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Editar Machado de Assis

Editing Machado de Assis

A Machado de Assis em Linha tem a satisfação de apresentar o dossiê “Editar Machado de Assis”, dedicado ao conhecimento dos princípios, processos e práticas editoriais envolvidas na produção e publicação dos escritos de Machado de Assis em seu tempo de vida e também na publicação póstuma de sua obra, que continua a desafiar editores com problemas filológicos, estéticos e éticos.

Em “Machado de Assis editor e a suas Páginas recolhidas”, Thiago Mio Salla e Lara Cammarota Salgado, da Universidade de São Paulo, apresentam hipóteses sobre a atuação do escritor como editor de sua própria obra. Para isso, examinam a composição do primeiro livro em que Machado reuniu 18 textos de vários gêneros, publicado em 1899.

Tatiana Sena, da Universidade Federal da Bahia, estuda em “Machado de Assis, tipógrafo” as marcas deixadas por essa atividade na formação do escritor. Para Sena, o escritor teria utilizado seus conhecimentos tipográficos em algumas de suas obras, como ocorre nas célebres passagens em que Brás Cubas faz referências ao formato do livro, tamanho da margem, tipo, vinhetas etc.

O aprendizado da tipografia e suas repercussões na trajetória do escritor também é assunto do artigo “Entre o crítico e o tipógrafo: Machado de Assis e a invenção de espaços editoriais, em dois tempos”. Os dois tempos examinados por Rachel Bertol, da Universidade Federal Fluminense, e Bruno Guimarães Martins, da Universidade Federal de Minas Gerais, são o da juventude, marcado pela proximidade com o tipógrafo e editor Paula Brito, e o da maturidade e da consagração literária, em que Machado esteve muito próximo de José Veríssimo, crítico literário e editor da Revista Brasileira.

Outra amizade colaborativa importante, desta vez com Quintino Bocaiúva no Diário do Rio de Janeiro, é abordada em “Critérios bibliográficos para atribuição de textos a Machado de Assis: análise do ensaio ‘A imprensa na atualidade’ (1860)”. Alex Lara Martins, do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, levanta questões editoriais, estilísticas e biográficas para corroborar a hipótese da autoria de Machado de Assis para o ensaio mencionado no título do artigo.

Dois estudos tratam ainda da edição de obras de Machado de Assis em suportes digitais. Em “Entre a crítica genética e a crítica literária, a propósito de uma edição eletrônica de Esaú e Jacó”, Ariadne Nunes, da Universidade Nova de Lisboa, busca convergências entre os movimentos da escrita detectados no exame do manuscrito de Esaú e Jacó e as observações feitas sobre o ato de escrever nesse e também em outros romances da “segunda fase machadiana”.

Lúcia Granja, da Universidade Estadual de Campinas, mostra em “Notas a Dom Casmurro (em homenagem às edições preparadas por Marta de Senna)” as possibilidades interpretativas abertas por uma edição eletrônica fidedigna e anotada da prosa de Machado de Assis, projeto levado a cabo por Marta de Senna e cujos resultados estão publicados em http://machadodeassis.net/

Uma série de entrevistas com editores de escritos de Machado de Assis em vários gêneros fecha o dossiê: John Gledson trata do seu trabalho de mais de três décadas com as crônicas de Machado de Assis; Irene Moutinho e Sílvia Eleutério descrevem o método e os critérios adotados para a edição da monumental Correspondência de Machado de Assis, em cinco tomos; João Roberto Faria comenta a edição das peças de Machado de Assis, bem como dos seus escritos sobre o teatro; Valentim Facioli trata de sua larga experiência como editor tanto de estudos sobre Machado de Assis como de reedições e de textos inéditos em livro; José Américo Miranda apresenta e comenta os critérios que vem adotando para a edição de poemas de Machado de Assis. Por fim, Marta de Senna, Editora Sênior da MAEL, conta das motivações, dilemas e desafios envolvidos na produção de sua edição eletrônica dos romances e contos de Machado de Assis, cujas características estão expressas na “Apresentação de romances e contos em hipertexto”:

Nessa edição, preparada com o cuidado necessário para torná-la fidedigna, o leitor poderá não apenas desfrutar o romance ou o conto em si, mas também achar, nas notas em forma delinks, explicações sobre todas as citações e alusões do texto: tanto as de natureza simbólica (autores, obras de arte, personagens, fatos históricos referidos por Machado de Assis), como as menções a lugares e instituições não-ficcionais (bairros e ruas da cidade do Rio de Janeiro, lojas, teatros, cafés que as personagens machadianas frequentam). (SENNASENNA, Marta de. “Apresentação Romances e contos em hipertexto”. Disponível em Disponível em http://machadodeassis.net/hiperTx_romances/index.asp Acesso em 7 mar. 2020.
http://machadodeassis.net/hiperTx_romanc...
)

Este número ainda traz a seção “Vária”, com dois artigos: “‘Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa’: metalepse em Machado de Assis”, de Sara Grünhagen; e “Aos vencidos, a floresta - Alexandra Lucas Coelho lendo Mário de Andrade e Machado de Assis”, de André Corrêa de Sá. No primeiro, a pesquisadora da Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3 mostra como o recurso à metalepse na obra de Machado de Assis implica a modernização de procedimentos antigos, presentes por exemplo na obra de Miguel de Cervantes. No segundo artigo, o professor da University of California, Santa Barbara lê três romances de Alexandre Lucas Coelho e identifica neles modos diversos de se pensar o Brasil propiciados pelas leituras de textos de Mário de Andrade e Machado de Assis.

A seção “Da tradição crítica” desta vez homenageia Austregésilo de Athayde com a publicação de três textos curtos publicados entre 1939 e 1958. Nesses breves ensaios, Athayde contesta a visão de um escritor frio e pouco participativo, que dominou os estudos machadianos nas primeiras décadas do século XX.

Em que pesem as adversidades que atingem o pensamento crítico, as universidades e as publicações científicas no país, o espírito colaborativo da equipe editorial e dos colegas que participam deste número nos permitem entregá-lo aos leitores com a mesma alegria com que publicamos o primeiro número da revista, em 2008.

Referência

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2020
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