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Imigração Haitiana no Rio Grande do Sul: Aspectos Psicossociais, Aculturação, Preconceito e Qualidade de Vida

Haitian Immigration in Rio Grande do Sul, Brazil: Psychosocial Aspects, Acculturation, Prejudice and Quality of Life

Inmigración Haitiana en Rio Grande del Sur, Brasil: Aspectos Psicosociales, Aculturación, Prejuicio y Calidad de Vida

Resumo

Este estudo traça um panorama da imigração haitiana no Rio Grande do Sul, quanto a aspectos psicossociais, perfil sociodemográfico e socioeconômico, orientações aculturativas, preconceito e qualidade de vida. A pesquisa, de delineamento quantitativo transversal, contou com a participação de 67 imigrantes haitianos, com idades entre 19 e 58 anos (M = 33,87; DP = 5,47). A amostra é predominantemente composta por homens (77,6%), com alta escolaridade (M = 10,5; DP = 4,53) e que falam o idioma português (56,7%). A orientação aculturativa mais frequente é a de integração, que é mais presente entre homens, quem acessou o sistema brasileiro de assistência social; os mais jovens, os com maior fluência em outros idiomas e os que chegaram há mais tempo no Brasil. Além disso, o preconceito percebido e a qualidade de vida obtiveram resultados mais significativos em comparação a estudos com imigrantes haitianos realizados em outros países.

Palavras-chave:
imigração haitiana; aculturação; preconceito; qualidade de vida

Abstract

The present study traces a panorama of Haitian immigration in Rio Grande do Sul, Brazil, regarding psychosocial aspects, sociodemographic and socioeconomic profile, acculturative orientations, prejudice and quality of life. Participants included 67 Haitian immigrants, aged between 19 and 58 years old (M=33.87; DP=5.47). The sample was predominantly male (77.6%), presented high schooling (M = 10.5; SD = 4.53) and spoke the Portuguese language (56.7%). The predominant acculturative orientation is integration, which is more present among men; those who accessed the Brazilian social assistance system; the youngest; those with more fluency in other languages, and the ones that have been in Brazil for the longest amount of time. In addition, perceived prejudice and quality of life obtained significantly higher results in comparison to studies with Haitian immigrants carried out in other countries.

Keywords:
Haitian immigration; acculturation; prejudice; quality of life

Resumen

Este estudio traza un panorama de la inmigración haitiana en Río Grande del Sur en Brasil, con relación a los aspectos psicosociales, perfil sociodemográfico y socioeconómico, orientaciones aculturativas, prejuicio y calidad de vida. La investigación, de delineamiento cuantitativo transversal, contó con la participación de 67 inmigrantes haitianos con edades entre19 y 58 años (M=33.87; DP=5.47). La muestra fue predominantemente compuesta por hombres (77.6%), con alta escolaridad (M = 10.5; SD = 4.53)y que hablan portugués (56.7%). La orientación aculturativa más frecuente es la de integrac ión, que se encuentra más presente entre los hombres,entre los que accesaron al sistema brasileño de asistencia social, entre los más jóvenes, los con mayor fluidez en otros idiomas y, los que llegaron hace más tiempo a Brasil. Además, el prejuicio percibido y la calidad de vida obtuvieron resultados más significativos en comparación a estudios con inmigrantes haitianos realizados en otros países.

Palabras-clave:
inmigración haitiana; aculturación; prejuicio; calidad de vida

Introdução

Desde o início da colonização do Brasil pelos portugueses, a história do país foi marcada por diversos movimentos migratórios, voluntários e forçados, principalmente de europeus e africanos (Levy, 1974Levy, M. S. F. (1974). O papel da migração internacional na evolução da população brasileira (1872 a 1972). Revista de Saúde Pública, 8, 49-90.). Na região sul do país, em meados do século XIX, houve uma forte promoção da colonização do seu território por imigrantes europeus (principalmente alemães, italianos e poloneses). Esse incentivo à imigração tinha como objetivo o povoamento e a instalação de pequenos agricultores (Seyferth, 1986Seyferth, G. (1986). Imigração, colonização e identidade étnica (notas sobre a emergência da etnicidade em grupos de origem européia no sul do Brasil). Revista de Antropologia, 57-71.). Atualmente, o Brasil está vivendo um novo fluxo migratório, especialmente com uma mudança da nacionalidade de imigrantes, com entrada significativa de haitianos e de imigrantes de países africanos (predominantemente Senegal e Gana).

Segundo Horenczyk, Jasinskaja-Lahti, Sam e Vedder (2013Horenczyk, G., Jasinskaja-Lahti, I., Sam, D. L., & Vedder, P. (2013). Mutuality in acculturation: Toward an integration. Zeitschrift Fur Psychologie / Journal of Psychology, 221(4), 205-213. doi: 10.1027/2151-2604/a000150
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), o mundo está se encaminhando cada vez mais para sociedades plurais, compostas por pessoas de diferentes origens étnicas e culturais, o que gera uma mudança em vários âmbitos da vida da população. Um exemplo disso ocorre particularmente a partir de 2010, após o terremoto que ocorreu no Haiti, quando se iniciou um grande fluxo de imigração haitiana para o Brasil. Dados do Ministério do Trabalho e do Ministério da Justiça e Cidadania do Brasil indicam que, em 2010, 459 haitianos conseguiram o visto por razões humanitárias e, em 2012, 4.600. Já em 2013, o número de haitianos no Brasil triplicou em relação aos três anos anteriores, chegando a mais de 13 mil, demonstrando um aumento grande em um curto espaço de tempo. No período de 2010 até 2015, o Brasil concedeu vistos a 51.128 imigrantes haitianos, sendo a nacionalidade com o maior número de vistos recebidos neste período (Brasil, 2015Brasil. (2015). Ministério do Trabalho e Previdência Social Ministério da Justiça. Despacho conjunto. Recuperado de http://www.migrante.org.br/components/com_booklibrary/ebooks/dou_12_11_15.pdf
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).

De acordo com a Embaixada Haitiana no Brasil (2015Embaixada do Haiti. (2015). Haiti at a Glance. Recuperado de http://www.haiti.org/index.php/economic-xm-affairs-xm/26-the-embassy/content/121-haiti-at-a-glance
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), o país, que possui em torno de 9 milhões e 800 mil habitantes, tem 90% da sua população desempregada ou trabalhando informalmente e 80% vive abaixo da linha da pobreza. Esse panorama socioeconômico incrementa as motivações para a imigração (Santos, Santos, Assis, & Cotinguiba, 2015Santos, A. P., Santos, M. S. F., Assis, W. L. S., & Cotinguiba, M. L. P. (2015). Inserção sociocultural de haitianos em Porto Velho: O ensino e aprendizado da língua portuguesa. Revista de Estudos de Literatura, Cultura e Alteridade - Igarapé, 1(5), 43- 53. Recuperado de http://www.periodicos.unir.br/index.php/igarape/article/view/1324/1388
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) e, também, pode ser entendido como um fator que contribui muito para as condições precarizadas da vida dos imigrantes nos países de acolhida, pois a maior parte dos rendimentos é repassada para familiares que ficaram no país de origem (Zamberlan, Corso, Cimadon, & Bocchi, 2014Zamberlam, J., Corso, G., Cimadon, J. M., & Bocchi, L. (2014). Os novos rostos da imigração no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Solidus.).

