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EDITORIAL EDITORIAL

Adagmar Andriolo

Médico patologista clínico; professor adjunto do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP); editor-chefe do Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial (JBPML)

Neste número do Jornal, são apresentados aspectos variados da atividade diagnóstica, ressaltando algumas dificuldades encontradas no dia a dia e, também, em relação à formação de profissionais. A autópsia, por exemplo, além de ser instrumento diagnóstico de grande valor, se constitui em procedimento de significativa importância para a formação do patologista. Dessa forma, é com preocupação que observamos os repetitivos relatos da ocorrência de considerado declínio no número de autópsias realizadas, especialmente em instituições universitárias. Não é um evento local, pois tem sido descrito tanto em países do primeiro mundo quanto naqueles em desenvolvimento. As causas, com certeza, são variadas e incluem, além dos aspectos médicos, questões religiosas e familiares. Os autores do trabalho "O decréscimo vertiginoso das autópsias em um hospital universitário do Brasil nos últimos 20 anos" discutem, com propriedade, essa nova realidade, invocando como importante razão a introdução de técnicas de imagem, com a suposição de que todos os diagnósticos podem ser feitos em vida. Temos aqui uma excelente oportunidade de reflexão sobre o uso e as limitações dos novos recursos diagnósticos.

A microbiologia tem se destacado nos últimos anos, assumindo a importante função de orientar a prática médica na luta contra novos e mais agressivos agentes infecciosos. O aumento de casos clínicos causados por Pseudomonas aeruginosa multirresistente, por exemplo, tem estimulado a revisão das opções terapêuticas, as quais, com frequência, se restringem aos carbapenêmicos. Como, em geral, o imipenem é o último recurso no tratamento das infecções hospitalares, o desenvolvimento de resistência passou a ser uma questão de saúde pública. O artigo "Pseudomonas aeruginosa multirresistente: um problema endêmico no Brasil" descreve os principais mecanismos relacionados com fenótipos multirresistentes de P. aeruginosa. Ainda nessa área, temos o trabalho "Métodos alternativos para a detecção de betalactamase de espectro estendido (ESBL) em Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae", em que os autores destacam a importância plasmidial dessa enzima. O estudo comparou as metodologias alternativas para detecção de ESBL. Vale conferir.

Até recentemente, o vírus respiratório sincicial humano (VRSh) era tido como o principal agente etiológico das infecções respiratórias agudas (IRAs), as quais são causa de morbidade e mortalidade em crianças em todo o mundo. A identificação de um novo agente, o metapneumovírus humano (MPVh), da subfamília Pneumovirinae, com muitas similaridades com o VRSh em sua organização genômica, estrutura viral, antigenicidade e sintomas clínicos, traz novo interesse para o estudo dessas doenças. O diagnóstico etiológico das IRAs é laboratorial e realizado por imunofluorescência ou biologia molecular. O trabalho "Estudo comparativo de detecção de metapneumovírus humano pelos métodos de PCR e imunofluorescência direta" conclui pela superioridade da PCR em tempo real para a identificação de MPVh e enfatiza a importância da padronização desse teste para sua inclusão na rotina laboratorial.

O papilomavírus humano (HPV) pertence à família Papillomaviridae e tem ciclo de vida diretamente ligado à diferenciação das células epiteliais escamosas. Na área genital, está associado ao carcinoma da cérvice uterina. As lesões orais incluem o papiloma escamoso oral, a verruga vulgar, o condiloma acuminado e a hiperplasia epitelial focal. Seu papel na carcinogênese oral ainda é controverso, sendo identificado também como agente etiológico de alguns carcinomas de células escamosas de cabeça e pescoço. O artigo "Infecção oral pelo HPV e lesões epiteliais proliferativas associadas" destaca a relevância do exame da cavidade bucal e da importância de se fazer o diagnóstico etiológico das lesões orais.

Os artigos de anatomia patológica desta edição trazem três assuntos relacionados com diferentes aspectos das neoplasias. O trabalho retrospectivo "Carcinoma da vesícula biliar: estudo clinicopatológico de 24 casos" evidencia que, mesmo em pacientes previamente estudados, com frequência, o câncer da vesícula biliar é detectado apenas durante ou após a cirurgia. Na casuística apresentada, foram detectados 24 carcinomas primários, sendo que em apenas sete deles o diagnóstico foi pré-operatório e todos em estádios avançados. O trabalho salienta a prevalência de neoplasias avançadas, com pior prognóstico, decorrente da demora do diagnóstico, e a importância da detecção precoce, que contribuiu para melhor sobrevida. Por meio de um relato de caso, "Pseudotumor fibroso do cordão espermático: relato de uma lesão infrequente", temos a oportunidade de rever que os pseudotumores fibrosos são lesões pouco comuns, geralmente reativas a agressões traumáticas, processos inflamatórios ou infecciosos ou mesmo cirurgias e que seu diagnóstico é anatomopatológico.

A proteína Kint 3-4 é o produto de uma recombinação dos segmentos K1-3 e K1-4 do plasminogênio humano e é reconhecida por seu potencial anti-inflamatório e antiangiogênico. O trabalho experimental apresentado no artigo "Efeito da proteína Kint3-4 do plasminogênio humano no crescimento do tumor de Ehrlich" avaliou o efeito dessa proteína no desenvolvimento de tumores em camundongos inoculados com células do tumor de Ehrlich, encontrando resultados bastante promissores para seu uso clínico como agente antiangiogênico.

O artigo "Tendências em medicina laboratorial" apresenta uma interessante visão de futuro e descreve alguns dos fatores fundamentais para o crescimento desse mercado. Resolvida a questão analítica propriamente dita, em termos de qualidade, tópicos como gestão do negócio, administração de pessoal, atendimento, consolidação, integração e tecnologia da informação passam a ser relevantes para o sucesso e a garantia de futuro.

A preocupação com o meio ambiente permeia, cada vez mais, todas as atividades e o laboratório clínico não poderia ficar à margem dessa realidade. Por muito tempo, porém mais por desconhecimento e acomodação, os laboratórios foram considerados pouco impactantes ao meio ambiente. A partir de 2004, entretanto, diferentes entidades científicas começaram a identificar potenciais gravames que precisam ser neutralizados. No Brasil, um diferencial foi a criação do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pelo qual o gerenciamento de resíduos sólidos passa a ser responsabilidade do gerador, desde sua geração até sua disposição final. O artigo "Concentração de fenol em resíduos de laboratórios de análises clínicas" lança alguma luz sobre o uso de fenol e seu descarte e discute processos que possam reduzir os riscos ambientais.

Boa leitura!

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Set 2011
  • Data do Fascículo
    Ago 2011
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