool, e mais de 20% consome tabaco; este relatório precisa que a maior proporção de consumidoras de álcool se encontrem entre 20 e 30 años(10), idade em que a maior parte das mulheres ingressa no mercado de trabalho. Neste estudo descobriu-se que 52,8% das mulheres trabalhadoras consomem álcool. Provavelmente, o consumo se relaciona ao ingresso de novas esferas sociais onde é, sem dúvida, o licor para o "brinde de honra".

Referente ao consumo de drogas ilegais (sedativos sem receita médica e maconha), este estudo descobriu que 6,4% de mulheres trabalhadoras as consomem, contando com um nível de precisão alto, tanto nos limites de confiança a 95% e variam entre 6% e 6,8%. Com relação as oito mulheres que manifestaram consumir drogas ilegais, 4 delas mencionaram que consumiam sedativos sem receita médica, 6 consumiam maconha e duas delas ambas as substâncias.

Segundo as estatísticas do país, o consumo de tranquilizantes é de 2,2% e de maconha de 0,60%(10). Estas drogas para este estudo representaram, no caso, os sedativos 3,2% (4/125) e a maconha 4,8% (6/125).

Há muitos fatores que poderiam levar à mulher ao consumo de drogas dentre os quais se conhece os fatores pessoais, familiares, sociais e de trabalho. Em relação aos dois últimos, esta pesquisa descobriu que a religião é um fator que influi para que a mujer consuma bebidas alcoólicas; isto é, que as mulheres que pertencem à religião católica têm três vezes mais risco de consumir bebidas alcoólicas do que a mulher que não é católica (protestantes, adventistas, mórmons, etc). É muito provável que isto se relacione com a pouca ou nula censura que apresenta a religião católica contra o consumo de bebidas alcoólicas, e mais; no ritual da missa se bebe vinho; ao contrário das religiões que não são católicas existe uma censura explícita ao consumo de bebidas alcoólicas ou cigarro não somente porque causa dano à saúde, mas sim porque se pregam e interpretam estritamente o que dizem as escrituras bíblicas(11).

Portanto, se analizamos as demais variáveis sócio-demográficas como: estado civil, número de filhos, e se a mulher vive com o parceiro; esta pesquisa descobriu que estas não são fatores de risco para o consumo de bebidas alcoólicas para a mulher trabalhadora, provavelmente os fatores de risco se encontram em outras dimensões de sua vida.

Ao fazer a exploração da dimensão do trabalho da mulher, dentro das quais se tem: tipo de ocupação ou profissão, relação ou vínculo de trabalho, dentre outras; tão pouco se descobriu uma relação estatisticamente significativa como fatores de risco de consumo de bebidas alcoólicas. Com tais resultados, é necessário explorar outros aspectos do ambiente de trabalho como respostas de permissão, ou se os companheiros consomem também ou não, etc.

Em relação ao consumo de drogas ilícitas ou sem receita médica, neste estudo pode-se observar que entre os fatores sócio-demográficos, a idade é o único fator que influi no consumo de drogas ilícitas, ou seja; que as pessoas menores de 20 anos têm 12 vezes mais a probabilidade de consumir drogas ilícitas do que aquelas com mais de 21 anos de idade. Com relação a isso, é necessário mencionar que nesta etapa pode ser que a pessoa seja mais propensa a permitir o consumo na mesma proporção que tenta deixar a adolescência para enfrentar uma vida adulta com todos os seus riscos e responsabilidades; muitas delas conseguem, mas outras encontrarão refúgio no "sono profundo" ou no "descanso" através dos comprimidos.

Em relação aos fatores de trabalho, a ocupação é um fator que esta pesquisa encontra associada ao consumo de drogas ilícitas (p=0,000), o que implica que se uma mulher tem uma ocupação profissional ou técnica tem 34,50 vezes mais a probabilidade de consumir mais drogas ilícitas do que aquela que apresenta uma ocupação correspondente a comerciante ou pessoal de serviço. Esta observação corresponde ao que se a mulher tem ou não uma profissão; a respeito disso, descobriu-se uma associação estatisticamente significativa (p=0,01), a mulher que tem uma profissão tem 9 vezes mais a probabilidade de se consumir drogas do que aquela que não tem uma profissão. É muito provável que aquela pessoa que tem uma ocupação correspondente ao de uma carreira profissional ou técnica tenha mais responsabilidade de trabalho do que provavelmente tem e maior estresse que origine a busca de uma "válvula de escape": a droga. Além do mais, a quantidade de dinheiro que se percebe provavelmente seja maior e permite a compra do comprimido ou da susbtância, sem deixar de lado o connhecimento adquirido ou accesso à informação que possa ter sobre qual comprimido pode fazê-la dormir ou permita relaxar.