Embora não recebam o status de refugiados, os imigrantes haitianos fazem parte de um coletivo migratório cujo processo também pode ser compreendido como grupo de migração involuntária e por sobrevivência (Corrêa, Nepomuceno, Mattos, & Miranda, 2015Corrêa, M. A. S., Nepomuceno, R. B., Mattos, W. H. C., & Miranda, C. (2015). Migração por sobrevivência: Soluções brasileiras. REMHU - Rev. Interdiscip. Mobil. Hum., (44), 221-236. doi: 10.1590/1980-85852503880004414
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; Martins-Borges, 2013Martins-Borges, L. (2013). Migração involuntária como fator de risco à saúde mental. REMHU: Rev. Interdiscip. Mobil. Hum, 21(40), 151-162. doi: 10.1590/S1980-85852013000100009
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), ou seja, ocorre devido a motivos econômicos, fragilidades estatais e dificuldades decorrentes de desastres naturais. A saída do Haiti surge como um modo particularmente importante de dar continuidade à vida, tendo em vista a falta de condições em seu país de origem que os coloca enquanto uma população em grande vulnerabilidade. Como alternativa de proteção a esse coletivo, o governo brasileiro concedeu aos haitianos um visto por razões humanitárias, que, embora facilite a entrada e permanência deles no país, não garante proteção internacional, ou seja, os haitianos não estão protegidos de um retorno forçado ao seu país (Corrêa et al., 2015). Após a aquisição do visto, os imigrantes estão aptos a ter documentos, como o CPF, carteira de trabalho e cartões de acesso à rede pública de saúde e assistência social.

A região norte é a principal porta de entrada dos imigrantes haitianos no Brasil, porém, após a chegada, a maioria segue para as regiões sul e sudeste em busca de emprego (Brito & Dantas, 2017Brito, C., & Dantas, S. (2017). Narrativas e identidades que se cruzam: Haitianos e brasileiros em São Paulo. Em Lussi, C. (Eds.). Migrações Internacionais: Abordagens de Direitos Humanos. (267-288). Brasília: CSEM - Centro Escalabriniano de Estudos Migratórios. ISBN: 978-95-87823-28-1; Santos et al., 2015Santos, A. P., Santos, M. S. F., Assis, W. L. S., & Cotinguiba, M. L. P. (2015). Inserção sociocultural de haitianos em Porto Velho: O ensino e aprendizado da língua portuguesa. Revista de Estudos de Literatura, Cultura e Alteridade - Igarapé, 1(5), 43- 53. Recuperado de http://www.periodicos.unir.br/index.php/igarape/article/view/1324/1388
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; Zamberlan et al., 2014). O estado do Rio Grande do Sul é um dos destinos mais visados e concentra boa parte da população de haitianos que realizou o processo migratório recentemente (Santos-Lobo, Weber, Brunnet, & Bolaséll, 2016Santos-Lobo, N., Weber, J. L. A., Brunnet, A. E., & Bolaséll, L. T. (2016). Grupo de apoio à integração comunitária de imigrantes em Porto Alegre: Relato de experiência. Revista Signos, 37(2), 178-190. doi: 10.22410/issn.1983-0378.v37i2a2016.1131
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; Zamberlan et al., 2014). Apesar de não haver registros precisos de quantos imigrantes estão localizados em cada estado e cidade, os dados divulgados pela Organização Internacional para as Migrações afirmam que havia 1.575 imigrantes haitianos registrados no Rio Grande do Sul em 2015 (Organização Internacional para as Migrações, 2015Organização Internacional para as Migrações. (2015). Dados do SINCRE sobre as migrações haitianas no Brasil.).

Para além de marcadores legais e demográficos, o campo psicossocial que compreende a inserção dos imigrantes em outra cultura pode ser entendido como aculturação, conceito compreendido como um processo de mudança que acontece quando pessoas ou grupos, procedentes de diferentes contextos culturais, entram em contato regular com outras culturas e/ou nacionalidades que, por esse novo contato, precisam ressignificar(se) (Sam & Berry, 2010Sam, D. L., & Berry, J. W. (2010). Acculturation: When Individuals and Groups of Different Cultural Backgrounds Meet. Perspectives on Psychological Science, 5(4), 472-481. doi: 10.1177/1745691610373075
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). Diversos modelos têm sido utilizados para abordar a temática da aculturação, tais como os de Berry (1980Berry, J. W. (1980). Acculturation as varieties of adaptation. Em A. Padilla (Ed.), Acculturation: Theory, models and some new finding (pp. 9-25). Boulder, CO: Westview., 2005) LaFromboise, Coleman e Gerton (1993LaFromboise, T., Coleman, H. L. K., & Gerton, J. (1993). Psychological impact of biculturalism: Evidence and theory. Psychological Bulletin, 114, 395-412. doi: 10.1037/0033-2909.114.3.395
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), Hutnik (1986Hutnik, N. (1986). Patterns of ethnic minority identification and modes of social adaptation. Ethnic and Racial Studies, 9, 50-67. doi: 10.1080/01419870.1986.9993520
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), Moghaddam (1992Moghaddam, F. M. (1992). Assimilation et multiculturalisme: Le cas des minorité s du Queébec. Revue Québécoise de Psychologie, 13, 140-157. Recuperado de http://fathalimoghaddam.com/wp-content/uploads/2013/10/1259016069.pdf
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) e Navas et al. (2005Navas, M., García, M. C., Sánchez, J., Rojas, A. J., Pumares, P., & Fernández, J. S. (2005). Relative Acculturation Extended Model (RAEM): New contributions with regard to the study of acculturation. International Journal of Intercultural Relations, 29(1), 21-37. doi: 10.1016/j.ijintrel.2005.04.001
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). Além destes, ainda se destaca o Modelo Interativo de Aculturação proposto por Bourhis, Moïse, Perreault e Senécal (1997Moïse, L. C., & Bourhis, R. Y. (1997). Correlates of the acculturation orientations of Haitian and West Indian immigrants in Montreal. Fourteenth Biennial Conference of the Canadian Ethnic Studies Association, Montreal, Québec, Canada.), o qual permite analisar os processos aculturativos tanto do ponto de vista dos imigrantes como da comunidade que os acolhe, entendendo ambos coletivos como em contato com diferentes possibilidades de poder e gestão das relações de diferença.

