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Avaliação da função dos músculos do assoalho pélvico e incontinência urinária em universitárias: um estudo transversal

Evaluación de la función de los músculos del suelo pélvico y la incontinencia urinaria en universitarias: un estudio transversal

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar a função e pressão de contração dos Músculos do Assoalho Pélvico (MAP) e a prevalência de Incontinência Urinária (IU) em universitárias. Realizou-se um estudo transversal, com universitárias entre 18 e 35 anos, nulíparas, que já tiveram relação sexual e que nunca realizaram tratamento fisioterapêutico para Disfunções dos Músculos do Assoalho Pélvico (DMAP). Todas as voluntárias realizaram a anamnese, responderam aos questionários international consultation on incontinence questionnaire - Short Form (ICIQ-SF) e incontinence severity index questionaire (ISI-Q), e realizaram avaliação da função e manometria dos MAP. Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk e os valores da amostra são expressos em medianas, intervalos interquartílicos, frequências absolutas e relativas. Foram avaliadas 35 mulheres, das quais 65,72% apresentaram tônus normal, mas apenas 5,71% realizavam a contração adequada dos MAP, com medianas baixas para todas as etapas do PERFECT e na manometria dos MAP. A prevalência de IU foi 57,14%, sendo a Incontinência Urinária de Urgência (IUU) a queixa mais prevalente (50%) e com severidade moderada (55%). Este estudo permitiu identificar déficit na função dos MAP e altos índices de IU em universitárias, demostrando a importância de conscientizar esse público sobre essa DMAP.

Descritores:
Saúde da Mulher; Diafragma da Pelve; Distúrbios do Assoalho Pélvico

RESUMEN

El objetivo de este estudio fue evaluar la función y presión de contracción de los músculos del suelo pélvico (MSP) y la prevalencia de incontinencia urinaria (IU) en estudiantes universitarias. Se realizó un estudio transversal, con estudiantes universitarias entre 18 y 35 años, nulíparas, que ya habían tenido relaciones sexuales y que nunca se sometieron a tratamiento fisioterapéutico para las disfunciones musculares del suelo pélvico (DMSP). Todas las voluntarias realizaron anamnesis, respondieron al cuestionario de consulta internacional sobre incontinencia - formulario corto (ICIQ-SF) y al cuestionario de índice de severidad de la incontinencia (ISI-Q), y realizaron la evaluación de la función y la manometría de los MSP. Se utilizó la prueba de Shapiro-Wilk, y los valores muestrales se expresan en medianas, rangos intercuartílicos, frecuencias absolutas y relativas. Se evaluaron a 35 mujeres, de las cuales el 65,72% tenía tono normal, pero solo el 5,71% realizó la adecuada contracción de los MSP, con medianas bajas para todos los estadios de PERFECT y en la manometría de los MSP. La prevalencia de IU fue del 57,14%, siendo la incontinencia urinaria urgente (IUU) la queja más prevalente (50%) y de gravedad moderada (55%). Este estudio permitió identificar déficits en el papel de los MSP y altas tasas de IU en estudiantes universitarias, demostrando la importancia de concienciar a este público sobre el DMSP.

Palabras clave:
Salud de la Mujer; Diafragma de la Pélvis; Trastornos del Suelo Pélvico

ABSTRACT

This study evaluated the function and pressure of contraction of the Pelvic Floor Muscles (PFM) and the prevalence of Urinary Incontinence (UI) in university students. A cross-sectional study was conducted with nulliparous university students between 18 and 35 years old, who had already had sexual intercourse and never underwent physical therapy treatment for Pelvic Floor Muscle Disorders (PFMD). All volunteers underwent anamnesis, answered the International Consultation on incontinence questionnaire short form (ICIQ-SF) and the incontinence severity index questionnaire (ISI-Q), and had their PFM function and manometry evaluated. The Shapiro-Wilk test was used and the sample values are expressed in medians, interquartile ranges, absolute and relative frequencies. A total of 35 women were evaluated, 65.72% of whom had normal muscle tone, but only 5.71% performed adequate contraction of the PFM, with low medians for all stages of PERFECT and in the manometry of the PFM. The prevalence of UI was 57.14%, with Urgent Urinary Incontinence (UUI) being the most prevalent complaint (50%) and having moderate severity (55%). This study allowed to identify deficits in the role of PFM and high rates of UI in College Women, demonstrating the importance of making this public aware of this PFMD.

