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Editorial

EDITORIAL

Os imensos desafios hoje vivenciados pela sociedade mundial – economias nacionais imbricadas de forma global e mutuamente dependentes, práticas de produção e consumo marcadas pela acumulação de benefícios entre poucos e pela distribuição universal dos danos e riscos – colocam aos pensadores da atualidade, em especial aos cientistas sociais, questões extremamente complexas. A concepção de governança estendida para além das fronteiras nacionais com crescente influência de agentes diversos, não estatais, e a marcada desigualdade de poder entre estes e os Estados-nacionais suscitam questionamentos sobre a possibilidade de se desenvolver formas de administração democrática mundial e de como – por que meios e com qual estrutura – elas se efetivariam.

O número 32 de Sociologias, organizado pelos professores Soraya Vargas Cortes e Joshua Kjerulf Dubrow, traz à pauta este debate. O Dossiê "Desigualdade Política, Democracia e Governança Global" apresenta perspectivas de cientistas de diferentes países que vêm se debruçando sobre essas questões buscando deslindar conceitos e trajetórias associadas à democracia e sua evolução. O objetivo é analisar as possibilidades de uma governança global democrática frente às renovadas desigualdades políticas prevalentes tanto no âmbito interno de cada país quanto entre nações. Com este dossiê, esperarmos estimular, no campo da sociologia brasileira, reflexões que venham a somar-se aos esforços internacionais de formulação de um marco teórico capaz de abarcar essa realidade desafiadora.

Nesta primeira edição de 2013, Sociologias traz, ainda, em suas seções, estudos representativos de distintas áreas do conhecimento sociológico e de suas interfaces. Na seção Artigos, Lígia Mori Madeira e Fabiano Engelmann analisam os estudos sociojurídicos no Brasil sob duas perspectivas: a dos estudos sociológicos do Direito que se vale de teorias e métodos das Ciências Sociais para investigar questões do mundo jurídico e de suas dinâmicas; e aquela representada pela utilização da Sociologia para redefinir criticamente as teorias do Direito de modo a aproximar a doutrina das causas sociais. Os autores produzem um levantamento das principais correntes teóricas que têm orientado a sociologia jurídica no Brasil desde suas origens e um mapeamento de âmbito nacional do campo de estudos sociojurídicos e principais temáticas enfocadas por estes.

Afonso de Oliveira Sobrinho retoma a temática da ideologia higienista associando-a a ideia de modernidade, no contexto do espaço urbano da cidade de São Paulo, na virada entre os séculos 19 e 20. Utilizando o conceito de elites, o autor analisa como elas moldaram seu pensamento por um ideal de civilidade importado resultando num projeto urbanístico caracterizado pela negação dos pobres, pela higienização dos espaços públicos e pelo disciplinamento dos corpos e dos espaços.

Madel Luz, Cesar Sabino e Rafael Mattos, por sua vez, alertam para pouca ênfase dada na Sociologia às questões da vida e da saúde humanas. Tal omissão permite que no campo do viver prevaleçam como verdades absolutas os modelos criados e preconizados pelas biociências. Reforçados pela difusão mediática, estes modelos conduzem à medicalização dos corpos e dos modos de vida, em detrimento de práticas orientadas por outras racionalidades. Em seu artigo, os autores buscam suscitar questões sobre o papel desempenhado pela ciência na construção da cultura contemporânea, ou seja, do imaginário social envolvendo os conceitos de vida e saúde.

Na seção Interfaces, Darío Rodriguez, Rodrigo Flores Guerrero e Paula Miranda Sánchez trazem um estudo de casos sobre as formas de colaboração estabelecidas entre empresas espanholas baseadas no Chile e organizações não governamentais chilenas, no contexto de programas de responsabilidade social. Sob a ótica da teoria da organização de Niklas Luhmann, que identifica as organizações com sistemas autopoiéticos, os autores buscaram identificar as origens das relações de cooperação e também o valor a elas atribuído pelas empresas e os aprendizados resultantes da cooperação. Na seção de Resenhas, Mário Augusto Medeiros da Silva apresenta a obra O Romancista e o Engenho: José Lins do Rego e o regionalismo nordestino dos anos 1920 e 1930, de Mariana Chaguri.

Convidamos nossos leitores a acompanhar com Sociologias o debate sobre questões estratégicas para a sociedade contemporânea e a refletir sobre os grandes desafios que acompanham as temáticas aqui abordadas.

Antonio David Cattani e Maíra Baumgarten

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Abr 2013
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