De acordo com as premissas do modelo proposto por Bourhis et al. (1997Bourhis, R. Y., Moïse, L. C., Perreault, S., & Senécal, S. (1997). Toward an Integrative Acculturation Model: A Social Psychological Approach. International Journal of Psychology, 32(6), 369-386. Recuperado de http://old.psych.uoa.gr/~vpavlop/index.files/pdf/ddpms%20interactive%20acculturation%20model%20(Burhis%20et%20al.).pdf
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), a análise parte da noção de identificação étnico-nacional da pessoa imigrante e suas relações com o novo grupo étnico-nacional e pode ser entendida por meio de cinco orientações aculturativas possíveis. 1) Integração: o imigrante mantém os valores do grupo étnico-nacional original, assim como adota certos elementos do grupo majoritário de acolhida; 2) Separação: mantém os valores étnico-nacionais, mas sem relações favoráveis com o grupo majoritário; 3) Assimilação: boas relações com o grupo majoritário, mas com uma submissão que gera um abandono de suas identificações étnico-nacionais; 4) Individualismo: imigrantes se dissociam tanto dos referenciais de origem quanto dos da comunidade de acolhida, porque organizam-se socialmente com estratégias predominantemente individuais ao invés de comunitárias; 5) Anomia: orientação adotada por pessoas que, no processo migratório, rejeitam tanto seus referenciais de origem como os do novo contexto, sentindo-se socialmente e psicologicamente excluídos e, portanto, não identificados a nenhum referencial étnico-nacional.

Ao abordar o processo aculturativo de um grupo, também é importante examinar dimensões correlatas, como o preconceito, as políticas de imigração, o sistema de educação, o aprendizado do novo idioma, a distância cultural e outras características contextuais, já que tais fatores podem facilitar ou dificultar o processo migratório e o modo como ocorre o processo de aculturação nos imigrantes (Barrette, Bourhis, Personnaz, & Personnaz, 2004Barrette, G., Bourhis, R. Y., Personnaz, M., & Personnaz, B. (2004). Acculturation orientations of French and North African undergraduates in Paris. International Journal of Intercultural Relations, 28(5), 415-438. doi: 10.1016/j.ijintrel.2004.08.00
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; Bourhis, Montaruli, El-Geledi, Harvey, & Barrette, 2010; Santos et al., 2015Santos, A. P., Santos, M. S. F., Assis, W. L. S., & Cotinguiba, M. L. P. (2015). Inserção sociocultural de haitianos em Porto Velho: O ensino e aprendizado da língua portuguesa. Revista de Estudos de Literatura, Cultura e Alteridade - Igarapé, 1(5), 43- 53. Recuperado de http://www.periodicos.unir.br/index.php/igarape/article/view/1324/1388
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; Wagner, Tisserant, & Bourhis, 2013Wagner, A. L., Tisserant, P., & Bourhis, R. Y. (2013). Propension à discriminer et acculturation. Revue Internationale de Psychologie Sociale, 26(1), 5-34. Recuperado de https://www.cairn.info/revue-internationale-de-psychologie-sociale-2013-1-page-5.htm
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). A exemplo disso, no que se refere ao preconceito racial em relação a imigrantes, foi detectado na pesquisa conduzida por Tan e Liu (2014Tan, S. A., & Liu, S. (2014). Ethnic visibility and preferred acculturation orientations of international students. International Journal of Intercultural Relations, 39(1), 183-187. doi: 10.1016/j.ijintrel.2013.08.011
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), realizada com 221 imigrantes de 37 países residindo na Austrália, que estrangeiros que são mais identificáveis etnicamente têm mais dificuldade em adotar orientações aculturativas que os aproximem da nova cultura quando estes se sentem racialmente discriminados, independentemente do quão distantes sejam as duas culturas.

Nessa direção, a qualidade de vida surge como um fator relacionado ao processo de aculturação. Estudos sugerem que quanto mais um sujeito está integrado, menor vai ser o nível de estresse, exibindo assim um quadro positivo quanto ao estado de saúde e qualidade de vida percebida (Belizaire & Fuertes, 2011Belizaire, L. S., & Fuertes, J. N. (2011). Attachment, coping, acculturative stress, and quality of life among Haitian immigrants. Journal of Counseling and Development, 89(1), 89-97. doi: 10.1002/j.1556-6678.2011.tb00064.x
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; Lim, Yi, & Zebrack, 2008Lim, J., Yi, J., & Zebrack, B. (2008). Acculturation, social support, and quality of life for Korean immigrant breast and gynecological cancer survivors. Ethnicity & Health, 13(3), 243-260. doi: 10.1080/13557850802009488
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). Um estudo realizado com imigrantes de duas etnias distintas demonstrou que o processo de aculturação influencia tanto na qualidade de vida, quanto nos riscos de saúde e comportamentos de autocuidado (Kar, Jimenez, Campbell, & Sze, 1998Kar, S. B., Jimenez, A., Campbell, K., & Sze, F. (1998). Acculturation and quality of life: A comparative study of Japanese-Americans and Indo-Americans. Amerasia Journal, 24(1), 129-142. doi: 10.17953/amer.24.1.g81nt75085u04685
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). Eventos estressores ligados ao processo imigratório e de aculturação, tais como o preconceito percebido e dificuldades no trabalho, também impactam fortemente a qualidade de vida dos imigrantes e influenciam em sua saúde mental (Becker & Borges, 2015Becker, A. P. S., & Martins-Borges, L. (2015). Dimensões psicossociais da imigração no context familiar. Bol. Acad. Paulista de Psicologia, 35(88), 124-144.; Belizaire & Fuertes, 2011; Brunnet, Bolaséll, Weber, & Kristensen, 2018Brunnet, A. E., Bolaséll, L. T., Weber, J. L. A., & Kristensen, C. H. (2018). Prevalence and factors associated with PTSD, anxiety and depression symptons in Haitian migrants in southern Brasil. Int. J. Soc. Psychiatry 64(1), 17-25. doi: 10.1177/0020764017737802
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; Goh & Lopez, 2016Goh, Y. S., & Lopez, V. (2016). Acculturation, quality of life and work environment of international nurses in a multi-cultural society: A cross-sectional, correlational study. Applied Nursing Research, 30, 111-118. doi: 10.1016/j.apnr.2015.08.004
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; Keys, Kaiser, Foster, Minaya, & Kohrt, 2015Keys, H. M., Kaiser, B. N., Foster, J. W., Minaya, R. Y. B., & Kohrt, B. A. (2015). Perceived discrimination, humiliation, and mental health: a mixed-methods study among Haitian migrants in the Dominican Republic. Ethnicity & Health, 20(3), 219-240. doi: 10.1080/13557858.2014.907389
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; Ng, Lee, Wong, & Chou, 2015Ng, I. F., Lee, S. Y., Wong, W. K., & Chou, K. L. (2015). Effects of perceived discrimination on the quality of life among new Mainland Chinese immigrants to Hong Kong: A longitudinal study. Social Indicators Research, 120, 817-834. doi: 10.1007/s11205-014-0615-9
https://doi.org/10.1007/s11205-014-0615-...
; Safi, 2010Safi, M. (2010) Immigrants’ life satisfaction in Europe: Between assimilation and discrimination. European Sociological Review, 26(2), 159-176. doi: 10.1093/esr/jcp013
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).