Keywords:
Women’s Health; Diaphragm of the Pelvis; Pelvic Floor Disorders

INTRODUÇÃO

O déficit da função dos Músculos do Assoalho Pélvico (MAP) pode comprometer a sua ação e resultar em perdas involuntárias de urina, denominada pela International Continence Society como Incontinência Urinária (IU)11. Haylen BT, Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An international urogynecological association (IUGA)/international continence society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Neurourol Urodyn. 2010;29(1):4-20. doi: 10.1002/nau.20798.
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. A IU afeta cerca de 200 milhões de pessoas e é associada a morbidade física e psicológica e a grandes custos sociais22. Subak LL, Brown JS, Kraus SR, Brubaker L, Lin F, Richter HE, et al. The "costs" of urinary incontinence for women. Obstet Gynecol. 2006;107(4):908-16. doi: 10.1097/01.AOG.0000206213.48334.09.
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.

Diversos fatores de risco estão relacionados à IU em mulheres, como a idade avançada, gravidez, obesidade, deficiência estrogênica, histerectomia, entre outros33. Milsom ID, Altman D, Cartwright R, Lapitan MC, Nelson R, Sjöström S, et al. Epidemiology of urinary incontinence (UI) and other lower urinary tract symptoms (LUTS), pelvic organ prolapse (POP) and anal incontinence (AI). In: Abrams P, Cardozo L, Wagg A, Wein A, editors. Incontinence. 6th ed. Tokyo: International Continence Society; 2017 [cited 2021 Sep 27]. Available from: https://bit.ly/3CQw00j
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, com prevalência de IU entre 25 e 45% em qualquer faixa etária33. Milsom ID, Altman D, Cartwright R, Lapitan MC, Nelson R, Sjöström S, et al. Epidemiology of urinary incontinence (UI) and other lower urinary tract symptoms (LUTS), pelvic organ prolapse (POP) and anal incontinence (AI). In: Abrams P, Cardozo L, Wagg A, Wein A, editors. Incontinence. 6th ed. Tokyo: International Continence Society; 2017 [cited 2021 Sep 27]. Available from: https://bit.ly/3CQw00j
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. Em mulheres jovens, isso varia entre 1-42,20%44. Almousa S, Van Loon AB. The prevalence of urinary incontinence in nulliparous adolescent and middle-aged women and the associated risk factors: a systematic review. Maturitas. 2018;107:78-83. doi: 10.1016/j.maturitas.2017.10.003.
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, mas ainda negligenciam a IU, acreditando que ocorre apenas em idosos, grávidas e puérperas44. Almousa S, Van Loon AB. The prevalence of urinary incontinence in nulliparous adolescent and middle-aged women and the associated risk factors: a systematic review. Maturitas. 2018;107:78-83. doi: 10.1016/j.maturitas.2017.10.003.
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.