O tipo de trabalho da mulher, ou seja, se é formal ou informal; também se encontra associado ao consumo de drogas ilícitas (p=0,03), semelhante ao vínculo de trabalho, quer dizer que se a mulher é nomeada, contratada ou não tem nenhum vínculo trabalhista encontra-se associado ao consumo de drogas ilegais (p=0,01). Ambas as variáveis se relacionam com a formalidade e a estabilidade da mulher a uma posição de trabalho, o que provavelmente em seu desejo de mantê-la origine nela maior exigência e estresse do que enfrentá-la. Além do mais, os ambientes de trabalho formais demandam da mulher um regime de caráter rígido, tendo que organizar-se para não deixar de falhar em suas outras responsabilidades dentro do local.

Outro fator analizado é o tipo de instituição onde se trabalha, o qual também se encontra associado ao consumo de drogas ilícitas (p=0,03). Nesta variável categorizou-se como particular, aquele trabalho onde a mulher trabalha independente ou se emprega para um terceiro que não tem uma empresa constituída (ex. o patrão da empregada doméstica). Este resultado poderia confirmar a proposta anterior que embora mais rígidas sejam as condições de trabalho, a mulher se encontraria em maior risco de consumir substâncias, ao contrário da mulher que acredita em seu próprio emprego ou trata diretamente com seu patrão as condições de trabalho, poderia estar submetida a menos estresse ou pressão e além do mais, a disponibilidade de dinheiro poderia ser menor ou menos fixa para permitir a droga. Outra variável associada ao consumo de drogas ilícitas é se a mulher recebe apoio complementar, ou seja, se a mulher recebe alimentos ou roupa como complemento a sua remuneração. E, finalmente o número de companheiros de trabalho e a forma de trabalho também são fatores associados ao consumo de drogas ilícitas. Em relação ao primeiro, se a pessoa tem companheiros de trabalho, tem 8,32 vezes mais a probabilidade de consumir substâncias em comparação àquela que não tem companheiros de trabalho. Ao que parece, isto teria sentido se fossem os amigos ou grupo quem freqüentemente apóiam ou induzem ao consumo. E, em relação ao segundo; parece que se a mulher desenvolve um trabalho mais intelectual ou de relação poderia ter mais risco do que aquela que só realiza atividades manuais. Nas atividades manuais geralmente a mulher conclui sua jornada e sai do trabalho, ao contrário das outras duas formas, a mulher se relaciona, troca idéias positivas ou negativas.

Ao realizar a análise multivariada das variáveis que resultaram significativas, nenhuma das variáveis analizadas resultou sendo um fator de risco de consumo de drogas ilegais na mulher trabalhadora. Sendo provável que algumas variáveis anulem ou controlem as outras e por fim, reduzam sua força de associação como de risco.

A violência contra a mulher é um fenômeno de grande preocupação para a sociedade, no entanto, há poucos estudos sobre se esta violência se desenvolve no ambiente de trabalho, que tipo é e em que magnitude. Quando se menciona violência, geralmente se pensa em todas as formas que pudessem existir desde as mais comuns, físicas ou sexuais até onde se expõe a mulher a um ambiente violento como prisões ou trabalhos individuais segundo os identificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS)(12). É assim que as mulheres constituem um grupo vulnerável, e são as próprias mulheres que se auto declaram como tal: A mulher está mais exposta à violência, sobretudo quando o chefe é homem, ao menos quando se é jovem, a acusam (E 3 - mulher de 35 anos, vendedora de frutas).

Este estudo descobriu que 9,6% das mulheres trabalhadoras haviam sido vítimas de violência física nos últimos doze meses, 17,6% de violência verbal e 1,6% de assédio sexual. A violência verbal é a que afeta mais as mulheres, e se traduz aos gritos e insultos, um estudo sobre violência no trabalho no setor de saúde descobriu que a violência verbal é a mais freqüente, e está dirigida à mulher trabalhadora(13).

Este estudo reforça este fato, e confirma que as pessoas que agridem as mulheres trabalhadoras, são, em maior número, os pacientes ou clientes ou os parentes dos mesmos que agridem as mulheres seguido dos administradores ou companheiros de trabalho. A mulher não toma nenhuma atitude sobretudo se a agressão é verbal, algumas mulheres manifestam em seu depoimento que: não foi problema, foi um incidente qualquer. Simplesmente não fiz caso (E 15 - mulher de 38 anos, vendedora). Estes incidentes são denominados pelas mulheres como típicos incidentes de trabalho: no caso de violência física, 9 de 12 mulheres compartilham esta opinião, o mesmo que 19 de 22 que sofreram violência verbal e as 2 pessoas com assédio sexual.