A produção científica nacional ainda possui poucos estudos sobre os novos movimentos migratórios e, destsa forma, estudá-los mostra-se relevante para pensar a sociedade brasileira, particularmente por seu passado colonial e pela significativa presença de pessoas imigrantes em suas fronteiras ao longo de sua história. Além disso, o panorama das migrações contemporâneas possui particularidades ainda pouco exploradas (em relação às imigrações dos séculos XIX e XX) e que podem contribuir para a análise da conjuntura social do país e da qualidade de vida das pessoas diretamente implicadas nesses processos - sejam migrantes ou membros de comunidades de acolhida. Considerando essas lacunas na literatura brasileira, o presente estudo tem como objetivo traçar um panorama da imigração haitiana no Rio Grande do Sul, quanto a aspectos psicossociais (tais como acesso às políticas públicas, redes de apoio e modos de vinculação), perfil sociodemográfico e socioeconômico, orientações aculturativas, preconceito e qualidade de vida.

Method

Participantes

O estudo foi realizado com 67 imigrantes haitianos, com idades entre 19 e 58 anos (M = 33.87; DP = 5.47), fluentes em francês. Como critério para a amostra foram utilizados os dados da Organização Internacional para as Migrações que, na data do início da coleta de dados, informava haver 1.575 imigrantes haitianos registrados no território do Rio Grande do Sul. Devido à dificuldade de acesso aos imigrantes, assim como dos registros e locais de moradia deles, foram pré-estabelecidos um grau de confiança de 90% e erro amostral de 10%, o que sugeriu um tamanho amostral compatível com o obtido.

Instrumentos

Questionário de dados sociodemográficos

O questionário consiste em perguntas relativas à idade, sexo, raça, escolaridade, profissão, vínculo empregatício, classe social, estado civil e questões particulares da imigração, como o tempo que reside no Brasil, em quais idiomas possui fluência, se os familiares residem no Brasil ou no Haiti etc. Ainda foram acrescentadas as seguintes perguntas no que diz respeito ao preconceito percebido: “Em que medida você acredita que os haitianos são vítimas de preconceito no que diz respeito a trabalho/aluguel de moradia/contatos com a polícia?”. Essas questões foram as mesmas utilizadas em estudo semelhante, desenvolvido por Barrette, Bourhis, Personnaz e Personnaz (2004Barrette, G., Bourhis, R. Y., Personnaz, M., & Personnaz, B. (2004). Acculturation orientations of French and North African undergraduates in Paris. International Journal of Intercultural Relations, 28(5), 415-438. doi: 10.1016/j.ijintrel.2004.08.00
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).

Immigrant Acculturation Scale (IAS) (Berry, Kim, Power, Young, & Bujaki, 1989Berry, J. W., Kim, U., Power, S., Young, M., & Bujaki, M. (1989). Acculturation attitudes in plural societies. Applied Psychology: An International Review, 38, 185-206. doi: 10.1111/j.1464-0597.1989.tb01208.x
https://doi.org/10.1111/j.1464-0597.1989...
; Bourhis, Barrette, El-Geledi, & Schmidt, 2009Bourhis, R.Y., Barrette, G., El-Geledi, S., & Schmidt, R. (2009). Acculturation Orientations and Social Relations between Immigrant and Host Community members in California. Journal of Cross-Cultural Psychology, 40, 443-467. doi: 10.1177/0022022108330988
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)

A IAS utilizada para este estudo foi a versão em idioma francês, adaptada por Bourhis, Barrette, El-Geledi e Schmidt (2009Bourhis, R.Y., Barrette, G., El-Geledi, S., & Schmidt, R. (2009). Acculturation Orientations and Social Relations between Immigrant and Host Community members in California. Journal of Cross-Cultural Psychology, 40, 443-467. doi: 10.1177/0022022108330988
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) e utilizada em estudos com imigrantes haitianos e indianos em Québec (Moïse & Bourhis, 1997Moïse, L. C., & Bourhis, R. Y. (1997). Correlates of the acculturation orientations of Haitian and West Indian immigrants in Montreal. Fourteenth Biennial Conference of the Canadian Ethnic Studies Association, Montreal, Québec, Canada.), de países do norte da África em Paris (Barrette et al., 2004) e com descendentes de imigrantes asiáticos e hispânicos no estado da Califórnia (Bourhis et al., 2009). A IAS identifica o predomínio das cinco orientações aculturativas em coletivos de imigrantes, sendo elas: integração, assimilação, separação, anomia e individualismo. É uma escala autoaplicável, tipo Likert de 7 pontos. Os domínios mensurados foram os seguintes: Cultura, Valores, Costumes, Endogamia/Exogamia, Emprego e Linguagem, resultando em um instrumento composto por 30 itens (alfa de Cronbach > 0,73).

World Health Organization Quality of Life BREF (WHOQOL - BREF) (World Health Organization, 1998World Health Organization. (1998). WHOQOL-Bref. Psychological Medicine, 25-27.)

O WHOQOL é um instrumento para avaliação de qualidade de vida que se baseia no entendimento de qualidade de vida como construto subjetivo. Foram desenvolvidos dois instrumentos, sendo eles o WHOQOL - 100 e o WHOQOL BREF. O primeiro, em sua versão completa, é composto por 100 questões. O segundo, o qual foi utilizado no presente estudo, trata-se de uma versão abreviada composta pelas 26 questões que obtiveram os melhores desempenhos psicométricos extraídos do WHOQOL - 100. Sendo composta por quatro domínios: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente. A versão francesa da escala possui uma boa consistência interna (alfa de Cronbach > 0,77). Os autores também encontraram validades convergente e discriminatória satisfatórias (Saloppé & Pham, 2006Saloppé, X., & Pham, T. H. (2006). Validation du WHOQOL-bref en hôpital psychiatrique sécuritaire. Psychiatrie et Violence, 1, 1-25. Recuperado de http://di.umons.ac.be/details.aspx?pub=1a6a2005-13f7-418d-bf98-33fe0d8f2283
http://di.umons.ac.be/details.aspx?pub=1...
).

Procedimentos

Coleta de Dados

A aplicação dos questionários foi realizada por um profissional da psicologia, fluente em francês, tendo duração aproximada de 50 minutos e ocorreu entre setembro de 2015 e julho de 2016. Os dados foram coletados em quatro locais de três cidades diferentes no Rio Grande do Sul: na Pastoral do Imigrante, em um albergue de uma organização não governamental que apoia imigrantes na cidade de Porto Alegre, em uma escola pública que fornece aula gratuita de português aos imigrantes na cidade de Canoas e no Sindicato da Indústria Alimentícia da cidade de Encantado. As três cidades, que estão entre as que mais recebem imigrantes haitianos no Rio Grande do Sul (Zamberlan et al., 2014), foram escolhidas por conveniência e receptividade dos locais.