São escassos os estudos com universitárias relacionados a IU55. Angelini KJ, Hutchinson MK, Sutherland MA, Palmer MH, Newman DK. College women's experiences with urinary storage symptoms. J Nurse Pract. 2020;16(5):371-7. doi: 10.1016/j.nurpra.2020.02.004.
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)-(77. Ural ÜM, Gücük S, Ekici A, Topçuoglu A. Urinary incontinence in female university students. Int Urogynecol J. 2021;32(2):367-73. doi: 10.1007/s00192-020-04360-y.
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, e estes não realizaram a avaliação dos MAP, atribuindo os sintomas urinários apenas aos hábitos miccionais, comportamentais, e aos fatores de risco associados. As avaliações dos MAP são fundamentais para o Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico (TMAP), tratamento de primeira linha para a IU88. Nambiar AK, Bosch R, Cruz F, Lemack GE, Thiruchelvam N, Tubaro A, et al. EAU guidelines on assessment and nonsurgical management of urinary incontinence. Eur Urol. 2018;73(4):596-609. doi: 10.1016/j.eururo.2017.12.031.
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, e contribuem com o conhecimento da mulher sobre o seu próprio corpo99. Fante JF, Silva TD, Mateus-Vasconcelos ECL, Ferreira CHJ, Brito LGO. Do women have adequate knowledge about pelvic floor dysfunctions? a systematic review. Rev Bras Ginecol Obstet. 2019;41(8):508-19. doi: 10.1055/s-0039-1695002.
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, fomentando a importância do conhecimento e TMAP independentemente da idade, com o objetivo de auxiliar na prevenção e tratamento da IU. Diante do exposto, o objetivo desse estudo é avaliar a função e pressão de contração dos MAP de universitárias, e a prevalência, tipo e severidade da IU neste público.

A hipótese alternativa do presente estudo é que universitárias, mesmo não apresentando os principais fatores de risco relacionados à IU33. Milsom ID, Altman D, Cartwright R, Lapitan MC, Nelson R, Sjöström S, et al. Epidemiology of urinary incontinence (UI) and other lower urinary tract symptoms (LUTS), pelvic organ prolapse (POP) and anal incontinence (AI). In: Abrams P, Cardozo L, Wagg A, Wein A, editors. Incontinence. 6th ed. Tokyo: International Continence Society; 2017 [cited 2021 Sep 27]. Available from: https://bit.ly/3CQw00j
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, podem possuir queixa de perda urinária e comprometimento na função e na pressão de contração dos MAP.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo analítico observacional transversal, executado na Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí, campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no período de 08/2019 a 03/2020, seguindo as diretrizes metodológicas do STROBE1010. Malta M, Cardoso LO, Bastos FI, Magnanini MMF, Silva CMFP da. Iniciativa STROBE: subsídios para a comunicação de estudos observacionais. Rev Saude Publica. 2010;44(3):559-65. doi: 10.1590/S0034-89102010000300021.
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. Todas as voluntárias assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

As participantes do estudo eram universitárias, entre 18 e 24 anos, nulíparas, que já tiveram relação sexual e que nunca realizaram tratamento fisioterapêutico para Disfunções dos Músculos do Assoalho Pélvico (DMAP). Uso de terapia de reposição hormonal, cirurgias em órgãos pélvicos, infecção uroginecológica, alergia a látex, prolapso de órgãos pélvicos maior que grau II, obesidade (Índice de Massa Corpórea (IMC)>30,00 Kg/m²)1111. World Health Organization. Diet, nutrition, and the prevention of chronic diseases: report of a joint WHO/FAO expert consultation [Internet]. Geneva: World Health Organ Tech Rep Ser; 2003 [cited 2021 Sep 27]. Available from: https://bit.ly/3CReLMy
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e desordens cognitivas e neurológicas, eram critérios de exclusão.