Culturalmente, muitas vezes é a própria mulher quem está convencida de sua fraqueza como pessoa pelo fato de ser mulher, e mais, muitas delas consideram que não têm capacidade suficiente para a defesa, pelo qual o homem é quem em muitos casos pode e deve defendê-la: Sentia amargura, que o pai de meu filho não soube proteger-me, com autoridade que me ajudaria (E 6 - mulher de 49 anos, vendedora de frutas).

Uns dois ou três casos do total de mulheres que receberam uma agressão enfrentaram seu agressor dizendo a ele que parasse, e outras se reportaram a seu superior ou patrão. Seja em um ou outro caso porém é pequeno o número de mulheres que busca ajuda diante de um fato violento, entretanto, as mulheres estão assumindo paulatinamente sua própria defesa, mesmo quando isto cause muitas vezes medo, temor ou vergonha (Figura 3): eu estava trabalhando em uma casa como empregada e um familiar da senhora tentou me tocar, o que eu não aceitei, e embora tivesse medo, eu o enfrentei (E 4. mulher de 34 anos, empregada doméstica); me deu vergonha, estava em plena rua, mas disse a ele que parasse de me insultar (E 16 - mulher de 39 anos, vendedora de batatas recheadas).


A partir da violência foram reconhecidos novos problemas psico-sociais, como o estresse a partir do tratamento violento contra as mulheres prestadoras de serviços, que trabalham sozinhas ou apresentam estresse diante da incapacidade de poder ajudar seus clientes(4). De acordo com a OMS, as mulheres submetidas a ambientes violentos podem apresentar problemas psicológicos, como distúrbios do sono, estresse e síndromes de depressão. No estudo, uma proporção considerável manifestou ter apresentado alguns problemas a partir da violência sofrida como distúrbios na memória, outras preferiram não falar ou pensar no tema, pois quando surgiam sentimentos sobre a violência, começaram a ficar ¨super atentas¨ ou se sentiram deprimidas: A pessoa me cortou a cara com uma faca e a por causa disto me sentia mal, inferior porque a cara estava marcada, já não era alegre, nem voltaria a ser como antes (E 6 - mulher de 49 anos, vendedora de frutas).

Frente a estes problemas são muito poucos os empregadores que sabendo do fato oferecem ajuda a suas trabalhadoras, mediante aconselhamento, ou tão pouco o espaço para falar sobre o sucedido, ou qualquer outro apoio. O mesmo acontece quanto à conseqüência para o agressor, que somente 5 de 12 agressores receberam algum tipo de penalidade por sua agressão, mas no caso de violência verbal, 14 dos 22 casos de violência verbal não houve nenhum castigo

Como conseqüência, poucas são as mulheres que se encontram satisfeitas com a resolução de seus casos. Para o caso de violência física só 2 das 12 mulheres e em violência verbal 10 das 22 mulheres ficaram satisfeitas da maneira que se resolveu a situação. No caso de assédio sexual, as duas mulheres ficaram satisfeitas quando consideraram que seus agressores haviam recebido uma penalidade exemplar, pois haviam sido demitidos dos ambientes de trabalho. Ao que parece quando as mulheres consideram alguns eventos como típicos, esperam uma penalização exemplar.

Há poucos estudos na América Latina sobre a relação entre o fenômeno das drogas e violência(3). Segundo o ¨Relatório Mundial sobre Violência e Saúde¨, o uso de álcool e drogas é um dos fatores relacionados à violência sexual e auto-agressão(4).

Este estudo não encontrou uma relação estatisticamente significativa entre o consumo de drogas pela mulher trabalhadora com a violência física e o assédio sexual que sofreram no último ano, mas descobriu-se uma associação estatisticamente significativa entre o consumo de drogas ilícitas e a violência verbal (p=0,021), identificando assim a mulher que sofreu violência verbal tem 9,80 vezes mais a probabilidade de consumir drogas ilícitas em comparação com aquelas que não foram vítimas da violência verbal. Além do mais, através de alguns depoimentos não só a violência mostra que a mulher apresente maior risco de consumir drogas por ser vítima de violência, mas também as pessoas sob os efeitos do álcool que exercem a violência sobre elas: Um indivíduo estava enjoado ou drogado, quem sabe… e do nada começou a gritar comigo, isto é ser violento (E 1 - mulher de 28 anos, vendedora de pastéis).