Análise de Dados

Os dados coletados foram codificados, digitados e armazenados com o auxílio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 21.0 para Windows. Para o presente estudo, foi elencada como variável dependente a orientação aculturativa; as variáveis independentes são as sociodemográficas e de qualidade de vida. Foram realizadas análises descritivas para caracterizar o perfil da amostra nesses domínios, análises de associação (correlações de Pearson e qui-quadrado) entre as variáveis referentes às orientações aculturativas, aspectos psicossociais e qualidade de vida, assim como testes t de Student para comparação de médias.

Considerações Éticas

O presente estudo foi aprovado pela Comissão Científica da Faculdade de Psicologia e pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Todos os participantes responderam ao termo de consentimento livre e esclarecido, o qual foi redigido tanto no idioma francês, quanto no português.

Resultados e Discussão

Características Sociodemográficas

Primeiramente, são apresentadas três tabelas contendo elementos que caracterizam a amostra da pesquisa. Nessas tabelas, constam alguns aspectos psicossociais, tais como um perfil sociodemográfico (Tabela 1), questões socioeconômicas e referentes à vinda destes imigrantes ao Brasil (Tabela 2) e aspectos relacionados às redes de vinculação destes imigrantes (Tabela 3).

Tabela 1
Perfil Sociodemográfico dos Imigrantes Haitianos Residentes no Rio Grande do Sul entre Agosto de 2015 e Dezembro de 2016

Tabela 2
Perfil Socioeconômico dos Imigrantes Haitianos Residentes no Rio Grande do Sul entre Agosto de 2015 e Dezembro de 2016

Tabela 3
Redes e Modos de Vinculação dos Imigrantes Haitianos Residentes no Rio Grande do Sul entre Agosto de 2015 e Dezembro de 2016

É possível observar na Tabela 1, que a amostra do estudo se caracterizou predominantemente por homens (77,6%), adultos jovens (M = 33,87 anos, DP = 5,47 anos) que, de acordo com outros estudos sobre a imigração haitiana no Brasil, são a maioria dessa população (Araújo, 2015Araújo, A. A. A. (2015). Limitações e estratégias de ação feminina na sociedade haitiana: Categorias de articulação/interseccionalidades. Agenda Social, 9(2), 19-28. Recuperado de http://www.revistaagendasocial.com.br/index.php/agendasocial/article/view/261/132
http://www.revistaagendasocial.com.br/in...
; Santos & Cechetti, 2016Santos, S., & Cecchetti, E. (2016). Imigrantes haitianos no Brasil: entre processos de (des)(re)territorialização e exclusão social. Revista de Estudios Brasileños, 3(4), 61-72. Recuperado de https://reb.universia.net/article/download/1829/1803
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; Zamberlan et al., 2014). O percentual de imigrantes solteiros (52,2%) é um pouco maior do que o de casados (nessa categoria é incluída a união estável) e, ainda, 94% dos entrevistados relataram possuir alguma religião.

Quanto às questões relacionadas aos motivos de vinda para o Brasil, é reiterada a questão do trabalho enquanto principal motivo, como já mencionavam os estudos de Zamberlan et al. (2014) e Santos e Cechetti (2016Santos, S., & Cecchetti, E. (2016). Imigrantes haitianos no Brasil: entre processos de (des)(re)territorialização e exclusão social. Revista de Estudios Brasileños, 3(4), 61-72. Recuperado de https://reb.universia.net/article/download/1829/1803
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). Também se identifica escolaridade com média de 10,85 anos de estudo. Pouco mais da metade está empregado (58,2%), o que demonstra uma taxa alta de desemprego quando comparada ao desemprego no Brasil (11,3%) e no Rio Grande do Sul (8,7%) (IBGE, 2016IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2016). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 3º trimestre de 2016. Recuperado de ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Trimestral/Fasciculos_Indicadores_IBGE/pnadc_201603_trimestre_caderno.pdf
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). Esse resultado complementa o estudo de Zamberlan et al. (2014), o qual demonstra que a grande maioria dos imigrantes já trabalhou no Brasil (89,2%), porém uma quantidade muito menor permanece empregada.

Segundo Keys, Kaiser, Foster, Minaya e Kohrt (2015Keys, H. M., Kaiser, B. N., Foster, J. W., Minaya, R. Y. B., & Kohrt, B. A. (2015). Perceived discrimination, humiliation, and mental health: a mixed-methods study among Haitian migrants in the Dominican Republic. Ethnicity & Health, 20(3), 219-240. doi: 10.1080/13557858.2014.907389
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), ser haitiano, de classe social baixa e estar desempregado é associado a um estigma de uma pessoa sem valor. Aproximadamente metade da amostra (49,3%) está enquadrada no nível socioeconômico D, segundo classificação do IBGE, ressaltando ainda o fato de que apenas um imigrante integra a classe B e nenhum a classe social A. Nenhum dos imigrantes possui residência própria, sendo que 86,6% alugam moradia, que são, em sua maioria, divididas com outros imigrantes sem vínculo familiar (64,18%), habitando em média 6,36 pessoas por local, questão que reforça o déficit habitacional do país, fazendo com que pessoas que têm menos condições financeiras tenham mais dificuldade de acesso à moradia. A maioria dos imigrantes relatou também já ter acionado efetivamente os serviços públicos de saúde (68,7%) e assistência social (52,2%).

Quando questionados em relação a aspectos de vínculos mantidos no país de origem e novos vínculos realizados no Brasil, percebe-se que a maioria dos imigrantes faz remessas financeiras para suas famílias (64,2%). Essa questão já foi evidenciada em outros estudos com imigrantes haitianos (Zamberlan et al., 2014; Santos-Lobo et al., 2016Santos-Lobo, N., Weber, J. L. A., Brunnet, A. E., & Bolaséll, L. T. (2016). Grupo de apoio à integração comunitária de imigrantes em Porto Alegre: Relato de experiência. Revista Signos, 37(2), 178-190. doi: 10.22410/issn.1983-0378.v37i2a2016.1131
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), os quais indicam que, além de ser uma forma de manter contato com o país de origem, poder ajudar financeiramente a família que não imigrou é um dos principais fatores que motivam a migração involuntária por sobrevivência. O contato com os familiares se dá, para aproximadamente metade da amostra (49,3%), diariamente, e principalmente pela internet (62,69%). De acordo com Chen e Choi (2011Chen, W., & Choi, A. S. K. (2011). Internet and social support among Chinese migrants in Singapore. New Media & Society, 13(7), 1067-1084. doi: 10.1177/1461444810396311
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), o acesso à internet, cada vez mais facilitado e difundido, permite um maior contato dos imigrantes com suas famílias. Ainda, quando questionados em relação aos vínculos que esses imigrantes mantêm no Brasil, a grande maioria relata ter vínculos com outros imigrantes da mesma nacionalidade (95,5%) e também com brasileiros (59,7%).