Foram coletados os dados sociodemográficos e socioeconômicos, o histórico ginecológico e urológico, as medidas antropométricas com uma balança com estadiômetro (WELMY, modelo 104A), e o IMC foi calculado de acordo com a fórmula: IMC=peso (kg)/altura² (cm)1111. World Health Organization. Diet, nutrition, and the prevention of chronic diseases: report of a joint WHO/FAO expert consultation [Internet]. Geneva: World Health Organ Tech Rep Ser; 2003 [cited 2021 Sep 27]. Available from: https://bit.ly/3CReLMy
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. O International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form (ICIQ-SF)1212. Avery K, Donovan J, Peters TJ, Shaw C, Gotoh M, Abrams, P. ICIQ: A brief and robust measure for evaluating the symptoms and impact of urinary incontinence. Neurourol Urodyn. 2004;23(4):322-30. doi: 10.1002/nau.20041.
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),(1313. Tamanini JTN, Dambros M, D'Ancola CAL, Palma PCR, Netto Jr NR. Validação para o português do "International Consultation on Incontinence Questionnaire-Short Form" (ICIQ-SF). Rev Saúde Pública. 2004;38(3):438-44. doi: 10.1590/S0034-89102004000300015.
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foi aplicado para identificar a presença e o tipo de IU quando score ≥11212. Avery K, Donovan J, Peters TJ, Shaw C, Gotoh M, Abrams, P. ICIQ: A brief and robust measure for evaluating the symptoms and impact of urinary incontinence. Neurourol Urodyn. 2004;23(4):322-30. doi: 10.1002/nau.20041.
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, e o Incontinence Severity Index Questionnaire (ISI-Q) para avaliar a severidade da IU1414. Sandvik H, Hunskaar S, Seim A, Hermstad R, Vanvik A, Bratt H. Validation of a severity index in female urinary i e incontinence and its implementation in an epidemiological survey. J Epidemiol Community Health. 1993;47(6):497-9. doi: 10.1136/jech.47.6.497.
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),(1515. Pereira VS, Santos JYC, Correia GN, Driusso P. Tradução e validação para a língua portuguesa de um questionário para avaliação da gravidade da incontinência urinária. Rev Bras Ginecol e Obs. 2011;33(4):182-7. doi: 10.1590/S0100-72032011000400006.
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com gravidade classificada em leve de 1-2, moderada de 3-6, grave de 8-9 e muito grave de 10-121515. Pereira VS, Santos JYC, Correia GN, Driusso P. Tradução e validação para a língua portuguesa de um questionário para avaliação da gravidade da incontinência urinária. Rev Bras Ginecol e Obs. 2011;33(4):182-7. doi: 10.1590/S0100-72032011000400006.
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.

Na avaliação dos MAP, as participantes eram posicionadas em decúbito dorsal, com flexão e abdução de quadril e joelhos à 45º, e orientadas a não realizar contração dos músculos sinérgicos (glúteos, abdômen e adutores de quadril), a manobra de Valsalva ou apneia. As voluntárias também foram orientadas sobre os MAP, sua contração e importância, e os comandos para contração pediam para apertar os dedos da avaliadora utilizando os músculos da vagina e do ânus. Foi realizada a palpação bidigital para classificar o tônus dos MAP em normal, hipertônico ou hipotônico1616. Masi AT, Hannon JC. Human resting muscle tone (HRMT): Narrative introduction and modern concepts. J Bodyw Mov Ther. 2008;12(4):320-32. doi: 10.1016/j.jbmt.2008.05.007.
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e executado o esquema PERFECT para avaliar força (P - Power), tempo de contrações mantidas (E - Endurance), Repetições (R - Repetitions) e contrações rápidas (F - Fast), utilizando a escala modificada de Oxford para classificar a etapa Power1717. Laycock J, Jerwood D. Pelvic floor muscle assessment: the PERFECT scheme. Physiotherapy. 2001;87(12):631-42. doi: 10.1016/S0031-9406(05)61108-X.
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. Caso utilizassem os músculos sinérgicos durante essas contrações, as voluntárias eram classificadas com coordenação inadequada dos MAP. Na manometria dos MAP foi utilizado um manômetro (Perina 996-2 Quark Medical; Piracicaba, São Paulo, Brasil) de graduação entre 0-60 cmH2O, com o probe revestido com preservativo masculino não lubrificado, coberto com gel a base de água. A voluntária realizava 3 contrações máximas com intervalo de 20”, sendo analisada a média1818. Frawley HC, Galea MP, Phillips BA, Sherburn M, Bo K. Reliability of pelvic floor muscle strength assessment using different test positions and tools. Neurourol Urodyn. 2006;25(3):236-42. doi: 10.1002/nau.20201.
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. Para diminuir fontes de viés, as avaliações foram executadas por uma avaliadora, treinada e com experiência de 5 anos nessa modalidade de avaliação.