No primeiro trimestre deste ano 221.900 mulheres estavam sem trabalho, e é possível observar que diante desta realidade muitas delas provavelmente geraram seu próprio emprego em quase todos os casos de maneira informal e exposta a vários tipos de riscos. Um destes riscos é a violência, como se pode ver claramente nos depoimentos antes mencionados, entretanto, estes provavelmente estão dentro do sub registro porque são parte do dia a dia, não são relatados e além do mais, a pessoa agride e se vai, e não é conhecido nem reconhecido pela agredida e por outro lado, ao denunciar-lo ocasionaria gasto de tempo e dinheiro, que não tem. Algumas outras agressões não são realizadas no ambiente de trabalho, mas derivam dele e culminam no consumo de substâncias: Para me tranquilizar, porque minha sogra me maltratava, falava mal porque eu trabalhava e comprava coisas para mim, era mais por inveja…, então me fechava em meu quarto e tomava uma cerveja sozinha, logo diazepam 4 ou 5 comprimidos, ou 1 pela manhã e 1 pela noite (E 6 - mulher de 49 anos, vendedora de frutas). Além disso, ocorre o caso em que a mulher não só se refugia na droga, como também celebra com ela: Quando me deram a notícia que haviam despedido ele, não imagina a senhora, cheguei na minha casa e fui celebrar de alegria,… (risos). Tomei para festejar (E 8 - mulher de 32 anos, funcionária pública).

A violência da mulher no ambiente de trabalho deve ser estudada cientificamente, dado que somente estes casos poderiam estar traduzindo a ponta do iceberg, de um problema realmente complexo. É assim que a violência contra as mulheres é um importante tema social e sanitário, pelas repercussões na saúde e o impacto social em termos de qualidade de vida(14).

Frente a este fenômeno cada vez mais complexo faz-se necessária uma resposta à saúde para poder controlar e diminuí-la. Segundo o Modelo teórico alternativo para o estudo das Drogas e a Violência proposto por Wright, é o modelo crítico - holístico. É necessário incluir na análise as macrodeterminantes, dado pela globalização, as políticas do estado, novos mercados empresariais e a sociedade baseada na informação(3). A nível de microdeterminantes, a insegurança do cidadão aumenta, tornando-se comum os homicídios, as chantagens e os seqüestros já não só de grandes empresários, mas também negociantes ou integrantes de suas famílias. A medida em que a informalidade vai crescendo, deveriam planejar estratégias de segurança do cidadão através dos governos locais, onde independentemente do montante roubado ou do nível de agressão, aplicar-se-ia uma penalidade a quem infringisse normas básicas de respeito e convivência.

O Peru se encontra na categoria Média em relação ao desenvolvimento do trabalho formal(15), mas isto poderia melhorar à medida que assegurassem melhores condições de trabalho, bem-estar e segurança, incluindo aquelas pessoas que gerem seu próprio trabalho. Quando este estudo descobriu que a formalidade ou os vínculos de trabalho podem levar ao consumo de drogas, é necessário que cada vez o emprego tende a ser formal, pois com ele se designa maior valor ao trabalho para o país. Mas, o estado deveria assegurar que o anterior seja acompanhado de programas preventivos de consumo de drogas e violência dirigidos a todos os integrantes de uma organização de trabalho, incluindo como estratégias de intervenção o aconselhamento e a orientação para aquelas pessoas que pelo trabalho apresentam conflitos familiares ou conjugais, e se possível, permitir a presença da família para que conheça o ambiente de trabalho, e se comprometa, da melhor maneira, com a mulher trabalhadora.

No caso da necessidade de consumo de sedativos para controlar o estresse, em alguns casos foi necessário oferecer assistência médica e aconselhamento permanente. O apoio da assistência social em alguns casos pode servir de ajuda. E, finalmente alimentar a conscientização da mulher de seu próprio cuidado e da principal geradora de respeito de seus direitos como pessoa, mulher e trabalhadora.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Comissão Interamericana para o Controle de Abuso de Drogas/CICAD, ao Programa de Bolsas da OEA, ao Governo do Japão, a todos os docentes da Universidade de Alberta/Canadá, e aos onze representantes dos sete países da América Latina que participaram do "I Programa Internacional de Pesquisa" implementado na Universidade de Alberta/Canadá no ano de 2003-2004.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Recebido em: 30.8.2005

Aprovado em: 31.10.2005

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Mar 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 2005

    Histórico

    • Aceito
      31 Out 2005
    • Recebido
      30 Ago 2005
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