Orientações Aculturativas Apresentadas pelos Imigrantes

O gráfico apresentado na Figura 1 demonstra que os imigrantes adotaram majoritariamente a orientação aculturativa de integração (M = 28,2; DP = 7,1) junto à comunidade brasileira onde estão inseridos. Esse dado corrobora com diversos estudos sobre a temática da aculturação, realizados com outros grupos de imigrantes e em outros contextos que demonstram que o integracionismo é a orientação mais adotada, assim como a orientação aculturativa de individualismo (Barrette et al., 2004Barrette, G., Bourhis, R. Y., Personnaz, M., & Personnaz, B. (2004). Acculturation orientations of French and North African undergraduates in Paris. International Journal of Intercultural Relations, 28(5), 415-438. doi: 10.1016/j.ijintrel.2004.08.00
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; Montreuil & Bourhis, 2001Montreuil, A., & Bourhis, R. Y. (2001). Majority acculturation orientations towards “valued” and “devalued” immigrants. Journal of Cross-Cultural Psychology, 32, 698-719. doi: 10.1177/0022022101032006004
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; Wagner et al., 2013Wagner, A. L., Tisserant, P., & Bourhis, R. Y. (2013). Propension à discriminer et acculturation. Revue Internationale de Psychologie Sociale, 26(1), 5-34. Recuperado de https://www.cairn.info/revue-internationale-de-psychologie-sociale-2013-1-page-5.htm
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). A orientação aculturativa de integração é vista como a mais desejável e que proporciona ao imigrante melhor qualidade de vida, pois, desse modo, há uma preservação de referenciais da sua cultura de origem, porém com uma aproximação real à nova do país de destino (Berry, 2005Berry, J. W. (2005). Acculturation: Living successfully in two cultures. International Journal of Intercultural Relations, 29(6 SPEC. ISS.), 697-712. doi: 10.1016/j.ijintrel.2005.07.013
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; Bourhis et al., 2010).

Figura 1
Média da pontuação das orientações aculturativas adotadas pelos imigrantes haitianos residentes no Rio Grande do Sul entre agosto de 2015 e dezembro de 2016.

É importante alertar que, embora não atinja o ponto médio da escala (21), a orientação de separação (M = 17,5; DP = 6,1) foi a segunda mais pontuada, indicando também a presença de um movimento contrário ao de integração. Por fim, ainda se destaca que a orientação de anomia, vista por Bourhis et al. (1997Bourhis, R. Y., Moïse, L. C., Perreault, S., & Senécal, S. (1997). Toward an Integrative Acculturation Model: A Social Psychological Approach. International Journal of Psychology, 32(6), 369-386. Recuperado de http://old.psych.uoa.gr/~vpavlop/index.files/pdf/ddpms%20interactive%20acculturation%20model%20(Burhis%20et%20al.).pdf
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) como a mais problemática para o imigrante, pois o mantém isolado das duas culturas e está associada a um importante sofrimento psíquico, apresenta a média mais baixa (10,42) entre as cinco orientações aculturativas abordadas.

Qualidade de Vida e Preconceito Percebido

Em relação aos domínios referentes à qualidade de vida, as médias dos imigrantes foram mais altas nos domínios: físico (M = 83,65; DP = 14,46) e de relações pessoais (M = 82,86; DP = 18,14), enquanto os domínios: psicológico (M = 72,78; DP = 15,96) e meio ambiente (M = 61,27; DP = 16,15) apresentaram médias um pouco inferiores. Comparando com o estudo de Belizaire e Fuertes (2011Belizaire, L. S., & Fuertes, J. N. (2011). Attachment, coping, acculturative stress, and quality of life among Haitian immigrants. Journal of Counseling and Development, 89(1), 89-97. doi: 10.1002/j.1556-6678.2011.tb00064.x
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), que avaliou a qualidade de vida de imigrantes haitianos residindo nos Estados Unidos, as médias de qualidade de vida dos imigrantes que vivem no Brasil foi superior em três, dos quatro domínios, com exceção do domínio de meio ambiente, onde a média dos imigrantes que residem nos Estados Unidos foi um pouco superior (M = 62,72).

Para avaliar o preconceito percebido, foram abordadas três esferas, as quais obtiveram as respectivas médias: preconceito para conseguir trabalho (M = 3,87; DP = 2,45), preconceito para conseguir moradia (M = 3,36; DP = 2,5) e preconceito exercido pela polícia (M = 1,25, DP = 1). Considerando essas médias, é possível verificar que os participantes do presente estudo identificam sofrer menos preconceito do que os participantes do estudo de Barrette et al. (2004Barrette, G., Bourhis, R. Y., Personnaz, M., & Personnaz, B. (2004). Acculturation orientations of French and North African undergraduates in Paris. International Journal of Intercultural Relations, 28(5), 415-438. doi: 10.1016/j.ijintrel.2004.08.00
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) realizado em Paris. Observou-se ainda que, em todas as três esferas de preconceito mensuradas, as médias ficaram abaixo do ponto médio da escala (= 4).

Entretanto, esse panorama pode se alterar facilmente. De acordo com Barrette et al. (2004Barrette, G., Bourhis, R. Y., Personnaz, M., & Personnaz, B. (2004). Acculturation orientations of French and North African undergraduates in Paris. International Journal of Intercultural Relations, 28(5), 415-438. doi: 10.1016/j.ijintrel.2004.08.00
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) e Wagner, Tisserant e Bourhis (2013Wagner, A. L., Tisserant, P., & Bourhis, R. Y. (2013). Propension à discriminer et acculturation. Revue Internationale de Psychologie Sociale, 26(1), 5-34. Recuperado de https://www.cairn.info/revue-internationale-de-psychologie-sociale-2013-1-page-5.htm
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), motivos sociopolíticos, tais como a ascensão de governos conservadores e de políticas de vigilância contra imigrantes, são fatores fundamentais para que haja uma percepção coletiva de preconceito. É importante, nesse caso, ressaltar que a imigração haitiana é um fenômeno muito mais recente que o que ocorre na França, e que os imigrantes haitianos que residem no Brasil, por receberem o visto humanitário, não sentem a ameaça policial de deportação, questão que ocorre de maneira diferente no contexto do estudo francês, por exemplo. Ainda assim, em 2016 já se identifica uma diminuição da chegada de haitianos (ACNUR, 2016ACNUR. (2016). Sistema de Refúgio brasileiro: Desafios e perspectivas. Recuperado de http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/portugues/Estatisticas/Sistema_de_Refugio_brasileiro_-_Refugio_em_numeros_-_05_05_2016
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), o que pode ter relação com a alteração de fatores políticos, ideológicos e econômicos no último ano.