A amostra foi obtida por conveniência e os dados foram armazenados e analisados com o programa GraphPAD versão 8. Foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk, pelo qual foi possível identificar uma distribuição não paramétrica, com os valores de mediana, intervalo interquartílico, frequência absoluta e relativa. O tamanho amostral considerou a faixa etária da população de universitárias incluídas no estudo, com um erro amostral de 10% e nível de confiança de 90%, obtendo como N 42 universitárias.

RESULTADOS

Foram avaliadas 35 universitárias, com um poder de amostragem de 83,33%. Essas mulheres apresentavam idade mediana de 22,00 (20,00 - 22,00) anos, IMC de 23,30 (21,20 - 24,90) Kg/m², em sua maioria pardas (57,14%). As voluntárias relataram menarca com mediana de 12,00 (11,00 - 13,00) anos, 97,14% eram solteiras e 94,29% estavam sexualmente ativas, utilizando algum método contraceptivo (71,43%) (Tabela 1).

Tabela 1
Descrição da amostra (n=35)

Na avaliação dos MAP (Tabela 2), as universitárias apresentavam tônus normal (65,72%) e coordenação inadequada dos MAP (94,29%), contraindo associado aos glúteos (76,47%), abdômen (58,82%), adutores de quadril (52,94%) e/ou apneia (14,70%). No PERFECT, a mediana do Power foi de 3,00 (2,00-4,00), Endurance4,56 (3,30-8,00), Repetition 3,00 (3,00-5,00) e Fast 07,00 (5,00-10,00), já a manometria dos MAP obteve mediana de 12,00 (8,30-40,00) cmH2O.

Tabela 2
Avaliação dos Músculos do Assoalho Pélvico de todas as voluntárias (n=35)

Nas universitárias incontinentes (57,14%), 50% relataram Incontinência Urinária de Urgência (IUU) e severidade moderada (55%) da IU, com tônus normal (60%) e coordenação inadequada dos MAP (95%) com contração de glúteos (70%) e abdômen (55%). O Power das incontinentes foi de 2,50 (2,00-3,00), o Endurance de 4,00 (2,07-9,50), Repetition de 3,00 (2,25 - 4,75) e Fast de 5,50 (3,25 - 10,00), com manometria de 10,35 (06,10 - 34,68) cmH2O (Tabela 3).

Tabela 3
Dados urinários e da avaliação dos músculos do assoalho pélvico das incontinentes urinárias (n=20)

DISCUSSÃO

Neste estudo 57,14% das universitárias relataram IU, e destas 95% coordenação inadequada dos MAP. O estudo de Vieira et al. (2020)1919. Vieira GF, Saltiel F, Miranda-Gazzola APG, Kirkwood RN, Figueiredo EM. Pelvic floor muscle function in women with and without urinary incontinence: are strength and endurance the only relevant functions? a cross-sectional study. Physiother. 2020;109:85-93. doi: 10.1016/j.physio.2019.12.006.
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verificou que mulheres que têm comprometimento na coordenação desses músculos têm 93% mais chances de ter IU. Além disso, cerca de 30-45% das incontinentes urinárias apresentam dificuldade de contrair os MAP2020. Bo K. Pelvic floor muscle training in treatment of female stress urinary incontinence, pelvic organ prolapse and sexual dysfunction. World J Urol. 2012;30(4):437-43. doi: 10.1007/s00345-011-0779-8.
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, demonstrando a importância da avaliação, educação em saúde e conhecimento do próprio corpo para saber contrair corretamente este grupo muscular, independentemente da idade da mulher. No Brasil, um estudo2121. Fitz FF, Paladini LM, Ferreira LA, Gimenez MM, Bortolini MAT, Castro RA. Ability to contract the pelvic floor muscles and association with muscle function in incontinent women. Int Urogynecol J. 2020;31(11):2337-44. doi: 10.1007/s00192-020-04469-0.
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concluiu que 46,70% das adultas com IU contraem corretamente seus MAP, um valor superior ao encontrado nesta pesquisa (5%). Fitz et al.2121. Fitz FF, Paladini LM, Ferreira LA, Gimenez MM, Bortolini MAT, Castro RA. Ability to contract the pelvic floor muscles and association with muscle function in incontinent women. Int Urogynecol J. 2020;31(11):2337-44. doi: 10.1007/s00192-020-04469-0.
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realizaram uma revisão de prontuários de mulheres que faziam TMAP para IU, enquanto avaliamos os MAP de universitárias que nunca realizaram TMAP.

Em relação ao PERFECT, os resultados de Power foram semelhantes ao estudo2222. Pereira-Baldon VS, Avila MA, Dalarmi CB, Oliveira AB, Driusso P. Effects of different regimens for pelvic floor muscle training in young continent women: randomized controlled clinical trial. J Electromyogr Kinesiol. 2019;44:31-5. doi: 10.1016/j.jelekin.2018.11.008.
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com 25 nulíparas sem queixa de DMAP, divididas em dois grupos para intervenção com TMAP, que obteve Power de 2,50 (±1,10) e 2,20 (±0,80) antes do treinamento, e ao encontrado em estudo2121. Fitz FF, Paladini LM, Ferreira LA, Gimenez MM, Bortolini MAT, Castro RA. Ability to contract the pelvic floor muscles and association with muscle function in incontinent women. Int Urogynecol J. 2020;31(11):2337-44. doi: 10.1007/s00192-020-04469-0.
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com 139 incontinentes urinárias com valores baixos para todas as etapas do PERFECT. Quanto a manometria dos MAP, um estudo2323. Martinez CS, Ferreira FV, Castro AAM, Gomide LB. Women with greater pelvic floor muscle strength have better sexual function. Acta Obstet Gynecol Scand. 2014;93(5):497-502. doi: 10.1111/aogs.12379.
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realizado com 40 nulíparas sem sintomas de doença pélvica, obteve 8,83 cmH2O, resultados semelhantes aos desta pesquisa.

Esses dados demonstram que tanto jovens continentes quanto incontinentes urinárias brasileiras, apresentam uma fraqueza e baixos valores de manometria dos MAP. Uma possível explicação é a falta de conhecimento sobre os MAP, como mostra estudo2424. Blanchard V, Nyangoh-Timoh K, Fritel X, Fauconnier A, Pizzoferrato AC. Importance of a pelvic floor lifestyle program in women with pelvic floor dysfunctions: A pilot study. J Gynecol Obstet Hum Reprod. 2021;50(4):102032. doi: 10.1016/j.jogoh.2020.102032.
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no qual apenas 6,30% das mulheres sabiam o que é o assoalho pélvico e 15,20% sua localização. Em revisão sistemática99. Fante JF, Silva TD, Mateus-Vasconcelos ECL, Ferreira CHJ, Brito LGO. Do women have adequate knowledge about pelvic floor dysfunctions? a systematic review. Rev Bras Ginecol Obstet. 2019;41(8):508-19. doi: 10.1055/s-0039-1695002.
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foi encontrado um baixo a moderado nível de conhecimento para DMAP.

Com relação a IU, um estudo77. Ural ÜM, Gücük S, Ekici A, Topçuoglu A. Urinary incontinence in female university students. Int Urogynecol J. 2021;32(2):367-73. doi: 10.1007/s00192-020-04360-y.
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com 1397 universitárias encontrou IU em 18,40%, inferior ao verificado nesta pesquisa (57,14%). Ural et al.77. Ural ÜM, Gücük S, Ekici A, Topçuoglu A. Urinary incontinence in female university students. Int Urogynecol J. 2021;32(2):367-73. doi: 10.1007/s00192-020-04360-y.
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avaliaram mulheres de diversos departamentos, enquanto nossa amostra foi por conveniência e talvez tenha atraído pessoas que já tinham algum tipo de queixa urinária, o que pode explicar a discrepância entre as prevalências.