Associações entre Variáveis e Diferenças entre Grupos

Os resultados do teste t indicaram que não há diferenças significativas entre os locais e cidades de residência dos participantes quanto às questões de aculturação, preconceito e qualidade de vida. Tal fato pode ser decorrente da homogeneidade e do tamanho da amostra em relação às diferentes cidades de residência, assim como o baixo número de imigrantes que estavam abrigados, condição que poderia estar associada a baixos índices de qualidade de vida, por exemplo.

Quanto aos testes de correlação (Pearson e qui-quadrado), foram encontradas as respectivas associações junto às orientações aculturativas: a orientação aculturativa de integração, a qual foi a mais endossada pelos imigrantes haitianos, está positivamente correlacionada com o tempo em que o imigrante chegou ao Brasil (r = 0,328; p < 0,01) e com o número de idiomas fluentes (r = 0,366; p < 0,01), também demonstra-se estar negativamente correlacionada com a idade do imigrante (r = - 0,246; p < 0,05). Já em relação aos testes de comparação de médias, observou-se que indivíduos do sexo masculino t(67) = 3,59, p = 0,001, fluentes em português t(67) = 3,66, p = 0,001, com vínculos com pessoas de nacionalidade brasileira t(67) = 2,28, p = 0,026 e que acessaram a assistência social t(67) = 3,41, p = 0,001 estão propensos a adotar a orientação aculturativa de integração. Quanto às outras orientações aculturativas, observou-se que a orientação de assimilação está positivamente correlacionada com a idade do imigrante (r = 0,417; p < 0,01) e a orientação de separação está mais presente entre as mulheres t(67) = 2,01, p = 0,05.

A partir desses resultados, é possível traçar algumas características do imigrante haitiano que busca adotar a orientação aculturativa de integração no Rio Grande do Sul. O perfil desse imigrante, portanto, é majoritariamente do sexo masculino, fala o idioma português, pôde ter auxílio do sistema de assistência social brasileiro e, quanto mais jovem, maior a fluência em outros idiomas e, quanto mais tempo desde sua chegada ao Brasil, mais é adotada a orientação aculturativa de integração. Um dado que merece atenção é a associação presente entre a orientação aculturativa de integração e o acesso à assistência social, reiterando a importância das políticas sociais em um melhor processo migratório, assim como preconizavam Becker e Borges (2015Becker, A. P. S., & Martins-Borges, L. (2015). Dimensões psicossociais da imigração no context familiar. Bol. Acad. Paulista de Psicologia, 35(88), 124-144.) e Bourhis et al. (1997Bourhis, R. Y., Moïse, L. C., Perreault, S., & Senécal, S. (1997). Toward an Integrative Acculturation Model: A Social Psychological Approach. International Journal of Psychology, 32(6), 369-386. Recuperado de http://old.psych.uoa.gr/~vpavlop/index.files/pdf/ddpms%20interactive%20acculturation%20model%20(Burhis%20et%20al.).pdf
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, 2010). Quanto às outras orientações aculturativas mensuradas, foram encontradas algumas associações importantes, porém diversificadas, o que dificulta traçar um perfil e mostra a heterogeneidade das características sociodemográficas do imigrante em relação à adoção de uma orientação aculturativa ou outra.

O fato de a orientação aculturativa de separação estar mais associada às mulheres, enquanto a orientação de integração está mais associada aos homens, reitera a discussão levantada por Araújo (2016) quanto às desigualdades de gênero na cultura haitiana, fortemente identificadas com o modelo patriarcal, com os homens com um papel mais ativo na vida social, desde a escolaridade, enquanto as mulheres estão mais ligada aos cuidados doméstico e familiar. Embora o modelo patriarcal seja o dominante na sociedade brasileira e do Rio Grande do Sul, isso não significa que as mulheres migrantes ao chegarem nessa região irão, necessariamente, identificar-se com tal modelo, conforme é levantado na pesquisa realizada por Pyke e Johnson (2003Pyke, K. D., & Johnson, D. L. (2003) Asian Ameican Woman and Racialized Feminities: “Doing” Gender Across Cultural Worlds. Gender & Society, 17(1), 33-53. doi: 10.1177/0891243202238977
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), que demonstra que mulheres imigrantes asiáticas, ao irem para os Estados Unidos, rejeitam a sua cultura de origem. No entanto, o estudo de Brito e Dantas (2017Brito, C., & Dantas, S. (2017). Narrativas e identidades que se cruzam: Haitianos e brasileiros em São Paulo. Em Lussi, C. (Eds.). Migrações Internacionais: Abordagens de Direitos Humanos. (267-288). Brasília: CSEM - Centro Escalabriniano de Estudos Migratórios. ISBN: 978-95-87823-28-1), realizado com imigrantes haitianos residindo na cidade de São Paulo, traz alguns indícios de que as mulheres imigrantes ainda enxergam seu papel veiculado ao matrimônio e à maternidade.

Ao analisar a idade, identificam-se dois caminhos distintos em relação às orientações aculturativas: enquanto os mais jovens buscam uma maior integração, os mais velhos estão dispostos a buscar um recomeço no Brasil que os distancia da cultura haitiana ao adotarem mais uma orientação de assimilação, a qual fala sobre adotar todos os aspectos da nova cultura, segregando e/ou abandonando elementos da cultura de origem. Tal fenômeno não havia sido abordado pela literatura em outros estudos de aculturação. Algumas hipóteses teóricas podem ser levantadas, tais como uma maior expectativa de retorno dos mais jovens e uma ideia de migração já definitiva nos mais velhos, porém elas ainda devem ser mais bem exploradas teórica e empiricamente.

Cabe ressaltar também que a baixa presença de associações com as orientações aculturativas de separação, assimilação, individualismo e anomia se deve aos escores médios dessas orientações serem significativamente mais baixos e não atingiram o ponto médio da escala. Esses dados reiteram a afirmativa de que o coletivo haitiano busca, predominantemente, integrar-se ao Brasil, independentemente de algumas dificuldades sociais, tais como a discriminação e o desemprego.

Embora não tenham sido identificadas associações entre as orientações aculturativas e as variáveis de preconceito e qualidade de vida, foram observadas algumas associações entre essas duas últimas variáveis com as seguintes variáveis sociodemográficas: o tempo em que o imigrante chegou ao Brasil está negativamente correlacionado com os domínios de qualidade de vida no âmbito psicológico (r = -0,307; p < 0,05) e em relação ao meio ambiente (r = - 0,274; p < 0,05), o que indica que a percepção quanto à qualidade de vida dos imigrantes, nesses dois domínios, vai decrescendo conforme o tempo em que eles estão no Brasil. Esse resultado difere do estudo de Belizaire e Fuertes (2011Belizaire, L. S., & Fuertes, J. N. (2011). Attachment, coping, acculturative stress, and quality of life among Haitian immigrants. Journal of Counseling and Development, 89(1), 89-97. doi: 10.1002/j.1556-6678.2011.tb00064.x
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), que não encontrou associação entre essas mesmas variáveis, porém aproxima-se ao estudo de Safi (2010Safi, M. (2010) Immigrants’ life satisfaction in Europe: Between assimilation and discrimination. European Sociological Review, 26(2), 159-176. doi: 10.1093/esr/jcp013
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) que, embora utilize instrumentos diferentes, ao comparar a qualidade de vida percebida de imigrantes e nativos na Europa, notou que, mesmo com o passar do tempo, incluindo novas gerações, os imigrantes continuavam a ter uma qualidade de vida pior do que a dos nativos.