Dentre os tipos de IU, a maioria das voluntárias apresentavam IUU, o que estudos55. Angelini KJ, Hutchinson MK, Sutherland MA, Palmer MH, Newman DK. College women's experiences with urinary storage symptoms. J Nurse Pract. 2020;16(5):371-7. doi: 10.1016/j.nurpra.2020.02.004.
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),(66. Angelini KJ, Newman DK, Palmer MH. Psychometric evaluation of the toileting behaviors: women's elimination behaviors scale in a sample of college women. Female Pelvic Med Reconstr Surg. 2019;26(4):270-5. doi: 10.1097/SPV.0000000000000711.
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relatam estar relacionado aos hábitos comportamentais deste público em específico, como o consumo excessivo de substâncias que irritam a bexiga (cafeína e álcool), e maus hábitos urinários, como realizar micção prematura ou postergar a micção. Isso indica que além dos déficits nos MAP, elas também apresentam hábitos inadequados, o que favorece o surgimento de queixas miccionais. Quanto à severidade, a IU foi moderada em 55% dos casos, valor próximo da pesquisa2525. Almeida MBA, Barra AA, Saltiel F, Silva-Filho AL, Fonseca AMRM, Figueiredo EM. Urinary incontinence and other pelvic floor dysfunctions in female athletes in Brazil: A cross-sectional study. Scand J Med Sci Sports. 2015;26(9):1109-16. doi: 10.1111/sms.12546.
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com 96 nulíparas não atletas (46,20%).

De acordo com os resultados deste estudo é possível verificar que o déficit na função dos MAP já está presente desde a juventude e que talvez com o envelhecimento e com o surgimento de mais fatores de risco, possa culminar no agravamento da IU e no aparecimento de outras DMAP44. Almousa S, Van Loon AB. The prevalence of urinary incontinence in nulliparous adolescent and middle-aged women and the associated risk factors: a systematic review. Maturitas. 2018;107:78-83. doi: 10.1016/j.maturitas.2017.10.003.
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)-(66. Angelini KJ, Newman DK, Palmer MH. Psychometric evaluation of the toileting behaviors: women's elimination behaviors scale in a sample of college women. Female Pelvic Med Reconstr Surg. 2019;26(4):270-5. doi: 10.1097/SPV.0000000000000711.
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. Logo, as mulheres jovens devem receber orientação sobre a função e anatomia do assoalho pélvico, e é importante realizar avaliação dos MAP com um profissional especializado, a fim de identificar, prevenir e possibilitar o tratamento precoce das DMAP neste público.

Como este estudo foi realizado com uma amostra pequena e por conveniência, a generalização é limitada, sendo necessários novos estudos que abordem avaliação da função e pressão dos MAP, o conhecimento em relação às DMAP, os hábitos comportamentais e miccionais desta população, para permitir identificar os fatores de risco para a IU em uma idade precoce, e uma possível causa para a dificuldade na contração adequada dos MAP nesse público.

CONCLUSÃO

Universitárias continentes e incontinentes apresentaram coordenação inadequada, baixos valores na função e na pressão de contração dos MAP, alta prevalência de IU (57,14%), principalmente IUU (50%), com severidade moderada (55%). O presente estudo traz um alerta e estímulo para todas as mulheres adultas jovens conhecerem seu corpo e terem empoderamento sobre ele, compreendendo melhor o que acontece na função e disfunção dessa musculatura íntima e prevenindo complicações futuras.

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  • Fonte de financiamento: CNPq
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    Aprovado pelo Comitê de Ética: No. 3.440.894.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021

Histórico

  • Recebido
    07 Maio 2021
  • Aceito
    16 Set 2021
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