Ao correlacionar o preconceito percebido, nota-se que este está associado positivamente ao número de idiomas que o imigrante é fluente (r = 0,242; p < 0,05). Esse resultado deve ser visto com cautela, por tratar-se de uma correlação fraca e pouco trabalhada na literatura. Ainda assim, há uma hipótese que pode ser discutida ao se pensar sobre essa associação: o imigrante, ao falar um número maior de idiomas, amplia as suas possibilidades de interação social e, desse modo, é mais fácil identificar quando está sofrendo preconceito. Essa questão foi levantada por Tan e Liu (2014Tan, S. A., & Liu, S. (2014). Ethnic visibility and preferred acculturation orientations of international students. International Journal of Intercultural Relations, 39(1), 183-187. doi: 10.1016/j.ijintrel.2013.08.011
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) quando abordam a visibilidade étnica dos imigrantes e o preconceito que estes sofrem.

Associando as variáveis sociodemográficas, observou-se que o desemprego diminui conforme o tempo que o imigrante está no Brasil (X²(3) = 11,56, p < 0,01), e é menor entre os imigrantes que falam português (X²(1) = 3,86, p < 0,05), assim como o idioma português vai sendo aprendido conforme o tempo (X²(3) = 16,44, p < 0,001). Esses dados corroboram com a literatura (Bourhis et al., 2010Bourhis, R. Y., Montaruli, E., El-Geledi, S., Harvey, S. P., & Barrette, G. (2010). Acculturation in Multiple Host Community Settings. Journal of Social Issues, 66(4), 780-802. doi: 10.1111/j.1540-4560.2010.01675.x
https://doi.org/10.1111/j.1540-4560.2010...
; Santos et al., 2015Santos, A. P., Santos, M. S. F., Assis, W. L. S., & Cotinguiba, M. L. P. (2015). Inserção sociocultural de haitianos em Porto Velho: O ensino e aprendizado da língua portuguesa. Revista de Estudos de Literatura, Cultura e Alteridade - Igarapé, 1(5), 43- 53. Recuperado de http://www.periodicos.unir.br/index.php/igarape/article/view/1324/1388
http://www.periodicos.unir.br/index.php/...
; Sam & Berry, 2010Sam, D. L., & Berry, J. W. (2010). Acculturation: When Individuals and Groups of Different Cultural Backgrounds Meet. Perspectives on Psychological Science, 5(4), 472-481. doi: 10.1177/1745691610373075
https://doi.org/10.1177/1745691610373075...
; Zamberlan et al., 2014) ao mostrar a importância do investimento no ensino do idioma do país de destino, o qual abre portas para o mercado de trabalho, podendo diminuir a taxa de desemprego entre os imigrantes.

Considerações Finais

Este estudo objetivou traçar um panorama da imigração haitiana no Rio Grande do Sul, identificando aspectos psicossociais, assim como as orientações aculturativas e a qualidade de vida percebida por esses imigrantes. Os resultados demonstraram que os imigrantes haitianos estão propensos a integrarem-se à comunidade brasileira, apresentam melhor qualidade de vida e percebem sofrer menos preconceito do que os que estão em outros países, como a França e os Estados Unidos. Cabe ressaltar que esse movimento migratório ainda é pequeno e muito mais recente em comparação aos outros países mencionados anteriormente. Por isso, apesar dos resultados indicarem uma boa percepção dos imigrantes em relação à vida no Brasil, tais dados ainda devem ser vistos com cautela. Portanto, a partir dos resultados e discussões levantadas neste estudo, reitera-se a importância da elaboração de políticas públicas que possam ir além da concessão do visto humanitário e que garantam direitos humanos e trabalhistas para esta população.

O estudo possui algumas limitações devido à dificuldade de acesso aos registros de moradia desses imigrantes e à impossibilidade de realizar uma pesquisa com amostragem aleatória, e não por conveniência, o que refinaria o panorama. Alguns imigrantes, sobretudo mulheres, não puderam participar do estudo por não falarem francês fluentemente. O francês é o idioma aprendido nas escolas, portanto a alta escolaridade apresentada também se deve, em certo grau, ao fato dos imigrantes com baixa escolaridade não terem participado da pesquisa.

Embora haja outras pesquisas no campo da Psicologia sobre a imigração haitiana para o Brasil (Becker & Borges, 2015Becker, A. P. S., & Martins-Borges, L. (2015). Dimensões psicossociais da imigração no context familiar. Bol. Acad. Paulista de Psicologia, 35(88), 124-144.; Brito & Dantas, 2017Brito, C., & Dantas, S. (2017). Narrativas e identidades que se cruzam: Haitianos e brasileiros em São Paulo. Em Lussi, C. (Eds.). Migrações Internacionais: Abordagens de Direitos Humanos. (267-288). Brasília: CSEM - Centro Escalabriniano de Estudos Migratórios. ISBN: 978-95-87823-28-1; Brunnet et al., 2018Brunnet, A. E., Bolaséll, L. T., Weber, J. L. A., & Kristensen, C. H. (2018). Prevalence and factors associated with PTSD, anxiety and depression symptons in Haitian migrants in southern Brasil. Int. J. Soc. Psychiatry 64(1), 17-25. doi: 10.1177/0020764017737802
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), este estudo é pioneiro ao abordar as orientações aculturativas. Para futuras pesquisas, recomenda-se que outras regiões do Brasil possam ser abordadas para que seja feita uma comparação de resultados, assim como estudos com outras populações de imigrantes e refugiados que vêm crescendo no Brasil, tais como os senegaleses e sírios (ACNUR, 2016).

Por se tratar de um movimento migratório recente, é importante realizar novos estudos após esses imigrantes estarem vivendo no Brasil há mais tempo, assim como os imigrantes de segunda geração que em algum tempo vão compor uma parcela importante dessa população. Outro fator fundamental é o desenvolvimento de instrumentos específicos para a população haitiana que imigrou para o Brasil. Por fim, é importante realizar estudos qualitativos exploratórios que pudessem levantar outras questões pertinentes a serem abordadas sobre a temática.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2019
  • Data do Fascículo
    Jan 2019

Histórico

  • Recebido
    27 Nov 2017
  • Revisado
    12 Mar 2018
  • Aceito
    30 Jul 2018
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